Mostrando postagens com marcador acidentes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador acidentes. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

NÃO ME JULGUES COMO OS JULGAM

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 28 Nov 2010
Sábado, 20 de novembro: “Juíza aposentada ignora blitz e provoca acidente com sete veículos em Porto Alegre” (Folha de São Paulo). A representação máxima da lei descumprindo a própria lei. A infratora: Rosmari Girardi, de 53 anos, ex-juíza em Uruguaiana-RS.

Contrapõe-se a este lamentável episódio urbano, a perda da carteira de habilitação de um garoto de seis anos. Ele comportou-se mal durante a aula e teve a carteirinha recolhida pela professora, que a fizera durante um projeto sobre trânsito na sua turma.

Comentei com essa professora, minha amiga, que leciona em uma escola de Educação Infantil de Uruguaiana, sobre o episódio da juíza-transgressora. Na mesma hora, ela contou-me sobre o projeto que realizou com seus alunos e citou-me este fato que veio na contramão do ocorrido em Porto Alegre. O projeto sobre trânsito foi desenvolvido com seus alunos de seis anos da pré-escola. Com o nome de “As rodinhas que fazem girar o mundo”, ela trabalhou a educação para o trânsito e valores que as crianças necessitam desenvolver nessa idade. Cada pequeno recebeu uma Carteira Nacional de Habilitação personalizada com o seu nome e desenhou nela seu rosto e assinou. Desde então, cada aluno poderia conduzir a bicicleta que estava pintada na carteirinha. A cada má atitude em sala de aula, os novos condutores perdiam um ponto na carteira. Somando-se cinco pontos, ela seria recolhida, ficando impossibilitados de andar de bicicleta. Um dos garotos acabou perdendo essa carteira, chorou e contou à mãe. Esta, felizmente entendeu a proposta da atividade e disse ao filho que ele não poderia mais pedalar porque não se agira bem em aula. Ele chorou novamente. Mais tarde, acabou recebendo de volta a sua CNH sob a condição de comportar-se a partir de então.

Essa valorização do direito de dirigir faltou à juíza aposentada, que possuía sinais de embriaguez. Tinha aspecto sonolento, falta de equilíbrio e fala arrastada. Depois de duas horas após o início do inconveniente acidente, pôde dormir sossegada em casa. Mas quem não deve, não teme: negou-se a fazer o teste do bafômetro e as coletas de urina e de sangue. É difícil acreditar que não estava alcoolizada. De acordo com a delegada Clarissa Rodrigues, delegada responsável pelo caso, a magistrada mal conseguia ficar em pé, articulava mal as palavras e apresentava hálito de quem havia consumido bebida alcoólica.

O Código de Trânsito Brasileiro fala com clareza quanto a dirigir sob influência de álcool em dois artigos. O artigo nº 165, que define como infração gravíssima dirigir sob influência de álcool em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, penalizando com multa, suspensão do direito de dirigir, retenção do veículo e recolhimento da habilitação. E o artigo nº 277, que diz que todo condutor envolvido em acidente de trânsito, sob suspeita de haver excedido aquele mesmo limite de seis decigramas, deverá ser submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que permita certificar o seu estado.

Ainda assim, o laudo da perícia conseguiu ser INCONCLUSIVO. É, em letras garrafais. Será que o mesmo ocorreria com um pedreiro, professor, arquiteto ou jornalista?

A fé na isonomia das instituições toma mais uma chibatada e enfraquece a credibilidade já debilitada. De acordo com a mesma delegada que confirmou os indícios de alcoolismo da juíza aposentada, não houve materialidade, ou seja, prova de que dirigia embriagada. Portanto, a transgressora não responderá por embriaguez no trânsito. As responsabilidades penais dizem respeito, somente, aos danos materiais causados aos proprietários dos veículos acidentados.

Menos de uma semana antes, no dia 14 de novembro, a Zero Hora havia publicado uma reportagem de capa mostrando o trauma de famílias que tiveram um dos familiares mortos em acidentes de trânsito. Algumas pessoas mantêm-se insensíveis a essa realidade. O desenho da Disney com o Pateta representado pelo pacato pedestre senhor Walker e pelo transtornado motorista senhor Willer, figura-se como um retrato semelhante à autoridade justa dos tribunais e à motorista destrambelhada da madrugada porto-alegrense.

