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domingo, 30 de janeiro de 2011

ENEM, ProUni e vestibulares pelo Brasil

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 30 de janeiro de 2011.


A busca por uma educação de qualidade perpassa mais acesso a escolas e universidades e à qualidade do ensino. Ao menos em um destes aspectos, estamos caminhando positivamente. Aumentamos, em 2009, o número de cursos de ensino superior. É uma vitória. Mas estudar em uma universidade ainda é privilégio de alguns e um sonho longínquo para a grande maioria.
No site da UOL, deste sábado, 29, a manchete “Número de cursos de graduação cresce 13% em um ano, mostra censo do MEC”, indica o aumento significativo da oferta de cursos de nível superior no Brasil em 2009, com relação a 2008. Tivemos um salto de 24,7 mil para 28,6 mil cursos. Alavancou este crescimento, a educação a distância, com aumento expressivo de 30,4% em relação ao total.
Essa explosão das instituições de educação a distância deve ser muito bem recebida. Porque, com preços mais acessíveis, uma enorme fatia da população brasileira pobre saiu da marginalização do ensino superior. Eram pessoas que não tinham condições de pagar uma universidade presencial, geralmente mais cara, nem cursinho para tentar o ingresso em universidades estaduais e federais. O que ocorria com elas? Não cursavam, nem acreditavam na possibilidade. Eram menores as perspectivas de se ter um futuro melhor.
Além das instituições de ensino não-presencial, o ProUni -Programa Universidade para Todos- também serviu de ferramenta de inclusão social. Este ano de 2011, atingiu assombrosos 1 milhão de inscritos. Foram ofertadas 123 mil vagas e 117,6 mil já foram completadas. Só tem direito à bolsa quem estudou em escola pública e possui renda familiar de até três salários mínimos. Além desse pré-requisito, o estudante necessita realizar o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e obter boa nota na prova. É uma iniciativa que surgiu em 2005 e desde então, começou a minimizar a elitização da educação superior.
Mas o problema está longe de ser resolvido. Na mesma reportagem da UOL, o presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior), Gabriel Mario Rodrigues, alertou para a concentração da procura por determinados cursos. Cerca de 90% daqueles que desejam ingressar no ensino superior procuram 20% dos cursos existentes. Consequentemente, algumas relações candidato/vaga beiram a proporção de um candidato por vaga; outros cursos 30, 50 por vaga.
Os vestibulares em instituições públicas são a prova cabal dessa disparidade. Duas das universidades mais conceituadas do Rio Grande do Sul demonstram claramente esta estatística. Para a vaga do curso de medicina, classicamente disputada, a UFRGS -Universidade Federal do Rio Grande do Sul- de Porto Alegre, contabiliza a relação candidato/vaga de 45,32 e a UFSM -Universidade Federal de Santa Maria- no coração do solo gaúcho, densidade absurda de 96,34. Na USP, Universidade de São Paulo, a relação oferta/procura do vestibular 2011 para medicina ficou em 67,7.
Não podemos olhar com indiferença ou acreditarmos que é normal tanta procura e tão poucas vagas. Por mais que a concorrência em outros concursos públicos beire números muito maiores, estamos falando de 11,8 mil candidatos em São Paulo, 5,3 mil em Santa Maria e 6,3 mil em Porto Alegre. A realidade dos vestibulares para direito, jornalismo, arquitetura e urbanismo, fisioterapia e odontologia não é menos preocupante.
Fatalmente, conseguirão a vaga aqueles candidatos mais bem preparados. E como se tornam melhor preparados? Através de uma educação básica de qualidade e de cursinhos pré-vestibular caros. Assim, as vagas mais cobiçadas acabam sendo supridas por estudantes de classe média-alta, jovens que, geralmente, nunca trabalharam.
O que resta a aqueles que necessitaram trabalhar desde novos para auxiliar no sustento da casa e que, já mais velhos, conseguiram uma brecha no orçamento para custear a universidade? A resposta retoma as conquistas recentes: as universidades de ensino a distância, mensalidades mais baixas, o ENEM e o ProUni.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

