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terça-feira, 12 de outubro de 2010

POR UM TRÂNSITO DECENTE

Publicado no jornal Tribuna de 04 jun 10

Aproveitando o verão e as férias, saí para correr. É um costume saudável e ajuda a diminuir os quilos adquiridos na época mais fria e gastronômica do ano, o inverno. O sol se põe mais tarde, grande parcela da população está em férias e pode dormir até mais tarde no outro dia. A vida noturna no verão é, definitivamente, muito mais próspera que nas outras épocas do ano. A maioria sai para caminhar, andar de bicicleta, vai para a academia. Tem os preguiçosos, que ficam em casa assistindo à tv, vendo filme, batendo papo. Nada contra, até porque me incluo nesse grupo, também. Cada um tem o seu ritmo, a sua rotina. E cada um sabe o que é melhor para si.
Durante a corrida de hoje vi um fato que creio ter sido privilegiado, porque poucas pessoas devem tê-lo presenciado em outra ocasião: um carro estacionou junto à lixeira e a carona jogou um pequeno pacote de lixo dentro da caixa a ele destinado. Após isso, o veículo arrancou e prosseguiu o seu caminho. Não é todo dia que alguém para a fim de pôr o seu lixo no devido lugar.
Seria banalmente normal ver algum ignorante abaixar a janela e simplesmente liberar os seus restos ao mundo. Os que vêm atrás que absorvam as minhas sobras. E qualquer um que visse situação como essa não aprovaria, contudo não estranharia.
Achava que guardar o lixo numa sacolinha até chegar a minha residência e pô-lo no lixo da casa era uma “coisa de certinho”, como diria uma amiga minha. Há coisas que todo certinho faz. O politicamente correto. Pensei ser um dos únicos que fazia isso. Não que seja um mérito. É, na verdade, um demérito não o fazer. Pois o casal daquele carro provou-me que educação no trânsito é possível, sim.
Possível mas muito difícil de ver nas ruas. O trânsito no Brasil é uma das maiores causas de morte. Está entre as dez principais. E olha que o trânsito deveria ser só para transportar, não para matar. Não é por menos: a transgressão das leis de circulação ocorre a cada esquina. Já faz parte da cultura, não só desta cidade, mas no país todo, a infração deliberada das leis de trânsito. Carro estacionado em fila dupla? Comum. Motoqueiro, carona e uma criança que não alcançará nem nos próximos dois anos os pés no pedal e sem capacete? Mais comum ainda. Motoqueiro deitado ao longo da motocicleta, apenas com as mãos empunhando o guidão? É algo rotineiro. Qualquer cachorro ou buraco transformará o condutor em poeira, porque isso sempre ocorre em alta velocidade. Fazer racha deitado sobre a moto, terminando-o numa ponte? Vi só uma vez, mas certamente ocorreram muitas mais.
Talvez porque as ruas da parte da cidade que foi planejada, no remoto ano de 1846, sejam largas e pavimentadas; quem cá dirige crê que Interlagos transferiu seu endereço ou que estamos no mais novo percurso do Rally Paris-Dakar.
Havia uma propaganda veiculada na televisão onde a cidade está numa fuzarca total. É carro andando na contramão, pelas paredes, voando, helicóptero dando rasante, pessoas descendo de rapel de helicóptero em plena avenida. Às vezes me sinto assim aqui. E olha que Uruguaiana tem apenas 125 mil habitantes. Em Porto Alegre essa sensação é constante. Só andando pelos bairros mais distantes do centro é que dá para sentir um quê de tranquilidade nas ruas.
Não sou nenhum especialista em trânsito, nem trabalho na área. Meu filão de estudo é a Língua Portuguesa, tudo o que tange educação. À primeira vista, educação quer dizer apenas escola, vestibular, Enem... Negativo! A educação abrange tanto os bancos escolares quanto as atitudes que adotamos no dia-a-dia. Educação é muito mais que cultura, que conhecimento cognitivo. Ela diz respeito ao modo que tratamos o meio ambiente, como nos relacionamos com outras pessoas, de que maneira exercemos o nosso papel de cidadão em todas as ações do dia-a-dia, inclusive no trânsito. E é essa educação, mínima, que imploro aos motoristas e pedestres. Pelo bem de todos e pelo exemplo que nossos pequenos estão vendo de seus pais.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

