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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cartas de final de ano aos meus alunos - Final

continuação da publicação das cartas de final de ano (2015) aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos da turma 8º Ano B,

2015 está terminando, as aulas também. Em breve vocês poderão dormir até tarde, não terão mais provas para fazer, ficarão livres das chateações dos professores. Ufa!, livres de todos esses incômodos...
Mas com certeza um pouquinho de saudade vai bater na porta de vocês. Se não for agora, vai ser daqui umas semanas. Também, pudera, é quase um ano inteiro vendo os colegas todos os dias, espiando aquela menina bonita da outra turma, o garoto gatinho da outra sala, e agora... só no ano que vem!
Pessoalmente, é uma alegria muito grande em ser professor de vocês! Ano retrasado não pudemos terminar o ano letivo juntos, em sala de aula, pois assumi a direção da escola. Ficamos na mesma escola, mas é diferente ser professor e ser vice-diretor.
Esse ano, sim, iniciamos e terminamos juntos. Para mim, particularmente, foi muito bom, maravilhoso. Gosto muito de vocês, do jeito que vocês são: alguns brincalhões, outros mais sérios; alguns quietinhos, outros tagarelas; uns amigos, outros se estranhando. Altos, baixos, magros, gordos, risonhos, sérios.
Quando vejo vocês vejo um mundo de oportunidade lhes esperando. Olho e penso “que bom que teremos esses adultos no futuro!” São adolescentes que estão descobrindo os prazeres e as responsabilidades da vida, as alegrias e as tristezas que o mundo nos proporciona. Essas coisas, boas e ruins que a vida nos traz, queiramos ou não, nos deixam mais fortes agora e no futuro.
Vejo vocês com um lindo futuro pela frente, mas não deixem de lutar! Não deixem de estudar, não deixem de se esforçar! O estudo não é tudo na vida, mas sem estudo a vida se torna mais difícil!
Lutem! Não decepcionem vocês mesmos! Lutem pelo que querem! Nunca desistam! Digam a si mesmos “não vou desistir” quando estiverem desanimados, quando acharem que nada vale a pena.
Tenham um ótimo Natal! Ótimas festas de final de ano! Férias divertidas! Aproveitem esse período de descanso!
No ano que vem tem mais! E será melhor ainda!!!


Com carinho,
profº Giovani.

sábado, 2 de abril de 2016

Carta de final de ano a meus alunos III

Continuação das publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos do 7º Ano,


ESTÁ TERMINANDO O ANO... Vocês vão ter alguns meses para descansar, divertir-se, passear, viajar, acordar tarde e ficar longe da escola. Eba! Chega de provas, de professores chateando, de cadernos, de copiar, de exercícios no quadro, de ler em voz alta, de acordar cedo, de troca de período. Eba! vocês estão livres de Soletrando, concurso literário, poemas, contos, porquês, verbos, acentos, hiatos, pronomes, etc.
Ah... mas, também, chega de recreios, de passeios nos corredores, de espiar o menino bonito na turma da frente, a garota bonita no pátio, de grupinhos de guris e gurias, de conversar com os colegas...
A escola é um lugar legal! Sempre tem alguma coisa nela que não gostamos, mas sempre haverá algo que não é bacana em tudo o que fazemos, em todos os lugares por onde vamos.
Terminamos o segundo ano juntos, quase todos os dias nos vendo, todas as semanas tendo aula. Se não fui legal com alguém algum dia, em algum momento, peço-lhes desculpa. Sou humano e também tenho limitações, também erro. Mas fiz o que achava certo naquele momento.
Não achem que ser exigente é ser ruim, não achem que fui exigente porque não acreditava no potencial de vocês. Pelo contrário: fui exigente porque sabia do que vocês eram capazes, porque sabia que podiam ir além. E foram!
Que trabalhos maravilhosos fizeram! Falaram na frente da turma várias vezes, escreveram poemas lindos, resumiram livros, soletraram uma enormidade de palavras, trabalharam em grupo, trabalharam em trio, dupla, sozinhos...
VOVCÊS ESTÃO A CADA DIA MAIS MADUROS, MAIS ADULTOS! Ano passado eram crianças, adolescentes recém vindos da infância. Agora são muito mais que isso. Cresceram, ficaram mais espertos, mais inteligentes, mais responsáveis, mais tudo...
É verdade que têm muito o que melhorar, muito a crescer, mas é preciso admitir que vocês estão mais independentes a cada momento.
Conviver com vocês foi muito bom para mim. Ensinei o que pude e aprendi muito com cada um. Aprendi muito com a experiência de cada um de vocês. Adorei ser seu professor em 2015, mais ainda que em 2014!
Desejo-lhes um ótimo Natal, ótimas festas de final de ano, umas férias preguiçosas, dorminhocas, divertidas e alegres!
ATÉ O ANO QUE VEM!
Com carinho.