TEMÍVEIS 15 MINUTOS

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 14 julho 2010

Na semana passada apresentei meu trabalho de conclusão de curso, a última etapa antes de poder considerar-me graduado. Consistia numa explanação oral de 15 minutos a uma banca de três professores que poderia agradar-se ou rejeitar o monólogo. Os momentos de angústia que antecederam os da apresentação fizeram-me refletir sobre a maneira como encaramos os momentos decisivos em nossas vidas.
Situações críticas são, definitivamente, terríveis de suportar. Quando não criamos coragem de enfrentar um desafio, fugimos. E sentimo-nos mal, impotentes, fracos, covardes. Há aquelas pessoas que não fogem, mas travam no mesmo lugar que receberam a notícia que provocou o choque. Enervam-se e riem, parecendo debochadas. Ou então, absorvem a tensão dos outros, como a mãe que não se controla nervosa torcendo pelo filho que está competindo na final de natação do clube.
Normalmente, na hora “H” as coisas mudam. Há corajosos que dizem “vou fazer isso, fazer aquilo”, mas não fazem nada. Ou porque a raiva diminuiu ou porque na hora pensou melhor e achou mais ponderado e civilizado não realizar.
Já ouvi amigos falarem “sob pressão eu não funciono”. Em jogos decisivos, costumeiramente, ocorrem amarelões. Nos concursos, provas, festivais de dança, de teatro, musicais ou quaisquer testes, dá o branco. Todos os competidores são tecnicamente iguais, mas na situação estressante uns sobressaem-se aos outros devido ao autocontrole. Howard Gardner, cientista norteamericano e criador da Teoria das Inteligências Múltiplas na década de 80, definiu como inteligência intrapessoal essa capacidade do indivíduo controlar as próprias emoções diante de uma situação de estresse. Acreditar no próprio potencial é um fator importantíssimo para enfrentar esses momentos decisivos.
Não receberemos nenhum fardo que não possamos carregar. Diante dos problemas descobrimo-nos fortes, persistentes, capazes de muito mais do que acreditávamos. Àqueles que acham difícil falar em público, trabalhar um pouco mais além do expediente ou levantar cedo no frio, acredito que notarão que é verdadeiramente difícil sustentar uma família, custear o tratamento de um filho dependente químico, visitar o pai na prisão ou estar sempre solícito a um irmão portador de necessidades especiais. Não ter o pão dentro de casa, acordar preocupado com o que os filhos irão alimentar-se durante o dia, isso, sim, é um problema.
Diante de dramas como esses, parece fácil falar à frente de três professores e alguns colegas sobre um trabalho realizado durante um ano.
Acompanhei quase todas as apresentações dos meus colegas e ficou nítida a enorme apreensão antes de apresentar os seus trabalhos. Alguns já andavam angustiados há dias, outros horas antes. Encontrei-me neste segundo grupo. Lógico que cada um tem as suas limitações. Falar em público é um desafio para grande parte das pessoas. Mesmo professores formando-se. Ao assistir à apresentação da colega que me antecedia, suspirei fundo várias vezes, esfreguei as mãos e bati o pé direito no chão como tique nervoso, tentando encontrar uma válvula de escape para a tensão. E procurei convencer-me que tudo aquilo não passava de uma apresentação normal, como qualquer outra realizada antes. Sim, valia nota. Mas não tirava pedaço. Fez perder o sono, mas não machucava ninguém, nem matava. E... passou! Foi apresentado, elogiado e acabou.
Querendo ou não, é inevitável passarmos por momentos de tensão em nossa vida. O primeiro encontro com a futura esposa, o casamento, a entrevista para o novo emprego, a conversa séria com a filha adolescente, a notícia do falecimento do primo onde você é o encarregado de contar. Se é inevitável modificar o problema à nossa frente, é totalmente possível empenharmos o máximo do nosso esforço em controlar a maneira como enfrentaremos o problema. Porque cedo ou tarde teremos, mais uma vez, a nossa coragem confrontada.

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