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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A MULHER-OBJETO E A VIOLÊNCIA

Fiquei muito feliz com o tema de redação do ENEM 2015, abordando uma temática muito dolorosa e vergonhosa em nosso país: a violência contra a mulher.
Para auxiliar no estudo em aula da estrutura da redação dissertativo-argumentativa (estrutura solicitada nesse exame nacional), elaborei um exemplo.


Tema da redação: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

A mulher-objeto e a violência

A mulher, dentro da sociedade brasileira, sempre teve um papel servil ao homem, sendo tratada com desrespeito e violência. Mesmo com a evolução da mentalidade ao longo dos anos, a tradição machista que perpetua essa lógica perversa, por ser histórica, tem sua modificação lenta. Além disso, a banalização do corpo feminino na mídia reforça essa ideia.
Há menos de um século era comum apenas os homens trabalharem fora de casa e as mulheres ficarem com os afazeres domésticos. Como apenas um dos dois provinha o sustento, restava à outra parte submeter-se às vontades da primeira. Ainda hoje encontramos discursos machistas que, obsoletos, defendem a subserviência feminina. Dessa forma, não é incomum aparecerem notícias de mulheres serem estupradas sob a desculpa infame de provocarem o ato ao usar roupa curta ou caminhar em lugares impróprios, em horários inadequados.
Não bastasse as raízes da violência contra a mulher estarem fincadas em razões históricas, a banalização do corpo feminino pela mídia reforça a ideia de mulher-objeto. O trecho “ajoelha e chora, quanto mais eu passo laço, muito mais ela me adora...”, de conhecida música tradicional gaúcha, e em propagandas direcionadas ao público masculino, em especial as de cerveja, como a personagem Verão, a mulher é apresentada como alguém que gosta de ser usado. Essas são falácias propagadas como verdade.

Todas as pessoas devem ser respeitadas como seres humanos, independente de gênero ou qualquer outra característica. O caminho possível para a diminuição da violência contra as mulheres é através do amplo debate com a sociedade e de punições mais severas de atitudes machistas e desrespeitosas. Dessa forma a mulher deixará de ser vista como objeto e não mais se encontrarão justificativas para assédio ou agressão.

domingo, 15 de maio de 2011

Troque um Bolsonaro por 354 professores

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 15 de maio de 2011.
Quando decidi fazer o curso de Letras, definitivamente, não tive a aspiração de ser rico. Quiçá de viver bem, com um bom padrão de vida, pois o início da carreira de professor com graduação é um tanto doloroso. Os pouco mais de 500 reais mensais pelas 20 horas semanais de aula propostos pelos editais de muitos concursos a professor da rede municipal no Rio Grande do Sul não pagam a mensalidade de outrora da faculdade.

Onde está o retorno financeiro? Aparece apenas aos poucos que logram um curso de mestrado e ingressam na docência universitária. E olha que, ainda assim, não dá para esbanjar. A grande massa fica apenas com a graduação. Não por escolha, mas por que o bolso é pequeno e não há viabilidade para pagar um curso de maior duração e que, fatalmente, demande mais investimentos financeiros.

O que fazemos com os benditos mil reais para oito horas diárias de trabalho? Antes mesmo do aperfeiçoamento profissional, algumas contas brigam entre si para serem pagas. É aluguel, água, luz, condomínio, IPTU, telefone, rancho, os gastos com passagem (porque o meio de transporte é o ônibus, lógico), e outras despesas inevitáveis para a sobrevivência. Que professor terá condições de investir todo o pouco que resta do capital numa assinatura de revista que desequilibra o orçamento? Não esqueçamos que livros didáticos também não são nem um pouco baratos...

A assinatura anual da revista Nova Escola atinge a cifra de R$ 37,00. Uma revista, definitivamente, feita para os professores. Barata. Porque a National Geographic Brasil custa anualmente R$ 179,88. Aventuras na História, R$ 131,40.

