terça-feira, 12 de outubro de 2010

O DIREITO A RESPOSTA

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 18 ago 2010.

Aqueles que fazem das palavras sua ferramenta de trabalho sabem a importância que vírgulas, reticências, expressões bem ou mal posicionadas e argumentos tendenciosos têm numa fala ou texto. Os professores dispõem desse poder cotidianamente, diante de seus alunos. São os heróis que muitos estudantes não encontram em casa, o pai que a garota sempre quis ou a mão firme que reforça os recados chatos da mãe. Os jornalistas e todos aqueles que têm um breve espaço para pronunciar-se em meios de comunicação também desfrutam de uma influência gigante perante seus leitores, telespectadores e ouvintes. Suas palavras, seus artigos indefinidos e posicionamentos críticos, sarcásticos, humorados e, infelizmente, parciais algumas vezes, alcançam num piscar de olhos mais pessoas que os professores. Em contrapartida, não têm a enorme felicidade de conhecer bem aqueles que lhes ouvem, fato este que sobra ao professor.

Lembro das aulas de jornalismo, nos idos anos de 2003, quando os professores ressaltavam que o jornalista tem que procurar ser, ao máximo, imparcial. Lógico que essa utópica neutralidade não abençoa ninguém e nenhum repórter, porque a própria visão de mundo faz-nos simpatizar com uma ideia ou com outra. Mas a versão de ambas as partes envolvidas sempre necessitou ser apresentada ao público. É isto o que vemos em empresas sérias, preocupadas com a verdade. Há um posicionamento do jornal, ele simpatiza com determinada causa, mas nem por isso deixará de dar espaço ao outro lado da história.

Mesmo com escândalos que pudemos ver em Foz do Iguaçu, onde vereadores utilizavam ilegalmente dinheiro público, passeando a nossa custa, com família, periquito e papagaio, os ladrões tiveram o direito de falar. Muitos se calaram, mas lhes foi auferida a oportunidade, assim como num julgamento, dentro das formas da lei, onde acusados e acusadores falam, cada um no seu tempo destinado.

No final do mês passado colei grau pela PUCRS em Letras, junto a tantos outros colegas de Letras, Matemática e História. Estavam lá, prestigiando-me, meus pais, minha irmã, amigos, amigas e alguns parentes que vieram de longe para comemorar comigo esta vitória. Havia cinco lugares à disposição de familiares ou às pessoas mais próximas que cada formando escolhesse. Como eram muitos concluintes, multiplicados por cinco, os lugares reservados iniciavam próximos aos novos professores até quase o fundo do salão. Meus pais ficaram lá no fundo. Os tios, primos e amigos sentaram junto ao público geral, mais ao longe ainda. Nem por isso achei prejudicado com os organizadores da solenidade. Cada um tinha o seu lugar e eu, meus colegas e professores, ocupávamos posição de destaque, como prevê o protocolo. Aliás, nem deveria ser diferente, éramos nós as autoridades da festa, o motivo de todos estarem lá. Nada mais justo que quem é mais relevante na solenidade ocupar o local de maior prestígio.

Dessa forma, pouco vejo de concreto no posicionamento, publicado em jornal local, de um advogado que se sentiu desprestigiado na formatura. Acompanhava-o o prefeito de Bagé. Assim como todos os demais familiares, puderam ocupar as cinco vagas disponíveis aos parentes daqueles que estavam pagando a festa, os formandos. Não foi reservado nenhum local específico para o prefeito e não era necessário. As autoridades da festividade eram os alunos, os professores. O espaço era particular, e não público. Ele não era mais importante que os pais dos demais formandos. Estava lá na condição de tio e possuía o mesmo grau de relevância que meu avô.

Assim como os demais jornais sérios que conheço, acredito que o semanário que publicou a opinião do ofendido também abrirá espaço para defesa, para a exposição da outra versão dos fatos. As palavras, como já disse, têm um poder enorme. Por isso, expor apenas uma das versões faz correr o risco de os leitores verem os fatos apenas sob uma ótica e uma nuvem espessa encobrir outros aspectos que envolvem o ocorrido. E não é uma verdade caolha que queremos.

Gosto muito do jornal, respeito e tenho grande admiração pelo trabalho que realiza, e é por este motivo que tenho a convicção de que será aberto o espaço para a réplica. Em tempos de eleição, acostumamo-nos com expressões e palavras do tipo “direito a resposta”, “réplica” e “tréplica”. E é assim que deverá ser conduzida esta questão.

O GOLPE DO DISQUE-SEQUESTRO

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 11 ago 2010.

Estamos com o seu filho. Não desligue o telefone, senão apagamos ele. Se avisar a polícia, ele morre. Você quer o seu filho vivo? Então deverá fazer exatamente o que estou dizendo. Deposite cinco mil reais nesta conta, anota aí.... E nada de avisar a polícia, certo?
Foi mais ou menos esse o diálogo inicial de um conhecido com o suposto sequestrador do seu filho, na semana passada. Um ótimo presente antecipado de Dia dos Pais. Contudo, não havia sequestrador, muito menos sequestrado. É um golpe ao qual muitas pessoas já sucumbiram. Não é novidade aos bandidos essa maneira de ganhar dinheiro “fácil”. Infelizmente, a mente humana tem o seu brilhantismo também à disposição do mal.
A história acima ocorreu ao amanhecer da quinta passada, com dois idosos. Eles tomavam seu chimarrão costumeiro quando receberam a ligação pelo celular. Ao ouvir que o filho fora sequestrado, o pai mal conseguiu raciocinar e continuou acreditando na mentira maldosa. Era cedo e o banco não havia aberto ainda. Saiu o casal, desesperado pela rua, gritando que o filho iria morrer, a caminho do banco. “É caso de vida ou morte”, respondeu a mãe ao segurança do banco. Este chamou o gerente, que os mandou entrar. Enquanto a polícia dirigia-se ao banco, acionada pela gerência, o pai continuava ao telefone, sendo ameaçado pelos sequestradores. O desespero era tanto que a mãe não recordava o número do filho, até lembrar-se que estava anotado na sua agenda. A ligação foi realizada e o filho, que estava são e salvo em casa, tranquilizou todos. Ficou evidente que se tratava de um falso sequestro pelo telefone. Realmente, não passava de uma ligação feita por bandidos que tentavam subtrair dinheiro de duas pessoas que não conheciam, mas sabiam dos efeitos devastadores das suas palavras.
“Eu escutei a voz do meu filho, era ele mesmo”. O desespero em que a pessoa entra após ouvir que alguma pessoa muito próxima foi sequestrada acaba por diminuir o discernimento entre realidade e ficção. É o que afirmou o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, na edição de 12 de fevereiro de 2007, da Revista Veja: “O estado de desorganização mental que se segue a uma notícia de acidente ou sequestro do filho ou cônjuge faz com que a vítima entre em um estado de quase-hipnose”. A reportagem antiga faz perceber que o golpe é antigo. Ainda assim, muita gente continua sendo vítima de pilantragens como essa.
Outra modalidade semelhante ao “disque-sequestro” é a “ligação-premiada”, onde um suposto funcionário de uma empresa conhecida informa que a pessoa ganhou boa quantia em dinheiro e para que seja depositado na sua conta, deve comprar cartões telefônicos e informar o número do código, ou então depositar 500 reais para ganhar os dois mil da premiação.
Ligações como essas podem ocorrer tanto em São Paulo como em Uruguaiana. Ainda mais com a facilidade que existe, atualmente, em acessar as informações de qualquer pessoa. As lojas detêm um cadastro com incontáveis informações pessoais, que vão de nome completo a filiação, CPF e endereço.
As redes de relacionamento na internet dispõem de álbuns de foto, onde o internauta divulga imagens da sua casa, dos pais, filhos, irmãos, amigos de maior convivência, local de trabalho, isso se não escancarar o endereço e o número do celular. Basta um acesso rápido aos álbuns, nem sempre disponíveis apenas a amigos, mas a amigos dos amigos ou àqueles que são adicionados sem realmente sabermos quem são e, pronto, tem-se uma ficha completa. Também são encontradas informações que você quer que apareçam e também o que não quer se digitar o seu nome no site do Google: concursos realizados, aprovações, promoções em empresa pública ou caso seja citado num site; tudo isto estará/está disponível na web.
É muita informação solta, livre e fácil de ser encontrada e fica difícil manter em segredo, na internet, a própria atividade profissional, rede de amigos e demais dados pessoais. Ajuda se controlar o impulso de postar na internet tudo o que ocorre consigo. A foto está tão bonita, dá tanta vontade de deixá-la pública para que os meus amigos vejam. E para que os inimigos invejem. É um enorme campo para contraventores aproveitarem-se e usarem contra nós. Não se desesperar ao ouvir o anúncio do sequestro, quando ele pode ser verdadeiro, é uma tarefa difícil. Mas é possível bloquear imagens, selecioná-las melhor para que nossa vida fique menos exposta e tentar permanecer sempre atento a qualquer chamada fora do usual.

O HERÓI, CONSELHEIRO E PAI

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 04 ago 2010.

“Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?”
Nas palavras de Renato Russo inicio esta crônica que reflete sobre os mais diversos pais que comemoram o seu dia no próximo domingo, dia 8 de agosto. Sejam eles pais bons ou nem tanto assim, conselheiros, negligentes, zelosos ou superprotetores. Esses pais que já foram crianças e por vezes têm atitudes de crianças, são as mesmas pessoas que seremos no futuro, salvo se não tivermos filhos e nunca assumirmos esse papel com outros entes queridos.
Vi neste final de semana que passou, um jovem subindo para o ônibus, rumo a Santa Maria, e seus pais parados, olhando o coletivo ir, levar seu filho, o tesouro das suas vidas e sumir na esquina. A mãe usava óculos escuros, mas algumas lágrimas eram visíveis escorrendo pelas beiradas dos óculos, acusando o seu pranto interior. Abraçado a ela o pai postava-se sério, sem chorar, olhando com profundidade para o ônibus que desaparecia. Claro que se derramava em lágrimas por dentro, mas precisava secar o choro da esposa, acolhê-la, dizer-lhe que no próximo final de semana, dali a um mês ou nas férias seguintes ele estaria de novo, chegando naquele mesmo ônibus, inteiro, são e salvo. Talvez sem as lágrimas do embarque e possivelmente com um largo sorriso no rosto.
Não que os pais sejam insensíveis, mas é típico do homem segurar o choro, aparentar estar menos sensibilizado. Interiormente a pessoa é um chorão, dengoso, mas a mãe dos seus filhos poucas vezes o verá em prantos por causa do filho que mora longe. Se chorar ela chora também. Então é melhor segurar. Ao menos quando tem alguém por perto.
Infelizmente, algumas vezes esses jovens não reaparecem nos ônibus. Nesses casos os pais recebem a notícia que o filho faleceu em outra cidade. Acidente de carro, desastre natural, suicídio ou outros motivos. É o pior reencontro com o filho que um pai pode ter. Meu primo faleceu há exatos sete anos atrás quando retornava de uma festa ao final da madrugada. Colidiu o carro num poste e não suportou os ferimentos. Chegaria em casa e viajaria com o pai.
Não menos trágico foi viajar até a cidade natal de um jovem que trabalhava comigo e se suicidara, em 2006, e entregar os pertences dele aos seus pais. A mãe olhava consternada para as roupas e demais materiais dele. O pai parecia mais sereno. Talvez estivesse assim porque sua esposa precisava contar com alguém. E seria com ele.
Mas também de momentos felizes os pais recheiam a vida dos filhos. São os heróis até a adolescência, aconselham na escolha da profissão, na decisão de largar o emprego, apoiam o orçamento que furou nesse mês ou simplesmente têm um abraço gostoso e seguro quando tudo em volta amedronta.
Muitos desses pais comemoram pela segunda semana consecutiva o seu dia. No domingo passado celebrou-se o Dia do Motorista, profissão predominantemente masculina. São eles que mereceram um dia especial para celebrar sua nobre profissão perigosa, desgastante e importante.
Estes pais merecem ser louvados. Vivos ou mortos, se contribuíram para o crescimento de seus filhos, fazem jus ao Dia. Já pais como o conhecido em cadeia nacional Alexandre Nardoni, condenado pela morte da filha Isabella, não deveriam receber este honroso nome. Ganhou sua fama junto à madrasta Anna Jatobá após Isabella cair do apartamento onde morava e ser o principal suspeito, inicialmente, pela morte da pequena. Após considerável tempo que só ricos e políticos conseguem protelar, foi julgado e considerado culpado. Ele é pai, sim, biológico, mas só mereceria ser chamado de pai quem levasse amor ao descendente, educasse e protegesse. Porque como ele há muitos outros homens que só devem ser considerados pais biológicos. Não assumem a paternidade, batem nos filhos, vendem para o tráfico de inocentes, abusam sexualmente e fazem barbáries com aqueles que deveriam receber proteção.
A estes últimos, o domingo é um dia como os outros. A todos os demais, é uma data para comemorar, parabenizar os pais que estão vivos e tentar aproveitar ao máximo o tempo com eles. E se não estão mais entre nós, vale agradecer a Deus (ou da maneira que o credo orientar) por um dia terem passado por nossas vidas.

O ESPETÁCULO DA SOLIDARIEDADE

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 28 julho 2010. 

Há quem ajude pessoas e não conte isso a ninguém. Mas existem aquelas pessoas ou entidades que fazem da doação um grande espetáculo para promover-se. Pura jogada de marketing. Essa supervalorização de si acaba diminuindo a importância da doação e põe em dúvida a real intenção de ajudar o próximo. É o que vimos na reportagem do Jornal do Almoço do último dia 20.
A jornalista Cristina Ranzolin valeu-se excessivamente dos pronomes “eu” e “minha”, parecendo propaganda eleitoral. Demonstrava em cadeia estadual que ela e a RBS são pessoa e instituição solidários. Retratando a Ilha da Pintada, uma das tantas ilhas de Porto Alegre, retornou ao local depois da reportagem que o jornal exibira na semana anterior, mostrando as condições precárias de vida dos moradores de lá.
Acobertado por um motivo social e que sensibiliza as pessoas, voltou à Ilha da Pintada dizendo que veria se a reportagem da semana anterior surtira o efeito esperado de levar a população a doar alimentos e roupas àqueles miseráveis. “Cenas como estas que impressionam não só vocês que estão em casa, mas também nós jornalistas”. A reportagem começou mostrando ela acondicionando roupas e comidas (da população e dela, como bem destacou) numa caminhonete e o deslocamento da equipe de reportagem até a ilha. Pouco antes de chegar, ela disse “Logo que passei a primeira ponte, o cenário mudou: difícil imaginar que famílias inteiras morem nessas casas, se é que podem ser chamadas assim”. E lá está o uso do verbo em primeira pessoa: “logo que passei a primeira ponte”. Difícil imaginar, isso sim, que sendo jornalista há anos, ela ainda não tenha se deparado com a pobreza. Ou será que era drama para mostrar-se sensibilizada?
Retratou nada além da realidade que conhecemos em Porto Alegre, Uruguaiana e em qualquer cidade brasileira: barracos ancorados por madeiras velhas e crianças dormindo apertadas e passando fome. A visão das casas sob a ótica dela e frases como “cenas que não me saíram da cabeça” e “eu resolvi ir até lá para ver se alguma coisa mudou depois que a história deles foi mostrada aqui no JA (Jornal do Almoço) e também para levar algumas doações minhas” deixaram claro que a intenção não era mostrar como os moradores da ilha viviam, mas para que todos pudessem ver o tamanho da solidariedade da Cristina Ranzolin.
As condições subumanas daqueles moradores realmente entristecem, mas não são diferentes dos moradores de outra região periférica de qualquer cidade ou de Uruguaiana. Chocou, sim, ver uma criança nua, naquele frio (chovia e ventava) e a mãe, ao ser interpelada pela repórter o motivo de seu filho estar sem roupa e os demais descalços, responder que os calçados estavam para chegar e “ele (o menino) fica assim mesmo. Ele é que nem índio. É só tentar colocar a roupa nele que ele tira”. É difícil aceitar que os pais não consigam vestir uma criança de cinco anos. Quiçá dos filhos mais velhos. Parecendo candidata eleitoral, Cristina fechou aquela cena dizendo “O garotinho que não queria saber de colocar roupa, acabou aceitando que eu o vestisse com uma roupinha que eu levei da minha filha”. Precisava dizer que era da filha dela?
A preocupação residiu em demonstrar a solidariedade da emissora. Autopromoção velada e barata. O ápice da autopropaganda ocorreu no final da reportagem “Só mesmo indo até lá, como eu fui, para ver como a vida é dura para eles”. Realmente, no eixo estúdio-shopping-casa não existem casebres.
Caso semelhante presenciei numa formatura de conclusão da 8ª Série de uma turma de Educação de Jovens e Adultos, tempo atrás. A escola era particular, mas seus alunos não pagavam mensalidade. Eram pessoas carentes e recebiam, inclusive, transporte gratuito: um ônibus buscava-os em pontos-chave da cidade e levava-os para casa ao final das aulas. Até então, uma iniciativa louvável. Mas no discurso, o então diretor falou-lhes “tenham orgulho em estudar nesta instituição, pela qualidade do ensino”. Nada de aludir ao fato de serem adultos que retomaram os estudos depois de anos e concluíam o Ensino Fundamental conciliando a escola ao trabalho dentro e fora de casa. Não os encarou como lutadores, perseverantes, mas como sortudos que tiveram a felicidade de estudarem numa escola de primeira linhagem. Se o objetivo era destacá-los, não teve sucesso. O que ocorreu, em verdade, foi uma supervalorização da escola. Os alunos não eram mais o foco e sim, a escola. Da mesma maneira, a reportagem do Jornal do Almoço não objetivou mostrar que os moradores da Ilha da Pintada necessitam de um programa do Governo que preste assistência e melhore as suas condições de vida. Intencionou-se, sobremaneira, mostrar que a RBS é solidária e que a Cristina Ranzolin é uma excelente cidadã, prestativa e preocupada com o bem-estar social. A ajuda ao próximo fica em segundo lugar. Em primeiro está o quão bonzinho somos.

TAPA DE LUVA DE PELICA

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 21 julho 2010

Não sei quando surgiu a expressão “tapa de luva”, mas foi muito bem bolada. Se empregada oportunamente, consegue exprimir com exatidão o que outras palavras não conseguiriam com tanta eficiência. Pois foi esse “tapa suave” ou “com classe” que presenciei pouco tempo atrás. E constantemente flagramos tapas desse naipe ocorrendo. Talvez não notemos, assim como meu avô não percebeu recebê-lo.

Quando mais novo e responsável pela educação de minha mãe e seus três irmãos, ele jamais os apoiou em quaisquer atividades que seja. A família era uma entidade que provavelmente pesava nas suas costas, mas certamente era quem lhe dava um pouco de conforto e sustento. Era alcoólatra e suas bebedeiras refletiam na esposa e nos quatro filhos: distanciamento, perda de qualquer demonstração de carinho e respeito, medo. Total desestrutura familiar. Assim como ele, milhares de famílias sofrem esse drama, hoje ainda.

