segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: LA ESCUELA


Concluindo a publicação dos textos vencedores do 3º Concurso Literário Elvira Ceratti, ocorrido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Elvira Ceratti, de Uruguaiana – RS, vamos ler a crônica vencedora da aluna Silvana Gomes e o poema vencedor entre as quatro séries dos anos finais na categoria “Texto em espanhol” da aluna Thalia Espírito Santo.




La escuela (texto em espanhol – 6º a 9º Anos) – Aluna Thalia da Costa Espírito Santo – 9º Ano

Hacer de la
Escuela un
Lugar
Inmenso de sonrisa
Disfrutar cada
Instante al lado
De los amigos, una escuela que trae
Alegría, mostrando la ruta segura
De cada alumno y de la escuela que van salir
Estrellas de la educación


É primavera (crônica) – Aluna Silvana Gomes – 9º Ano

É primavera, amanhece lá no Sul, pássaros fazendo alvorada e os gaúchos fazendo mateada.
Entardece lá no Nordeste, os nordestinos fazem baião com grande alegria no coração, pois na tarde de sol de primavera tudo tem mas emoção.
Todos saúdam a primavera, pois novos passeios os esperam.
Na primavera tudo se alegra, o sol é mais radiante, os pastos mais verdejantes, as roupas são mais leves e as pessoas mais alegres. Temos frutas de variados sabores e as flores também nascem para presentear nossos amores.
Ficamos mais alegres e mais alertas. Com a chegada da primavera, todos levantam as mãos para o céu, esquecendo o que já era e vivendo a nossa era.
É hora de graça, cor e vida.
Por que vamos nos preocupar com outrora se o que importa é o agora? Por isso, esqueça suas tristezas, aproveite essa brisa, aproveite a vida. Se olharmos para trás não vamos saber o que vem à frente. Se a vida te deu uma rasteira, levante e tente de novo, sorria. Amanhã é outro dia, aproveite essa era, pois é primavera.

domingo, 21 de dezembro de 2014

TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: VIVER A VIDA

Dando continuidade à publicação dos textos vencedores do 3º Concurso Literário Elvira Ceratti, ocorrido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Elvira Ceratti, de Uruguaiana – RS, publico os poemas das categorias 7º Ano (poema) e 8º Ano (poema):

Viver a vida (poema) – aluna Adriana da Costa Espírito Santo – 7º Ano

Viver a vida é...
Passar com a família
é estar em cada momento
com seus amigos.

Viver a vida é...
aproveitar cada instante
Porque na vida não há
retornos, somente recordações

Na vida temos que aproveitar
o minuto que é tão doce e profundo
que existe uma vez no mundo.

A primavera... cor e amor (poema) – Nathaly Quevedo dos Santos – 8º Ano

A primavera é a mais bela,
As árvores estão frondosas
as flores são mimosas
isso só acontece na primavera

As cores das flores
aparentam ter sabores
As cores das flores
querem mais amores

poder ver as flores abrindo,
As folhas caindo,
as cores surgindo
é um privilégio agindo

Acordar de manhã e escutar
os pássaros cantando
vê-los voando, no céu rodando

no chão dançando.

domingo, 14 de dezembro de 2014

TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: BORBOLETA AZUL

COMPARTILHO COM VOCÊS O PRIMEIRO DE CINCO TEXTOS MARAVILHOSOS QUE FORAM OS VENCEDORES DO 3º CONCURSO LITERÁRIO ELVIRA CERATTI. O concurso ocorre desde 2012 na Escola Municipal de Ensino Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, com alunos de 6º a 9º anos. A escola está localizada no bairro São Cristóvão, União das Vilas, em Uruguaiana – RS.
Foram 144 textos inscritos em cinco categorias:
- 6º Ano (conto);
- 7º Ano (poema);
- 8º Ano (poema);
- 9º Ano (crônica);
- Texto em espanhol (6º a 9º anos).

