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UM CERTO TRABALHADOR

Publicado no Jornal Letras Santiaguenses mar/abr 2006 

Ele era pintor. Datava vinte anos, cinco de árdua labuta. Um trabalho aqui, outro ali. As finanças cada vez mais curtas e um filho nas costas já havia um ano e meio. Uma luta diária que Marcel enfrenta, entre gostos e desgostos.
Seu conforto era sagrado, mas primeiro vinha o bem-estar do pequeno: Mateus. Ele lhe pedia colo, mas não podia: o Sr. Antônio tinha que ter toda a casa pintada até o sábado e ainda lhe faltava quase metade do imóvel e dois dias pra tudo isso.
O pequeno ficaria novamente com a irmã, Estela. Que aperto no coração, pois tinha uma vontade danada de deixá-lo com a mãe! Por mil anjos, se pudesse, ah, como o faria... Mas a doce Mariana não resistira ao parto e nem pôde presenciar o doce crescer do jovem primogênito.
Tão suave como uma brisa do ar, o hálito de Mariana calara-se definitivamente na madrugada de 12 de julho. Sua alegria contagiante cessara junto com aqueles olhos amendoados que perderam o brilho, depois a força, então a vida.
E esta continuava. Danava de querer parar, mas um serzinho reabastecia as forças para novos trabalhos. Uma luta diária que Marcel enfrenta, entre gostos e desgostos.

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