domingo, 26 de junho de 2011

A ordem natural dos fatos

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 26 de junho de 2011.

APRENDEMOS NA ESCOLA QUE A VIDA SEGUE UMA ORDEM PREESTABELECIDA. Nascer, crescer, se desenvolver, reproduzir, envelhecer e morrer. E achamos que o mundo é perfeitinho assim, do modo que nos pintaram no colégio, mas só com o tempo entendemos perfeitamente que esta ordem natural é passível a controvérsias e passamos a conhecer e entender a expressão “do pó viemos e ao pó retornaremos”.

Dias atrás, uma ex-colega da faculdade faleceu e fui ao seu velório. Falecia depois de meses lutando contra infecções oriundas de uma cirurgia de redução do estômago que fizera. Nesses lugares, a condição social pouco importa e a beleza é só um adjetivo que pertence ao mundo dos pretéritos. Ricos e pobres igualam-se, freiras e traficantes ficam em mesma situação. O que muda nisso tudo são, apenas, os amigos, que uns têm mais e outros, menos.

Mãe, marido, filho, sobrinhos e sobrinhas, tios e tias, toda a família chorava a perda do ente querido. Colegas de trabalho, vizinhos e amigos também lá estavam. Chegava muita gente, alguns permaneciam no recinto, outros saíam. Aquele entra-e-sai comprovava a estima da falecida com as pessoas que a rodeavam.

Ela era nova, 39 anos, com muita vida pela frente. Formara-se professora de Português há dois anos e exercia o ofício de educadora. Assim como muitas pessoas, concluíra o Ensino Médio, parara de estudar e anos mais tarde, retornara aos estudos.

Mas morrera antes da mãe. A ordem natural dos seres humanos invertia-se. Quando isso ocorre e o mais novo é quem falece antes, a dor parece ser maior. Porque não se espera isso. Acredita-se nessa tal “ordem natural” como se fosse uma regra inquebrável. Mas ela nem sempre é cumprida.

O mesmo ocorreu com meu primo. Da minha idade, faleceu logo após completar 18 anos. Inicialmente, não parecia ser verdade, porque a saúde estava bem, tinha vitalidade de sobra, namorava, tinha amigos. Mas um acidente de carro abreviou a ordem nascer, crescer, se desenvolver, reproduzir, envelhecer e morrer.

Naquela ocasião, encontrei-me com parentes que há tempos não via. Geralmente isso acontece: rostos familiares se reencontram apenas em momentos de desgraça. Infelizmente, não damos a devida importância às horas alegres para que sejam compartilhadas com os entes queridos.

Meu avô materno, que reside em outra cidade, passou a morar com meus pais nos últimos meses, para tratar-se de diversos problemas de saúde. A vida desregrada cobra-lhe, agora, os exageros de outrora. Essa convivência tem proporcionado muitos momentos alegres. Mas não era assim no passado. O tempo e a iminência da velhice fizeram bem ao rude pai.

Em situação parecida, minha avó recupera-se de câncer. Morando longe, passou pelos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Agora faz novos exames para verificar a eficácia dos tratamentos.

Quando existe a possibilidade do falecimento de alguém próximo, torna-se impossível não se abalar com isso. E essa situação força-nos a refletirmos sobre as coisas que realmente importam, se os esforços envidados em prol de certos objetivos estão sendo sabiamente empregados e o quanto vale lamentar o insucesso ao invés de comemorar as vitórias.

A única certeza que temos é a morte e talvez seja o fato que mais enfrentamos dificuldade de aceitar. Porque ela não pode ser desfeita. É um caminho que só tem passagem de ida. De qualquer forma, ensejamos que a ordem natural ocorra e que os mais velhos faleçam antes dos mais novos. Contudo, acidentes de trânsito, drogas, brigas, problemas de saúde e muitos outros fatores são motivos mais que suficientes para modificar a lógica tão bem assentada em nossas mentes. Porque não há regra sem exceção no mundo real e contra isso, pouco podemos fazer.

sábado, 25 de junho de 2011

4444 visualizações

Entrei no blog para postar a nova crônica da semana e vi o número 4444 nas visualizações... Daí fiz um printscreen da tela.
Se o 666 é o número da Besta, que esse 4444 seja ao contrário!
Obrigado a todos pela apreciação e continuem me visitando de vez em quando.
Abraços!!!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

AS ANÔNIMAS GLORINHAS

Por Rosane Roehrs Gelati, professora de Língua Portuguesa e Literatura

- Soooora!!!
- Sooora, Glorinha!
- Ã!!!
- Que bom que te encontrei! Que bom!
- Oi! Sim?
- Oi, tudo bem, sora?
Tentou se lembrar de quem era aquele rosto. Sem resultado. Apavorou-se: Meu Deus! Que é ele?
Nem tinha percebido que segurava algumas sacolas de mercado, pesadas e, próximo dela, atravessado no passeio em frente a sua casa, estava uma bicicleta abandonada por aquele homem que foi correndo ao seu encontro e a abraçara. Era um jovem de aproximadamente 30 anos, falando, gesticulando e sorrindo. Como continuar a conversa se não sabia quem estava a sua frente?
- A senhora está bem?
- Estou, sim. E você?
- Eu precisava te encontrar e não sabia onde a senhora estava.
Ela largou as sacolas enquanto ele continuava falando:
- O Pastor da minha igreja disse que seria muito importante eu dizer o quanto a senhora foi importante para mim.
- Eu? Importante para você?
- Sim, sora. Lembra quando eu era pequeno? Aprendi a ler e escrever com a senhora?
Ufa! Faz tanto tempo! Impossível lembrar-se da fisionomia!
- Ah, sim – respondeu, mesmo não sendo verdade, pois não podia decepcioná-lo.
- Lembra quando cantamos aquela música: Que nenhuma família comece e termine...
- Sim, lembro!
- Quando cantava, a senhora era a mulher mais linda do mundo! A senhora ria e cantava com a gente! Um dia eu disse pra senhora que a minha família não era bonita como a da música e a senhora respondeu que quando era criança a sua também não era e que quando cresceu, construiu uma família linda, que eu também poderia fazer isso!
- É, eu lembro! E um nó na garganta se formava.
- Daí, sora, fui pra casa e disse pro mano que um dia a gente teria uma família linda. E hoje eu tenho. Eu não queria ser bandido, eu não achava certo.
Risos! Lágrimas!
- Ah, professora, como eu gostava da senhora, com aquele seu casacão branco e quando eu lhe abraçava os colegas diziam: Sai de perto, ranhento, vai sujar o casaco pra profe e a senhora respondia que o casaco ficaria limpo com água e sabão, que era para eu lhe dar um abraço bem gostoso. E eu lhe abraçava. Ah, professora, não tem como esquecer!
Os olhos já estavam cheios de lágrimas. No baú das lembranças veio o nome do aluno e de seu irmão. Uma família com problemas econômicos, emocionais, estruturais e tantos outros que encontramos também hoje em nossas famílias e em nossas escolas.
- A senhora sempre segurava a minha mão. Eu era todo sujo, grudento e a senhora não se importava. Eu ficava tão feliz em poder segurar sua mão! Nossa!! Os outros tinham inveja.
- É, eu lembro!
- Lembra que a senhora ficava comendo merenda bem devagar só para que eu me servisse duas vezes? Eu sei que a senhora não estava com fome, mas daí eu podia ficar comendo e não tinha vergonha.
- Imagina, disse ela, eu tinha fome, sim!
As lágrimas lavavam o rosto de ambos a esta altura da conversa.
- O que você faz hoje?
- Trabalho naquela empresa ali, apontou. Sou adestrador de cães!
- Que bom, meu querido, que bom que você está bem e feliz!
E o papo continuou mais um tempo até as despedidas.