Borboleta azul (conto) – aluno Carlos Alexandre Aimon – 6º Ano


Era uma vez um menino igual a todos. Ele só tem um problema: ele é paraplégico. Os médicos lhe falaram que tinha poucos dias de vida. Quem olha diz que ele aceitou aquela doença. Mas vamos logo à história, né.
Ivan sempre ficava ali olhando os outros meninos na rua jogando bola. Olhava eles pela janela. Seu sonho era pegar uma borboleta azul. É, uma borboleta, sim!
Todos riam dele, mas Ivan ignorava. Não dava bola para os outros.
Um dia conheceu um escritor que conhecia uma selva cheia de borboletas azuis.
Chegou o dia de ir à selva. Ivan estava feliz porque iria ver uma borboleta azul que queria. Viajou de avião, pegou um barco, viu macacos, aranhas. Chegou a uma cidade na selva, perto de rios, riachos e matagal.
No outro dia, Ivan procurou as borboletas azuis, passou por lagoas e riachos e nada de borboletas. Ivan já estava cansado. Anoiteceu e os dois voltaram à cidade.
Amanheceu. Ivan estava louco para ir à selva. Saíram cedo, pegaram o mesmo caminho. Passou uma hora e nada. Ivan já estava cansado de segurar nas costas o escritor. O escritor convidou Ivan para ir numa cachoeira e Ivan aceitou. Nadaram bastante. Estava escurecendo, Ivan e o escritor voltaram.
Amanheceu, passaram mais três dias e nada.
Um dia viram uma borboleta. O escritor correu. Quando estavam por pegar, caíram num buraco, se seguraram num galho, saltaram numa parreira. O escritor quebrou a perna e estava sangrando muito.
Ivan estava com tanto medo, pegou a faca do escritor e foi se arrastando.
Amanheceu, a mãe de Ivan estava ali ao lado dele, tentando acordá-lo. Ele acordou, falou que o escritor estava mal, pero da cachoeira.
Dois homens saíram, que estavam com a mãe de Ivan. Os dois homens saíram correndo. Ivan e sua mãe foram até a cidade e os homens estavam trazendo o escritor num tronco de uma árvore. Pegaram as coisas de Ivan e foram à cidade de barco. Antes de ir uma menina gritou “Ivan!” e ele perguntou o que ela queria.
Ela lhe deu uma borboleta azul numa gaiola de madeira pequena. Ele deu um abraço nela e disse “obrigado!”.
Subiu no barco e foram à cidade rapidamente. Chegando lá, Ivan pensou em largar a borboleta. Largou-a e pensou que um dia estaria também voando, só que em outro lugar no céu.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ILUSÕES COLETIVAS: FUTEBOL

Parece consenso de que o Brasil seja o “país do futebol”. Mas estamos mais para o “país do vôlei”. O esporte criado pelos ingleses brindou-nos cinco títulos mundiais e nenhum olímpico. Já o vôlei masculino brasileiro obteve nove títulos da Liga Mundial e dois olímpicos.
Na “pátria de chuteiras” poucos clubes conseguem se profissionalizar e entre os profissionais, poucos prosperam e recebem salários milionários. Os demais mal conseguem para o sustento. Todo o glamour do futebol é uma ilusão, uma ilusão coletiva proposital.
Valorizamos muito o futebol, tanto é que é o esporte que mais dá audiência. Entretanto não é acessível (profissionalmente) ser jogador de futebol para a maioria das equipes porque é caro manter 11 jogadores titulares, reservas, campo para treinar, uniforme, bolas, técnico, equipe técnica e por aí segue. Também porque faltam incentivos do Governo que fomentem e profissionalizem as equipes de várzea.
Ainda, necessita-se apresentar o lado perverso do futebol. Há muito tempo ele serve como distração da população. Foi assim durante a ditadura militar e servia para a população oprimida esquecer o sofrimento com o regime ditatorial. Atualmente, de quatro em quatro anos, políticos aproveitam a Copa do Mundo para aprovar seus aumentos e outras leis que lhes beneficiam, enquanto os iludidos gritam “gol”.
E se o futebol é um esporte que privilegia poucos, por que então ele é tão venerado pela população? Ele é supervalorizado pela mídia para que obtenha exatamente o impacto que tem: mobilizar multidões. Injeta-se muito dinheiro em publicidade para se receber um retorno ainda maior.
Ao invés de dividir a atenção dos telespectadores em uma dúzia de esportes, a estratégia é focar num só. MAIS dinheiro para esse um. Ao invés de haver a dúzia com certo prestígio, melhor um esporte superestimado.
Assim, assume-se como esportes menores o vôlei, o basquete, o judô, a esgrima, o atletismo, a ginástica rítmica. Holofotes ao futebol e às demais modalidades, a luz que sobrasse.
Toda essa superexposição, naturalmente, gera salários astronômicos. Discordo de que os jogadores de ponta devam ganhar tanto: nenhum jogador joga 500 mil reais por mês, ele não vale isso. A supervalorização dele, o seu endeusamento, fazem-lhe valer 500 mil mensais. Mas esse número é irreal.
Nossas várzeas estão cheias de craques que não se profissionalizaram(ão) porque é muito caro fazer testes em grandes clubes e manter equipes amadoras. E o país de poucas oportunidades, mais uma vez, reproduz as oportunidades para poucos: só alguns atingem o estrelato, só alguns ganham bem, só alguns ficam famosos, só alguns ficam ricos e apenas alguns se mantêm no topo.
É muito difícil se tornar jogador de futebol. Mesmo sendo muito improvável prosperar no futebol, seguimos amando a corrida atrás da bolinha, reclamando do juiz e dos bandeirinhas, cobrando impedimento. De vez em quando, se sobrar um tempinho, damos uma espiadinha num saque, uma cesta, um salto triplo ou num wazari.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ILUSÕES COLETIVAS - CONFLITOS ARMADOS


