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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cartas de final de ano aos meus alunos - Final

continuação da publicação das cartas de final de ano (2015) aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos da turma 8º Ano B,

2015 está terminando, as aulas também. Em breve vocês poderão dormir até tarde, não terão mais provas para fazer, ficarão livres das chateações dos professores. Ufa!, livres de todos esses incômodos...
Mas com certeza um pouquinho de saudade vai bater na porta de vocês. Se não for agora, vai ser daqui umas semanas. Também, pudera, é quase um ano inteiro vendo os colegas todos os dias, espiando aquela menina bonita da outra turma, o garoto gatinho da outra sala, e agora... só no ano que vem!
Pessoalmente, é uma alegria muito grande em ser professor de vocês! Ano retrasado não pudemos terminar o ano letivo juntos, em sala de aula, pois assumi a direção da escola. Ficamos na mesma escola, mas é diferente ser professor e ser vice-diretor.
Esse ano, sim, iniciamos e terminamos juntos. Para mim, particularmente, foi muito bom, maravilhoso. Gosto muito de vocês, do jeito que vocês são: alguns brincalhões, outros mais sérios; alguns quietinhos, outros tagarelas; uns amigos, outros se estranhando. Altos, baixos, magros, gordos, risonhos, sérios.
Quando vejo vocês vejo um mundo de oportunidade lhes esperando. Olho e penso “que bom que teremos esses adultos no futuro!” São adolescentes que estão descobrindo os prazeres e as responsabilidades da vida, as alegrias e as tristezas que o mundo nos proporciona. Essas coisas, boas e ruins que a vida nos traz, queiramos ou não, nos deixam mais fortes agora e no futuro.
Vejo vocês com um lindo futuro pela frente, mas não deixem de lutar! Não deixem de estudar, não deixem de se esforçar! O estudo não é tudo na vida, mas sem estudo a vida se torna mais difícil!
Lutem! Não decepcionem vocês mesmos! Lutem pelo que querem! Nunca desistam! Digam a si mesmos “não vou desistir” quando estiverem desanimados, quando acharem que nada vale a pena.
Tenham um ótimo Natal! Ótimas festas de final de ano! Férias divertidas! Aproveitem esse período de descanso!
No ano que vem tem mais! E será melhor ainda!!!


Com carinho,
profº Giovani.

sábado, 2 de abril de 2016

Carta de final de ano a meus alunos III

Continuação das publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos do 7º Ano,


ESTÁ TERMINANDO O ANO... Vocês vão ter alguns meses para descansar, divertir-se, passear, viajar, acordar tarde e ficar longe da escola. Eba! Chega de provas, de professores chateando, de cadernos, de copiar, de exercícios no quadro, de ler em voz alta, de acordar cedo, de troca de período. Eba! vocês estão livres de Soletrando, concurso literário, poemas, contos, porquês, verbos, acentos, hiatos, pronomes, etc.
Ah... mas, também, chega de recreios, de passeios nos corredores, de espiar o menino bonito na turma da frente, a garota bonita no pátio, de grupinhos de guris e gurias, de conversar com os colegas...
A escola é um lugar legal! Sempre tem alguma coisa nela que não gostamos, mas sempre haverá algo que não é bacana em tudo o que fazemos, em todos os lugares por onde vamos.
Terminamos o segundo ano juntos, quase todos os dias nos vendo, todas as semanas tendo aula. Se não fui legal com alguém algum dia, em algum momento, peço-lhes desculpa. Sou humano e também tenho limitações, também erro. Mas fiz o que achava certo naquele momento.
Não achem que ser exigente é ser ruim, não achem que fui exigente porque não acreditava no potencial de vocês. Pelo contrário: fui exigente porque sabia do que vocês eram capazes, porque sabia que podiam ir além. E foram!
Que trabalhos maravilhosos fizeram! Falaram na frente da turma várias vezes, escreveram poemas lindos, resumiram livros, soletraram uma enormidade de palavras, trabalharam em grupo, trabalharam em trio, dupla, sozinhos...
VOVCÊS ESTÃO A CADA DIA MAIS MADUROS, MAIS ADULTOS! Ano passado eram crianças, adolescentes recém vindos da infância. Agora são muito mais que isso. Cresceram, ficaram mais espertos, mais inteligentes, mais responsáveis, mais tudo...
É verdade que têm muito o que melhorar, muito a crescer, mas é preciso admitir que vocês estão mais independentes a cada momento.
Conviver com vocês foi muito bom para mim. Ensinei o que pude e aprendi muito com cada um. Aprendi muito com a experiência de cada um de vocês. Adorei ser seu professor em 2015, mais ainda que em 2014!
Desejo-lhes um ótimo Natal, ótimas festas de final de ano, umas férias preguiçosas, dorminhocas, divertidas e alegres!
ATÉ O ANO QUE VEM!
Com carinho.