Será que é preciso uma demonstração maior sobre a importância dos professores na vida das crianças, jovens e adolescentes? A ação (ou omissão) do educador sobre as infinitas situações semelhantes que surgem em nossas escolas é determinante e saber como proceder em cada uma delas, fundamental, independentemente do salário e das condições de trabalho.
O dia do Professor está se aproximando e eu não poderia deixar de contar este fato, verídico, que aconteceu com uma professora amiga minha, em homenagem a tantos educadores que fazem a diferença na vida de muitas pessoas.
Parabéns a todas as anônimas Glorinhas.

VIDAS CRUZADAS

Por Bruna Martini Madril

Publicado no BLOG DA BRU, em http://www.brumadril.blogspot.com/

Nossa existência é um presente divino. Não percebemos o quanto somos importantes na vida de outras pessoas, mesmo que estas não sejam tão próximas. Existem três acontecimentos que me fizeram refletir sobre minha existência: A leitura de um livro, meu irmão e a morte de um primo.
O livro Veronika decide morrer do Paulo Coelho é uma história encantadora que conheci em 2002, indicado por uma amiga. Conta a história de uma mulher jovem e solitária que tentou suicídio ingerindo remédios, acorda dias depois no hospital psiquiátrico com o diagnóstico grave: sete dias de vida, apenas. Porém, na espera de sua partida ela decide viver cada minuto como se fosse o último e, assim, aproxima-se do esquizofrênico Eduard e eles fogem no sétimo dia. Ao acordar no dia seguinte ao lado do rapaz, ficou surpresa, ocorrera um milagre, estava viva. Seu diagnóstico era uma mentira sabiamente arquitetada pelo Dr. Igor, a maneira que ele encontrara de Veronika decidir viver.
Ainda em 2002, conheci a história de uma família cuja mãe morreu após uma gravidez complicada e doenças respiratórias. O bebê teve que aprender desde cedo a lutar para sobreviver às doenças, à falta de cuidados de mãe e à falta de recursos da família para cuidar e mantê-lo. Essa criança guerreira que passou por duas cirurgias e por todos esses problemas, hoje é parte da minha família. É meu irmão de coração, esbanja saúde, energia e alegria pela casa.
O último e mais recente acontecimento foi a morte trágica e prematura de um primo, Emanuel, na data com 2 anos de idade. Foi vítima de um atropelamento, infelizmente não resistiu. Eu estava na sua casa no momento do acidente. Cheguei minutos antes para escolher um presente de aniversário para uma colega entre as bijuterias confeccionadas pela minha tia. Quando entrei na casa, deparei-me com uma carinha toda suja de sopa, estava sentado sozinho à mesa. Dei um beijo em sua bochecha, como de costume, foi o último. A mãe do menino estava grávida e presenciei os gritos, a correria, a culpa do motorista e a notícia inesperada.
Cada uma dessas histórias tocaram-me de uma maneira diferente: o livro, o irmão e o primo. Nunca pensamos o quanto somos importantes para a vida de alguém, de muitos na verdade. Quem diria que a criança que perdeu a mãe tão cedo faria parte da minha família? Quem imaginaria um ciclo de vida tão curto para o Emanuel? Como eu saberia que aquele seria o último contato com meu priminho? Paulo Coelho jamais pensou que suas palavras atingiriam com tanta persuasão a minha vida.
Mesmo indiretamente, cruzamos a história de muita gente e a nossa existência faz a diferença. Precisamos acreditar que cada dia de vida é um milagre, que deve ser celebrado e bem vivido ao lado de pessoas que nos fazem feliz.

PREMIAÇÃO NO 3º CONCURSO LITERÁRIO FARROUPILHA

Pessoal,

com muita alegria posto aqui no blog a premiação minha, da mãe e da Bru no 3º Concurso Literário Farroupilha 2011.
A Bruna ficou em 3º lugar na Categoria Literatura Livre (crônica Vidas cruzadas).
A mãe recebeu posição de destaque na mesma categoria, Categoria Literatura Livre (Anônimas Glorinhas)
E eu recebi, também Destaque na Categoria Poesia (Um cara chato)

O blog da Bru é http://www.brumadril.blogspot.com/  

Postarei a crônica da mãe e da Bruna, para que todos possam ler com prazer!!!






domingo, 5 de junho de 2011

Piratas by Brasil

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 05 de junho de 2011.

Um livro da L&PM Pocket com clássicos da literatura mundial custa entre R$ 7,00 e R$ 15,00. Nas lojas Americanas, “Ágape”, do padre Marcelo Rossi, sai por 15,00. “O símbolo perdido”, de Dan Brown (o mesmo de O código da Vinci), por R$ 22,00. “Amanhacer”, de Stephenie Meyer, por 30,00. Já “O livro dos manuais”, do Paulo Coelho, não custa nada. Isso mesmo: R$ 00,00.