Na suas pobres ignorâncias de trabalhadores braçais, ele e minha avó nunca puseram um livro nas mãos de seus filhos. Pelo contrário. Recomendavam que não lessem, pois era bobagem, tempo perdido. Infelizmente, essa realidade também não sumiu com o passar dos anos. Minha mãe lia os poucos livros que tinha acesso escondida, entricheirada no seu quarto. Sumia com os volumes literários debaixo da cama assim que ouvia algum rumor. Chegava a ensaiar como fazê-lo, tal era o medo de represálias. Ironicamente, hoje ela é professora de Língua Portuguesa e a principal responsável pelo meu gosto pelo mundo da escrita. Mas esse não é o tapa de luva. Ele vem logo abaixo, também devido a uma ironia do destino.

As bebedeiras de meu avô diminuíram e as monossilábicas palavras de outrora foram substituídas por longos diálogos. Atualmente ele não perde um encontro de família, visita todos que pode e conversa, parecendo uma caturrita. Numa dessas visitas, passou lá em casa e por coincidência, no dia seguinte chegaram os exemplares da antologia que eu e minha mãe participamos, cada um com um conto.

Ele pousara lá e os exemplares chegaram durante a tarde. Antes que eu chegasse em casa para vê-los, meu avô já os havia pego, guardado consigo e retornado a São Borja, cidade que reside. Levara um jornal literário com contos e crônicas e um livro com um conto, todos de sua filha. A mesma que lia escondida, apreensiva caso ele visse. Mas dessa vez ele não brigara com ela. Pelo contrário, abrira um largo sorriso ao saber da existência do jornal e do livro, orgulhoso do sangue do seu sangue.

Levara um “tapa de luva”, de luva de pelica e, provavelmente, nem tenha notado. Recebera uma lição de vida aos 71 anos e talvez não tenha consciência disso. Mas certamente saiu feliz pelo sucesso da filha, independente de perceber que ela superou a sua reprimenda, prosseguiu lendo e começou a escrever.

A dificuldade encontrada para ler não é um caso isolado. Basta olharmos um pouco para nosso umbigo. Uruguaiana sofre todos os anos para conseguir ter uma feira do livro. Muita gente fica sem saber. Quem ouve falar, não vai. Meia dúzia de leitores prestigiam-na e ela permanece às moscas. Claro que o preço de um livro custa muito caro para uma família que mal consegue alimentar-se. E na disputa entre refeição e leitura, o papel perde com facilidade. Mas, também, em casa as crianças são pouco estimuladas a ler.

Quando o acesso ao mundo literário é possível, que é o caso da escola, o aluno tem o direito indissociável de entrar em contato com as histórias infantis. Contudo, ainda que aprenda a ler e escrever no colégio, é muito importante ouvir histórias das bocas dos seus pais. Para que não surjam histórias como essa. Até porque tapas de pelica não são tão comuns no dia-a-dia.

TEMÍVEIS 15 MINUTOS

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 14 julho 2010

Na semana passada apresentei meu trabalho de conclusão de curso, a última etapa antes de poder considerar-me graduado. Consistia numa explanação oral de 15 minutos a uma banca de três professores que poderia agradar-se ou rejeitar o monólogo. Os momentos de angústia que antecederam os da apresentação fizeram-me refletir sobre a maneira como encaramos os momentos decisivos em nossas vidas.
Situações críticas são, definitivamente, terríveis de suportar. Quando não criamos coragem de enfrentar um desafio, fugimos. E sentimo-nos mal, impotentes, fracos, covardes. Há aquelas pessoas que não fogem, mas travam no mesmo lugar que receberam a notícia que provocou o choque. Enervam-se e riem, parecendo debochadas. Ou então, absorvem a tensão dos outros, como a mãe que não se controla nervosa torcendo pelo filho que está competindo na final de natação do clube.
Normalmente, na hora “H” as coisas mudam. Há corajosos que dizem “vou fazer isso, fazer aquilo”, mas não fazem nada. Ou porque a raiva diminuiu ou porque na hora pensou melhor e achou mais ponderado e civilizado não realizar.
Já ouvi amigos falarem “sob pressão eu não funciono”. Em jogos decisivos, costumeiramente, ocorrem amarelões. Nos concursos, provas, festivais de dança, de teatro, musicais ou quaisquer testes, dá o branco. Todos os competidores são tecnicamente iguais, mas na situação estressante uns sobressaem-se aos outros devido ao autocontrole. Howard Gardner, cientista norteamericano e criador da Teoria das Inteligências Múltiplas na década de 80, definiu como inteligência intrapessoal essa capacidade do indivíduo controlar as próprias emoções diante de uma situação de estresse. Acreditar no próprio potencial é um fator importantíssimo para enfrentar esses momentos decisivos.
Não receberemos nenhum fardo que não possamos carregar. Diante dos problemas descobrimo-nos fortes, persistentes, capazes de muito mais do que acreditávamos. Àqueles que acham difícil falar em público, trabalhar um pouco mais além do expediente ou levantar cedo no frio, acredito que notarão que é verdadeiramente difícil sustentar uma família, custear o tratamento de um filho dependente químico, visitar o pai na prisão ou estar sempre solícito a um irmão portador de necessidades especiais. Não ter o pão dentro de casa, acordar preocupado com o que os filhos irão alimentar-se durante o dia, isso, sim, é um problema.
Diante de dramas como esses, parece fácil falar à frente de três professores e alguns colegas sobre um trabalho realizado durante um ano.
Acompanhei quase todas as apresentações dos meus colegas e ficou nítida a enorme apreensão antes de apresentar os seus trabalhos. Alguns já andavam angustiados há dias, outros horas antes. Encontrei-me neste segundo grupo. Lógico que cada um tem as suas limitações. Falar em público é um desafio para grande parte das pessoas. Mesmo professores formando-se. Ao assistir à apresentação da colega que me antecedia, suspirei fundo várias vezes, esfreguei as mãos e bati o pé direito no chão como tique nervoso, tentando encontrar uma válvula de escape para a tensão. E procurei convencer-me que tudo aquilo não passava de uma apresentação normal, como qualquer outra realizada antes. Sim, valia nota. Mas não tirava pedaço. Fez perder o sono, mas não machucava ninguém, nem matava. E... passou! Foi apresentado, elogiado e acabou.
Querendo ou não, é inevitável passarmos por momentos de tensão em nossa vida. O primeiro encontro com a futura esposa, o casamento, a entrevista para o novo emprego, a conversa séria com a filha adolescente, a notícia do falecimento do primo onde você é o encarregado de contar. Se é inevitável modificar o problema à nossa frente, é totalmente possível empenharmos o máximo do nosso esforço em controlar a maneira como enfrentaremos o problema. Porque cedo ou tarde teremos, mais uma vez, a nossa coragem confrontada.

AMOR PARA NUNCA ESQUECER


Publicado no Jornal da Cidade Online, em 30 mai 2010

O primeiro dia de qualquer ano geralmente é reservado para o descanso. Se não foi realizado ainda, fazemos o balanço do ano que acabou e as projeções para o bebê que nasceu à meia-noite. Mas para Genuíno Ferri e Wanda Scarello Ferri a data marcou o início de uma longa história de amor. Os dois casavam no dia 1º de janeiro de 1949. Hoje, com 87 e 83 anos, respectivamente, ambos protagonizam uma história ainda mais linda que aquela do fim da década de 40. Wanda possui a doença de Alzheimer e com o passar dos dias, sua memória fica cada vez mais fraca. No intuito de fazer com que a esposa não esqueça os momentos passados juntos, seu esposo decidiu escrever a história de ambos em forma de romance.
A reportagem foi feita pelo jornal Zero Hora, publicada no dia 23 de janeiro de 2010. Mas fiquei sabendo não por abrir o jornal e deparar-me com a história de Genuíno, ou Seu Gino como é conhecido. Uma amiga mandou-me um e-mail comentando sobre a história romanceada de Gino e Wanda: “A história me encantou. Lê, tenho certeza que vai te inspirar uma nova crônica”. Com certeza inspiraria qualquer um a divagar sobre o amor, a filosofar sobre o casamento, a olhar para a sua amada e pensar, puxa, isso é que é prova de amor...
E Gino não é nenhum super-homem. Mas é um escritor. E isso já lhe facilita escrever sobre a longa caminhada do casal. Os dois moram em Encantado, nada mais sugestivo. São poucas as pessoas que têm condições de concretizar um feito desses. Porque é difícil haver um casamento que dure tanto. Geralmente as histórias de amor têm sido no prazo de meses ou poucos anos. Ou então, um dos dois já faleceu. São 61 anos de casamento, de cumplicidade. Não é pouco, não.
Lendo a reportagem recordei de meu bisavô, falecido em junho de 2008, após 91 anos de vida. Eu estava viajando a trabalho e não tive como ir ao seu velório. Mas assim que pude fui a sua cidade e tratei de ver minha bisavó, que ficava sozinha no mundo após 69 anos de casamento. Conversava com ela e por vezes não era reconhecido. Ela logo retomava o fio da meada e conversava normalmente. Fiquei tão triste quando ouvi essas palavras: “O meu velhinho se foi e eu fiquei aqui, sozinha”. Ao mesmo tempo achei incrível a cumplicidade que tinham, maravilhoso o amor entre os dois. Estava desamparada. Por mais que os filhos estejam com ela, lhe auxiliem nas atividades que agora são um tanto trabalhosas, ela não possui mais o espelho da sua alma, aquele senhor que a ouvia com paciência e chorava junto. Não digo que a relação dos dois sempre foi de rosas. Mas se existiu até então, é porque algum valor havia.
Pode ser que essa não tenha sido a primeira vez que alguém decidiu documentar a história para seu amor porque ele não se lembraria mais tarde do ocorrido. Não conheço nenhuma histórias dessas que seja real, antes do Seu Gino. Mas o cinema já dera a ideia antes, com o Como se fosse a primeira vez, com Drew Barrymore e Adam Sandler. Ela possuía uma doença que a fazia esquecer tudo o que ocorrera consigo após levantar-se no dia seguinte. E para mantê-la apaixonada e sabedora do amor entre os dois, ele decidiu filmá-los. Era uma conquista diária. Uma difícil arte de conquistar a cada amanhecer.
Wanda não está numa situação tão crítica quanto a personagem de Drew. Mas ao ler o romance de Gino, se manterá apaixonada da mesma forma. Em vida, meu bisavô talvez nem soubesse direito o que era um romance. Mas ambos viveram história tão bela quanto a noticiada. O diferencial é que Seu Gino pôde eternizar tudo o que passou e ultrapassou a simples questão de fazer sua esposa recordar as histórias dos dois. Ele fez uma homenagem a Wanda e todos que contracenaram na história do casal e que lerem o livro serão testemunhas disso.

