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terça-feira, 15 de julho de 2014

HAY QUE DECIR "HASTA LUEGO"

Escrevo, na íntegra, a carta que redigi e li a meus alunos de Língua Espanhola (Rede Municipal de Ensino) ao informá-los que deixaria de dar aulas para eles, pois passaria a dar aulas na Rede Estadual. Essa foi uma decisão muito difícil para mim, mas necessária para a minha carreira profissional.

Queridas alunas e queridos alunos,

poderia apenas dizer “tchau”, mas seria muito leviano de minha parte. Daria para falar “até logo”, só que também seria um eufemismo barato, ilusório. Ou então, “adeus”, entretanto é uma expressão muito pesada e também não é a pura verdade. Talvez não haja um termo exato para expressar uma coisa tão triste e complexa.
Durante quase dois anos como maestro, aproximadamente 450 pessoas diferentes passaram por minhas mãos, pelas minhas palavras, minhas aulas, minha consideração, meu esforço. Uns 450 alunos meus. Meus, só meus. Alunos também da Geografia, também da Matemática, de Português e das outras matérias, mas, principalmente, meus alunos.
Ser professor é muito mais que vir à escola e ensinar a matéria às 13h30min, voltar pra casa às 17h30min ou fazer duas provas diferentes. É mais que explicar tantas vezes quantos forem necessárias até o aluno aprender. Mais que fazer a chamada, que escrever “Fecha: hoy es...”. É muito mais que cobrar disciplina e pedir silêncio.
Ser professor não é apenas cantar no dia do aniversário “que los cumpla feliz”. É muito mais que ensinar os “saludos”, explicar “los verbos terminados em –ar, -er, -ir”, revisar “los numerales” ou vir aos sábados pra recuperação com um cafezinho e um sanduíche.
Ser professor é tudo isso que foi dito, mas é muito mais também. Ser professor é uma filosofia de vida. Ser professor é decir “buenas tardes” e receber um estupendo “buenas tardes” dos seus alunos adorados. É brigar com seus alunos porque quer o bem deles. Elogiar quando acertam e cobrar que deem o máximo de si porque tem certeza que podem mais, muito mais. É ouvir do seu aluno um “tiozão” e achar isso bacana. Ser professor é ter 10 alunos falando ao mesmo tempo e, ainda assim, adorar dar aula.
Ser professor é amar o que faz. É amar todos os seus alunos: os que bagunçam, os que são quietinhos, os dedicados e os displicentes. É dar dura quando necessário. É dar e receber carinho.
Isso é ser professor. Isso sou eu.
Quem ensina também aprende. Talvez tenham aprendido algo comigo. Com certeza eu aprendi muito com vocês. Talvez não tenha sido o professor ideal, o professor dos sonhos. Possivelmente vocês tenham conhecido ou conhecerão professores melhores que eu. Mas tenham certeza que me esforcei ao máximo para ser um bom mestre, que dei o melhor de mim.
Amei enseñar español a ustedes. Sinto muito não poder continuar caminhando com vocês até o final do ano letivo.
Se ao sair pensarem “foi bom aprender espanhol com o sor”, ficarei feliz. Mas ficarei feliz, mesmo!, se ao sair de cena, vocês pensarem “foi bom aprender a ser ALGUÉM MELHOR”.
¡Hasta luego y un beso grande!

Maestro Giovani Roehrs Gelati.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

NOVAS POETISAS URUGUAIANENSES

O que um livro pode importar na vida de uma pessoa? Seria uma chata obrigação, necessária para passar de ano? Ou então uma necessidade para qualificar-se e obter uma promoção, um salário melhor? E qual impacto pode ter em nossa vida, positiva e negativamente a sua falta ou presença? E se trocássemos de papel, se não fôssemos mais os felizes leitores, mas os dedicados autores?
Esse prazer da inversão dos papéis pôde ser desfrutado por seis estudantes de Uruguaiana – RS. Em 2013 as alunas submeteram seus poemas a uma seleção realizada pela editora LiteraCidade, da cidade de Belém – Pará, com cerca de outras 900 pessoas de todo o Brasil. Cada uma das jovens escritoras publicou um poema na antologia literária “100 poemas 100 poetas – Volume 3”. A editora já vem realizando coletâneas há alguns anos e, através dos três volumes da antologia, disponibilizou a publicação gratuita dos textos.
Para essas jovens o livro já não é apenas mais um meio de viajar no tempo e espaço, passou a ser objeto de orgulho, de aumento da autoestima e da confiança na própria capacidade.
Nessas horas, os pais ficam orgulhosos e felizes –talvez até mais que as próprias escritoras-, os amigos olham com admiração e os professores ganham o dia com a notícia.
Publicaram seus poemas as alunas Alessandra da Silva Miranda, Andriele Vitória da Silva Alves e Andressa Romero Barbosa, estudantes do 6º, 7º e 8º Anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, mais conhecida como CAIC; as alunas Amanda Raiany Fernandes e Thalyne Patta de Mello, ambas do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Francisco Pereira da Silva, e a aluna Taimara Rodrigues Ramos, do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental General Osório.
Não é fácil publicar um livro. Não quando há seleção dos textos e ele é gratuito. E, talvez por isso, a conquista das adolescentes é tão relevante em tempos onde a leitura dá lugar à televisão, onde é mais sedutor assistir a um programa qualquer na telinha que dedicar-se às palavras de uma história.
Mesmo mais tradicional e já sem configurar na preferência da população, o livro é capaz de proporcionar momentos de prazer, de deleite num universo paralelo, fantástico ou próximo ao real. Leva à reflexão e também ajuda a modificar (pré)conceitos. E podemos acrescentar nessa definição de “livro” a palavra “mérito”. Sim, o livro é um mérito de uma pessoa quando o publica.
Por isso a publicação dos poemas na antologia é um grande passo dado por elas. Estamos ávidos para que outros estudantes também conquistem feito semelhante. Às poetisas, os parabéns e o desejo de que muitas outras conquistas venham, quer seja no mundo literário ou em outra área.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