É que o escritor mais popular do Brasil, com livros escritos (e vendidos) em diversos idiomas e países, defende o que chama de “autopirataria”, disponibilizando as suas obras no blog “Pirate Coelho” para download gratuitamente. Alguns sites levantaram hipóteses que isso seria 'caridade', 'nova visão de mercado' ou 'jogada de marketing'. Se fosse um vestibular, marcava sem titubear a alternativa “C”.

Coelho argumenta que se todos tiverem a oportunidade de ler os seus livros pela internet, comprarão nas livrarias. Fácil dizer sendo milionário. Ele é reconhecido e continuará vendendo astronomicamente. Mas para quem está construindo a carreira, não é bem assim. Àqueles que tiram o seu sustento com o escrever, piratear-se é perder os direitos autorais e isso significa não receber pelo trabalho, não ter salário.

Conquistar um espaço para escrever num jornal é uma tarefa árdua e contempla poucas pessoas. Existe muita gente que escreve muito mal e acredita que escreve bem. E o mais triste é que existem jornais que publicam esses textos horrendos. Não se trata de serem mal escritos, com erros de ortografia. É mais grave. As ideias são desconexas, incoerentes, contraditórias por vezes, ou totalmente “fora da casinha”. Essas pessoas têm espaço na mídia. E muitas outras não têm e escrevem maravilhosamente bem.

A distribuição gratuita de exemplares que estão à venda talvez alavanque a carreira de alguns. Mas para a grande maioria, não passará de um desprestígio do próprio trabalho.

Clássicos da literatura e muitas outras obras estão disponíveis em sites como o Domínio Público (http://www.dominiopublico.gov.br/), onde não encontramos o Paulo Coelho nas buscas. Concomitantemente, os livros impressos continuam sendo adquiridos em livrarias por todo o Brasil. A obra completa de Machado de Assis encontra-se no site e, ainda assim, a todo momento surgem novas edições dos livros do autor, que são postos à venda.

Antes de sugerir que seja pirateado, o “mago” poderia ter disponibilizado seus livros no Domínio Público. Lá, permanentemente estarão à disposição de seus e-leitores. Mas, não, as têm num blog, de onde pode tirar a hora que bem entender. Se estivesse num site público, depois de enviado não haveria mais volta.

Já livro pirata e CD pirata não são a mesma coisa. Um artista que tem os seus CD e DVD pirateados consegue mais popularidade, pois quem não pode pagar R$ 20,00 pelo material original faz download pela internet. Ou então, compra de vendedores ambulantes, escuta, gosta. Daí, vai ao seu show e desembolsa, feliz da vida, R$ 30,00 para assistir-lhe.

Não tem como piratear um show. E seria descabido um escritor reunir uma multidão e iniciar a leitura da sua obra. Algo muito demorado e chato. A marca do cantor vira produto que gera receita para o artista. Mas não conheço nenhuma linha de produtos “Perfumes Rachel de Queiroz”, “Calças Moacyr Scliar”, “Sapatos Álvares de Azevedo”.

É fato que os livros são muito caros para o padrão de consumo do brasileiro. E a cultura da não-leitura ajuda muito nessa estatística deplorável. A assinatura de revista, jornal não é viável a quem ganha um salário mínimo. Melhor preocupar-se em alimentar os filhos, não acha? Comprar um livro para quê, se ele pode ser trocado por algumas refeições com carne! E àqueles que têm condições de adquirir livros não costumam comprá-los. Melhor ver a Ellen Roche na Dança dos famosos... É muito cômodo fazer apologia à pirataria com o bolso recheado. Dá até para declarar um paradoxo desarrazoado como “se hoje alguém me propusesse publicar um livro para três leitores, ganhando 3 milhões de dólares, ou publicar um livro para três milhões de leitores, ganhando três dólares, escolheria a segunda opção”. Queria vê-lo pagando as contas do mês com os tais três dólares...

sábado, 28 de maio de 2011

A dita fala "errada"

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 29 de maio de 2011.

“Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. Esta frase tornou-se hit em jornais, telejornais, rádios e na internet depois que o MEC publicou o livro “Por uma vida melhor”, destinado à Educação de Jovens e Adultos. Você, certamente, condena que escrevam dessa maneira. Mas, sem sombra de dúvidas, já falou assim ou parecido. Não consigo imaginar alguém, até mesmo aqueles gramáticos mais conservadores, falando “se vós soubésseis” à mesa, num estádio de futebol ou no barzinho com os amigos no happy hour (segundo o deputado Raul Carrion, 'numa hora feliz'). Da mesma forma que ninguém seria louco de palestrar num seminário falando “e aí, pessoal, vim aqui dá um lero proceis”.

Esse debate formado acerca do falar certo/adequado ou errado/inadequado é muito interessante. Saem mais maduros do confronto de ideias os pró-livro do MEC e aqueles que são contra. E isso é ótimo. O que desagrada é perceber a quantia de informações desencontradas sobre esse assunto. O Jornal Nacional noticiou, na abertura da sua edição do dia 13 de maio, que o livro do MEC estaria “sinalizando nova classificação quanto ao uso da língua portuguesa”, deixando de encará-la como certa ou errada, passando a ser vista como adequada ou inadequada. Contudo, a fala já é compreendida como adequada ou inadequada por sociolinguistas há muito tempo.
Também se fala que a cartilha reza que escrevendo corretamente ou errado, tudo será encarado como certo. Isso não está no livro. Há muita gente que pega a informação no ar e já repassa, sem conferir a veracidade. Essas afirmações infundadas sobre o “Por uma vida melhor” são preocupantes.
A todo o momento fazemos construções de frases que, analisadas a fundo, agridem as normas gramaticais. Se estamos entre amigos, tampouco nos preocupamos quanto ao uso de gírias, comemos o “s” do final das palavras, cortamos o enunciado pela metade e concluímos o pensamento com um gesto. Conseguimos nos fazer entender? Claro, sem sombra de dúvidas. Vamos falar da mesma maneira numa entrevista para emprego? Lógico que não. E por quê? Por estarmos numa situação comunicacional totalmente diferente.