sábado, 19 de março de 2016

Carta de final de ano a meus alunos II

Seguem as publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos do 1º Ano,

O ano está se encerrando e quando olho para trás, percebo que muita coisa foi feita. Desde estudo de conteúdos que vocês acham que nunca mais verão ou utilizarão na vida (em alguns casos é verdade), até debates e reflexões sobre assuntos do quotidiano, que convivemos diariamente. Foram haicais, lançamento de livro, dissertações, poemas, leituras orais, provas, rachas-cuca e por aí segue...
Tivemos uma média de poucos alunos em sala de aula. Mas os poucos que vêm, ah, esses têm qualidade. Vocês são pessoas inteligentes, esforçadas, críticas e muito maduras pela idade. Alguns colegas trabalham e isso conta a favor dos estudos. Sim!, a favor, porque lhes deixa mais responsáveis, com maior sede por aprender, mais objetivos em aula, com maiores objetivos de vida, mais desejo de ser alguém na vida.
Vejo estudantes com brilho no olhar! Com pensamentos complexos, conflitos internos, desejos astronômicos! Isso é ótimo! Sigam assim! Perder o desejo de sonhar é morrer para a vida, deixar de querer algo mais é contentar-se com o pouco, e você são muito para quererem o pouco.
Por isso, não aceitem um “não”. Respeitem, mas não aceitem. Digam a si mesmos “sim”, “sim, eu vou” e lutem por esse sim, lutem pelo que vocês querem. Não se contentem com as aulas da escola, busquem mais, busquem nos livros, na internet, no Google, no Youtube, nas provas de concurso, nos grupos de debate, nos jornais, nas notícias.
Tem um mundo de oportunidades à espera de vocês agora mesmo! Digam a elas “sim”, busquem-nas, por mais difíceis que possam ser.
Por fim, gostaria de agradecer pelo convívio, pela troca de experiências, pelo respeito e carinho de cada um. Peço desculpas se fui grosseiro ou agi errado com alguém. Com certeza, não foi a minha intenção, mas erramos. Gostaria de dizer-lhes que amei trabalhar com vocês, que fico triste porque o ano termina e nossas aulas também, mas ao mesmo tempo fico alegre porque vejo vocês progredindo nos estudos.
Um ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, realizações e saúde!


Com carinho.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Carta de final de ano a meus alunos I

Ao final de 2015 escrevi algumas cartas aos meus alunos, aos de 12, 13, 14, ... 45, 46, 50 e por aí vai a idade deles...

Publico-as.