AS ANÔNIMAS GLORINHAS

Por Rosane Roehrs Gelati, professora de Língua Portuguesa e Literatura

- Soooora!!!
- Sooora, Glorinha!
- Ã!!!
- Que bom que te encontrei! Que bom!
- Oi! Sim?
- Oi, tudo bem, sora?
Tentou se lembrar de quem era aquele rosto. Sem resultado. Apavorou-se: Meu Deus! Que é ele?
Nem tinha percebido que segurava algumas sacolas de mercado, pesadas e, próximo dela, atravessado no passeio em frente a sua casa, estava uma bicicleta abandonada por aquele homem que foi correndo ao seu encontro e a abraçara. Era um jovem de aproximadamente 30 anos, falando, gesticulando e sorrindo. Como continuar a conversa se não sabia quem estava a sua frente?
- A senhora está bem?
- Estou, sim. E você?
- Eu precisava te encontrar e não sabia onde a senhora estava.
Ela largou as sacolas enquanto ele continuava falando:
- O Pastor da minha igreja disse que seria muito importante eu dizer o quanto a senhora foi importante para mim.
- Eu? Importante para você?
- Sim, sora. Lembra quando eu era pequeno? Aprendi a ler e escrever com a senhora?
Ufa! Faz tanto tempo! Impossível lembrar-se da fisionomia!
- Ah, sim – respondeu, mesmo não sendo verdade, pois não podia decepcioná-lo.
- Lembra quando cantamos aquela música: Que nenhuma família comece e termine...
- Sim, lembro!
- Quando cantava, a senhora era a mulher mais linda do mundo! A senhora ria e cantava com a gente! Um dia eu disse pra senhora que a minha família não era bonita como a da música e a senhora respondeu que quando era criança a sua também não era e que quando cresceu, construiu uma família linda, que eu também poderia fazer isso!
- É, eu lembro! E um nó na garganta se formava.
- Daí, sora, fui pra casa e disse pro mano que um dia a gente teria uma família linda. E hoje eu tenho. Eu não queria ser bandido, eu não achava certo.
Risos! Lágrimas!
- Ah, professora, como eu gostava da senhora, com aquele seu casacão branco e quando eu lhe abraçava os colegas diziam: Sai de perto, ranhento, vai sujar o casaco pra profe e a senhora respondia que o casaco ficaria limpo com água e sabão, que era para eu lhe dar um abraço bem gostoso. E eu lhe abraçava. Ah, professora, não tem como esquecer!
Os olhos já estavam cheios de lágrimas. No baú das lembranças veio o nome do aluno e de seu irmão. Uma família com problemas econômicos, emocionais, estruturais e tantos outros que encontramos também hoje em nossas famílias e em nossas escolas.
- A senhora sempre segurava a minha mão. Eu era todo sujo, grudento e a senhora não se importava. Eu ficava tão feliz em poder segurar sua mão! Nossa!! Os outros tinham inveja.
- É, eu lembro!
- Lembra que a senhora ficava comendo merenda bem devagar só para que eu me servisse duas vezes? Eu sei que a senhora não estava com fome, mas daí eu podia ficar comendo e não tinha vergonha.
- Imagina, disse ela, eu tinha fome, sim!
As lágrimas lavavam o rosto de ambos a esta altura da conversa.
- O que você faz hoje?
- Trabalho naquela empresa ali, apontou. Sou adestrador de cães!
- Que bom, meu querido, que bom que você está bem e feliz!
E o papo continuou mais um tempo até as despedidas.

