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domingo, 17 de outubro de 2010

ESPERANÇA, ESPERANZA, HOPE

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 15 out 2010
e no Jornal da Cidade Online, em 17 out 2010.

 Minha avó descobriu há pouco tempo que realizaria sessões mensais de quimioterapia. Esta última palavra assusta. A lembrança de histórias de pacientes terminais e mesmo filmes e novelas abordando o tema não trazem à lembrança, boas recordações. Mas também há incontáveis relatos de melhoras, de recuperação completa, sem maiores sequelas. É onde reside a esperança. É como ela se posiciona diante desses acontecimentos. É assim que um bom tratamento deve começar.
Assim como ela, no sábado anterior ao resgate, os 33 mineradores chilenos que estavam soterrados na mina San José realimentaram suas esperanças de terminarem bem a história. Na data, fora concluída a perfuração do túnel por onde subiriam à superfície. Na noite de terça para quarta iniciou-se o resgate, terminando 22 horas depois. Mesmo sem saber que a operação teria sucesso, os próprios mortos-vivos, seus familiares, aqueles que trabalharam na empreitada e os que acompanhavam os acontecimentos nos noticiários puderam beber mais uma dose de esperança ao ser noticiado o fim da escavação do túnel.
Alguns traumas surgem na nossa vida e agarramo-nos em nossas convicções para que a autoestima não desça aos calcanhares. Tomamos um “solapaço” nas nossas expectativas e prendemo-nos na ideia de que estamos sempre sujeitos à frustração em nossas empreitadas. Descobrimos uma doença e absorvemos até as vírgulas das palavras dos médicos, falamos aos que nos rodeiam que o problema há de se resolver e repetimos essa teoria a todos que nos questionam quanto à gravidade da enfermidade. O argumento sempre convence. Convence-nos. Porque se não estivermos convictos de que melhoraremos, como poderemos superar a dificuldade? Saber que tantas outras pessoas passaram pelo mesmo drama e superaram faz com que a esperança de melhora se materialize em histórias de vitórias perante os incautos da doença. Claro que esperança, apenas, não resolve nada. Precisa-se lutar e jamais desistir.
Há aqueles que pereceram perante a doença, não conseguiram driblá-la. É a realidade. Os que sobreviveram diante dos meses ou anos deitados e agora estão melhor também são a realidade. E muito mais que isso: são a esperança de que necessitamos.
Não fosse a esperança de encontrar os filhos desaparecidos, que razão teriam algumas mães para viver e buscar em cada rosto na rua o do seu ente amado? Se não tivéssemos a convicção que pelo trabalho conseguiremos melhorar de vida e que nossos descendentes dependem totalmente de nós até a vida adulta, por que trabalharíamos cada vez mais? A esperança de estar seguro financeiramente, estável, faz com que lutemos mais e mais para subirmos na vida.
Em português, esperança. Em espanhol, esperanza. Em inglês, hope. Independente da língua, pronúncia e das nações que a pronunciam, a esperança por dias melhores faz-se presente em todos os rincões pelos quais passarmos. A música é a excelência da demonstração da necessidade que temos em agarramo-nos no que nos gera esperança, sobrevida: “vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais (…) dias melhores, pra sempre”, da música “Dias melhores”, do Jota Quest.
Na década de 70, a música “Imagine”, d'Os Beatles, alavancou um universo de esperanças por um mundo melhor, de paz, sem fronteiras, sem ideais maléficos, sem materialismo, nem individualidade. A esperança por um mundo menos desigual levou John Lenon, que estaria completando neste mês 70 anos de idade se fosse vivo, a compor uma das músicas mais ilustrativas da esperança humana. No Brasil, vivíamos os “anos de chumbo”, nos Estados Unidos, a Guerra do Vietnã. Em ambos, não havia consentimento da maioria da população. Eram ações governamentais impopulares. Qualquer canção que levasse seus ouvintes a delirar por um novo Jardim do Éden ou mesmo um mundo menos injusto e mais democrático era a deixa necessária para encher corações e mentes de esperança. E aqueles tempos cinza acabariam, assim como a guerra na Ásia. Os esperançosos procuravam acreditar que a Ditadura estava encaminhando-se para o fim, que não duraria muito, ou, pelo menos, que não os atingiria.
Sem motivação, arrastamo-nos no dia-a-dia. Sem esperança, paramos no tempo, regredimos, adoecemos e morremos, invariavelmente. Sem esperança, perdemos a batalha antes mesmo de iniciá-la, caímos quando ainda estamos sentados, perdemos quando o placar ainda está 0x0. Se não acreditarmos que o futuro há de ser melhor que o presente e ainda melhor que o passado, ele não será melhor, definitivamente. Claro que devemos aproveitar o presente, sobremaneira. Mas se não tivermos esperança de melhorar, de que adiantará lutar?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O GOLPE DO DISQUE-SEQUESTRO

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 11 ago 2010.