sábado, 19 de março de 2016

Carta de final de ano a meus alunos II

Seguem as publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos do 1º Ano,

O ano está se encerrando e quando olho para trás, percebo que muita coisa foi feita. Desde estudo de conteúdos que vocês acham que nunca mais verão ou utilizarão na vida (em alguns casos é verdade), até debates e reflexões sobre assuntos do quotidiano, que convivemos diariamente. Foram haicais, lançamento de livro, dissertações, poemas, leituras orais, provas, rachas-cuca e por aí segue...
Tivemos uma média de poucos alunos em sala de aula. Mas os poucos que vêm, ah, esses têm qualidade. Vocês são pessoas inteligentes, esforçadas, críticas e muito maduras pela idade. Alguns colegas trabalham e isso conta a favor dos estudos. Sim!, a favor, porque lhes deixa mais responsáveis, com maior sede por aprender, mais objetivos em aula, com maiores objetivos de vida, mais desejo de ser alguém na vida.
Vejo estudantes com brilho no olhar! Com pensamentos complexos, conflitos internos, desejos astronômicos! Isso é ótimo! Sigam assim! Perder o desejo de sonhar é morrer para a vida, deixar de querer algo mais é contentar-se com o pouco, e você são muito para quererem o pouco.
Por isso, não aceitem um “não”. Respeitem, mas não aceitem. Digam a si mesmos “sim”, “sim, eu vou” e lutem por esse sim, lutem pelo que vocês querem. Não se contentem com as aulas da escola, busquem mais, busquem nos livros, na internet, no Google, no Youtube, nas provas de concurso, nos grupos de debate, nos jornais, nas notícias.
Tem um mundo de oportunidades à espera de vocês agora mesmo! Digam a elas “sim”, busquem-nas, por mais difíceis que possam ser.
Por fim, gostaria de agradecer pelo convívio, pela troca de experiências, pelo respeito e carinho de cada um. Peço desculpas se fui grosseiro ou agi errado com alguém. Com certeza, não foi a minha intenção, mas erramos. Gostaria de dizer-lhes que amei trabalhar com vocês, que fico triste porque o ano termina e nossas aulas também, mas ao mesmo tempo fico alegre porque vejo vocês progredindo nos estudos.
Um ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, realizações e saúde!


Com carinho.

domingo, 7 de novembro de 2010

COMO NOSSOS JOVENS ESTÃO MUDADOS...