E para assinar uma revista semanária como a Veja, os padrões do professorado indicam, visivelmente, que a solução é fazer um “racha” com os demais colegas da escola e deixar a revista exposta na sala dos professores. Leitura apenas nos intervalos ou após o término das aulas. Quem se interessar por algum assunto, tira uma fotocópia e lê com calma em casa. O valor anual da assinatura? R$ 462,78. Comprando a revista avulsa, o custo anual sobe para R$ 694,20. É um aumento percentual que seria muito bem-vindo no contracheque.

Isso me faz ter mais fé na teoria de que o professor foi moldado por Deus e trazido pela cegonha para viver em comunidade. Porque ele é alguém que não consegue viver sozinho. Necessita estar rodeado de alunos perguntando-lhe, sanando dúvidas, pedindo para ir ao banheiro, implorando para adiar a prova, querendo que a aula seja mais light. Esse ser, indubitavelmente, foi fabricado para viver em grupo. O professor necessita viver com outros, muitos outros seres semelhantes, porque senão, vai à falência.

É mentira que querem uma educação melhor. Gente culta não veste involuntariamente a camiseta de massa de manobra. Gente que consegue subir um pouco mais nos degraus escolares não aceita suborno de candidato a deputado ou vereador por necessidade orgânica de alimentar-se. Aceita por opção, pura falta de caráter.

Em contrapartida, deve-se fazer uma mea culpa: há graves erros na administração de escolas, no repasses de verbas, nos currículos escolares obsoletos, ultrapassados. E há formações familiares precárias que refletem em alunos de difícil relacionamento.

O Juremir Machado escreveu a crônica “Complicada complexidade”, dia 18 de abril, no jornal Correio do Povo, falando que problemas complexos não se resolvem com soluções simples, e sim, com soluções complexas. Seria leviano, realmente, dizer que melhorando o salário do professor o problema educacional estaria resolvido. Quem dera... O reajuste salarial não é a única solução, mas é por ele que as respostas devem passar.

Fica claro que o descaso do Estado com o ensino é motivado pela falta de resultados imediatos. Eles aparecem significativamente depois de anos. A verba que vai para escolas e professores não retorna num primeiro momento, no mesmo mandato. As mudanças são graduais, lentas e dependem do sucesso de todos os fatores.

Estou cada vez mais convicto de que a campanha “troque um deputado por 354 professores” é uma das máximas contemporâneas de maior relevância. Esse cálculo realizado e que circula pela internet contabiliza o salário “mixuruca” dos parlamentares, somado aos vale-passagem aérea, vale-assessor, vale-telefone, vale-tudo que o cargo proporciona, e dá conta dos vencimentos de 354 professores.

Li essa frase há certo tempo, numa corrente recebida por e-mail. Ela também apareceu, numa versão mais atualizada, entre estudantes das Etecs (Escolas Técnicas) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia) de São Paulo, que protestaram por reajuste salarial nessa sexta-feira, 13 de maio. Sabiamente, dizia “troque um Bolsonaro por 354 professores”. Uma troca onde o custo-benefício compensa.

domingo, 17 de abril de 2011

É só uma piadinha inocente

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 17 de abril de 2011.


NA QUINTA-FEIRA, 7 DE ABRIL, PRESENCIAMOS UMA CHACINA numa escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Acontecimento lamentável. Muito triste. No dia seguinte, parte da torcida do Sada Cruzeiro, equipe de voleibol de Araçatuba – SP, bradava em coro “bicha, bicha, bicha!” enquanto o meia-de-rede Michael, da equipe adversária, o Vôlei Futuro, preparava-se para sacar. E isso ocorreu mais de uma vez. Da mesma forma, um acontecimento lamentável. Muito triste.


