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terça-feira, 2 de junho de 2020

ROSTO DA MORTE

Nas tardes de 44, da janela de casa, via regularmente o trem encher de passageiros.
Rostos cadavéricos.
Mal alimentados e malvestidos.
Melhor não se envolver.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ILUSÕES COLETIVAS - CONFLITOS ARMADOS


No Rio Grande do Sul é bastante comum, devido à proximidade com o país hermano, o chiste de que só valeria a pena combater numa guerra se fosse contra os argentinos. Coisas de rivalidade no futebol... na real, se houvesse uma guerra, dificilmente haveria vontade (ou coragem) em participar dela.
Se o país entrasse em Estado de Guerra e fosse iminente a vinda do conflito nas proximidades da minha residência, buscaria asilo para um país em paz: morrer lutando, enquanto os causadores riem de nós sentados em seus gabinetes?
O confronto entre Israel e o Hamas é uma prova disso: quase dois mil palestinos –a maioria de civis- e menos de 100 israelenses morreram. Os rebeldes do Hamas já deveriam ter jogado a toalha branca e partido para a negociação muito antes de a situação chegar a esse ponto. Porém, insistem em duelar com um adversário muito mais forte (amparado pelos EUA), vendo os seus morrerem... eles  não me parecem preocupados com o seu povo.
A humanidade tem vocação para confrontos bélicos. Desde a origem da civilização conhecida até hoje são inúmeros os exemplos em que se deixou a diplomacia de lado e a hastag do momento sempre foi #partiuguerra.
E o que motivava as pessoas a lutarem, sacrificarem a própria vida?
Um ideal para lutar.
As pessoas deixaram de acreditar que um confronto armado seja a melhor solução. E por quê? Porque há mais acesso à informação hoje em dia através da difusão da televisão, de jornais impressos e da internet; e em razão do aumento do nível de escolaridade. Começou-se a perceber que os ideais propostos pelos “líderes” e que culminavam em combates eram teorias muito bonitas no papel, na voz de pessoas preparadas, em imagens, entretanto, pouco praticáveis ou, pior ainda, boas para poucas pessoas e ruins para a maioria.
Hitler não perdeu a guerra sozinho. Havia muita gente o apoiando e Goebbels, seu braço direito, sabia que a propaganda era a alma do negócio. As palavras são maleáveis e os pontos de vista, vários. E o seu Ministro da Propaganda fez dos pensamentos sádicos de seu chefe militar, uma utopia aceitável para muita gente. Hoje, pensa-se diferente. Mas à época, ele recebia endosso de muito pobre e rico, analfabeto e letrado.
O Führer foi uma farsa. Uma farsa bem propagandeada. Ele vendeu um ideal, vendeu ilusões coletivas. E muitos engoliram.
Há outras ilusões coletivas propagandeadas em todos os lados: quem acredita que há armas de destruição em massa no Iraque, essa história para boi dormir dos Estados Unidos? Ou na seriedade do governo chinês que se diz Comunista para poder centralizar o poder, mas age como capitalista liberal, quando lhe convém? Quem põe fé nas palavras da família Castro, em Cuba, pelo ideal da igualdade, num país sucateado e pobre?
Então, por que tantos norte-americanos morreram no Iraque?
De graça é que não foi. Para muitas pessoas marginalizadas –principalmente hispânicos que não possuíam o visto para permanência- convocadas a combater no front, os polpudos dólares que receberam por defender os interesses da Casa Branca valiam a pena. Se não vivessem para curtir o dinheiro, pelo menos a família o teria para sobreviver.
Aí, sim, falamos de um ideal pelo qual vale a pena lutar, morrer: a família.
Se não fosse pela vida dos entes amados e o dinheiro que eles receberiam com a ida à área de conflito, certamente o contingente de militares no Iraque teria um grande déficit.
Não é diferente nas Forças Armadas. Lutar pela nação, com o sacrifício da própria vida há muito em canções de corrida. Experimenta cancelar o salário desses utópicos e convocá-los para missões em áreas de conflito! Experimenta pagar um salário mínimo!