A escrita segue uma estrutura fixa, complexa e que não consegue atingir a fala. Porque quando falamos, a gesticulação e as feições faciais interferem muito na compreensão do que é dito. Já na escrita, não. Não tem cara de espanto no texto; no máximo, uma “exclamação”. E o que está impresso pode ser lido tanto em Porto Alegre quanto em Maceió, ao mesmo tempo ou em datas separadas. Daí a importância de se escrever uniformemente, de acordo com regras estanques.

Disso, pode-se depreender que não escrevemos da mesma maneira que falamos. A Semana da Arte Moderna, em 1922, rompeu com a literatura vigente e buscou aproximar-se mais da fala, da realidade. Mas essa “licença poética” dos modernistas do início do século passado servia apenas para romper barreiras de estética, de pensamento. Jamais se intencionou falar e escrever da mesma forma.

Não podemos negar toda a história de vida de quem não teve a oportunidade de estudar quando mais novo e que fala totalmente em desacordo com as normas gramaticais. Precisamos aceitar que a variação linguística utilizada por esses jovens e adultos que retornam aos bancos escolares depois de anos é uma maneira de comunicação. Não se trata de apologia, e sim, de aceitação. Negar esses dialetos seria como tapar o sol com a peneira, confabulando que esses cidadãos sempre falaram escorreitamente.

É papel inegável da escola possibilitar o acesso à forma de prestígio da língua. Se a língua é poder, aprender os meandres gramaticais dela é uma das maneiras de ascensão social que a escola propicia a seus alunos. Mas tudo isso, sem lhes negar a realidade da própria fala. Sem lhes negar quem são.

domingo, 22 de maio de 2011

Um cara chato

Destaque no 3º Concurso Literário Farroupilha 2011, categoria poesia


o passado


deu um oizinho hoje pela manhã


dei tchau


mas ele encontrou-me novamente.


que cara chato.


que nunca vai embora.


que jamais irá.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pessoal,

se moram em Santiago ou pertinho de lá...
e mesmo para aqueles que vivem longeee...

Não percam a II SEMANA LITERÁRIA DE SANTIAGO, de 8 a 11 de junho, organizada pela Casa do Poeta de Santiago (grande abraço ao presidente Márcio Brasil), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Santiago e o Projeto Santiago do Boqueirão, seus poetas quem são?
Dentre outras coisas, vai falar sobre o Caio Fernando Abreu e o Oracy Dornelles.

Confere aí no blog do Giovani Pasini:

http://www.giovanipasini.com/2011/05/ii-semana-literaria-de-santiago.html

domingo, 15 de maio de 2011

Troque um Bolsonaro por 354 professores

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 15 de maio de 2011.
Quando decidi fazer o curso de Letras, definitivamente, não tive a aspiração de ser rico. Quiçá de viver bem, com um bom padrão de vida, pois o início da carreira de professor com graduação é um tanto doloroso. Os pouco mais de 500 reais mensais pelas 20 horas semanais de aula propostos pelos editais de muitos concursos a professor da rede municipal no Rio Grande do Sul não pagam a mensalidade de outrora da faculdade.

Onde está o retorno financeiro? Aparece apenas aos poucos que logram um curso de mestrado e ingressam na docência universitária. E olha que, ainda assim, não dá para esbanjar. A grande massa fica apenas com a graduação. Não por escolha, mas por que o bolso é pequeno e não há viabilidade para pagar um curso de maior duração e que, fatalmente, demande mais investimentos financeiros.

O que fazemos com os benditos mil reais para oito horas diárias de trabalho? Antes mesmo do aperfeiçoamento profissional, algumas contas brigam entre si para serem pagas. É aluguel, água, luz, condomínio, IPTU, telefone, rancho, os gastos com passagem (porque o meio de transporte é o ônibus, lógico), e outras despesas inevitáveis para a sobrevivência. Que professor terá condições de investir todo o pouco que resta do capital numa assinatura de revista que desequilibra o orçamento? Não esqueçamos que livros didáticos também não são nem um pouco baratos...

A assinatura anual da revista Nova Escola atinge a cifra de R$ 37,00. Uma revista, definitivamente, feita para os professores. Barata. Porque a National Geographic Brasil custa anualmente R$ 179,88. Aventuras na História, R$ 131,40.

E para assinar uma revista semanária como a Veja, os padrões do professorado indicam, visivelmente, que a solução é fazer um “racha” com os demais colegas da escola e deixar a revista exposta na sala dos professores. Leitura apenas nos intervalos ou após o término das aulas. Quem se interessar por algum assunto, tira uma fotocópia e lê com calma em casa. O valor anual da assinatura? R$ 462,78. Comprando a revista avulsa, o custo anual sobe para R$ 694,20. É um aumento percentual que seria muito bem-vindo no contracheque.

Isso me faz ter mais fé na teoria de que o professor foi moldado por Deus e trazido pela cegonha para viver em comunidade. Porque ele é alguém que não consegue viver sozinho. Necessita estar rodeado de alunos perguntando-lhe, sanando dúvidas, pedindo para ir ao banheiro, implorando para adiar a prova, querendo que a aula seja mais light. Esse ser, indubitavelmente, foi fabricado para viver em grupo. O professor necessita viver com outros, muitos outros seres semelhantes, porque senão, vai à falência.

É mentira que querem uma educação melhor. Gente culta não veste involuntariamente a camiseta de massa de manobra. Gente que consegue subir um pouco mais nos degraus escolares não aceita suborno de candidato a deputado ou vereador por necessidade orgânica de alimentar-se. Aceita por opção, pura falta de caráter.

Em contrapartida, deve-se fazer uma mea culpa: há graves erros na administração de escolas, no repasses de verbas, nos currículos escolares obsoletos, ultrapassados. E há formações familiares precárias que refletem em alunos de difícil relacionamento.

O Juremir Machado escreveu a crônica “Complicada complexidade”, dia 18 de abril, no jornal Correio do Povo, falando que problemas complexos não se resolvem com soluções simples, e sim, com soluções complexas. Seria leviano, realmente, dizer que melhorando o salário do professor o problema educacional estaria resolvido. Quem dera... O reajuste salarial não é a única solução, mas é por ele que as respostas devem passar.

Fica claro que o descaso do Estado com o ensino é motivado pela falta de resultados imediatos. Eles aparecem significativamente depois de anos. A verba que vai para escolas e professores não retorna num primeiro momento, no mesmo mandato. As mudanças são graduais, lentas e dependem do sucesso de todos os fatores.

