Mostrando postagens com marcador salário do magistério. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador salário do magistério. Mostrar todas as postagens

domingo, 10 de julho de 2011

O QUE TE MOTIVA?

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 10 jul 2011.
Publicado no Jornal Tribuna, de Uruguaiana, com o título "Reprovado, motivado... aprovado", em 09 jul 11.

O que leva uma pessoa a acordar de madrugada, pegar dois ônibus, chegar às sete horas no trabalho, enfrentar um dia estressante, engolir 17 sapos do chefe, pegar mais dois ônibus e chegar tarde em casa? Uma rotina estafante, que ninguém deseja. Mas o trabalhador executa-a e ainda fica feliz porque rala, mas está empregado.

As obrigações diárias, a luta por uma vida melhor e o dinheiro para pagar os remédios da filha doente são fatores que levam uma pessoa a arrancar do corpo aquele “a mais” quando ele já clama por descanso.

Esses desejos que funcionam como mola propulsora, direcionando-nos pelo caminho A ou B, logicamente, são diferentes para cada pessoa. Sinto-me feliz ao escrever uma crônica. Não preciso receber elogio, mas se vier, cai bem. Em contrapartida, tenho um amigo que fica com os olhos brilhando quando fala do seu “Celtinha”. Há gente que se não sai no final de semana, fica angustiado. Para muitos, futebol no domingo à tarde é uma terapia inadiável. Também pode ser a compra da bolsa namorada há semanas.

Buscamos insaciavelmente a felicidade, o elixir da longevidade, o nirvana que pusemos em nossas cabeças que alcançaríamos quando crescêssemos. Deixamos a infância, a adolescência e a vida adulta, atingimos a maturidade e falecemos atrás dessa fórmula mágica. De acordo com a reportagem de capa “O que te motiva?”, da Revista Galileu deste último junho, essa busca, por si só, é um fator motivante.

É incrível que, ao mesmo tempo que atingimos os nossos objetivos, aquela vontade que se apossava de nós some rapidamente. De acordo com a reportagem, a insatisfação permanente é um recurso que a natureza inseriu em nós e que manteve a evolução das espécies. Certamente, pois se nossos ancestrais se contentassem apenas com o que caçavam no dia, não fariam reservas de alimentos e pereceriam nas épocas em que a comida era mais escassa.

As perspectivas mudam ao longo da vida e o que não era interessante, torna-se algo de muito valor para alguém. Não há motivação maior que a própria sobrevivência. Se for para manter-se vivendo decentemente, não titubeamos em fazer uma terceira jornada de trabalho. Que o digam os professores, profissionais que costumeiramente complementam a renda familiar com esse terceiro tempo do jogo. 

Longe dessas preocupações financeiras e na contramão da busca pelo sucesso, há algumas semanas presenciamos a decadente despedida dos gramados, de Ronaldo Nazário. Brilhante nos tempos áureos, Ronaldo Fenômeno recebera a alcunha que, à época, justificava tamanha exaltação. Mas o dinheiro transbordando dos bolsos e a exposição extenuante da sua imagem banalizaram os próprios objetivos. Ele e muitos jogadores que emergiram da pobreza lutaram arduamente até se firmarem no cenário esportivo. Melhorar de vida, poder tirar a família da situação de miserabilidade foram razões muito presentes na ascensão. Motivos louváveis.

Mas depois que o dinheiro ficou fácil demais, querer manter-se como “Fenômeno” e, quem sabe, equiparar-se a Pelé e Maradona, deixaram de ser desejos contundentes. Ronaldo aposentou as chuteiras movimentando milhões, mobilizando multidões e muito acima do peso necessário para desempenhar bem a sua função.

Nossos rumos seguem caminhos que pouco controlamos. E inseridos em um novo contexto, objetivos, intenções e motivações demonstram-se totalmente maleáveis. Muitos irão criticar novas posturas, alguns apoiarão, mas apenas nós mesmos é que saberemos se andamos na estrada certa ou pegamos a rua errada. Conquanto haja algo que nos motive, tudo fica mais possível de alcançar.

domingo, 15 de maio de 2011

Troque um Bolsonaro por 354 professores

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 15 de maio de 2011.
Quando decidi fazer o curso de Letras, definitivamente, não tive a aspiração de ser rico. Quiçá de viver bem, com um bom padrão de vida, pois o início da carreira de professor com graduação é um tanto doloroso. Os pouco mais de 500 reais mensais pelas 20 horas semanais de aula propostos pelos editais de muitos concursos a professor da rede municipal no Rio Grande do Sul não pagam a mensalidade de outrora da faculdade.