Queridas alunas e queridos alunos da Etapa 7,


Depois de um ano puxado, de muito estudo, de batalha, de esforço para conciliar casa-trabalho-escola, vêm as tão esperadas férias. Com ela, um tempinho a mais com a família, com os amigos, com vocês mesmo(as). E isso é muuuuuito bom!
Virá a saudade de rever todos os dias os(as) colegas queridos(as), bater papo com quem nos faz bem. Mas ano que vem tem de novo...
Um dia você deixou de estudar e se arrependeu. Viu que não foi a melhor escolha. Pode ser que deixou de estudar por força maior. Mas a vida se encarregou de dar uma segunda chance e você decidiu agarrá-la com força e aqui está! Que ótimo!
Fato é que, se você está aqui, agora, é porque deixou muita coisa para trás, deixou muita gente esperando em casa. Se veio para cá é porque está lutando por um futuro melhor.
Nesse semestre aprendi muita coisa com vocês. Aprendi a admirar cada um, a admirar o esforço e a persistência de virem em dias de chuva, quando as ruas estão intransitáveis; dias de frio, quando o corpo pede um pouco de calor e vocês enfrentam o frio de rachar para estudar. Admiro porque com todas as dificuldades por ficar anos fora da escola, não desistiram. Admiro porque o medo de falar em público, apesar de ser muito grande, foi superado. Admiro porque demonstraram serem muito críticos e apresentaram argumentos consistentes em defesa dos direitos da mulher. Admiro porque, mesmo com todas as dificuldades existentes, ainda assim vieram para a escola com um sorriso no rosto e o olhar atento para aprender.
Mas o ano está acabando e as aulas, junto dele. E todos merecemos um pouquinho de água fresca, pelo menos de vez em quando. Essa aguinha fresca se chama “férias” e vem num momento importante, quando estamos esgotados do estudo e do trabalho.
Que ótimo que você está aqui! Que ótimo que você continua aqui! E será ótimo se você continuar aqui! Será ótimo para mim, porque admiro muito a fibra que vocês têm em seguir estudando; e ótimo, principalmente, para você, que seguirá na luta por dias melhores.
Agradeço pelas aulas que tivemos e os momentos maravilhosos que o nosso convívio me proporcionou. Sempre vim feliz para a escola, pois me dá prazer trabalhar com vocês.
Peço que não desistam dos seus sonhos. Aqueles sonhos que escreveram no primeiro dia de aula. Porque se vocês desistirem, aqueles que dependem de vocês perdem as esperanças; aqueles que estão ao lado de vocês, se desanimam; e aqueles que lecionam a vocês vão perceber que não conseguiram ajudar-lhes a modificar a sua realidade.
Um ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, paz e saúde. Que sejam cada vez mais felizes com a família de vocês.

Com carinho.

terça-feira, 15 de julho de 2014

HAY QUE DECIR "HASTA LUEGO"

Escrevo, na íntegra, a carta que redigi e li a meus alunos de Língua Espanhola (Rede Municipal de Ensino) ao informá-los que deixaria de dar aulas para eles, pois passaria a dar aulas na Rede Estadual. Essa foi uma decisão muito difícil para mim, mas necessária para a minha carreira profissional.

Queridas alunas e queridos alunos,

poderia apenas dizer “tchau”, mas seria muito leviano de minha parte. Daria para falar “até logo”, só que também seria um eufemismo barato, ilusório. Ou então, “adeus”, entretanto é uma expressão muito pesada e também não é a pura verdade. Talvez não haja um termo exato para expressar uma coisa tão triste e complexa.
Durante quase dois anos como maestro, aproximadamente 450 pessoas diferentes passaram por minhas mãos, pelas minhas palavras, minhas aulas, minha consideração, meu esforço. Uns 450 alunos meus. Meus, só meus. Alunos também da Geografia, também da Matemática, de Português e das outras matérias, mas, principalmente, meus alunos.
Ser professor é muito mais que vir à escola e ensinar a matéria às 13h30min, voltar pra casa às 17h30min ou fazer duas provas diferentes. É mais que explicar tantas vezes quantos forem necessárias até o aluno aprender. Mais que fazer a chamada, que escrever “Fecha: hoy es...”. É muito mais que cobrar disciplina e pedir silêncio.
Ser professor não é apenas cantar no dia do aniversário “que los cumpla feliz”. É muito mais que ensinar os “saludos”, explicar “los verbos terminados em –ar, -er, -ir”, revisar “los numerales” ou vir aos sábados pra recuperação com um cafezinho e um sanduíche.
Ser professor é tudo isso que foi dito, mas é muito mais também. Ser professor é uma filosofia de vida. Ser professor é decir “buenas tardes” e receber um estupendo “buenas tardes” dos seus alunos adorados. É brigar com seus alunos porque quer o bem deles. Elogiar quando acertam e cobrar que deem o máximo de si porque tem certeza que podem mais, muito mais. É ouvir do seu aluno um “tiozão” e achar isso bacana. Ser professor é ter 10 alunos falando ao mesmo tempo e, ainda assim, adorar dar aula.
Ser professor é amar o que faz. É amar todos os seus alunos: os que bagunçam, os que são quietinhos, os dedicados e os displicentes. É dar dura quando necessário. É dar e receber carinho.
Isso é ser professor. Isso sou eu.
Quem ensina também aprende. Talvez tenham aprendido algo comigo. Com certeza eu aprendi muito com vocês. Talvez não tenha sido o professor ideal, o professor dos sonhos. Possivelmente vocês tenham conhecido ou conhecerão professores melhores que eu. Mas tenham certeza que me esforcei ao máximo para ser um bom mestre, que dei o melhor de mim.
Amei enseñar español a ustedes. Sinto muito não poder continuar caminhando com vocês até o final do ano letivo.
Se ao sair pensarem “foi bom aprender espanhol com o sor”, ficarei feliz. Mas ficarei feliz, mesmo!, se ao sair de cena, vocês pensarem “foi bom aprender a ser ALGUÉM MELHOR”.
¡Hasta luego y un beso grande!