Publicado no Jornal da Cidade Online, em 07 Nov 2010

Vejamos três situações. Qual delas parece mais absurda? Um grupo de crianças de oito anos vendo um filme pornô, esse mesmo grupo assistindo a Passione ou sentados, após o horário escolar, lendo um livro? Sem sombra de dúvida, a alternativa “C” deve ser marcada. As crianças de hoje não são mais como antigamente. Tudo começava mais tarde, as pessoas eram mais inocentes, havia menos perigo em andar na rua, corria-se menos, as crianças respeitavam mais os pais, os alunos eram mais atentos em sala de aula. Não havia criança que dormisse na escola, todas as relações eram reais e não virtuais, os valores eram respeitados, palavra de pai era obedecida de olhos fechados e havia menos corrupção. Realmente, o mundo está perdido. Assim como está escondida em algum lugar, perto de onde Judas perdeu as botas, a noção de que as crianças de hoje são nada mais, nada menos, que o puro reflexo da incompetência dos adultos, da banalização de tudo promovida pelos seus pais, tios e avós.
É ilusão pensar que 20, 30 anos atrás, o mundo todo era um mar de inocência. Não era e nunca foi. Na Idade Média, nobres traíam suas esposas com escravas e muito antes disso, todo o tipo de pornografia ocorria nos bastidores da sociedade. Originalmente, o Brasil foi formado por três raças, o branco-lusitano, o negro-escravo da África e o índio-primeiro habitante usado e abusado. Os portugueses que se adonaram de Pindorama/Ilha de Vera Cruz, estupraram escravas e índias, miscigenando os três povos. Essas barbaridades eram comuns pela falta de leis na colônia portuguesa ou porque era a própria lei que cometia os males. No início do século XX as aparências também eram um fator de ascensão social. E de que forma eram feitas as sacanagens? Às escondidas. Ocorriam, mas todos faziam que não existiam. Fomos tornando-nos cada vez mais próximos do que é humano, decente e ainda achamos que no passado tudo era mais casto.
Sim, é verdade que quando eu era um simples estudante da 1ª série do Ensino Fundamental (e isso não faz tanto tempo assim), a Globo e SBT, únicas emissoras que o canal aberto transmitia lá em casa, os desenhos animados eram os perdidos num mundo paralelo em Caverna do Dragão, o ecológico Capitão Planeta, Ursinhos Carinhosos, TV Colosso e Muppet Babies. Antes disso tinha o Sítio do Pica Pau Amarelo e antes ainda, clássicos da literatura infantil narrados nas rádios.
As apresentadoras usavam macacão e o máximo que víamos das suas carnes eram os braços, as canelas e os lindos rostos. Assistíamos aquilo o que os adultos da época preparavam para nós. Que eu saiba, nenhuma criança era dona de emissora de televisão, nem tinha poder de decidir o figurino dos apresentadores, o que falariam, muito menos o que seria transmitido.
As crianças que assistem, atualmente, aos programas de televisão, olham aquilo que os mesmos adultos de antes e outros que cresceram, programam. E são esses adultos que criaram e promoveram o surgimento do show de nádegas da Mulher Melancia e tantas outras frutas cheias de carne por fora e ocas por dentro. É óbvio que todo esse sexo exposto não foi parar apenas nos olhos e ouvidos dos adultos, mas também das crianças que sentam na sala e assistem junto aos pais Passione e Ti-ti-ti e veem seus atores trocando carícias, falando de sexo, tirando as roupas e simulando a conjunção carnal.
E são esses adultos que criam séries de grande audiência como Malhação, onde os personagens passam de bandidos de último caráter a bonzinhos-heróis num passe de mágica. Parece fácil ser bonito, popular, inteligente e sempre saudável como o elenco representa. Assim como “Rebelde”, que talvez tenha surgido com a ideia de mostrar o lado rebelde dos adolescentes, mas as ninfetas “rebeldes” ficaram mais semelhantes às sexy atrizes de Garotas Selvagens.
Que os adolescentes de hoje estão mais precoces que os de ontem, isto é verdade. Que as crianças de hoje são mais informadas e têm as etapas de seu desenvolvimento aceleradas em relação a ontem, também é verdadeiro. E que o computador e sua infinidade de opções benignas e maléficas, os programas-lixo da televisão, as músicas que fazem apologia ao sexo, drogas e dinheiro fácil são grandes mecanismos de destruição do senso crítico das crianças, não se discute. Mas não é apenas a mídia a responsável por todas essas mudanças. Os pais, principais gestores do caráter e da personalidade dos seus filhos, não vêm fazendo o seu papel. Aí, o que acontece? As crianças, oriundas de famílias desestruturadas (não só pobres, porque rico também é negligente, acredite!), são jogadas nas escolas e todos os seus complexos e problemas de relacionamento passam a encontrar apenas no professor a esperança de que alguma coisa seja feita.
É fácil culpar as crianças quando elas não têm a complexidade cognitiva para entrar no debate de igual para igual. Eximir-se da culpa é muito mais cômodo, enquanto os pequenos (que nunca foram inocentes) apenas escutam o que os adultos falam, olham o que os adultos preparam a elas e acessam o que seus pais, vizinhos e os outros maiores de 18 promovem na grande rede. Que não temos mais adolescentes, nem crianças como antes, não temos. Assim como sempre se evoluiu com o passar dos anos. Mas se as crianças e adolescentes são mais precoces e vazias que antes, é por culpa dos adultos de hoje, que estão banalizando e coisificando relações, sentimentos e pessoas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