Estou cada vez mais convicto de que a campanha “troque um deputado por 354 professores” é uma das máximas contemporâneas de maior relevância. Esse cálculo realizado e que circula pela internet contabiliza o salário “mixuruca” dos parlamentares, somado aos vale-passagem aérea, vale-assessor, vale-telefone, vale-tudo que o cargo proporciona, e dá conta dos vencimentos de 354 professores.

Li essa frase há certo tempo, numa corrente recebida por e-mail. Ela também apareceu, numa versão mais atualizada, entre estudantes das Etecs (Escolas Técnicas) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia) de São Paulo, que protestaram por reajuste salarial nessa sexta-feira, 13 de maio. Sabiamente, dizia “troque um Bolsonaro por 354 professores”. Uma troca onde o custo-benefício compensa.

sábado, 14 de maio de 2011

Tem vereador defendendo a compra milionária de veículos no Rio de Janeiro, argumentando que não possui carro particular.
Realmente... ele anda a pé/metrô e o povo de Rolls-Royce.

domingo, 1 de maio de 2011

Macaquices na língua portuguesa

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 1º de maio de 2011.

É DIFÍCIL FALAR SOBRE APROVAÇÃO DE LEIS na semana em que o príncipe William e a plebeia Kate Middleton casaram-se. Realmente, torna-se supérfluo falar de uma lei idiota, quando ouvidos e -principalmente!- olhos estão voltados aos detalhes importantíssimos do casamento do ano. Aliás, do século, da história, da galáxia...

Desligando um pouco a mente da Meca do consumismo e do culto às tradições, ressalto a brilhantíssima ideia do deputado estadual do Rio Grande do Sul, Raul Carrion em votar pela “Abolição dos Estrangeirismos”. Se 1888 foi marcado como o ano da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão, 2011 fixa-se na história gaúcha como o ano em que deixamos de falar mouse e passamos a dizer rato e que saímos do trabalho para fazer uma hora feliz.

Este projeto de lei nasce da necessidade de resguardar a língua portuguesa da invasão indiscriminada e desnecessária de expressões estrangeiras que possuem equivalentes em nosso idioma”, escancarou Carrion em seu site. Esse mesmo senhor que defende o neocolonialismo linguístico, aprovou em 2008 a Semana Estadual do Hip Hop.

O deputado salientou na defesa do seu projeto que o uso de estrangeirismos é "imposição cultural por macaquice". Então, como ele explica a Semana do Hip Hop, através da Lei 13.043, de 30 de setembro de 2008? Evidencia-se a incoerência no discurso retrógrado do deputado, exigindo que termos estrangeiros, dicionarizados, devam ser traduzidos para o português.

Inevitável não o comparar com Policarpo Quaresma, numa versão contemporânea. Enquanto o personagem desmiolado de Lima Barreto lutou até o fim pelo nacionalismo da língua, Carrion também acredita desoportunadamente que devemos falar o português literário e escorreito, tão inatingível quanto as virgens do ultrarromantismo literário. Essa decisão acéfala, infelizmente, recebeu apoio de um quórum de 26 parlamentares. Os outros 24 deputados utilizaram a massa encefálica e votaram contra.

Ora, se estamos em busca de uma língua nacionalista, por que não falamos o tupi-guarani? Uma vez que o nosso português brasileiro tem origem no português de Portugal, evidencia-se que não estamos, efetivamente, buscando as raízes de nosso povo.

Vou dar algumas sugestões ao parlamentar: poderia acrescentar na lei que aprendêssemos o português de 1500, de quando os portugueses chegaram ao Brasil. Ou o latim, origem da nossa língua. Melhor ainda, poderíamos falar a língua indígena, afinal, foram os índios os primeiros habitantes do Brasil.

Esses palpiteiros que procuram instituir algo para promover-se, deveriam expandir o debate à população. Não tenho dúvida de que se houvesse uma discussão do projeto de lei com a sociedade antes de votá-lo, o resultado não seria a aprovação. Opinar é uma coisa, achismo é outra bem diferente.

É lamentável quando pessoas que não têm formação mínima para opinar sobre um assunto e sequer informam-se acerca do mesmo, profanam tolices como o deputado Carrion. Isso me faz lembrar uma observação da profª Dra. Stella Maris Bortoni-Ricardo, em seu livro “Nós cheguemu na escola, e agora?”. Ela citou um artigo do profº José Carlos Azevedo, Ph.D. em Física, onde ele considerava errada a construção “Toda criança na escola”, adotada como slogan do Ministério da Educação em 2005. Orientava a adoção de “Todas as crianças na escola”.

Stella Maris esclareceu que ambos os empregos estão corretos. Finalizou a análise com uma frase que pode ser perfeitamente estendida ao Sr. Carrion: “[...] convém observar que se os Ph.D's em Física começarem a concluir entre seus misteres o de dirimirem dúvidas no uso do português, o governo brasileiro pode começar a economizar os recursos que despende para formar Ph.D's em Letras e Linguística”. Não se trata de “macaquice”, como relatou Carrion, e sim, de cada macaco no seu galho.

domingo, 24 de abril de 2011

ANNA JULIA, LOS HERMANOS

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 24 de abril de 2011.


ESTAVA LEVANDO MINHA IRMÃ NUMA AMIGA e eis que ocorre uma situação interessante. O rádio do carro tocou uma música que se costuma dizer, foi “desenterrada” da memória, cavoucada até os grotões da lembrança e lançada ao ar. Gente, quanto tempo faz que estourou nas rádios esta música? Mano, muito tempo, credo! Anna Julia, música emblemática dos Los Hermanos, de 1999, idos doze anos atrás. Mesmo sem ouvi-la há alguns, em uníssono, acompanhamos a letra, admirados por ainda recordarmos quase perfeitamente toda a composição.


Um misto de sensações passou na minha mente. Vieram à tona lembranças boas e ruins. Daquele eu de dez anos atrás. Com minhas apreensões de dez anos atrás. A mentalidade da época. Os problemas que eu tinha e que hoje até esquecera que um dia convivera com eles.


Quando uma música nos marca, anos depois ela traz-nos uma doce melancolia que gera risos e choros. Lembramo-nos mais jovens e dos fatos contemporâneos à música que mexeram com nossas emoções.