Maestro Giovani Roehrs Gelati.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Revisão da aula

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 30 Out 2011.

"PROFESSOR, GOSTEI BASTANTE DAS SUAS AULAS. ENSINOU QUE PRECISAMOS APRENDER".

Quando estava terminando o meu último estágio do curso de Letras no ano passado, adotei a mesma técnica que minha colega de faculdade havia praticado no ano anterior ao acabar as aulas com seus alunos: pedia a todos o feedback de suas aulas, o retorno da (in)satisfação, para que pudesse reforçar as ações tidas como positivas e corrigir o que não dera certo, ou como diz o pessoal de gestão administrativa, identificar as Oportunidades de Inovação e Melhoria. Foi muito bom ter feito, dissera ela naquela ocasião. Copiando a ideia, solicitei que escrevessem o que haviam achado das aulas. Sinceridade deveria ser o ponto central.


Confesso que fiquei com certa apreensão do que leria posteriormente, mas como não tinha muita expectativa, o receio também não era muito grande. Isso porque, como não fiz Curso Normal nem trabalhava na área, faltava-me ainda certo domínio de classe, talvez um tanto de segurança no trato com os alunos. Segundo uma aluna, precisava também uma dose a mais de severidade. E como é tênue a linha entre severidade e carrasquice, entre dureza e permissividade!


Ser justo nas cobranças dentro de sala de aula é uma tarefa árdua, porque o professor corre para lá e para cá na aula, chama a atenção de dois, explica mais um pouco o conteúdo, se aproxima de um grupinho e pede silêncio, retoma a aula, voa para o quadro para ilustrar o que fala e solicita novamente a colaboração de todos. Ser o centro da atenção, hoje em dia, é ainda mais difícil que anos atrás. Porque é difícil competir com o mp3 e o mp4, com o Playstation, a internet, o jogo de futebol e tantas outras maravilhas que dentro de quatro paredes não é possível desfrutar.


Li as observações depois que saí da sala, sozinho, quieto num canto. Foi muito bom surpreender-se com elogios, palavras de reconhecimento. Sempre é ótimo ler qualquer coisa boa sobre si. E chateia um tanto quando vem um puxão de orelha. Mas ele é necessário. Imagina se fossem só elogios... ou algo estaria errado ou você é o super-homem! “...acho que os meus colegas que também participaram se interessaram bastante como eu, as aulas bem puxadas e ao mesmo tempo divertidas e interessantes.” Metade disso já me faria ganhar o dia. E todas elas deixaram-me flutuando. Realmente, não esperava. Tomei-me tão feliz que errei o caminho de casa.


É importante ouvir a opinião de quem presta atenção nas aulas. Mas é ainda mais necessário saber o que pensam aqueles jovens que bagunçam e, por vezes, atrapalham as aulas. Aqueles os quais geralmente se chama a atenção. Porque é aí que estão as oportunidades de rever a metodologia, a postura em aula, o trato com os jovens. É por isso que eternizo as palavras de um garoto que preenchia esses prerrequisitos. “...não pegou no pé de ninguém como outros professores.” Claro que o mês de estágio é consideravelmente pouco para perder a paciência com alguém. Mesmo assim, a serenidade deve ser um ingrediente indispensável do docente. Seja para explicar ou para conquistar a atenção de seu aluno.


Outro ponto que não pude deixar de admirar foi o seguinte comentário “...com as folhas do conteúdo das aulas tivemos mais aproveitamento, porque não estávamos perdendo tempo copiando e assim, prestamos mais atenção nas explicações.” Numa época em que o mimeógrafo ainda tem lugar, mas já há as fotocópias, existem os projetores, televisão e aparelho de DVD; escrever num quadro-negro toda a teoria de um conteúdo é um atraso que remonta a antes da invenção dessas novas (e nem tão novas) tecnologias.