MARLEY & EU

Publicado no O Jornal de Uruguaiana de 07 jul 10

Uma cena que não sai da cabeça: o cachorro e o seu dono. O primeiro ouvindo as reclamações do outro e nem se importando, muito mais preocupado se receberá algum carinho após o monólogo. Marley era assim. E igual a ele, encontramos muitos outros da sua raça, de codinomes diferentes. São Benjis, Gugas, Bobs, Catitas. Talvez estes sejam menos barulhentos que o de Marley & eu, mas não menos amáveis e companheiros.
Os cães são adoráveis confidentes, perfeitos guardadores do nosso silêncio quando ficamos a esmo, pensando na vida. Não reclamam se caminhamos por muito mais tempo que gostariam, se suas patas estão cansadas e até mesmo se ignoramos a sua presença. Esperam, latejantes como sempre, um pouco da nossa atenção. De algumas palavras mágicas que lhes chamem. E voam ao nosso colo. São eles os peritos em estabelecer relações.
Dois amigos encontram-se depois de certo tempo e eis que o assunto principia pelo tempo distantes, rodeia em torno do cachorro na coleira, do que têm feito, retoma-se ao cachorro, pede-se desculpa pela pressa e já chega uma despedida. E vem aquela boa sensação que acontece quando encontramos uma pessoa querida há muito esquecida, porque trabalhamos como ensandecidos e deixamos de lado os donos dos Benjis, Gugas e Bobs.
Mas há uma necessidade enorme em estabelecer relações com as outras pessoas, comunicar-se. Ouvir e ser ouvido muito mais. É uma ânsia tremenda em não ficar sozinho. Não permanecer sozinho, principalmente. Porque fomos feitos para viver na coletividade. A evolução da sociedade é que é a culpada, que nos desenraizou dos laços familiares e deixou-nos solitários, cada um vivendo a sua vida em busca do auge, de uma carreira de sucesso. Diminuiu a perspectiva de se formarem amizades sólidas como as do Marley com o seu dono.
Ouvi uma vez de um amigo que estamos não apenas buscando na outra pessoa alguém que nos complete. E sim que testemunhe os nossos feitos, receba o nosso legado durante toda a existência. Não precisa ser uma contribuição homérica ao mundo. Basta que seja importante para as duas partes. Talvez seja a busca por um companheiro que melhor massageie o nosso ego, sem ser um puxassaco ou qualquer outro interesseiro puramente no que podemos gerar de bom. Porque a nossa herança é vasta. E pende para atos positivos e negativos muitas vezes na mesma intensidade.
Precisamos de uma pessoa que divida conosco as nossas fraquezas. Que ouça nossa história e se compadeça. Mesmo tendo uma mais triste. Que compartilhe as transgressões que fazemos. Porque não sendo únicos no delito, confortamo-nos. Uma pessoa que divida os medos, os anseios, as dúvidas. Uma testemunha das coisas boas que realizamos. E que minimize as tantas bobagens feitas. Talvez não se trate de um Marley, com amor infinito e incondicional igual ao de mãe. Mas alguém que não nos faça sentir tolos em nosso mundo.
Cachorros cometem erros. Muitas vezes desconsideram todas as recomendações que fazemos em bom e claro português. Talvez porque acreditam que somos como eles, aceitaremos os seus erros e os esqueceremos em menos de minuto. Aí se tocam, percebem nossa limitação, mas logo minimizam tudo isso e em nada fica afetado o carinho que por nós sentem.
Um Marley suporta-nos por muito tempo. Trocamos de endereço, de trabalho, amigos, namorada, humor, de aperto financeiro. E se nesse meio tempo o bichinho não morrer num acidente ou de velhice, não nos terá trocado. Ainda que não sejamos tão companheiros e risonhos quanto no começo. Basta afagar-lhe a cabeça e falar mansinho. Porque um Marley não perde a chance de criar novos vínculos. Não deixa passar a oportunidade de descobrir coisas maravilhosas nas outras pessoas. Relaciona-se desinteressado. E pede em troca apenas um afago de vez em quando.
Ele escolhe-nos como testemunhas das suas proezas. Mesmo sendo ele quem escuta as nossas ladainhas, somos nós que vemos as suas artimanhas e rimos delas. Somos nós que brigamos com ele. É isso que o Marley quer. Alguém que ele possa confiar e que estará ao seu lado até os últimos dias. Um companheiro para a sua vida. E morte. Menos instintivos e mais racionais, fazemos a mesma busca. Talvez não nos entregamos tanto quanto o Marley, nem somos tão sinceros, mas é o que buscamos. E se encontrarmos, tudo o que tiver sido realizado até então terá valido a pena.

A FESTA QUE É PARA POUCOS

Publicado no O Jornal de Uruguaiana de 30 jun 10

Mais certo que previsão do tempo foi dizer duas semanas atrás aqui neste espaço que a Copa do Mundo é o melhor espetáculo para fazer o povo esquecer tudo e os políticos iniciarem a festa. Usava o computador e olhava de relance o que passava na televisão. Nenhuma novidade: vuvuzelas, estatísticas de classificação das equipes no mundial e outras tantas análises dos jogos. Era dia 23 de junho. Eis que ouvi a notícia do Jornal Nacional: Senado aprova aumento médio de 25%. Falta aprovação da Câmara e sanção do Lula. Se tudo isso ocorrer antes do dia 2 de julho, passa a valer para esse ano. E como não poderia ser diferente, depois dos intervalos, mais Copa do Mundo.
Nada contra a festa do futebol. Mas tudo contra a não cobertura dos fatos que REALMENTE interferem no nosso dia-a-dia. Porque a seleção brasileira ganhando a Copa não garantirá o meu emprego nem me dará bonificação por “entusiasta torcedor”. Mas um aumento de 217 milhões de reais nas despesas do Senado ainda em 2010 e R$ 464 milhões para o ano que vem dizem-me respeito. E não só a mim, mas a todo contribuinte e seus dependentes, porque é dinheiro público que está para ser subtraído dos cofres da União e engordar o contra-cheque do funcionalismo da Casa.
Palavras do site da Folha de São Paulo do dia 23 de junho “Com agilidade incomum, Senado aprova reajuste a servidores com impacto de R$ 464 milhões”. Coincidência ou não, agilizou-se um aumento durante a Copa do Mundo... que novidade! Incomum seria se o Legislativo aprovasse o aumento do mínimo durante a Copa. Lá no País das Maravilhas da Alice, ou na Terra do Nunca, do nosso amigo Peter Pan, quem sabe um dia haverá a notícia “Com agilidade incomum, Senado aprova reajuste a professores”, “Câmara dos Deputados aprova a diminuição da carga tributária em votação relâmpago”, ou algo assim. Um pensamento um tanto utópico, não?
Está ocorrendo uma terrível enchente no Nordeste, leis desfavoráveis ao povo são votadas, outras problemáticas ocorrem e o que é noticiado? O que permeia as rodas de conversa? O som estridente das vuvuzelas, a queda da França na primeira fase do mundial, o primeiro cartão vermelho do Kaká pela seleção brasileira.
Cedendo a pressões dos seus servidores, o Senado aprovou o reajuste reformulando o plano de carreira de seus concursados e comissionados. O que mais me assusta é a urgência com que tudo está ocorrendo. E o desconhecimento da população sobre o ocorrido. Já não surpreende a cara-de-compensado de senadores como o Sr. Heráclito Fortes (DEM), relator da proposta, que diz "Tínhamos uma reserva orçamentária em torno de R$ 300 milhões. Estamos economizando, portanto, R$ 100 milhões" (site da Folha de São Paulo, 23/06/10). Ora, é realmente urgente reajustar os gastos no Senado: atualmente a folha de pagamento anual bate a casa dos R$ 2,2 bilhões!
Já dizia a música “Perfeição”, da Legião Urbana: “Vamos celebrar a estupidez humana, a estupidez de todas as nações; o meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões”. Vamos celebrar o pão e circo da Copa do Mundo e deixar os ladrões aumentarem os seus salários...
Não sou nenhuma espécie de cientista político, mas peço que a mídia dê mais valor a esses absurdos que ocorrem com as pessoas que definem os rumos do nosso país. Um pouco menos de Bafana Bafana e um pouco mais de realidade. E, senhores leitores, não sejamos ingênuos em achar que quando todas as atenções estão voltadas para fora do Brasil, não haverá festa aqui também. Ela ocorre, mas não estamos na relação de convidados.
(CURIOSIDADES DA COPA: O Senado aprovou, também, no dia 17/06/10, projeto que reajusta salários de mais de 30 mil funcionários de órgãos federais).