Quantos relacionamentos foram lamentados sob o fundo de Anna Julia? Uma trilha sonora de corações partidos e mesmo de jovens imberbes à procura do primeiro amor, que buscavam nessa e em tantas outras canções juvenis um bálsamo para a sua solteirice.


Sim, havia pessoas que não gostavam de Anna Julia. Conheci poucas, muito poucas, mas existiam bem mais. Há ainda, aquelas que inicialmente não gostavam do single, mas com o tempo simpatizaram. Isso devido à excessiva exposição da música na rádio e televisão.


Quando ouvimos constantemente uma música, em distintos momentos, mesmo que não gostemos, passamos a associá-la às sensações que sentimos enquanto é executada. Dessa forma, aquela sonoridade que era indigesta transforma-se numa amigável música. Isso deve ter ocorrido com um antipatizante dos Los Hermanos que a ouviu no mesmo momento que recebeu a notícia que seria pai e em homenagem, sua filha recebeu o nome de Anna Julia.


A música tem esse poder. Essa magnífica força de mover-nos para mais à frente, motivando-nos e, com a mesma intensidade, reforçar o sentimento depressivo que possamos estar sentindo. Ela embala todas as idades. O bebê no seu sono inocente. A adolescente no namorisco com o amigo. O adulto, o idoso. Da mesma maneira que Anna Julia embalou-me anos atrás e novas músicas embalam, hoje, outros jovens como eu.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Por dois votos, Assembleia aprova projeto que exige tradução de palavras estrangeiras

O deputado Raul Carrion projeta-se no cenário político como o mais novo Policarpo Quaresma, ardoroso defensor do purismo linguístico. O triste é que sua ideia pinel encontrou eco na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Deveria preocupar-se em votar projetos decentes e deixar que a língua portuguesa desenvolva-se como é o natural da evolução da linguagem!!!

ACESSE O LINK DA REPORTAGEM:
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Pol%EDtica&newsID=a3280229.xml

domingo, 17 de abril de 2011

É só uma piadinha inocente

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 17 de abril de 2011.


NA QUINTA-FEIRA, 7 DE ABRIL, PRESENCIAMOS UMA CHACINA numa escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Acontecimento lamentável. Muito triste. No dia seguinte, parte da torcida do Sada Cruzeiro, equipe de voleibol de Araçatuba – SP, bradava em coro “bicha, bicha, bicha!” enquanto o meia-de-rede Michael, da equipe adversária, o Vôlei Futuro, preparava-se para sacar. E isso ocorreu mais de uma vez. Da mesma forma, um acontecimento lamentável. Muito triste.


Como era de se esperar, a repercussão do ato de homofobia ocorrido não foi bem recebido pela mídia e uma mobilização anti-homofóbica invadiu a televisão e culminou no jogo seguinte entre ambas as equipes, no sábado, 9 de abril. O Vôlei Futuro venceu a equipe do Cruzeiro por 3 sets a 2, numa partida bastante equilibrada. Mas a vitória residiu, efetivamente, no ato anti-homofobia pela equipe e torcida do Futuro.


Como relata a reportagem da E-Band, de sábado, mesmo dia do ato, a torcida estendeu uma bandeira com a inscrição “Vôlei Futuro contra o preconceito” e agitou bastões rosa em repúdio à vergonhosa atitude do dia anterior. Os gandulas vestiram camiseta rosa e o líbero Mário Júnior utilizou uma camisa com as cores do arco-íris.


Gostaria de chamar a atenção a esse deplorável acontecimento. Escancaradamente, ele pode ser considerado um fato isolado. Mas velado, é uma realidade quotidiana de todos os ambientes de trabalho. O preconceito que diz respeito à cor, classe social, opção sexual, principalmente estes três aspectos, ocorre dissimulado, vez ou outra vez à tona e a opinião popular condena.


Lembro de quando estava na 5ª série e tentei entrar para a equipe de futebol do colégio. Assim como a maioria de meus colegas, tinha o desejo de ser um sucesso entre as quatro linhas do gramado. E do mesmo modo, junto à maioria dos que tentaram ser aprovados no teste, fui reprovado e tive que tentar outro esporte. Um professor chegou à sala de aula e fez propaganda do voleibol, interessei-me e comecei a treinar. Depois, alguns colegas começaram a falar que era jogo de menina, que “não era coisa de macho”. Senti vergonha no início, mas com o tempo passei a entender que era puro preconceito arraigado no imaginário das crianças. Um esporte não define a sexualidade de ninguém. E essa opção sexual, seja qual for, aprovada ou não, deve ser respeitada.


Da mesma maneira que crianças de 10 anos pensam como meus colegas, quando se tornam adultos, desmascaram-se como pessoas inflexíveis nas suas teorias sobre “como o mundo deve ser” e discriminam colegas de trabalho, funcionários, amigos e desconhecidos.


Quem não tentou ouvir na infância, uma piada imprópria a crianças? As de conotação sexual são contadas longe dos pequenos. Mas se é uma “piadinha inocente” sobre negro, gay e “gordo”, o acesso é livre ao rol de anedotas. Censura zero.


Por mais engraçadas que sejam e ainda que discursemos que “é uma simples piada, porque não sou racista, nem homofóbico”, os relatos engraçados reforçam aos adultos a ideia transmitida na história e sentencia às crianças, ainda que de maneira bem sutil, conceitos discriminatórios. É como um remédio homeopático medicado. Aos poucos, sem que se perceba, o conceito preconceituoso está formado e nem nos tocamos de onde ele surgiu.


Pode ser que tenhamos atitudes discriminatórias e nem percebamos. Mas, em muitos casos, temos a total ciência do que dizemos e devemos arcar pelo palavreado reprovável. Ícone disso é o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que no Programa CQC, da TV Bandeirantes, de 28 de março, respondeu a perguntas e destilou formidáveis frases: “O que você faria se tivesse um filho gay? Isso não passa pela minha cabeça, porque eles tiveram uma boa educação. Sou um pai presente, então não corro esse risco”.


Bolsonaro foi, ao menos, sincero, coisa que muito político não é. Isso que disse é o que realmente pensa. Sendo condenável ou não, retrógrado ou não, é um retrato fiel do seu pensamento. É a única coisa louvável no parlamentar.