Onde está o retorno financeiro? Aparece apenas aos poucos que logram um curso de mestrado e ingressam na docência universitária. E olha que, ainda assim, não dá para esbanjar. A grande massa fica apenas com a graduação. Não por escolha, mas por que o bolso é pequeno e não há viabilidade para pagar um curso de maior duração e que, fatalmente, demande mais investimentos financeiros.

O que fazemos com os benditos mil reais para oito horas diárias de trabalho? Antes mesmo do aperfeiçoamento profissional, algumas contas brigam entre si para serem pagas. É aluguel, água, luz, condomínio, IPTU, telefone, rancho, os gastos com passagem (porque o meio de transporte é o ônibus, lógico), e outras despesas inevitáveis para a sobrevivência. Que professor terá condições de investir todo o pouco que resta do capital numa assinatura de revista que desequilibra o orçamento? Não esqueçamos que livros didáticos também não são nem um pouco baratos...

A assinatura anual da revista Nova Escola atinge a cifra de R$ 37,00. Uma revista, definitivamente, feita para os professores. Barata. Porque a National Geographic Brasil custa anualmente R$ 179,88. Aventuras na História, R$ 131,40.

E para assinar uma revista semanária como a Veja, os padrões do professorado indicam, visivelmente, que a solução é fazer um “racha” com os demais colegas da escola e deixar a revista exposta na sala dos professores. Leitura apenas nos intervalos ou após o término das aulas. Quem se interessar por algum assunto, tira uma fotocópia e lê com calma em casa. O valor anual da assinatura? R$ 462,78. Comprando a revista avulsa, o custo anual sobe para R$ 694,20. É um aumento percentual que seria muito bem-vindo no contracheque.

Isso me faz ter mais fé na teoria de que o professor foi moldado por Deus e trazido pela cegonha para viver em comunidade. Porque ele é alguém que não consegue viver sozinho. Necessita estar rodeado de alunos perguntando-lhe, sanando dúvidas, pedindo para ir ao banheiro, implorando para adiar a prova, querendo que a aula seja mais light. Esse ser, indubitavelmente, foi fabricado para viver em grupo. O professor necessita viver com outros, muitos outros seres semelhantes, porque senão, vai à falência.

É mentira que querem uma educação melhor. Gente culta não veste involuntariamente a camiseta de massa de manobra. Gente que consegue subir um pouco mais nos degraus escolares não aceita suborno de candidato a deputado ou vereador por necessidade orgânica de alimentar-se. Aceita por opção, pura falta de caráter.

Em contrapartida, deve-se fazer uma mea culpa: há graves erros na administração de escolas, no repasses de verbas, nos currículos escolares obsoletos, ultrapassados. E há formações familiares precárias que refletem em alunos de difícil relacionamento.

O Juremir Machado escreveu a crônica “Complicada complexidade”, dia 18 de abril, no jornal Correio do Povo, falando que problemas complexos não se resolvem com soluções simples, e sim, com soluções complexas. Seria leviano, realmente, dizer que melhorando o salário do professor o problema educacional estaria resolvido. Quem dera... O reajuste salarial não é a única solução, mas é por ele que as respostas devem passar.

Fica claro que o descaso do Estado com o ensino é motivado pela falta de resultados imediatos. Eles aparecem significativamente depois de anos. A verba que vai para escolas e professores não retorna num primeiro momento, no mesmo mandato. As mudanças são graduais, lentas e dependem do sucesso de todos os fatores.

Estou cada vez mais convicto de que a campanha “troque um deputado por 354 professores” é uma das máximas contemporâneas de maior relevância. Esse cálculo realizado e que circula pela internet contabiliza o salário “mixuruca” dos parlamentares, somado aos vale-passagem aérea, vale-assessor, vale-telefone, vale-tudo que o cargo proporciona, e dá conta dos vencimentos de 354 professores.