Ideais coletivos servem para mobilizar multidões. Hitler sabia disso e se valeu dessa máxima. Os políticos bem utilizam a mídia para elegerem-se e aprovarem leis. A águia da América ilude coletivamente seus cidadãos levantando a bandeira do amor à pátria e massacrando nações que barram o seu avanço. Mas somos críticos, informados e cai bem não acreditar em todas essas ilusões vendidas e difundidas na televisão.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O LEITOR

Publicado no jornal Tribuna, em 30 abril 2010

Talvez um dos filmes mais transcendentais que já tenha visto, certamente o mais profundo dos últimos anos. Um filme que deveria se tornar obrigatório nas salas acadêmicas de licenciatura, em especial de Letras e Pedagogia. Aliás, todo aluno de Letras e Pedagogia deveria fazer um ensaio sobre o filme. Falo d'O Leitor, contracenado com os incríveis Ralph Fiennes e Kate Winslet.
O filme decorre no ano de 1958, na Alemanha Ocidental. Kate Winslet é Hanna, uma mulher comum que se envolve com um garoto, Michael. Ele adora literatura e lê para ela os romances que vê na escola. Os dois afastam-se por um tempo e reencontram-se apenas no julgamento de Hanna por crimes cometidos em Auschwitz, momento em que Michael descobre o novo ofício que ela exerceu após a separação dos dois. Hanna é condenada à prisão perpétua e Michael conduz a sua vida distante desse fato. Até então, não vemos nada de especial no filme. Temos uma história, com um enredo amoroso, a justificativa do título, dois atores excelentes e ponto final. Não fosse o fato de Hanna ser analfabeta e não admitir isso. Nem para Michael. E esse segredo a condena à pena máxima, fato que poderia ser amenizado caso confessasse.
Não se trata de tornar leviano o crime cometido pelos nazistas na 2ª Grande Guerra, e sim da vergonha que ela e tantos outros analfabetos têm em assumir a sua condição. Da prisão, Hanna passa a receber fitas K7 (lembram-se das fitas K7? As crianças e adolescentes de hoje talvez desconheçam) com narrações de histórias que Michael grava. A motivação para viver retorna aos seus olhos, ao coração. Isso faz com que se motive a aprender a escrever por conta própria. Autodidata.
A história cinematográfica e literária faz-me recordar que Machado de Assis era pobre, gago e negro, discriminado na sociedade e aprendeu sozinho a ler e a escrever, vindo a tornar-se um dos maiores escritores da literatura mundial. E no filme “O terminal”, Tom Hanks é Viktor Navorski, um estrangeiro vindo de um país fictício, a Krakozhia, que sofreu um golpe de estado e não teve a nova autonomia reconhecida pelo Governo Norte-Americano como nação, o que impossibilita ao protagonista ingressar nos Estados Unidos. Consequentemente, não pôde regressar à terra natal. Essa situação faz com que ele fique sem ter para onde ir no terminal do aeroporto, considerado área internacional. Para sustentar-se, o estrangeiro pega livros e revistas em inglês e no seu idioma e compara as escritas. Assim, aprende a ler e a escrever na língua local. Essa forma de superação, de aprendizagem de escrita é a mesma que Hanna adota em “O leitor”, com mais de 50 anos. Ela ouve as gravações das histórias e com os livros, compara as letras e, galgando aos poucos, aprende a expressar-se por escrito.
Mas não é dessa maneira que as pessoas que não tiveram antes oportunidade são alfabetizadas. Muitas retornam às salas de aula depois de muitos anos, já casadas, com filhos (que muitas vezes frequentam os bancos escolares), por vezes não para recolocarem-se no mercado de trabalho, mas para concretizarem um sonho pessoal, o de conseguir escrever e ler não só o próprio nome, mas as informações que estão impressas no mundo a sua volta. Outras pessoas não têm essa oportunidade. E continuam analfabetas ou analfabetas funcionais (quando sabem escrever apenas algumas palavras, mas não possuem habilidade de interpretar sentenças simples). Contudo, não raro também encontramos alunos do Ensino Médio lendo igual a uma criança do 2º ano das séries iniciais, pois sempre foram passados de ano e nada houve que lhes motivasse a ler ou escrever.
O leitor faz o professor refletir sobre o seu papel. Faz o educador questionar-se até que ponto está sendo efetivamente competente na aprendizagem de seus alunos. Faz questionar-se o porquê da perda de vontade de ler à medida que a criança cresce. Por que atualmente é tão pouco sedutor ler um livro, um conto, uma crônica, uma notícia? Seria o poder que a televisão e o Playstation têm? Ou porque simplesmente não se procuram mais formar leitores, mas apenas bonequinhos que saibam a gramática e passem no vestibular. Será que a leitura era antes um passatempo por simplesmente não haver nada mais interessante para fazer? Faz os pais voltarem-se para si e procurarem ver se não estão transferindo toda a responsabilidade da educação dos seus pequenos à escola. Questiona-os se deixaram de contar a história da Branca de Neve antes de dormir simplesmente porque a menininha tornou-se mulher ou porque pensaram não ser mais tão importante. Fá-los duvidar se está certa a conduta de não mais acompanhar o desempenho na escola, não olhar mais os cadernos porque cresceram e já necessitam exercitar a responsabilidade pelos seus atos. Ou se há um tanto de negligência na ausência dessa preocupação. Um filme onde o telespectador se diverte, chora com o desenlace da história e reflete sobre as suas atitudes.

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