Estamos com o seu filho. Não desligue o telefone, senão apagamos ele. Se avisar a polícia, ele morre. Você quer o seu filho vivo? Então deverá fazer exatamente o que estou dizendo. Deposite cinco mil reais nesta conta, anota aí.... E nada de avisar a polícia, certo?
Foi mais ou menos esse o diálogo inicial de um conhecido com o suposto sequestrador do seu filho, na semana passada. Um ótimo presente antecipado de Dia dos Pais. Contudo, não havia sequestrador, muito menos sequestrado. É um golpe ao qual muitas pessoas já sucumbiram. Não é novidade aos bandidos essa maneira de ganhar dinheiro “fácil”. Infelizmente, a mente humana tem o seu brilhantismo também à disposição do mal.
A história acima ocorreu ao amanhecer da quinta passada, com dois idosos. Eles tomavam seu chimarrão costumeiro quando receberam a ligação pelo celular. Ao ouvir que o filho fora sequestrado, o pai mal conseguiu raciocinar e continuou acreditando na mentira maldosa. Era cedo e o banco não havia aberto ainda. Saiu o casal, desesperado pela rua, gritando que o filho iria morrer, a caminho do banco. “É caso de vida ou morte”, respondeu a mãe ao segurança do banco. Este chamou o gerente, que os mandou entrar. Enquanto a polícia dirigia-se ao banco, acionada pela gerência, o pai continuava ao telefone, sendo ameaçado pelos sequestradores. O desespero era tanto que a mãe não recordava o número do filho, até lembrar-se que estava anotado na sua agenda. A ligação foi realizada e o filho, que estava são e salvo em casa, tranquilizou todos. Ficou evidente que se tratava de um falso sequestro pelo telefone. Realmente, não passava de uma ligação feita por bandidos que tentavam subtrair dinheiro de duas pessoas que não conheciam, mas sabiam dos efeitos devastadores das suas palavras.
“Eu escutei a voz do meu filho, era ele mesmo”. O desespero em que a pessoa entra após ouvir que alguma pessoa muito próxima foi sequestrada acaba por diminuir o discernimento entre realidade e ficção. É o que afirmou o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, na edição de 12 de fevereiro de 2007, da Revista Veja: “O estado de desorganização mental que se segue a uma notícia de acidente ou sequestro do filho ou cônjuge faz com que a vítima entre em um estado de quase-hipnose”. A reportagem antiga faz perceber que o golpe é antigo. Ainda assim, muita gente continua sendo vítima de pilantragens como essa.
Outra modalidade semelhante ao “disque-sequestro” é a “ligação-premiada”, onde um suposto funcionário de uma empresa conhecida informa que a pessoa ganhou boa quantia em dinheiro e para que seja depositado na sua conta, deve comprar cartões telefônicos e informar o número do código, ou então depositar 500 reais para ganhar os dois mil da premiação.
Ligações como essas podem ocorrer tanto em São Paulo como em Uruguaiana. Ainda mais com a facilidade que existe, atualmente, em acessar as informações de qualquer pessoa. As lojas detêm um cadastro com incontáveis informações pessoais, que vão de nome completo a filiação, CPF e endereço.
As redes de relacionamento na internet dispõem de álbuns de foto, onde o internauta divulga imagens da sua casa, dos pais, filhos, irmãos, amigos de maior convivência, local de trabalho, isso se não escancarar o endereço e o número do celular. Basta um acesso rápido aos álbuns, nem sempre disponíveis apenas a amigos, mas a amigos dos amigos ou àqueles que são adicionados sem realmente sabermos quem são e, pronto, tem-se uma ficha completa. Também são encontradas informações que você quer que apareçam e também o que não quer se digitar o seu nome no site do Google: concursos realizados, aprovações, promoções em empresa pública ou caso seja citado num site; tudo isto estará/está disponível na web.
É muita informação solta, livre e fácil de ser encontrada e fica difícil manter em segredo, na internet, a própria atividade profissional, rede de amigos e demais dados pessoais. Ajuda se controlar o impulso de postar na internet tudo o que ocorre consigo. A foto está tão bonita, dá tanta vontade de deixá-la pública para que os meus amigos vejam. E para que os inimigos invejem. É um enorme campo para contraventores aproveitarem-se e usarem contra nós. Não se desesperar ao ouvir o anúncio do sequestro, quando ele pode ser verdadeiro, é uma tarefa difícil. Mas é possível bloquear imagens, selecioná-las melhor para que nossa vida fique menos exposta e tentar permanecer sempre atento a qualquer chamada fora do usual.

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