Já há problemas crassos no nosso sistema educacional. Se trouxermos mais problemas ou se não acompanharmos a evolução tecnológica, o professor obsoleto será a nossa realidade.


Desculpem-me os engenheiros e os químicos, que lidam com máquinas e materiais inanimados. Seus trabalhos são admiráveis, mas não há nada que gratifique mais uma pessoa do que ouvir palavras agradáveis de seus alunos, não há preço que pague, nem salário baixo que abale um professor que conquista seus educandos. Porque é impagável trabalhar com uma turma, vê-la crescer, evoluir e você ser um dos responsáveis por isso.

domingo, 10 de julho de 2011

O QUE TE MOTIVA?

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 10 jul 2011.
Publicado no Jornal Tribuna, de Uruguaiana, com o título "Reprovado, motivado... aprovado", em 09 jul 11.

O que leva uma pessoa a acordar de madrugada, pegar dois ônibus, chegar às sete horas no trabalho, enfrentar um dia estressante, engolir 17 sapos do chefe, pegar mais dois ônibus e chegar tarde em casa? Uma rotina estafante, que ninguém deseja. Mas o trabalhador executa-a e ainda fica feliz porque rala, mas está empregado.

As obrigações diárias, a luta por uma vida melhor e o dinheiro para pagar os remédios da filha doente são fatores que levam uma pessoa a arrancar do corpo aquele “a mais” quando ele já clama por descanso.

Esses desejos que funcionam como mola propulsora, direcionando-nos pelo caminho A ou B, logicamente, são diferentes para cada pessoa. Sinto-me feliz ao escrever uma crônica. Não preciso receber elogio, mas se vier, cai bem. Em contrapartida, tenho um amigo que fica com os olhos brilhando quando fala do seu “Celtinha”. Há gente que se não sai no final de semana, fica angustiado. Para muitos, futebol no domingo à tarde é uma terapia inadiável. Também pode ser a compra da bolsa namorada há semanas.

Buscamos insaciavelmente a felicidade, o elixir da longevidade, o nirvana que pusemos em nossas cabeças que alcançaríamos quando crescêssemos. Deixamos a infância, a adolescência e a vida adulta, atingimos a maturidade e falecemos atrás dessa fórmula mágica. De acordo com a reportagem de capa “O que te motiva?”, da Revista Galileu deste último junho, essa busca, por si só, é um fator motivante.

É incrível que, ao mesmo tempo que atingimos os nossos objetivos, aquela vontade que se apossava de nós some rapidamente. De acordo com a reportagem, a insatisfação permanente é um recurso que a natureza inseriu em nós e que manteve a evolução das espécies. Certamente, pois se nossos ancestrais se contentassem apenas com o que caçavam no dia, não fariam reservas de alimentos e pereceriam nas épocas em que a comida era mais escassa.

As perspectivas mudam ao longo da vida e o que não era interessante, torna-se algo de muito valor para alguém. Não há motivação maior que a própria sobrevivência. Se for para manter-se vivendo decentemente, não titubeamos em fazer uma terceira jornada de trabalho. Que o digam os professores, profissionais que costumeiramente complementam a renda familiar com esse terceiro tempo do jogo. 

Longe dessas preocupações financeiras e na contramão da busca pelo sucesso, há algumas semanas presenciamos a decadente despedida dos gramados, de Ronaldo Nazário. Brilhante nos tempos áureos, Ronaldo Fenômeno recebera a alcunha que, à época, justificava tamanha exaltação. Mas o dinheiro transbordando dos bolsos e a exposição extenuante da sua imagem banalizaram os próprios objetivos. Ele e muitos jogadores que emergiram da pobreza lutaram arduamente até se firmarem no cenário esportivo. Melhorar de vida, poder tirar a família da situação de miserabilidade foram razões muito presentes na ascensão. Motivos louváveis.

Mas depois que o dinheiro ficou fácil demais, querer manter-se como “Fenômeno” e, quem sabe, equiparar-se a Pelé e Maradona, deixaram de ser desejos contundentes. Ronaldo aposentou as chuteiras movimentando milhões, mobilizando multidões e muito acima do peso necessário para desempenhar bem a sua função.