E TODOS FORAM FELIZES PARA SEMPRE...

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 1º Out 10
e no Jornal da Cidade Online, em 03 out 2010

Cheguei em casa cansado, depois de um dia na labuta. Liguei a televisão. Escrito nas Estrelas. Zapeei e no SBT passava o Programa do Ratinho. Na TV Pampa, uma reportagem fútil sobre a vida de algum artista. Voltei à novela e comecei a me lamuriar com a ingloriosa programação. Desculpa-me minha vozinha querida, meus amigos e tantos outros milhões de brasileiros afetos a novelas, mas no canal aberto não tinha nada decente sendo transmitido naquele momento... Apareceu um casal junto, antes separados pela megera Judite. Deduzi que a novela chegava ao final. Daí surgiu a ideia desta crônica. O normal seria desligar o aparelho e fazer qualquer outra coisa. Mas segui, acompanhando o desenrolar do capítulo.
Lembrei, neste momento, que quando pequeno, era um alvoroço em casa na última semana da novela. E os últimos capítulos vestiam-se de muita expectativa. Já, desde aquela época e muito antes disso, o final era feliz, os bonzinhos casavam-se, tinham filhos, não perdiam o emprego, nem descobriam alguma doença. Aliás, era no final que se curavam das enfermidades.
As novelas, em partes, imitam a realidade. Algumas histórias, trágicas, infelizmente são o retrato de famílias desestruturadas ou de pessoas com problemas psicológicos sérios. Mas na vida real, nem sempre os finais são felizes.
Desde pequenos buscamos coisas boas, histórias com final feliz. Assim são os contos-de-fada: há o mal e o bem. E este último sempre vence o primeiro. Crescemos e continuamos buscando finais felizes. Mas descobrimos que as histórias que ouvimos na infância não são verdadeiras. E as garotas descobrem que o príncipe está mais para sapo. E os rapazes deixam de procurar a Cinderela, focando-se em mulheres menos encantadoras. Mas continuamos em busca das histórias que terminam bem.
O que se pouco sabe é que mesmo as histórias de Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Cinderela, Rapunzel, inicialmente, não terminavam bem. Eram contos transmitidos oralmente, mas não tinham nada de infantil. Numa das versões, Chapeuzinho bebia com gosto o sangue da vovó, assassinada pelo lobo-mau e noutra, o lobo jantava a garota, literalmente. Só com os Irmãos Grimm é que a história foi para o papel, a figura do caçador surgiu, os bons tornaram-se vencedores e o maus, perdedores.
Na história da Bela Adormecida, a protagonista adormece e é abandonada pelo pai. Fica adormecida, sozinha, em casa. Após isso, o rei, casado, passa pela casa e encontra a jovem dormindo. Relaciona-se sexualmente com ela e a engravida de gêmeos. As crianças nascem e amamentam-se da mãe sonolenta. Ao tentar mamar, uma das crianças chupa-lhe o dedo, tirando a farpa envenenada, fazendo com que a Bela acorde. Um ano depois, o rei retorna à casa da jovem e passa a tê-la como amante. Os finais não eram felizes, nem moralistas. Mas com o passar do tempo, mudaram e foram aceitos popularmente. É o dito final feliz que todos buscam. E nessa busca pelo elixir, mescla-se o que é realidade com ilusão.
Diferente da novela, onde tudo acaba bem e foram felizes para sempre, na vida real, muitas histórias findam numa tragédia, ou acabam apenas tristes. E o mal não tem apenas cara de lobo-mau, ou de monstro, sequer é feio, maltrapilho ou ignorante.
Inclusive, essa linha entre o mal e o bem geralmente não é bem definida. Não tem um rio que os divide, uma cordilheira que os separe. É imaginária e oscila para um lado e para o outro. Estendemos a mão a algumas pessoas e, ao mesmo tempo, prejudicamos outras. Às vezes, a mesma pessoa realiza, concomitantemente, boas e más ações.
Desejamos a realidade। Mas queremos, também, um final feliz. E buscamos essa felicidade completa nas novelas. Sejam elas as pornochanchadas e remakes da Globo, os dramalhões do SBT ou as séries com acontecimentos improváveis dos canais por assinatura. Projetamos na televisão a realidade que somos em busca do final feliz que queremos. E a televisão dá-nos essa falsa realização. Por essas e outras, prefiro livros, filmes, uma volta no centro ou um chimarrão na Praça do Barão.
***
“Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre: vai passar na televisão”. Renato russo

