domingo, 5 de junho de 2011

Piratas by Brasil

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 05 de junho de 2011.

Um livro da L&PM Pocket com clássicos da literatura mundial custa entre R$ 7,00 e R$ 15,00. Nas lojas Americanas, “Ágape”, do padre Marcelo Rossi, sai por 15,00. “O símbolo perdido”, de Dan Brown (o mesmo de O código da Vinci), por R$ 22,00. “Amanhacer”, de Stephenie Meyer, por 30,00. Já “O livro dos manuais”, do Paulo Coelho, não custa nada. Isso mesmo: R$ 00,00.

É que o escritor mais popular do Brasil, com livros escritos (e vendidos) em diversos idiomas e países, defende o que chama de “autopirataria”, disponibilizando as suas obras no blog “Pirate Coelho” para download gratuitamente. Alguns sites levantaram hipóteses que isso seria 'caridade', 'nova visão de mercado' ou 'jogada de marketing'. Se fosse um vestibular, marcava sem titubear a alternativa “C”.

Coelho argumenta que se todos tiverem a oportunidade de ler os seus livros pela internet, comprarão nas livrarias. Fácil dizer sendo milionário. Ele é reconhecido e continuará vendendo astronomicamente. Mas para quem está construindo a carreira, não é bem assim. Àqueles que tiram o seu sustento com o escrever, piratear-se é perder os direitos autorais e isso significa não receber pelo trabalho, não ter salário.

Conquistar um espaço para escrever num jornal é uma tarefa árdua e contempla poucas pessoas. Existe muita gente que escreve muito mal e acredita que escreve bem. E o mais triste é que existem jornais que publicam esses textos horrendos. Não se trata de serem mal escritos, com erros de ortografia. É mais grave. As ideias são desconexas, incoerentes, contraditórias por vezes, ou totalmente “fora da casinha”. Essas pessoas têm espaço na mídia. E muitas outras não têm e escrevem maravilhosamente bem.

A distribuição gratuita de exemplares que estão à venda talvez alavanque a carreira de alguns. Mas para a grande maioria, não passará de um desprestígio do próprio trabalho.

Clássicos da literatura e muitas outras obras estão disponíveis em sites como o Domínio Público (http://www.dominiopublico.gov.br/), onde não encontramos o Paulo Coelho nas buscas. Concomitantemente, os livros impressos continuam sendo adquiridos em livrarias por todo o Brasil. A obra completa de Machado de Assis encontra-se no site e, ainda assim, a todo momento surgem novas edições dos livros do autor, que são postos à venda.

Antes de sugerir que seja pirateado, o “mago” poderia ter disponibilizado seus livros no Domínio Público. Lá, permanentemente estarão à disposição de seus e-leitores. Mas, não, as têm num blog, de onde pode tirar a hora que bem entender. Se estivesse num site público, depois de enviado não haveria mais volta.

Já livro pirata e CD pirata não são a mesma coisa. Um artista que tem os seus CD e DVD pirateados consegue mais popularidade, pois quem não pode pagar R$ 20,00 pelo material original faz download pela internet. Ou então, compra de vendedores ambulantes, escuta, gosta. Daí, vai ao seu show e desembolsa, feliz da vida, R$ 30,00 para assistir-lhe.

Não tem como piratear um show. E seria descabido um escritor reunir uma multidão e iniciar a leitura da sua obra. Algo muito demorado e chato. A marca do cantor vira produto que gera receita para o artista. Mas não conheço nenhuma linha de produtos “Perfumes Rachel de Queiroz”, “Calças Moacyr Scliar”, “Sapatos Álvares de Azevedo”.

É fato que os livros são muito caros para o padrão de consumo do brasileiro. E a cultura da não-leitura ajuda muito nessa estatística deplorável. A assinatura de revista, jornal não é viável a quem ganha um salário mínimo. Melhor preocupar-se em alimentar os filhos, não acha? Comprar um livro para quê, se ele pode ser trocado por algumas refeições com carne! E àqueles que têm condições de adquirir livros não costumam comprá-los. Melhor ver a Ellen Roche na Dança dos famosos... É muito cômodo fazer apologia à pirataria com o bolso recheado. Dá até para declarar um paradoxo desarrazoado como “se hoje alguém me propusesse publicar um livro para três leitores, ganhando 3 milhões de dólares, ou publicar um livro para três milhões de leitores, ganhando três dólares, escolheria a segunda opção”. Queria vê-lo pagando as contas do mês com os tais três dólares...

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