Nunca é tarde para que aprendamos. Se essa cidadã, que deveria ser um exemplo de motorista ao guiar o seu veículo, frequentasse as aulas de reciclagem dos Centros de Formação de Condutores, quem sabe aprendesse que beber e dirigir não combina. Ou se ainda morasse em Uruguaiana e participasse das aulas daquela turma da pré-escola, talvez valorizasse mais o direito de dirigir, assim como o aluno-transgressor. Ela tem idade para ser avó do menino, mas é ele quem poderia ensiná-la, pelo exemplo, como valorizar a sua CNH.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

POR UM TRÂNSITO DECENTE

Publicado no jornal Tribuna de 04 jun 10

Aproveitando o verão e as férias, saí para correr. É um costume saudável e ajuda a diminuir os quilos adquiridos na época mais fria e gastronômica do ano, o inverno. O sol se põe mais tarde, grande parcela da população está em férias e pode dormir até mais tarde no outro dia. A vida noturna no verão é, definitivamente, muito mais próspera que nas outras épocas do ano. A maioria sai para caminhar, andar de bicicleta, vai para a academia. Tem os preguiçosos, que ficam em casa assistindo à tv, vendo filme, batendo papo. Nada contra, até porque me incluo nesse grupo, também. Cada um tem o seu ritmo, a sua rotina. E cada um sabe o que é melhor para si.
Durante a corrida de hoje vi um fato que creio ter sido privilegiado, porque poucas pessoas devem tê-lo presenciado em outra ocasião: um carro estacionou junto à lixeira e a carona jogou um pequeno pacote de lixo dentro da caixa a ele destinado. Após isso, o veículo arrancou e prosseguiu o seu caminho. Não é todo dia que alguém para a fim de pôr o seu lixo no devido lugar.
Seria banalmente normal ver algum ignorante abaixar a janela e simplesmente liberar os seus restos ao mundo. Os que vêm atrás que absorvam as minhas sobras. E qualquer um que visse situação como essa não aprovaria, contudo não estranharia.
Achava que guardar o lixo numa sacolinha até chegar a minha residência e pô-lo no lixo da casa era uma “coisa de certinho”, como diria uma amiga minha. Há coisas que todo certinho faz. O politicamente correto. Pensei ser um dos únicos que fazia isso. Não que seja um mérito. É, na verdade, um demérito não o fazer. Pois o casal daquele carro provou-me que educação no trânsito é possível, sim.
Possível mas muito difícil de ver nas ruas. O trânsito no Brasil é uma das maiores causas de morte. Está entre as dez principais. E olha que o trânsito deveria ser só para transportar, não para matar. Não é por menos: a transgressão das leis de circulação ocorre a cada esquina. Já faz parte da cultura, não só desta cidade, mas no país todo, a infração deliberada das leis de trânsito. Carro estacionado em fila dupla? Comum. Motoqueiro, carona e uma criança que não alcançará nem nos próximos dois anos os pés no pedal e sem capacete? Mais comum ainda. Motoqueiro deitado ao longo da motocicleta, apenas com as mãos empunhando o guidão? É algo rotineiro. Qualquer cachorro ou buraco transformará o condutor em poeira, porque isso sempre ocorre em alta velocidade. Fazer racha deitado sobre a moto, terminando-o numa ponte? Vi só uma vez, mas certamente ocorreram muitas mais.
Talvez porque as ruas da parte da cidade que foi planejada, no remoto ano de 1846, sejam largas e pavimentadas; quem cá dirige crê que Interlagos transferiu seu endereço ou que estamos no mais novo percurso do Rally Paris-Dakar.
Havia uma propaganda veiculada na televisão onde a cidade está numa fuzarca total. É carro andando na contramão, pelas paredes, voando, helicóptero dando rasante, pessoas descendo de rapel de helicóptero em plena avenida. Às vezes me sinto assim aqui. E olha que Uruguaiana tem apenas 125 mil habitantes. Em Porto Alegre essa sensação é constante. Só andando pelos bairros mais distantes do centro é que dá para sentir um quê de tranquilidade nas ruas.
Não sou nenhum especialista em trânsito, nem trabalho na área. Meu filão de estudo é a Língua Portuguesa, tudo o que tange educação. À primeira vista, educação quer dizer apenas escola, vestibular, Enem... Negativo! A educação abrange tanto os bancos escolares quanto as atitudes que adotamos no dia-a-dia. Educação é muito mais que cultura, que conhecimento cognitivo. Ela diz respeito ao modo que tratamos o meio ambiente, como nos relacionamos com outras pessoas, de que maneira exercemos o nosso papel de cidadão em todas as ações do dia-a-dia, inclusive no trânsito. E é essa educação, mínima, que imploro aos motoristas e pedestres. Pelo bem de todos e pelo exemplo que nossos pequenos estão vendo de seus pais.

Protegido