TEMÍVEIS 15 MINUTOS

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 14 julho 2010

Na semana passada apresentei meu trabalho de conclusão de curso, a última etapa antes de poder considerar-me graduado. Consistia numa explanação oral de 15 minutos a uma banca de três professores que poderia agradar-se ou rejeitar o monólogo. Os momentos de angústia que antecederam os da apresentação fizeram-me refletir sobre a maneira como encaramos os momentos decisivos em nossas vidas.
Situações críticas são, definitivamente, terríveis de suportar. Quando não criamos coragem de enfrentar um desafio, fugimos. E sentimo-nos mal, impotentes, fracos, covardes. Há aquelas pessoas que não fogem, mas travam no mesmo lugar que receberam a notícia que provocou o choque. Enervam-se e riem, parecendo debochadas. Ou então, absorvem a tensão dos outros, como a mãe que não se controla nervosa torcendo pelo filho que está competindo na final de natação do clube.
Normalmente, na hora “H” as coisas mudam. Há corajosos que dizem “vou fazer isso, fazer aquilo”, mas não fazem nada. Ou porque a raiva diminuiu ou porque na hora pensou melhor e achou mais ponderado e civilizado não realizar.
Já ouvi amigos falarem “sob pressão eu não funciono”. Em jogos decisivos, costumeiramente, ocorrem amarelões. Nos concursos, provas, festivais de dança, de teatro, musicais ou quaisquer testes, dá o branco. Todos os competidores são tecnicamente iguais, mas na situação estressante uns sobressaem-se aos outros devido ao autocontrole. Howard Gardner, cientista norteamericano e criador da Teoria das Inteligências Múltiplas na década de 80, definiu como inteligência intrapessoal essa capacidade do indivíduo controlar as próprias emoções diante de uma situação de estresse. Acreditar no próprio potencial é um fator importantíssimo para enfrentar esses momentos decisivos.
Não receberemos nenhum fardo que não possamos carregar. Diante dos problemas descobrimo-nos fortes, persistentes, capazes de muito mais do que acreditávamos. Àqueles que acham difícil falar em público, trabalhar um pouco mais além do expediente ou levantar cedo no frio, acredito que notarão que é verdadeiramente difícil sustentar uma família, custear o tratamento de um filho dependente químico, visitar o pai na prisão ou estar sempre solícito a um irmão portador de necessidades especiais. Não ter o pão dentro de casa, acordar preocupado com o que os filhos irão alimentar-se durante o dia, isso, sim, é um problema.
Diante de dramas como esses, parece fácil falar à frente de três professores e alguns colegas sobre um trabalho realizado durante um ano.
Acompanhei quase todas as apresentações dos meus colegas e ficou nítida a enorme apreensão antes de apresentar os seus trabalhos. Alguns já andavam angustiados há dias, outros horas antes. Encontrei-me neste segundo grupo. Lógico que cada um tem as suas limitações. Falar em público é um desafio para grande parte das pessoas. Mesmo professores formando-se. Ao assistir à apresentação da colega que me antecedia, suspirei fundo várias vezes, esfreguei as mãos e bati o pé direito no chão como tique nervoso, tentando encontrar uma válvula de escape para a tensão. E procurei convencer-me que tudo aquilo não passava de uma apresentação normal, como qualquer outra realizada antes. Sim, valia nota. Mas não tirava pedaço. Fez perder o sono, mas não machucava ninguém, nem matava. E... passou! Foi apresentado, elogiado e acabou.
Querendo ou não, é inevitável passarmos por momentos de tensão em nossa vida. O primeiro encontro com a futura esposa, o casamento, a entrevista para o novo emprego, a conversa séria com a filha adolescente, a notícia do falecimento do primo onde você é o encarregado de contar. Se é inevitável modificar o problema à nossa frente, é totalmente possível empenharmos o máximo do nosso esforço em controlar a maneira como enfrentaremos o problema. Porque cedo ou tarde teremos, mais uma vez, a nossa coragem confrontada.