Aprender a conviver com as diferenças é uma máxima que comunga o discurso-comum. Querer ver o outro lado, a outra perspectiva, não é tão simples assim. O deputado falou asneira e está sendo processado por isso. A torcida do Sada Cruzeiro e a equipe também estão sendo devidamente sancionados legalmente. E nós? Realmente não pensamos como a torcida mineira ou guardamos em silêncio as mesmas palavras que humilharam o jogador do Vôlei Futuro?

sábado, 9 de abril de 2011

QUESTIONAMENTOS DE REALENGO

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 10 de abril de 2011.


Além do assassino, estou convicto de que outras pessoas sabiam que uma chacina ocorreria na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, na última quinta-feira. Essa linha de raciocínio parece-me mais coerente que crer que Wellington Menezes de Oliveira pensou em tudo sozinho. Se fosse assim, por que ele destruiria o seu computador? Estando morto, não teria por que temer verem suas informações no PC. Queimou o equipamento porque alguém o convenceu a fazer isso. Quem leu sobre o assunto se consterna e quem viu os vídeos da fuga das crianças, arrepia-se.
Wellington era um jovem introspectivo e, aparentemente, guardava para si os ressentimentos. Ele não era muito sociável, não saía com garotas -possivelmente resultado do seu comportamento- e tinha um gosto musical hardcore, mas não havia nada que despertasse a atenção quanto à periculosidade que representava. Mesmo depois do massacre, muitas questões continuam pairando no ar, sem resposta. Como avaliar que ele era um psicopata em potencial? Onde houve falhas na sua educação que o levou a tornar-se o vilão de uma história que choca pelo requinte de crueldade?
Não se pode colocar a culpa em uma pessoa, apenas. Muita gente cruzou pelo rapaz, durante a sua vida, e ninguém constatou nada além de ser esquizofrênico, vítima de bullying e introspectivo. Poucos argumentos para deduzi-lo como um possível assassino. Se havia uma patologia, a esquizofrenia, por que o Estado não o estava tratando? E a família, como enfrentou esse assunto, se enfrentou?
Já o acesso às armas, alguém que deve ter lhe ensinado a atirar, fornecedores de armamento e munição e “amigos” lhe incitando para que se vingasse das garotas e garotos que outrora lhe humilharam, fizeram dele uma pessoa muito perigosa.
Na sua carta de despedida, deixa claro que era virgem: "...os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos [...] nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão...". Talvez isso tenha relação com o desequilíbrio no número de mortos entre homens e mulheres: 10 meninas e dois meninos. Se tinha problemas com garotas quando era estudante e isso lhe motivou a vingar-se, a desforra ocorreu entre muitas aspas, pois aqueles que lhe humilharam quando criança, hoje são adultos que não estavam no local. E as crianças que ficaram feridas e as que faleceram nunca tiveram relação com os traumas passados.
A violência escolar tem sido ilustrada por alunos batendo em professores, matando-os, e em todos os casos, os motivos são fúteis. Mas chacinas como a de Realengo não haviam ocorrido ainda. A Tasso da Silveira torna-se a primeira escola. Como disse o Juremir Machado em sua crônica no jornal Correio do Povo (jornal de Porto Alegre, RS) de sexta-feira, 8 de abril, entramos para o triste time dos países de chacinas escolares.
Outras nações já foram notícia no mundo sobre atentados em escolas, como a Finlândia e o Canadá. E encabeçando a lista, está os Estados Unidos. Dentre os vários assassinatos ocorridos, os de maior destaque ocorreram em 1999 e 2007. Em 1999, morreram 13 pessoas na escola secundária Columbine, no estado do Colorado. E em 2007, 32 pessoas foram assassinadas na Universidade Virginia Tech, na cidade de Blacksburg, cidade próxima a Washington. Parece uma “onda” norte-americana, onde jovens desequilibrados espelham-se em outros desequilibrados e executam seus planos diabólicos.
Já foram presos dois homens que confessaram terem vendido o armamento ao assassino de Realengo. Aos poucos, a polícia começa a descobrir todos os culpados pelo ocorrido. Porque tão culpado quanto Wellington são aqueles que lhe forneceram armamento, quem o incentivou a cometer os assassinatos e quem ajudou a planejar as execuções.
O país escreve uma mancha vermelha em sua página histórica. Com o amargo gosto de sangue na boca. Ficam os questionamentos: mais segurança nas escolas? Usar detectores de metal, pôr um policial na porta de cada instituição de ensino? E isso tudo resolverá o problema? Os próximos dias serão de muita comoção e de respostas. Respostas sobre Wellington e sobre como anteciparmo-nos a novos episódios lamentáveis como o da escola de Realengo.

segunda-feira, 4 de abril de 2011


minha namorada me disse ontem que esses nossos 3 meses de namoro foram os 3 melhores meses da vida dela.
e da minha também.
tem declaração mais linda que essa?
tem coisa mais maravilhosa que ouvir isso?
nao, definitivamente, nao

te amo bruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

domingo, 3 de abril de 2011

Tradutor de porta de fórum

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 03 de abril de 2011.