Nossos rumos seguem caminhos que pouco controlamos. E inseridos em um novo contexto, objetivos, intenções e motivações demonstram-se totalmente maleáveis. Muitos irão criticar novas posturas, alguns apoiarão, mas apenas nós mesmos é que saberemos se andamos na estrada certa ou pegamos a rua errada. Conquanto haja algo que nos motive, tudo fica mais possível de alcançar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

AS ANÔNIMAS GLORINHAS

Por Rosane Roehrs Gelati, professora de Língua Portuguesa e Literatura

- Soooora!!!
- Sooora, Glorinha!
- Ã!!!
- Que bom que te encontrei! Que bom!
- Oi! Sim?
- Oi, tudo bem, sora?
Tentou se lembrar de quem era aquele rosto. Sem resultado. Apavorou-se: Meu Deus! Que é ele?
Nem tinha percebido que segurava algumas sacolas de mercado, pesadas e, próximo dela, atravessado no passeio em frente a sua casa, estava uma bicicleta abandonada por aquele homem que foi correndo ao seu encontro e a abraçara. Era um jovem de aproximadamente 30 anos, falando, gesticulando e sorrindo. Como continuar a conversa se não sabia quem estava a sua frente?
- A senhora está bem?
- Estou, sim. E você?
- Eu precisava te encontrar e não sabia onde a senhora estava.
Ela largou as sacolas enquanto ele continuava falando:
- O Pastor da minha igreja disse que seria muito importante eu dizer o quanto a senhora foi importante para mim.
- Eu? Importante para você?
- Sim, sora. Lembra quando eu era pequeno? Aprendi a ler e escrever com a senhora?
Ufa! Faz tanto tempo! Impossível lembrar-se da fisionomia!
- Ah, sim – respondeu, mesmo não sendo verdade, pois não podia decepcioná-lo.
- Lembra quando cantamos aquela música: Que nenhuma família comece e termine...
- Sim, lembro!
- Quando cantava, a senhora era a mulher mais linda do mundo! A senhora ria e cantava com a gente! Um dia eu disse pra senhora que a minha família não era bonita como a da música e a senhora respondeu que quando era criança a sua também não era e que quando cresceu, construiu uma família linda, que eu também poderia fazer isso!
- É, eu lembro! E um nó na garganta se formava.
- Daí, sora, fui pra casa e disse pro mano que um dia a gente teria uma família linda. E hoje eu tenho. Eu não queria ser bandido, eu não achava certo.
Risos! Lágrimas!
- Ah, professora, como eu gostava da senhora, com aquele seu casacão branco e quando eu lhe abraçava os colegas diziam: Sai de perto, ranhento, vai sujar o casaco pra profe e a senhora respondia que o casaco ficaria limpo com água e sabão, que era para eu lhe dar um abraço bem gostoso. E eu lhe abraçava. Ah, professora, não tem como esquecer!
Os olhos já estavam cheios de lágrimas. No baú das lembranças veio o nome do aluno e de seu irmão. Uma família com problemas econômicos, emocionais, estruturais e tantos outros que encontramos também hoje em nossas famílias e em nossas escolas.
- A senhora sempre segurava a minha mão. Eu era todo sujo, grudento e a senhora não se importava. Eu ficava tão feliz em poder segurar sua mão! Nossa!! Os outros tinham inveja.
- É, eu lembro!
- Lembra que a senhora ficava comendo merenda bem devagar só para que eu me servisse duas vezes? Eu sei que a senhora não estava com fome, mas daí eu podia ficar comendo e não tinha vergonha.
- Imagina, disse ela, eu tinha fome, sim!
As lágrimas lavavam o rosto de ambos a esta altura da conversa.
- O que você faz hoje?
- Trabalho naquela empresa ali, apontou. Sou adestrador de cães!
- Que bom, meu querido, que bom que você está bem e feliz!
E o papo continuou mais um tempo até as despedidas.