O (DES) AMPARO FRATERNAL

Publicado no O Jornal de Uruguaiana de 23 jun 10

As nossas mães já são motivo de muitas crônicas, poesias e contos. O amor fraterno, os conselhos e toda a mística que envolve a figura da mãe já foram motivo de algum comentário em algum lugar que você já tenha lido. E a história que conheci de um jovem na semana passada, fez-me repensar a posição das figuras familiares na formação de uma pessoa.
Estava realizando algumas entrevistas para o meu trabalho de conclusão do curso de Letras. Os entrevistados eram jovens que nasceram na região do Alto Uruguai e estão morando aqui na cidade. A vinda deles para Uruguaiana gerou um grande choque cultural. Eles vêm de cidades muito menores, de costumes diferentes e sotaque totalmente estranho aos uruguaianenses. Saem das suas terras natais para servir ao Exército em quartéis daqui. Muitos ficam apenas alguns meses e os que permanecem tocam as suas vidas, incorporando a nossa cultura de fronteira.
Esse jovem entrevistado viveu até os 17 anos na zona rural, trabalhando com o pai. Auxiliava nas tarefas do campo. Guardava algum dinheiro para si. A mãe separou-se do pai. Ela e o garoto não travam contato há cerca de 12 anos, com exceção a uma vez: pouco tempo antes de servir, encontraram-se, conversaram meia dúzia de palavras e não se viram mais. Na ocasião disse mãe, quero servir. Guri, deixa de ser besta... e não mais se falaram. Meses antes de incorporar às fileiras do Exército, mudou-se para Santa Catarina para trabalhar. Chegou a data de apresentar-se no quartel, deixou o emprego lá e veio direto a Uruguaiana. Para não cair em tentação, não foi à terra natal. Dois meses após já ser militar contou ao pai que estava servindo. Ele ficou uma semana sem falar com o filho. A mãe ainda não sabe. Acredita que ainda trabalhe com o pai.
Sensibilizei-me com a história. Quem é a família dele? A mãe, com quem não conversa? O pai, que o ama, mas quase não dialoga? Ou o amigo que o trouxe de Santa Catarina até aqui e os seus colegas que convivem diariamente e provavelmente já conheçam a sua história? E quem é, efetivamente, a família de alguém? São os parentes de sangue ou aqueles que nos dão conforto, independente dos laços de parentesco que tenham...
Um filme assistido ontem me lembrou a história desse jovem. N'A vida por um fio, o jovem Clay (Hayden Christensen) perdera o pai e passou a viver com a mãe (Lena Olin), superprotetora por sinal. Encantou-se por uma funcionária da mãe (Jessica Alba) e os dois casaram, a contragosto da matriarca.