Participei, em janeiro deste ano, de um fórum de literatura na cidade de Santiago - RS, organizado pela Casa do Poeta de Santiago. Era época de férias, descanso pra todo mundo, um ótimo momento para os adoradores das letras, de poesias, contos, crônicas, declamações e quaisquer assuntos afim, encontrar outras pessoas convictas dessa paixão e trocar experiências. Mas eis que da minha cidade somente estava eu. Convidei todos os colegas que pude, mas o insucesso foi total. Não vai dar, vou estar viajando, gastei muito dinheiro com festa e não vai sobrar pra ir. Está explicado. É gasto com hotel, alimentação lá e três dias gastos (não investidos). Bem melhor ficar em casa tomando a cervejinha, assistindo à tv e dormindo até às 10h.
Fiquei no segundo dia junto com o pessoal da recepção. Fui barrado na entrada por uma ex-colega de faculdade que recepcionava o público. O papo ficou tão bom que acabei deixando para assistir às palestras para o próximo turno. Por se tratar de um fórum onde palestravam brasileiros e argentinos, havia intérpretes que faziam a ponte comunicativa entre os dois idiomas. Lá na recepção, assumi, sem querer, o mesmo papel.
Essa minha colega é excepcional no inglês, mas uma negação no espanhol. Com todo o respeito, é claro. E como eu estava ao seu lado, aproveitei e pus na prática os meus conhecimentos aprendidos na faculdade, da língua hermana. E foi uma ótima experiência que tive naqueles dias. Porque não há nada melhor para exercitar o seu conhecimento numa língua que falando com um nativo.
Não bastasse haver ganho o dia por ter falado com nossos amigos argentinos e ter conseguido expressar-me eficientemente, outro fato veio a valorizar ainda mais a ida solitária ao fórum.
Após sofridos dez minutos de luta contra a tampa do radiador do carro, consegui abri-la na manhã do último dia. Havia uma plateia particular, saboreando meu sufoco. Um senhor de certa idade, pois não era, exatamente, um idoso, porque isso vai mais da mente da pessoa do que o biológico. Era o senhor Joaquim Moncks, meu vizinho de quarto do hotel, que eu havia no dia anterior ajudado a pôr para funcionar seu gravador de áudio. Ele é o Coordenador Executivo da Casa do Poeta Brasileiro (POEBRAS Nacional), a entidade que lidera as várias Casas do Poeta, Brasil afora.
Conquistado o objetivo de abrir a detestável tampa, completei o nível de água que precisava, tampei novamente, fechei o capô do carro e preparei-me para ir ao fórum. Você me dá uma carona? Mas é claro! E o senhor Moncks foi comigo até o evento. No pouco tempo juntos, conversamos sobre produção literária e ao estacionar o carro ele pegou a sua sacolinha e começou a entregar-me alguns livros. São para você. Agradeci e perguntei-lhe quanto custavam, pois eram seis livros. Geralmente os regalos constituem-se de um, no máximo dois exemplares. Não custa nada.
Acho que nessa hora minha boca sorriu de canto a canto do rosto. Não bastasse o interesse daquele senhor, o presente era mais que bem-vindo, devido à qualidade dos textos e da importância de cada um.
Recebi, é claro, uma dedicatória. Foi o segundo presente em pouco mais que dois dias. A charla com os amigos argentinos e os livros do senhor Moncks. Quem sabe se algum colega meu fosse ao fórum, também tivesse essa mesma impressão positiva da atividade literária. Só indo para saber. Eu fui.

domingo, 27 de março de 2011

QUANDO HÁ VONTADE POLÍTICA

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 27 de março de 2011.


Há uma grande diferença entre dizermos “quando vontade” e “quando vontade”. Se vontade, é porque interesses estão em jogo: seja particular, de uma sociedade ou de uma nação. Se vontade, geralmente é resultado de estarmos sendo pressionados para realizar determinada coisa: em política falamos de pressão da opinião pública.
E os nossos governantes trabalham assim. Quando vontade política, pode saber: alguma estão aprontando, é dinheiro ou vantagem que estão pondo no bolso. Quando vontade é porque a mídia e ONGs estão pressionando e a vontade popular clama por mudança.
Difícil não concordar: reclamamos da burocracia que retarda obras, não deixa chegar recursos que seriam muito importantes para pessoas carentes. Mas, quando vontade política, os governos demonstram enorme capacidade de mobilização e agilidade na tramitação de leis. Que o diga Julian Assange, fundador do WikiLeaks. Feriu os interesses dos Estados Unidos e de países europeus e rapidamente foi tirado de cena, sendo preso sob uma acusação que nunca teria que responder se não falasse demais - a verdade.
Um dos problemas que muitos governos enfrentam é o não-planejamento da utilização de recursos. Então, a demora no repasse das verbas e a burocracia fazem jorrar pela torneira afora muito dinheiro que poderia ser bem empregado em áreas necessitadas. Contudo, quando vontade política, não falta planejamento. Cria-se a estratégia -que todos conhecemos e que sempre surte efeito- de esperar a Copa do Mundo ou as Olimpíadas para votar mais um aumento. E aprová-lo, como ocorreu no ano passado.
Reclama-se do salário de muitas categorias historicamente postas em segundo plano no cenário orçamentário: segurança, saúde e educação. Porém, quando vontade política, a Câmara dos Deputados vota em regime de urgência e consegue a aprovação da maioria como em um passe de mágica. Prova disso foi o reajuste ocorrido no ano final do passado que transformou os vencimentos do presidente da República, do vice, dos ministros de Estado, deputados federais e senadores em absurdos 26,7 mil reais.
Quando vontade política, o Governo encontra o déficit zero, merchandising de campanha. Foi assim com a Yeda Crusius, ex-governadora do Rio Grande do Sul. Era candidata à reeleição ao governo gaúcho nas últimas eleições. Somou os depósitos judiciais e encerrou os seus cálculos assim: pagamos todas as contas, com déficit zero. Perdeu a eleição e novo governo que assumiu mudou o termo de “déficit zero” para “rombo nas contas públicas”.
A oposição agride ferozmente a situação quando vontade política, exigindo um salário mais digno aos professores. Mas, ao assumir o Governo, o buraco mostra-se mais embaixo: não dá para realizar o sonho pregado outrora. Em contrapartida, se os professores fazem greve, prejudicam o andamento do ano letivo e a sociedade pressiona, começa a dar vontade política: o governo trata de propor algumas migalhas de reajuste salarial.
É o que está ocorrendo com o Governo Tarso Genro, no Rio Grande do Sul. Propôs um aumento de R$ 38,00 ao magistério, correspondente a 10,91% de aumento. Uma proposta anterior de 8,5% já havia sido recusada pelo CPERGS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul). É dessa maneira que o Estado pretende valorizar a classe?
O novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) foi aprovado pelo Governo Federal e reza em sua cartilha que 7% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil deverá ser aplicado na educação. Para termos uma ideia de como estamos longe desse objetivo, em 2000, 3,9% do PIB era aplicado em educação e em 2008, o percentual variou para míseros 4,7%. O Governo demonstrou, até o momento, que não vontade política em priorizar o magistério.
Se não vontade política em valorizar a classe dos professores, então que isso ocorra quando vontade política, através da pressão da sociedade. Porque muito mais alto que os 7% almejados para a educação, é o preço que pagamos pelo sucateamento de escolas e pela desvalorização dos professores.

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