O (DES) AMPARO FRATERNAL

Publicado no O Jornal de Uruguaiana de 23 jun 10

As nossas mães já são motivo de muitas crônicas, poesias e contos. O amor fraterno, os conselhos e toda a mística que envolve a figura da mãe já foram motivo de algum comentário em algum lugar que você já tenha lido. E a história que conheci de um jovem na semana passada, fez-me repensar a posição das figuras familiares na formação de uma pessoa.
Estava realizando algumas entrevistas para o meu trabalho de conclusão do curso de Letras. Os entrevistados eram jovens que nasceram na região do Alto Uruguai e estão morando aqui na cidade. A vinda deles para Uruguaiana gerou um grande choque cultural. Eles vêm de cidades muito menores, de costumes diferentes e sotaque totalmente estranho aos uruguaianenses. Saem das suas terras natais para servir ao Exército em quartéis daqui. Muitos ficam apenas alguns meses e os que permanecem tocam as suas vidas, incorporando a nossa cultura de fronteira.
Esse jovem entrevistado viveu até os 17 anos na zona rural, trabalhando com o pai. Auxiliava nas tarefas do campo. Guardava algum dinheiro para si. A mãe separou-se do pai. Ela e o garoto não travam contato há cerca de 12 anos, com exceção a uma vez: pouco tempo antes de servir, encontraram-se, conversaram meia dúzia de palavras e não se viram mais. Na ocasião disse mãe, quero servir. Guri, deixa de ser besta... e não mais se falaram. Meses antes de incorporar às fileiras do Exército, mudou-se para Santa Catarina para trabalhar. Chegou a data de apresentar-se no quartel, deixou o emprego lá e veio direto a Uruguaiana. Para não cair em tentação, não foi à terra natal. Dois meses após já ser militar contou ao pai que estava servindo. Ele ficou uma semana sem falar com o filho. A mãe ainda não sabe. Acredita que ainda trabalhe com o pai.
Sensibilizei-me com a história. Quem é a família dele? A mãe, com quem não conversa? O pai, que o ama, mas quase não dialoga? Ou o amigo que o trouxe de Santa Catarina até aqui e os seus colegas que convivem diariamente e provavelmente já conheçam a sua história? E quem é, efetivamente, a família de alguém? São os parentes de sangue ou aqueles que nos dão conforto, independente dos laços de parentesco que tenham...
Um filme assistido ontem me lembrou a história desse jovem. N'A vida por um fio, o jovem Clay (Hayden Christensen) perdera o pai e passou a viver com a mãe (Lena Olin), superprotetora por sinal. Encantou-se por uma funcionária da mãe (Jessica Alba) e os dois casaram, a contragosto da matriarca.
O rapaz tinha uma doença grave e necessitava de um coração novo. Finalmente a espera terminou e foi para a sala de cirurgia. Durante a cirurgia os fatos que se sucederam demonstraram que havia uma grande rede de bandidos que queria a fortuna de Clay. A sua esposa e o cirurgião, que também era seu “amigo”, eram membros da rede e todas as demais pessoas a sua volta não eram mais confiáveis. Quem íntegro sobrou? A mãe, que desde o início não queria o casamento nem que fosse aquele o médico a fazer-lhe a cirurgia. Durante o processo cirúrgico, ela pressentiu que algo errado estivesse acontecendo e tentou descobrir o que era. Mexeu na bolsa da esposa e desmascarou-lhe. Antes que ele morresse, suicidou-se para doar o coração. Ao lado de Clay ficara só a mãe.
É aquela coisa de sexto sentido de mãe que ouvimos em conversas e em relatos emocionados de vez em quando: a mãe teve algum mal estar e pensou no filho, na filha; depois descobriu que algo de muito ruim ocorreu com ele/ela. Parece que o cordão umbilical é cortado no parto, mas um canal sem-fio ainda permanece existindo.
Confrontam-se as duas histórias. A mãe zelosa demais e a ausente. A família unida e a desestruturada. Urge, assim, o questionamento: os produtos de um lar exemplar ou depreciável trarão sempre reflexos determinantes nas pessoas? Não apoio essa teoria. Mas é o que muita gente diz. Tive a infância sofrida, abusaram, pulei estágios da minha vida, presenciei um crime, dormi nas ruas até ser acolhido pelo Conselho Tutelar... e é por isso que sou assim: um fracasso.
Caso isso fosse uma verdade incontestável, certamente o primeiro personagem desta crônica não teria prosperado. Se seguisse os conselhos dos pais, estaria até hoje morando e trabalhando no interior. Não que isso seja ruim. Mas não procuraria nenhuma outra forma de levar a vida que talvez gostasse. Não teria saído de casa. Hoje não estaria vestindo a farda verde-oliva. Ele gosta do quartel. Se fizesse sempre o que fosse orientado pelos mais próximos, não estudaria além da 4ª série. Ele concluiu o Ensino Fundamental. Falta-lhe apenas o Médio. Há hoje tantas pessoas com melhores condições de estudar e não o fazem por pura falta de vontade. Ou também porque os pais não incentivam e eles próprios não têm interesse.
Quem é, então, a família? Aqueles que acolhem e servem de suporte físico e emocional. Não resolve ser independente financeira e não emocionalmente. Ou o contrário. Que não sejam desmerecidos os pais, sendo bons conselheiros ou não. Serão sempre pais, porque não há ex-pai ou ex-mãe. Mas os amigos que quebram o galho, com os quais contamos debaixo de temporal ou dia bom, esses também não podem ser esquecidos. E devem ser destacados.

POR UM TRÂNSITO DECENTE

Publicado no jornal Tribuna de 04 jun 10

Aproveitando o verão e as férias, saí para correr. É um costume saudável e ajuda a diminuir os quilos adquiridos na época mais fria e gastronômica do ano, o inverno. O sol se põe mais tarde, grande parcela da população está em férias e pode dormir até mais tarde no outro dia. A vida noturna no verão é, definitivamente, muito mais próspera que nas outras épocas do ano. A maioria sai para caminhar, andar de bicicleta, vai para a academia. Tem os preguiçosos, que ficam em casa assistindo à tv, vendo filme, batendo papo. Nada contra, até porque me incluo nesse grupo, também. Cada um tem o seu ritmo, a sua rotina. E cada um sabe o que é melhor para si.
Durante a corrida de hoje vi um fato que creio ter sido privilegiado, porque poucas pessoas devem tê-lo presenciado em outra ocasião: um carro estacionou junto à lixeira e a carona jogou um pequeno pacote de lixo dentro da caixa a ele destinado. Após isso, o veículo arrancou e prosseguiu o seu caminho. Não é todo dia que alguém para a fim de pôr o seu lixo no devido lugar.
Seria banalmente normal ver algum ignorante abaixar a janela e simplesmente liberar os seus restos ao mundo. Os que vêm atrás que absorvam as minhas sobras. E qualquer um que visse situação como essa não aprovaria, contudo não estranharia.
Achava que guardar o lixo numa sacolinha até chegar a minha residência e pô-lo no lixo da casa era uma “coisa de certinho”, como diria uma amiga minha. Há coisas que todo certinho faz. O politicamente correto. Pensei ser um dos únicos que fazia isso. Não que seja um mérito. É, na verdade, um demérito não o fazer. Pois o casal daquele carro provou-me que educação no trânsito é possível, sim.
Possível mas muito difícil de ver nas ruas. O trânsito no Brasil é uma das maiores causas de morte. Está entre as dez principais. E olha que o trânsito deveria ser só para transportar, não para matar. Não é por menos: a transgressão das leis de circulação ocorre a cada esquina. Já faz parte da cultura, não só desta cidade, mas no país todo, a infração deliberada das leis de trânsito. Carro estacionado em fila dupla? Comum. Motoqueiro, carona e uma criança que não alcançará nem nos próximos dois anos os pés no pedal e sem capacete? Mais comum ainda. Motoqueiro deitado ao longo da motocicleta, apenas com as mãos empunhando o guidão? É algo rotineiro. Qualquer cachorro ou buraco transformará o condutor em poeira, porque isso sempre ocorre em alta velocidade. Fazer racha deitado sobre a moto, terminando-o numa ponte? Vi só uma vez, mas certamente ocorreram muitas mais.
Talvez porque as ruas da parte da cidade que foi planejada, no remoto ano de 1846, sejam largas e pavimentadas; quem cá dirige crê que Interlagos transferiu seu endereço ou que estamos no mais novo percurso do Rally Paris-Dakar.
Havia uma propaganda veiculada na televisão onde a cidade está numa fuzarca total. É carro andando na contramão, pelas paredes, voando, helicóptero dando rasante, pessoas descendo de rapel de helicóptero em plena avenida. Às vezes me sinto assim aqui. E olha que Uruguaiana tem apenas 125 mil habitantes. Em Porto Alegre essa sensação é constante. Só andando pelos bairros mais distantes do centro é que dá para sentir um quê de tranquilidade nas ruas.
Não sou nenhum especialista em trânsito, nem trabalho na área. Meu filão de estudo é a Língua Portuguesa, tudo o que tange educação. À primeira vista, educação quer dizer apenas escola, vestibular, Enem... Negativo! A educação abrange tanto os bancos escolares quanto as atitudes que adotamos no dia-a-dia. Educação é muito mais que cultura, que conhecimento cognitivo. Ela diz respeito ao modo que tratamos o meio ambiente, como nos relacionamos com outras pessoas, de que maneira exercemos o nosso papel de cidadão em todas as ações do dia-a-dia, inclusive no trânsito. E é essa educação, mínima, que imploro aos motoristas e pedestres. Pelo bem de todos e pelo exemplo que nossos pequenos estão vendo de seus pais.