Será que é preciso uma demonstração maior sobre a importância dos professores na vida das crianças, jovens e adolescentes? A ação (ou omissão) do educador sobre as infinitas situações semelhantes que surgem em nossas escolas é determinante e saber como proceder em cada uma delas, fundamental, independentemente do salário e das condições de trabalho.
O dia do Professor está se aproximando e eu não poderia deixar de contar este fato, verídico, que aconteceu com uma professora amiga minha, em homenagem a tantos educadores que fazem a diferença na vida de muitas pessoas.
Parabéns a todas as anônimas Glorinhas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DO TEMPO DO MIMEÓGRAFO

Você lembra daquela maquininha que de uma matriz com papel carbono faz surgir muitas cópias a medida que uma manivela é girada? Pois encontrei um exemplar desses, o mimeógrafo, no Museu das Comunicações de uma universidade que visitei. Estavam expostos diversos objetos utilizados no Século XX. Eram rádios gigantescos e nos mais diferentes formatos, televisores de imagem preto e branco, discos LP, os primeiros aparelhos de fax e de telefone que surgiram no mercado, máquinas de escrever e o dito mimeógrafo.
Ele é um artefato do passado, mas, infelizmente, também do presente. Não deveria mais ter lugar nas salas de aula, contudo, continua sobrevivendo como ferramenta em muitas escolas brasileiras. Tão triste quanto isto é constatar, também, que além de não nos desprendermos de objetos do passado, ignoramos as novas tecnologias. O computador, projetores de imagem, aparelhos de DVD e de som são mídias mais atualizadas, mas continuam sendo monstros para grande parte dos docentes. Assim como é retrógrado o uso do quadro-negro para transmitir toda a matéria à turma.
Não apenas em turmas de ensino fundamental e médio deparamo-nos com quadros cheios de conteúdo rabiscado. Não raro o mesmo ocorre nas salas de aula de ensino superior, seja nos cursos de formação de professores ou em outros. E esses mesmos professores ainda querem que seus alunos sejam dinâmicos em sala de aula, que utilizem toda a tecnologia disponível para facilitar a aprendizagem dos discentes. É muita hipocrisia. Ou falta de sensibilidade para não perceber a incoerência do discurso com a prática.
A lousa deve ser utilizada como um meio auxiliar, onde o docente aponta alguma observação que vá surgindo durante a aula. Se existem folhas e a máquina copiadora já foi inventada, por que não usar? Desse modo, ao invés de perder tempo transcrevendo as regras gramaticais para o caderno, o aluno poderá ler com a turma a matéria, realizar exercícios, fixar o conteúdo e unir o que assimilou com todo o conteúdo da disciplina.
A mera cópia para o caderno dos vocábulos escritos na lousa não ensina nada. Aí, abre-se margem para que surjam piadinhas nem tão distorcidas da realidade como a que diz que o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende.
Que atrativos terá uma aula com apenas caderno, caneta e um professor sentado falando, se o aluno chega em casa ou vai numa cyber, acessa o Orkut, conversa com outras pessoas pela rede, atende ao telefone, fotografa algo que acha interessante, filma alguém, envia um torpedo e escuta uma música do mp3 pelo fone de ouvido? Há muito mais dinâmica nas interações extra-escolares que dentro da sala de aula. Se o que ele faz na escola tiver relação com o que vive fora dela, a aula será atrativa.
Lógico, a teoria anda muito bem quando dissociada da prática. Pois pôr todo esse palavreado dentro da aula é uma tarefa árdua e que exige grande esforço do professor. Ele necessita estar atualizado com a evolução digital, com os fatos cotidianos e não pode esquecer de entrelaçar a essas mídias, as matérias inerentes à série.
Conforme reportagem da revista Nova Escola de janeiro/fevereiro de 2011, existem 67,5 milhões de pessoas com acesso à internet, incluído o uso em lan house e no trabalho. São 34,9% dos brasileiros. Temos computadores desktop (de mesa), notebooks, netbooks e tablets a nossa disposição. É uma infinidade de aparelhos que nos conectam à internet e com inúmeras funções. É uma realidade que não podemos ignorar. Mais que isso, devemos incluir no estudo. Utilizar a nosso favor as redes sociais como Orkut, Facebook, Badoo e os blogs e sites especializados em disciplinas curriculares.
Os computadores estão cada vez mais baratos e acessíveis. Urgem como necessários em sala de aula na construção do conhecimento do aluno. Aulas iguais às que nossos pais tiveram na infância e adolescência não são mais bem-vindas. Porque não há nada de atraente nelas. Enquanto o professor ficar escrevendo textos e textos no quadro ensandecidamente, seus alunos estarão ouvindo mp3, trocando torpedos ou tirando fotos com seus celulares. E aí, sim, faremos valer a triste máxima de que o professor faz de conta que ensina e os alunos fazem de conta que aprendem.

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