Será que é preciso uma demonstração maior sobre a importância dos professores na vida das crianças, jovens e adolescentes? A ação (ou omissão) do educador sobre as infinitas situações semelhantes que surgem em nossas escolas é determinante e saber como proceder em cada uma delas, fundamental, independentemente do salário e das condições de trabalho.
O dia do Professor está se aproximando e eu não poderia deixar de contar este fato, verídico, que aconteceu com uma professora amiga minha, em homenagem a tantos educadores que fazem a diferença na vida de muitas pessoas.
Parabéns a todas as anônimas Glorinhas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

LOBATO, O ALGOZ DOS NEGROS

O replay de incompetências que acometeram os responsáveis pelo ENEM e uma denúncia descabida de um mestrando em Educação que deveria ter permanecido estudando ao invés de promover besteiras como a de que Caçadas de Pedrinho “não se coaduna com as políticas públicas para uma educação antirracista”, mantêm o ensino brasileiro em voga nas rodas de conversa. Acreditava que depois do fim das campanhas políticas e das promessas duvidosas com relação ao futuro da educação em nível nacional, livros, professores, escolas e alunos seriam esquecidos no fundo da gaveta dos pensamentos de políticos e da mídia. Não foi isso o que ocorreu, mas infelizmente os motivos não são os melhores.
A democracia permite posicionamentos toscos como este. Mas o debate é válido. Apesar de não ter encontrado nenhum literato que se alinhe às ideias simplistas do Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, o denunciante ao CNE, nossa literatura nacional sairá vitoriosa após o enfrentamento de ideias que a desastrosa iniciativa gerou. Todos querem dar pitaco se Monteiro Lobato foi preconceituoso ou não, se ele deve ser visto a partir de agora como um escritor discriminador, se a sua produção literária deve receber um carimbo de “radioativo” na capa ou se deve passar pelo aceite do DOPS. No final dessa história, estaremos mais maduros com relação ao assunto. Espera-se.
Concordo de que haja preconceito em algumas passagens da obra de Lobato: “É uma guerra das boas. Não vai escapar ninguém – nem Tia Anastácia, que tem carne preta. As onças estão preparando as goelas para devorar todos os bípedes do sítio, exceto os de pena. […] Tia Anastácia trepou na árvore que nem macaca de carvão.” Assim como incita à caçada de animais silvestres. Não existia, à época da publicação da obra, uma lei que regulasse a caçada a animais. Da mesma forma, nos idos anos de 1924, quando foi publicada “A caçada da onça” que atualmente tem o título de “Caçadas de Pedrinho”, a escravidão ainda era viva na memória dos brasileiros e o negro recém começava a sua luta por um lugar ao sol dentro da sociedade.
Se havia preconceito racial em algumas passagens, em contrapartida, Lobato defendia os negros em outras. E assim como ele, muitos outros escritores, de renome mundial, também foram preconceituosos e nem por isso perderam o seu valor literário. Mark Twain, escritor norteamericano e criador de “Tom Sawyer” e “As aventuras de Huckleberry Finn”, também não era politicamente correto. E nem por isso suas obras saíram das bibliotecas e foram postas em praça pública para serem queimadas numa fogueira junto a bruxas. Há que se perceber e refletir sobre o preconceito nos seus escritos, mas não censurar.
Se o que é ético modifica de acordo com o passar dos anos com a evolução da sociedade e a alteração dos valores, da mesma forma o que é legal e ilegal, o correto e o errado também evoluem dialogicamente. Fato este que o Sr. Antônio Gomes da Costa Neto não levou em consideração. Nem ele, muito menos todos os conselheiros da Câmara de Educação Básica do CNE.
Ocorre que tudo o que é escrito e falado deve ser interpretado com senso crítico. As notícias em jornais, uma novidade contada pelo amigo, reportagens em revistas especializadas e os inflamados sermões de políticos, necessitam serem lidos e escutados com cautela e ponderação.
E o professor é formado para tal, de maneira que perceba essas visões distorcidas da realidade e, junto com a turma, reflita sobre a visão de mundo que o escritor tinha em dado período histórico e como a sociedade evoluiu de lá para cá.
Apenas censurar é um retrocesso. Saímos de um regime ditatorial e não queremos voltar. Mas não nos importamos em sermos ditadores da livre expressão de um escritor que expôs suas ideias quase cem anos atrás. Ou por acaso Monteiro Lobato deveria pensar um século à frente da sua sociedade e projetar em sua mente um mundo menos desigual, onde as Universidades destinam cotas a afro-descendentes, perpetuando o preconceito?
Lamento muito não estarmos discutindo melhorias para a educação básica, principalmente. Não debatermos os números modestos do desempenho dos nossos alunos, nem o salário dos professores, o sucateamento das escolas ou o obsoleto em que se tornaram as matérias escolares. Essa aparição desastrosa do Sr. Antônio Gomes parece-me mais uma necessidade de se tornar conhecido. Se foi isso, ele conseguiu. O seu lema “falem mal ou falem bem, mas falem de mim” foi uma estratégia chula, mas que infelizmente deu certo.

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