O LEITOR

Publicado no jornal Tribuna, em 30 abril 2010

Talvez um dos filmes mais transcendentais que já tenha visto, certamente o mais profundo dos últimos anos. Um filme que deveria se tornar obrigatório nas salas acadêmicas de licenciatura, em especial de Letras e Pedagogia. Aliás, todo aluno de Letras e Pedagogia deveria fazer um ensaio sobre o filme. Falo d'O Leitor, contracenado com os incríveis Ralph Fiennes e Kate Winslet.
O filme decorre no ano de 1958, na Alemanha Ocidental. Kate Winslet é Hanna, uma mulher comum que se envolve com um garoto, Michael. Ele adora literatura e lê para ela os romances que vê na escola. Os dois afastam-se por um tempo e reencontram-se apenas no julgamento de Hanna por crimes cometidos em Auschwitz, momento em que Michael descobre o novo ofício que ela exerceu após a separação dos dois. Hanna é condenada à prisão perpétua e Michael conduz a sua vida distante desse fato. Até então, não vemos nada de especial no filme. Temos uma história, com um enredo amoroso, a justificativa do título, dois atores excelentes e ponto final. Não fosse o fato de Hanna ser analfabeta e não admitir isso. Nem para Michael. E esse segredo a condena à pena máxima, fato que poderia ser amenizado caso confessasse.
Não se trata de tornar leviano o crime cometido pelos nazistas na 2ª Grande Guerra, e sim da vergonha que ela e tantos outros analfabetos têm em assumir a sua condição. Da prisão, Hanna passa a receber fitas K7 (lembram-se das fitas K7? As crianças e adolescentes de hoje talvez desconheçam) com narrações de histórias que Michael grava. A motivação para viver retorna aos seus olhos, ao coração. Isso faz com que se motive a aprender a escrever por conta própria. Autodidata.
A história cinematográfica e literária faz-me recordar que Machado de Assis era pobre, gago e negro, discriminado na sociedade e aprendeu sozinho a ler e a escrever, vindo a tornar-se um dos maiores escritores da literatura mundial. E no filme “O terminal”, Tom Hanks é Viktor Navorski, um estrangeiro vindo de um país fictício, a Krakozhia, que sofreu um golpe de estado e não teve a nova autonomia reconhecida pelo Governo Norte-Americano como nação, o que impossibilita ao protagonista ingressar nos Estados Unidos. Consequentemente, não pôde regressar à terra natal. Essa situação faz com que ele fique sem ter para onde ir no terminal do aeroporto, considerado área internacional. Para sustentar-se, o estrangeiro pega livros e revistas em inglês e no seu idioma e compara as escritas. Assim, aprende a ler e a escrever na língua local. Essa forma de superação, de aprendizagem de escrita é a mesma que Hanna adota em “O leitor”, com mais de 50 anos. Ela ouve as gravações das histórias e com os livros, compara as letras e, galgando aos poucos, aprende a expressar-se por escrito.
Mas não é dessa maneira que as pessoas que não tiveram antes oportunidade são alfabetizadas. Muitas retornam às salas de aula depois de muitos anos, já casadas, com filhos (que muitas vezes frequentam os bancos escolares), por vezes não para recolocarem-se no mercado de trabalho, mas para concretizarem um sonho pessoal, o de conseguir escrever e ler não só o próprio nome, mas as informações que estão impressas no mundo a sua volta. Outras pessoas não têm essa oportunidade. E continuam analfabetas ou analfabetas funcionais (quando sabem escrever apenas algumas palavras, mas não possuem habilidade de interpretar sentenças simples). Contudo, não raro também encontramos alunos do Ensino Médio lendo igual a uma criança do 2º ano das séries iniciais, pois sempre foram passados de ano e nada houve que lhes motivasse a ler ou escrever.
O leitor faz o professor refletir sobre o seu papel. Faz o educador questionar-se até que ponto está sendo efetivamente competente na aprendizagem de seus alunos. Faz questionar-se o porquê da perda de vontade de ler à medida que a criança cresce. Por que atualmente é tão pouco sedutor ler um livro, um conto, uma crônica, uma notícia? Seria o poder que a televisão e o Playstation têm? Ou porque simplesmente não se procuram mais formar leitores, mas apenas bonequinhos que saibam a gramática e passem no vestibular. Será que a leitura era antes um passatempo por simplesmente não haver nada mais interessante para fazer? Faz os pais voltarem-se para si e procurarem ver se não estão transferindo toda a responsabilidade da educação dos seus pequenos à escola. Questiona-os se deixaram de contar a história da Branca de Neve antes de dormir simplesmente porque a menininha tornou-se mulher ou porque pensaram não ser mais tão importante. Fá-los duvidar se está certa a conduta de não mais acompanhar o desempenho na escola, não olhar mais os cadernos porque cresceram e já necessitam exercitar a responsabilidade pelos seus atos. Ou se há um tanto de negligência na ausência dessa preocupação. Um filme onde o telespectador se diverte, chora com o desenlace da história e reflete sobre as suas atitudes.

POLÍTICA DE BOA VIZINHANÇA

Publicado no Jornal Pampiano de 30 de janeiro de 2010

Dizem que sempre é bom manter uma boa política de vizinhança. Relacionar-se bem com os vizinhos, ser querido pelos demais moradores do prédio, pelos inquilinos das casas ao lado. Mas nem sempre é uma tarefa fácil. Ainda mais se houver um vizinho decididamente inconveniente. Se alguém estiver determinado a tirar-nos do sério. Se é descabido com suas atitudes, desrespeitando o espaço do outro. Mas vamos falar de algo mais palpável, concreto.
Em toda a vizinhança há apenas uma lixeira. Em frente onde moro. Minha. Serve para pôr os detritos que sobram das minhas comidas, as minhas sobras. Sim, dei-me ao trabalho de comprar uma lixeira, fazer massa, concretar a base, tudo isso para não colocar o lixo no chão até o caminhão da empresa licitada passar. Os demais moradores da rua, apesar de não possuírem lixeira, colocam-os como podem, em cima dos seus muros, pendurado em árvores à frente das suas casas. Até o momento, nenhum problema na situação. Não fosse algum vizinho, ainda não identificado até o momento, colocar o seu lixo na lixeira de casa, não deixando espaço nenhum para nosso lixo. Quer colocar o lixo, ponha depois que o de casa estiver posto. Não quero ser egoísta em dizer que não podem colocar o lixo lá. Desde que o meu espaço esteja respeitado.
Vou contar o fato que fez com que investisse o meu tempo falando sobre pessoas desagradáveis e situações também desgostosas como essas. Com as festas de final de ano muito lixo ficou acumulado. Era segunda-feira, o primeiro dia útil do ano, dia de o caminhão do lixo passar. No domingo à noite, por surpresa minha, a lixeira já estava abarrotada de porcarias e nenhuma delas era lá de casa. Onde ficou o meu lixo até o outro dia, quando passaram pra recolher? No chão, é obvio. Jogado a toda sorte, propício a cachorros de rua passarem, pegarem alguma comida, bagunçarem tudo e saírem. Adonar-se do que é seu não é algo legal. Nem um pouco.
No momento de raiva, imediatamente após verificar o que haviam feito, cheguei a pensar em ficar de tocaia na véspera do próximo dia que passasse o lixeiro, pegar o meliante no flagra, dar um sermão, xingá-lo. Mas a cabeça esfriou e vi a idiotice que pensava. Um erro não justifica fazer outro erro. Se não respeitam, não é desrespeitando o outro também que o erro será corrigido.
Assim como há pessoas assim, que agem intencionalmente, há muitas outras que não se tocam quando são inconvenientes, desagradáveis. Ou percebem tarde. Nessas horas, quando a ficha cai que o não quisto é você, o melhor a fazer e sair o quanto antes, de fininho.
Podemos encontrar espécimes em todo o canto. No MSN, então, há uma récua desses. O meio virtual faz as pessoas tornarem-se mais desinibidas. E muitas não sabem como lidar com isso. Cada palavra tem um emoticon correspondente e quando vai falar aparece coração, seta, bichinho correndo, explosão, letra animada, frase e aí vai. Se a pessoa não está acostumada com a linguagem virtual é um sofrimento pra decifrar. Ou então não para de chamar a atenção, escreve um monte de coisa e pede opinião toda hora. É o chato online. Existe, inclusive, reportagens que dão dicas de boas maneiras na internet. Porque é importante ser agradável ao vivo e virtualmente também.
Essa fato faz-me lembrar de uma amiga minha que no meio da conversa ficou offline e continuou a conversar comigo. Disse que tinha um colega de trabalho importunando, não parava de falar de trabalho. E isso era domingo, o dia da folga merecida. Ao menos deveria ser da folga. Ficou aparecendo offline para que não fosse incomodada.
E é disso que tenho medo. De ser como esse colega de trabalho. Porque o chato geralmente é o outro. Mas um dia pode ser que sejamos nós. A Martha Medeiros até fez uma crônica tempo atrás questionando quando somos nós os chatos.
Encontramos gente de todo estilo, bem e mau intencionadas. Seja o chato, que é bem intencionado, exagerado. Sejam meus vizinhos do lixo, desrespeitando o convívio harmonioso entre as pessoas. De qualquer modo, sempre haverá alguém assim próximo de nós, na internet ou seremos nós mesmos.