LIXO CIBERNÉTICO

Publicado no Jornal Letras Santiaguenses set/out 2009

Ocorreu num desses dias raros onde as horas se arrastam e o tempo lá fora parece um velho oeste, com folhas voando e o sol escaldante. Faltava só a poeira da terra de chão invadir meus aposentos. É asfalto. Talvez seja esse o motivo de não ocorrer isso. Mas a típica imagem de cidade deserta figurava em meu consciente. Passei então, a vasculhar meu computador, deletando aqueles documentos que guardamos porque “um dia vamos precisar”. Na hora, não soubemos o que fazer com eles e decidimos deixá-los no mesmo lugar. Fica aqui que não incomoda.
Temos a possibilidade única que só um computador pode proporcionar-nos de guardar arquivos importantes e todo o lixo que costumeiramente não nos desfazemos, sem que ocupem muito espaço. Talvez alguns megabytes, mas o que são eles se nossas potentes máquinas armazenam na casa dos gigabytes? E não são poucos, é bom que se diga. São na ordem de uma centena de gigabytes e nos modelos mais novos, de algumas (até mesmo muitas) centenas. Dessa forma, entramos num círculo vicioso, onde compramos máquinas mais potentes e mais espaçosas; e quanto mais espaço, mais documentos arquivamos, mais lixo guardamos e mais aumenta a nossa necessidade de procurar um HD (hard disk) com maior capacidade de armazenamento.
Já não aconteceu alguma vez de tentar procurar um simples arquivo de texto, guardado há um certo tempo e demorar horas para encontrá-lo? E essa demora resumir-se pelo simples motivo de o arquivo ter o nome semelhante a outros vinte e estar dentro de uma pasta que tem outras dezenas de pastas que também é mais uma dentre muitas outras? É uma sistematização absurda que fazemos porque é tão simples criar uma nova pasta, colar dentro de outra e de mais outra. Aí, criam-se várias pastas, cada qual com inumeráveis subpastas que também têm outras subpastas e prossegue assim por incontáveis subdivisões.
Também tem aqueles documentos que atribuímos o nome do arquivo à anotação que desejamos e só por preguiça utilizamos o teclado em vez da caneta e do papel. Aí, fica um documento do Word (ou então do BrOffice Writer, do Sistema Operacional Linux) em branco com o seguinte nome de arquivo: “avisar o André que o Cláudio não vai mais à festa e está com os convites para devolver. Tel 9663-9587.doc”.
Uma grande amiga minha perguntou-me certa vez qual era o prazer que eu tinha em lotar o meu PC com arquivos de textos, fotos e vídeos. Repeti a pergunta a ela, qual era o prazer que tinha em ver o seu computador quase sem documentos, com menos de 30% do seu espaço em disco ocupado. Se o meu fosse assim, creio que me sentiria impotente, um ser incapaz de ter conteúdo para preencher todos os recantos do meu HD, por mais que usasse anos atrás um de 40GB e hoje ele seja de 120GB. Ela com a sua mania de deixar sempre vazio o seu HD e eu com a minha paranoia de querer completar cada vez mais os espaços que possuo. Não tenho dúvida de que quando meu HD for de 500GB, ocuparei 450GB e deixarei só 50GB, senão menos, de espaço livre.
Partamos da premissa que refletimos a nossa personalidade em todas as nossas ações. Buscamos incessante e angustiadamente o mais, o melhor e procuramos abraçar o mundo, entulhados de atividades. Lotar o computador com documentos não diminuirá nossa ansiedade natural, nem limpará os lixos que possuímos dentro e fora do mundo digital. Muito menos resolverá os problemas.
É bom diminuir a confusão de arquivos que criamos no mundo cibernético, de jogar para dentro da tela tudo o que cai em nossas mãos (ou melhor, que baixamos nos downloads). Saber selecionar o que é bom e o que é lixo. Não dá para valer-se da não-ocupação de espaço físico dos arquivos digitais. Pouco agiliza o uso de um computador se quando queremos um arquivo mal conseguimos encontrá-lo, se ele é tão acessível quanto uma agulha num palheiro. Se é bom limpar a casa e mantê-la limpa, também é bom deixar em ordem o nosso computador. Também é bom limpar o que nos sobra na vida, jogar fora os excessos, virtuais ou não.

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