Como era de se esperar, a repercussão do ato de homofobia ocorrido não foi bem recebido pela mídia e uma mobilização anti-homofóbica invadiu a televisão e culminou no jogo seguinte entre ambas as equipes, no sábado, 9 de abril. O Vôlei Futuro venceu a equipe do Cruzeiro por 3 sets a 2, numa partida bastante equilibrada. Mas a vitória residiu, efetivamente, no ato anti-homofobia pela equipe e torcida do Futuro.


Como relata a reportagem da E-Band, de sábado, mesmo dia do ato, a torcida estendeu uma bandeira com a inscrição “Vôlei Futuro contra o preconceito” e agitou bastões rosa em repúdio à vergonhosa atitude do dia anterior. Os gandulas vestiram camiseta rosa e o líbero Mário Júnior utilizou uma camisa com as cores do arco-íris.


Gostaria de chamar a atenção a esse deplorável acontecimento. Escancaradamente, ele pode ser considerado um fato isolado. Mas velado, é uma realidade quotidiana de todos os ambientes de trabalho. O preconceito que diz respeito à cor, classe social, opção sexual, principalmente estes três aspectos, ocorre dissimulado, vez ou outra vez à tona e a opinião popular condena.


Lembro de quando estava na 5ª série e tentei entrar para a equipe de futebol do colégio. Assim como a maioria de meus colegas, tinha o desejo de ser um sucesso entre as quatro linhas do gramado. E do mesmo modo, junto à maioria dos que tentaram ser aprovados no teste, fui reprovado e tive que tentar outro esporte. Um professor chegou à sala de aula e fez propaganda do voleibol, interessei-me e comecei a treinar. Depois, alguns colegas começaram a falar que era jogo de menina, que “não era coisa de macho”. Senti vergonha no início, mas com o tempo passei a entender que era puro preconceito arraigado no imaginário das crianças. Um esporte não define a sexualidade de ninguém. E essa opção sexual, seja qual for, aprovada ou não, deve ser respeitada.


Da mesma maneira que crianças de 10 anos pensam como meus colegas, quando se tornam adultos, desmascaram-se como pessoas inflexíveis nas suas teorias sobre “como o mundo deve ser” e discriminam colegas de trabalho, funcionários, amigos e desconhecidos.


Quem não tentou ouvir na infância, uma piada imprópria a crianças? As de conotação sexual são contadas longe dos pequenos. Mas se é uma “piadinha inocente” sobre negro, gay e “gordo”, o acesso é livre ao rol de anedotas. Censura zero.


Por mais engraçadas que sejam e ainda que discursemos que “é uma simples piada, porque não sou racista, nem homofóbico”, os relatos engraçados reforçam aos adultos a ideia transmitida na história e sentencia às crianças, ainda que de maneira bem sutil, conceitos discriminatórios. É como um remédio homeopático medicado. Aos poucos, sem que se perceba, o conceito preconceituoso está formado e nem nos tocamos de onde ele surgiu.


Pode ser que tenhamos atitudes discriminatórias e nem percebamos. Mas, em muitos casos, temos a total ciência do que dizemos e devemos arcar pelo palavreado reprovável. Ícone disso é o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que no Programa CQC, da TV Bandeirantes, de 28 de março, respondeu a perguntas e destilou formidáveis frases: “O que você faria se tivesse um filho gay? Isso não passa pela minha cabeça, porque eles tiveram uma boa educação. Sou um pai presente, então não corro esse risco”.


Bolsonaro foi, ao menos, sincero, coisa que muito político não é. Isso que disse é o que realmente pensa. Sendo condenável ou não, retrógrado ou não, é um retrato fiel do seu pensamento. É a única coisa louvável no parlamentar.


Aprender a conviver com as diferenças é uma máxima que comunga o discurso-comum. Querer ver o outro lado, a outra perspectiva, não é tão simples assim. O deputado falou asneira e está sendo processado por isso. A torcida do Sada Cruzeiro e a equipe também estão sendo devidamente sancionados legalmente. E nós? Realmente não pensamos como a torcida mineira ou guardamos em silêncio as mesmas palavras que humilharam o jogador do Vôlei Futuro?

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