AMIGOS DE SEMPRE

Publicado no site da Casa do Poeta de Santiago,
em 08 junho 2010

Semanas atrás fui para Santa Maria a trabalho. Uma semana. Inicialmente fiquei chateado, pois essa viagem atrapalharia muito os meus estudos. Mas eu sabia que coisas boas estariam por vir. Isso porque já morei lá e quando saí deixei muitos amigos que até hoje converso. Não com a mesma periodicidade, mas ainda tão íntimos quanto um irmão mais velho. E também ficou um casal de velhinhos (vamos chamá-los de melhor idade, porque o espírito jovem deles torna injusto alcunhar-lhes dessa maneira). Os eternos tio Newton e a tia Criseida.
Conheci-os em 2004 num Grupo de Jovens chamado Jufra. O local? Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. O significado de Jufra? Juventude Franciscana. Podes procurar no Orkut. Vais encontrar muitas comunidades inspiradas em São Francisco de Assis, o protetor dos animais. Assimilei esses conceitos e muitos outros com os tios. Mas o mais importante foi a experiência de vida que eles me transmitiram. Os valores que passaram com seu exemplo. E a sempre solicitude que eram e ainda são com todos a sua volta.
Retornar à casa amiga sempre é bom. Traz consigo um pouco de nostalgia. Mas novos ares, por mais conhecidos que sejam, sempre são bons. Pessoas novas que se encontra. Tio Newton e tia Criseida reencontrados.
No sábado dei uma espacapadinha do trabalho e fui à reunião semanal da Jufra. Cheguei antes dos tios. E encontrei dois ou três rostos conhecidos ainda de 2004 e o resto era tudo pessoal novo. Conversava com o Guilherme quando brados e canções davam salvas a quem chegava. Eram os tios. Uma rapazeada de 15 a 18 anos, quase ninguém passava dessa idade, todos louvando a presença dos tios. Fiquei feliz por isso. Abraçamo-nos e atualizamos alguns fatos. Porque pôr em dia tudo precisaria de mais uma semana.
Ao final do encontro cada um fez uma prece em voz alta. Agradeci a receptividade de todos e em especial do tio Newton e da tia Criseida. Salientei que como meus pais moravam em Uruguaiana em 2004, foram eles os meus pais de Santa Maria. E acho que ainda são. Porque pai não é somente aquele gerou, mas quem criou, quem amparou nos momentos ruins e quem inspirou confiança quando um mar de dúvidas nos domina. E não continuei. Porque prosseguir falando como eles haviam sido bons comigo far-me-ia derramar algumas lágrimas.
Foi bom vê-los. Também ótimo descobrir que outro amigo que fazia agronomia desencantou-se com a vida do campo e rumou à filosofia. Tenho, então, um amigo filósofo! disse-lhe. Quase isso, redarguiu-me, talvez achando um tanto elevado o título dado. Mas como ele não seria se andava à volta de Kant, Rousseau, Sócrates e tinha na cabeceira um livro de Platão? Era gostoso conversar com ele e ver-lhe os questionamentos intermináveis e relativismos sempre ponderados com a teoria lida e o conflitante empirismo. Perdia um pouco a graça quando chegava ao ponto de, mesmo esforçando-me muito, não conseguir acompanhar seu raciocínio e abstrair suas ideias.
Também achei incrível quando o Guilherme, outro amigo meu e anfitrião da minha morada naqueles dias, ligou para outro conhecido dos tempos de Santa Maria. Adivinha quem está aqui? Uma chance. E do outro lado veio o tiro na mosca. O Giovani. Dois anos depois eu retornava a passeio ao centro do estado e ainda assim ele acertara supondo que eu lá estava. Assustei-me com isso, pra não dizer que fiquei lisonjeado.
Voltei a Uruguaiana no domingo, exata uma semana depois de haver abandonado a Fronteira Oeste temporariamente. E muita história para contar. E com um sorriso nos lábios. E com as amizades reforçadas. E com a certeza de serem os tios, o filósofo e todos os outros, as pessoas que verdadeiramente fazem uma cidade ser hospitaleira ou não. Que tornam acolhedora ou insensível, Santa Maria. Serem as pessoas que lá vivem as causadoras de boas ou más lembranças. Com Uruguaiana é a mesma coisa. É uma cidade longe de Porto Alegre? Depende do ponto de vista. Eu responderia que não é longe da capital e sim perto de Buenos Aires. Se aqui falta alguma coisa que num centro maior tem, falo sobre o que é material. Porque as pessoas boas que encontrei em Santa Maria existem aqui também. Com outros nomes e sobrenomes, mas são de carne e osso. E coração.

PÃO, CIRCO E COPA DO MUNDO

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, de 16 de junho de 2010

Inevitavelmente, nesses junho e julho gelados de 2010, um dos assuntos mais comentados será a Copa do Mundo. Entre os dias 10 de junho e 11 de julho a África do Sul será a “arena romana” da maior festa do futebol. Por mais que a pessoa não goste do esporte ou deteste a Copa do Mundo, estará envolta do campeonato. O que preocupa é que o encantamento que permeia a competição e a atenção que a mídia dá ao evento faz com que tudo o que ocorra concomitantemente à Copa, passe desapercebido. É impossível não relacionar a competição à política do Pão e Circo.
Na Roma antiga, os problemas sociais chegaram a um estado tão crítico que os imperadores, receosos que a população se revoltasse, promoveram a luta de gladiadores em estádios, dentre eles, o Coliseu. Lá, o povo recebia alimentos. O império fomentava festas para entregar comida no intuito de que todos esquecessem suas vidas miseráveis.
Muitos políticos acreditam que vivemos essa política do panis et circenses, a política do Pão e Circo, a cada quatro anos. Aprovam leis durante a Copa porque sabem que o circo africano faz o brasileiro esquecer de ler qualquer notícia que não tenha relação com o futebol. Porque sabem que o jornal vai escrever uma pequena nota relatando a votação da lei. E que a televisão não noticiará por mais de dois minutos. O tempo restante estará reservado ao futebol, à Copa do Mundo. E viva Robinho & Cia. E dane-se o povo.
Esquece-se o que ocorre fora dos gramados. Além disso, ocorre uma espécie de patriotismo relâmpago no país. Um pouco antes de começar a Copa, aumentam as vendas de camisetas e qualquer parafernália que sirva para torcer pelo Brasil e mostrar-se patriótico. Em pleno campeonato, o comércio verde-amarelo ferve. E surgem os discursos ufanistas de patriotismo. Salve o Brasil! Viva no nosso país! Como é bom ser brasileiro! Eu dou o sangue pela minha pátria! Um mês depois de todo esse alvoroço, ninguém mais ousa dizer algo parecido. Parece-me um patriotismo de fogo de palha vivido a cada quatro anos.
Ser patriota é muito mais que vestir a camiseta do país e dizer “eu amo o Brasil”. E, lógico, não é lutar pela nação a cada Copa, mas no dia-a-dia. Ser patriota é lutar por uma educação melhor no nosso país, é denunciar alguma irregularidade com dinheiro público que tenha presenciado. Ter patriotismo é ver a frente de uma escola cheia de alunos, as salas de aula quase vazias e denunciar o problema às autoridades competentes para que se resolva. Ora, é o dinheiro do contribuinte que está em jogo. Quem paga a escola pública? É a mesma população que veste a camiseta canarinho e vibra com o gol da seleção brasileira, mas que quando há protestos contra o governo ou uma empresa privada, tem preguiça de sair de casa e ajudar na luta sindical. Não é fácil ser patriota, mas é muito mais que ser torcedor da seleção. Por mais fervoroso que seja.
Outro exemplo de pseudo-patriotismo é a batalha dos jogadores na Copa, os nossos “gladiadores”. Sim, o sangue esquenta durante o campeonato e a adrenalina fica a mil na hora do jogo. O jogador sabe que grande parcela da população do seu país estará acompanhando o seu desempenho dentro de campo através da televisão e do rádio e que, inclusive, muitos aficcionados torram suas economias para poder assistir aos jogos ao vivo. Mas as cifras generosíssimas que cada seleção irá receber também fazem com que a vontade de vencer cresça ainda mais. Em página especial da Copa, reportagem da Veja Online esclarece que quem for eliminado na primeira fase da competição, ganhará a merreca de 8 milhões de dólares, ou 14,5 milhões de reais. As seleções eliminadas nas oitavas e quartas de final ganharão 9 e 14 milhões de dólares, respectivamente. Para a vice-campeã, o prêmio de consolação bate na casa dos 24 milhões de dólares (44 milhões de reais). A seleção campeã da Copa do Mundo vai abocanhar 30 milhões de dólares. Tratando-se do Brasil, serão 55 milhões de reais. Tem “patriotismo” melhor?
Quem dera eu, se atingisse um objetivo proposto pelo meu chefe, ganhasse 10% disso. Quem dera que os brasileiros que trabalham de domingo a domingo, ganhassem 1% desse valor se trabalhassem bem, se fizessem o que já são pagos para fazer. Quem dera se todos recebessem um salário digno, isso sim. Ao menos não é a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que vai pagar essa grana, e sim a FIFA (Federação Internacional das Associações de Futebol). Menos mal! Pudera, seria o cúmulo a população pagar aos jogadores e comissão técnica uma fortuna para o que já são pagos (e muito bem remunerados) para realizar.
Mesmo parecendo Pão e Circo em alguns aspectos, a Copa do Mundo tem o seu valor. Alegra as pessoas, promove o encontro de amigos para assistir aos jogos. Todos voltados para uma festividade. Melhor que para uma guerra. Mas, também, é tentadora para a política. Porque o mundo (muito menos o Brasil), não para durante esse mês. E se ninguém prestar atenção ao que é votado lá em Brasília, em Porto Alegre e aqui mesmo em Uruguaiana, a Copa terá servido apenas como um bom entretenimento enquanto os políticos fazem a festa.