O rapaz tinha uma doença grave e necessitava de um coração novo. Finalmente a espera terminou e foi para a sala de cirurgia. Durante a cirurgia os fatos que se sucederam demonstraram que havia uma grande rede de bandidos que queria a fortuna de Clay. A sua esposa e o cirurgião, que também era seu “amigo”, eram membros da rede e todas as demais pessoas a sua volta não eram mais confiáveis. Quem íntegro sobrou? A mãe, que desde o início não queria o casamento nem que fosse aquele o médico a fazer-lhe a cirurgia. Durante o processo cirúrgico, ela pressentiu que algo errado estivesse acontecendo e tentou descobrir o que era. Mexeu na bolsa da esposa e desmascarou-lhe. Antes que ele morresse, suicidou-se para doar o coração. Ao lado de Clay ficara só a mãe.
É aquela coisa de sexto sentido de mãe que ouvimos em conversas e em relatos emocionados de vez em quando: a mãe teve algum mal estar e pensou no filho, na filha; depois descobriu que algo de muito ruim ocorreu com ele/ela. Parece que o cordão umbilical é cortado no parto, mas um canal sem-fio ainda permanece existindo.
Confrontam-se as duas histórias. A mãe zelosa demais e a ausente. A família unida e a desestruturada. Urge, assim, o questionamento: os produtos de um lar exemplar ou depreciável trarão sempre reflexos determinantes nas pessoas? Não apoio essa teoria. Mas é o que muita gente diz. Tive a infância sofrida, abusaram, pulei estágios da minha vida, presenciei um crime, dormi nas ruas até ser acolhido pelo Conselho Tutelar... e é por isso que sou assim: um fracasso.
Caso isso fosse uma verdade incontestável, certamente o primeiro personagem desta crônica não teria prosperado. Se seguisse os conselhos dos pais, estaria até hoje morando e trabalhando no interior. Não que isso seja ruim. Mas não procuraria nenhuma outra forma de levar a vida que talvez gostasse. Não teria saído de casa. Hoje não estaria vestindo a farda verde-oliva. Ele gosta do quartel. Se fizesse sempre o que fosse orientado pelos mais próximos, não estudaria além da 4ª série. Ele concluiu o Ensino Fundamental. Falta-lhe apenas o Médio. Há hoje tantas pessoas com melhores condições de estudar e não o fazem por pura falta de vontade. Ou também porque os pais não incentivam e eles próprios não têm interesse.
Quem é, então, a família? Aqueles que acolhem e servem de suporte físico e emocional. Não resolve ser independente financeira e não emocionalmente. Ou o contrário. Que não sejam desmerecidos os pais, sendo bons conselheiros ou não. Serão sempre pais, porque não há ex-pai ou ex-mãe. Mas os amigos que quebram o galho, com os quais contamos debaixo de temporal ou dia bom, esses também não podem ser esquecidos. E devem ser destacados.