Li essa frase há certo tempo, numa corrente recebida por e-mail. Ela também apareceu, numa versão mais atualizada, entre estudantes das Etecs (Escolas Técnicas) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia) de São Paulo, que protestaram por reajuste salarial nessa sexta-feira, 13 de maio. Sabiamente, dizia “troque um Bolsonaro por 354 professores”. Uma troca onde o custo-benefício compensa.

domingo, 27 de março de 2011

QUANDO HÁ VONTADE POLÍTICA

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 27 de março de 2011.


Há uma grande diferença entre dizermos “quando vontade” e “quando vontade”. Se vontade, é porque interesses estão em jogo: seja particular, de uma sociedade ou de uma nação. Se vontade, geralmente é resultado de estarmos sendo pressionados para realizar determinada coisa: em política falamos de pressão da opinião pública.
E os nossos governantes trabalham assim. Quando vontade política, pode saber: alguma estão aprontando, é dinheiro ou vantagem que estão pondo no bolso. Quando vontade é porque a mídia e ONGs estão pressionando e a vontade popular clama por mudança.
Difícil não concordar: reclamamos da burocracia que retarda obras, não deixa chegar recursos que seriam muito importantes para pessoas carentes. Mas, quando vontade política, os governos demonstram enorme capacidade de mobilização e agilidade na tramitação de leis. Que o diga Julian Assange, fundador do WikiLeaks. Feriu os interesses dos Estados Unidos e de países europeus e rapidamente foi tirado de cena, sendo preso sob uma acusação que nunca teria que responder se não falasse demais - a verdade.
Um dos problemas que muitos governos enfrentam é o não-planejamento da utilização de recursos. Então, a demora no repasse das verbas e a burocracia fazem jorrar pela torneira afora muito dinheiro que poderia ser bem empregado em áreas necessitadas. Contudo, quando vontade política, não falta planejamento. Cria-se a estratégia -que todos conhecemos e que sempre surte efeito- de esperar a Copa do Mundo ou as Olimpíadas para votar mais um aumento. E aprová-lo, como ocorreu no ano passado.
Reclama-se do salário de muitas categorias historicamente postas em segundo plano no cenário orçamentário: segurança, saúde e educação. Porém, quando vontade política, a Câmara dos Deputados vota em regime de urgência e consegue a aprovação da maioria como em um passe de mágica. Prova disso foi o reajuste ocorrido no ano final do passado que transformou os vencimentos do presidente da República, do vice, dos ministros de Estado, deputados federais e senadores em absurdos 26,7 mil reais.
Quando vontade política, o Governo encontra o déficit zero, merchandising de campanha. Foi assim com a Yeda Crusius, ex-governadora do Rio Grande do Sul. Era candidata à reeleição ao governo gaúcho nas últimas eleições. Somou os depósitos judiciais e encerrou os seus cálculos assim: pagamos todas as contas, com déficit zero. Perdeu a eleição e novo governo que assumiu mudou o termo de “déficit zero” para “rombo nas contas públicas”.
A oposição agride ferozmente a situação quando vontade política, exigindo um salário mais digno aos professores. Mas, ao assumir o Governo, o buraco mostra-se mais embaixo: não dá para realizar o sonho pregado outrora. Em contrapartida, se os professores fazem greve, prejudicam o andamento do ano letivo e a sociedade pressiona, começa a dar vontade política: o governo trata de propor algumas migalhas de reajuste salarial.
É o que está ocorrendo com o Governo Tarso Genro, no Rio Grande do Sul. Propôs um aumento de R$ 38,00 ao magistério, correspondente a 10,91% de aumento. Uma proposta anterior de 8,5% já havia sido recusada pelo CPERGS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul). É dessa maneira que o Estado pretende valorizar a classe?
O novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) foi aprovado pelo Governo Federal e reza em sua cartilha que 7% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil deverá ser aplicado na educação. Para termos uma ideia de como estamos longe desse objetivo, em 2000, 3,9% do PIB era aplicado em educação e em 2008, o percentual variou para míseros 4,7%. O Governo demonstrou, até o momento, que não vontade política em priorizar o magistério.
Se não vontade política em valorizar a classe dos professores, então que isso ocorra quando vontade política, através da pressão da sociedade. Porque muito mais alto que os 7% almejados para a educação, é o preço que pagamos pelo sucateamento de escolas e pela desvalorização dos professores.

Protegido