AQUI NÃO TEM SHOPPING!

Publicado n'O Jornal de Uruguaiana de 26 mai 10

No meu trabalho há muita gente que vem de outras cidades do estado e outros estados do Brasil. Muitos são a contragosto, por motivo de transferência forçada e alguns porque querem. Ouço muitas reclamações quanto a Uruguaiana, cidade de onde vos escrevo e que considero como minha cidade, mesmo não sendo a natalícia. Aqui não tem shopping, não tem praia, nem MacDonald's, Pizza Hut, e segue a ladainha. Realmente não tem isso, nem Morro do Alemão e engarrafamento.
Não posso dizer que fico triste com o que declaram daqui. O termo correto seria decepção, desalento. Porque vejo que se alguém se muda para cá não querendo, significa que tem grandes chances de permanecer durante toda a estadia nesta cidade achando-a ruim e por isso mesmo, não descobrindo as boas oportunidades que poderá encontrar.
Se você está indo para uma nova cidade morar, é interessante que abra o coração e a mente aos novos costumes que encontrará. E se a transição cultural for muito grande, porque há gente do Nordeste, Norte e Sudeste que migra, é muito válida toda e qualquer tentativa de adaptar-se. Ninguém vai perder as raízes só porque toma chimarrão ou porque aprende a cantar o Hino Riograndense. Nem porque não vai mais ao Shopping Iguatemi, em São Paulo, e sim ao “Shopping da Baixada”.
O livro “Seja feliz sem querer controlar tudo”, de Joe Caruso, fala algo sobre isso. Sobre a questão de não conseguirmos controlar as coisas a nossa volta, nem as pessoas, nem os acontecimentos. O poder consiste, efetivamente, em controlar a nossa reação perante os fatos, a maneira como encararemos a nova situação. Se não foi possível morar em outra cidade que lhe agradasse, se não houve como controlar a escolha da cidade, então concentre as atenções em ver quais são as vantagens do novo habitat, controle o seu pensamento e foque-o na busca por tornar o novo lar no melhor lar do mundo.
Porque o local que vivemos é bom ou ruim dependendo, principalmente, das pessoas com que nos relacionamos, das relações que tecemos ao longo do tempo, das amizades que cultivamos. Eu mesmo, quando vim para Uruguaiana em 1999, não gostava da cidade. E qual era o motivo? Deixava na terra natal muitos amigos e uma vida calma e segura. Ingressava aqui num novo território, um mar de surpresas ainda a serem desveladas, precisava tecer novas teias de amigos. E comecei a gostar da cidade a partir do momento que construí amizades. Desde então, saí para estudar e trabalhar fora e na primeira oportunidade que surgiu para retornar, juntei as trouxas, subi na mula e troteei até aqui.
Uruguaiana tem 125 mil habitantes. Não é uma cidade de grandes proporções. Não se compara a São Paulo nem ao Rio de Janeiro. Porto Alegre é um formigueiro de pessoas comparado a aqui. Não possui, é verdade, MacDonald's, nem Pizza Hut. Algumas favelas dos grandes centros possuem quase a população daqui. Faltam opções de cultura e lazer? Pode ser que não tenha na multiplicidade ideal, mas tem. Mas há aqui coisas que em outros lugares não são possíveis...
Por acaso é possível, morando em Belo Horizonte, andar menos de 10 quilômetros e jantar num restaurante no exterior? Em poucos minutos atravessa-se a ponte e nos deparamos com uma cultura bem distinta da nossa. E olha que a vizinha argentina Paso de los Libres é a cidade mais próxima de Uruguaiana. Depois dela, encontramos Barra do Quaraí a 70km, Itaqui a 100km e Alegrete a 150km. Só em Uruguaiana e noutras cidades fronteiriças temos possibilidades semelhantes. Só em cidades assim podemos nos deparar com frequência que até se torna natural, com um argentino fazendo compras com toda a família.
Para quem me fala que a cidade até poderia ser boa se não fosse tão longe de Porto Alegre, eu respondo que aqui não é longe da capital, e sim perto de Buenos Aires. Fica praticamente no caminho entre a capital argentina e a capital gaúcha. A 680km de Buenos e 630km de Porto. Quem é natural de regiões longínquas do Brasil, morar aqui é a grande oportunidade da vida para ir à Patagônia, a Mar del Plata, Montevidéu, Punta del Este ou Bariloche por um preço bem em conta.
Não se trata de morar num lugar com completa infraestrutura, dezenas de salas de cinema, shopping de oito andares, autódromo, parque temático, fast foods e qualquer outra demonstração arquitetônica de desenvolvimento urbano. Trata-se de saber colher os bons frutos que aquele local que habitamos tem, tirar vantagem mesmo que nos consideremos desvantajosos. Ainda que não controlemos o destino de nossa morada futura, podemos aprender a lidar em como encarar essa mudança. E da melhor maneira possível.

BOA NOITE, CINDERELA

Publicado n'O Jornal de Uruguaiana de 09 jun 2010
e no jornal Letras Santiaguenses de set/out 2010

Eis que num dos tempos ociosos do meu dia deparei-me pensando em algumas coisas interessantes para se fazer na vida com a pessoa que gosta, seja ela a esposa, namorada, ficante ou qualquer outra relação afetiva. Presentear com pétalas de rosa num buquê grande e lindo, para quem nunca fez, é a primeira providência. Mas não esqueça do cartão. Nem que seja feito à mão, pequeno, com duas linhas escritas. E que seja de coração.
Basicamente, precisamos de um jantar romântico. Se houver ocasião especial, perfeito! Se não houver, perfeito também! Vamos ao tradicional, porque faz parte do imaginário de todo mundo, especialmente das mulheres. Vela, toalhinha delicada e bonita, balde com champanhe e muito gelo, som com a seleção de músicas que ela adora. É um trabalho pra ser iniciado alguns dias antes. Só no dia vira correria.
Ah, caso não se garanta na cozinha, o melhor é encomendar uma pizza.
Outra coisa interessante seria, enquanto a garota se prepara no banheiro, antevendo aquela noite maravilhosa com ela, puxar da mochila um pacotinho de pétalas de flores e espalhar na cama. Se der tempo e a criatividade ajudar, escreva as iniciais dos dois ou faça um desenho inspirador. Receber rosas é legal e as pétalas na cama certamente serão tanto quanto.
Realize um sonho da garota que ama. Se ela não conhece a praia, convide-a para viajar num feriadão. Mas não diga o lugar. Ou invente outro. À medida que forem chegando, possivelmente a ficha irá cair. Mas aí a surpresa estará feita. Ela terá que comprar um novo biquíni, mas isso faz parte do suspense.
Costumeiramente os pores-do-sol e nasceres são lindos. Se houver um rio ou mar próximos, a chance de ser uma visão encantadora é muito grande. O pôr-do-sol é mais fácil de ser degustado, uma vez que já estamos acordados quando ele ocorre. Mas não deixe de ir ver com sua querida. Um tanto mais sofrível é vê-lo nascer. Mas o resultado compensa. Ponha o celular para despertar um pouco mais cedo. Previna-se com um som e dentro dele um CD. Senão a única opção poderá ser ouvir a Rádio Gaúcha, o que não tem nada de romântico nisso.
Se vocês namoram ou ao menos há acesso até o quarto dela, espalhe por todo ele bilhetes. Pode estar escrito apenas OI, ou BEIJOS, ou TE ADORO, ou TE AMO. Qualquer coisa que faça lembrar vocês dois. Se ela passar a semana inteira encontrando ao acaso esses bilhetes, a cesta será de três pontos!
Além disso, fuja um dia com ela. Rapte-a. Ainda que a garota more sozinha. O destino? Só vocês dois sabem. Hospedem-se num hotel e contem outra história em casa. Não tem como viajar? Fiquem num hotel da própria cidade. Permitam-se turistas por um dia. E fica sendo um segredo só de vocês dois.
Surpreenda sua garota. Surpreenda-se. Crie e recrie. Só não deixe a relação amornar na mesmice. A nossa vida é muito curta para desperdiçar tempo com água morna. Que seja quente. Mas não fervente, porque queima. Não podemos esquecer que se não fizermos coisas diferentes com as pessoas que gostamos, ou elas farão algum dia com outra pessoa, ou você e ela terão se privado de algo que seria bom para os dois.
Li certa vez e nunca esqueci, mas não recordo onde. As melhores coisas que ocorrem conosco acontecem em dias normais, cotidianos, na rotina. É num dia comum. Porque os astros não alinham, não ocorre um eclipse solar só para louvar o que está fazendo, o Brasil não para esperando o desenrolar da sua surpresa.
Se as dicas forem muito românticas, desconsidere o que achar mais meloso. Se não concordar com o que é dito aqui, tudo bem. Há quem concorde. Tire proveito do que não lhe agrada para, então, fazer diferente. Está aí a multiplicidade de pensamentos e modos de ser das pessoas. Independente do ponto de vista, faça a sua garota sentir-se melhor, perceber-se sua. Para que você mereça dar-lhe um boa noite, Cinderela.

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