O LEITOR

Publicado no jornal Tribuna, em 30 abril 2010

Talvez um dos filmes mais transcendentais que já tenha visto, certamente o mais profundo dos últimos anos. Um filme que deveria se tornar obrigatório nas salas acadêmicas de licenciatura, em especial de Letras e Pedagogia. Aliás, todo aluno de Letras e Pedagogia deveria fazer um ensaio sobre o filme. Falo d'O Leitor, contracenado com os incríveis Ralph Fiennes e Kate Winslet.
O filme decorre no ano de 1958, na Alemanha Ocidental. Kate Winslet é Hanna, uma mulher comum que se envolve com um garoto, Michael. Ele adora literatura e lê para ela os romances que vê na escola. Os dois afastam-se por um tempo e reencontram-se apenas no julgamento de Hanna por crimes cometidos em Auschwitz, momento em que Michael descobre o novo ofício que ela exerceu após a separação dos dois. Hanna é condenada à prisão perpétua e Michael conduz a sua vida distante desse fato. Até então, não vemos nada de especial no filme. Temos uma história, com um enredo amoroso, a justificativa do título, dois atores excelentes e ponto final. Não fosse o fato de Hanna ser analfabeta e não admitir isso. Nem para Michael. E esse segredo a condena à pena máxima, fato que poderia ser amenizado caso confessasse.
Não se trata de tornar leviano o crime cometido pelos nazistas na 2ª Grande Guerra, e sim da vergonha que ela e tantos outros analfabetos têm em assumir a sua condição. Da prisão, Hanna passa a receber fitas K7 (lembram-se das fitas K7? As crianças e adolescentes de hoje talvez desconheçam) com narrações de histórias que Michael grava. A motivação para viver retorna aos seus olhos, ao coração. Isso faz com que se motive a aprender a escrever por conta própria. Autodidata.
A história cinematográfica e literária faz-me recordar que Machado de Assis era pobre, gago e negro, discriminado na sociedade e aprendeu sozinho a ler e a escrever, vindo a tornar-se um dos maiores escritores da literatura mundial. E no filme “O terminal”, Tom Hanks é Viktor Navorski, um estrangeiro vindo de um país fictício, a Krakozhia, que sofreu um golpe de estado e não teve a nova autonomia reconhecida pelo Governo Norte-Americano como nação, o que impossibilita ao protagonista ingressar nos Estados Unidos. Consequentemente, não pôde regressar à terra natal. Essa situação faz com que ele fique sem ter para onde ir no terminal do aeroporto, considerado área internacional. Para sustentar-se, o estrangeiro pega livros e revistas em inglês e no seu idioma e compara as escritas. Assim, aprende a ler e a escrever na língua local. Essa forma de superação, de aprendizagem de escrita é a mesma que Hanna adota em “O leitor”, com mais de 50 anos. Ela ouve as gravações das histórias e com os livros, compara as letras e, galgando aos poucos, aprende a expressar-se por escrito.
Mas não é dessa maneira que as pessoas que não tiveram antes oportunidade são alfabetizadas. Muitas retornam às salas de aula depois de muitos anos, já casadas, com filhos (que muitas vezes frequentam os bancos escolares), por vezes não para recolocarem-se no mercado de trabalho, mas para concretizarem um sonho pessoal, o de conseguir escrever e ler não só o próprio nome, mas as informações que estão impressas no mundo a sua volta. Outras pessoas não têm essa oportunidade. E continuam analfabetas ou analfabetas funcionais (quando sabem escrever apenas algumas palavras, mas não possuem habilidade de interpretar sentenças simples). Contudo, não raro também encontramos alunos do Ensino Médio lendo igual a uma criança do 2º ano das séries iniciais, pois sempre foram passados de ano e nada houve que lhes motivasse a ler ou escrever.
O leitor faz o professor refletir sobre o seu papel. Faz o educador questionar-se até que ponto está sendo efetivamente competente na aprendizagem de seus alunos. Faz questionar-se o porquê da perda de vontade de ler à medida que a criança cresce. Por que atualmente é tão pouco sedutor ler um livro, um conto, uma crônica, uma notícia? Seria o poder que a televisão e o Playstation têm? Ou porque simplesmente não se procuram mais formar leitores, mas apenas bonequinhos que saibam a gramática e passem no vestibular. Será que a leitura era antes um passatempo por simplesmente não haver nada mais interessante para fazer? Faz os pais voltarem-se para si e procurarem ver se não estão transferindo toda a responsabilidade da educação dos seus pequenos à escola. Questiona-os se deixaram de contar a história da Branca de Neve antes de dormir simplesmente porque a menininha tornou-se mulher ou porque pensaram não ser mais tão importante. Fá-los duvidar se está certa a conduta de não mais acompanhar o desempenho na escola, não olhar mais os cadernos porque cresceram e já necessitam exercitar a responsabilidade pelos seus atos. Ou se há um tanto de negligência na ausência dessa preocupação. Um filme onde o telespectador se diverte, chora com o desenlace da história e reflete sobre as suas atitudes.

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