No Rio Grande do Sul é bastante comum, devido à proximidade com o país hermano, o chiste de que só valeria a pena combater numa guerra se fosse contra os argentinos. Coisas de rivalidade no futebol... na real, se houvesse uma guerra, dificilmente haveria vontade (ou coragem) em participar dela.
Se o país entrasse em Estado de Guerra e fosse iminente a vinda do conflito nas proximidades da minha residência, buscaria asilo para um país em paz: morrer lutando, enquanto os causadores riem de nós sentados em seus gabinetes?
O confronto entre Israel e o Hamas é uma prova disso: quase dois mil palestinos –a maioria de civis- e menos de 100 israelenses morreram. Os rebeldes do Hamas já deveriam ter jogado a toalha branca e partido para a negociação muito antes de a situação chegar a esse ponto. Porém, insistem em duelar com um adversário muito mais forte (amparado pelos EUA), vendo os seus morrerem... eles  não me parecem preocupados com o seu povo.
A humanidade tem vocação para confrontos bélicos. Desde a origem da civilização conhecida até hoje são inúmeros os exemplos em que se deixou a diplomacia de lado e a hastag do momento sempre foi #partiuguerra.
E o que motivava as pessoas a lutarem, sacrificarem a própria vida?
Um ideal para lutar.
As pessoas deixaram de acreditar que um confronto armado seja a melhor solução. E por quê? Porque há mais acesso à informação hoje em dia através da difusão da televisão, de jornais impressos e da internet; e em razão do aumento do nível de escolaridade. Começou-se a perceber que os ideais propostos pelos “líderes” e que culminavam em combates eram teorias muito bonitas no papel, na voz de pessoas preparadas, em imagens, entretanto, pouco praticáveis ou, pior ainda, boas para poucas pessoas e ruins para a maioria.
Hitler não perdeu a guerra sozinho. Havia muita gente o apoiando e Goebbels, seu braço direito, sabia que a propaganda era a alma do negócio. As palavras são maleáveis e os pontos de vista, vários. E o seu Ministro da Propaganda fez dos pensamentos sádicos de seu chefe militar, uma utopia aceitável para muita gente. Hoje, pensa-se diferente. Mas à época, ele recebia endosso de muito pobre e rico, analfabeto e letrado.
O Führer foi uma farsa. Uma farsa bem propagandeada. Ele vendeu um ideal, vendeu ilusões coletivas. E muitos engoliram.
Há outras ilusões coletivas propagandeadas em todos os lados: quem acredita que há armas de destruição em massa no Iraque, essa história para boi dormir dos Estados Unidos? Ou na seriedade do governo chinês que se diz Comunista para poder centralizar o poder, mas age como capitalista liberal, quando lhe convém? Quem põe fé nas palavras da família Castro, em Cuba, pelo ideal da igualdade, num país sucateado e pobre?
Então, por que tantos norte-americanos morreram no Iraque?
De graça é que não foi. Para muitas pessoas marginalizadas –principalmente hispânicos que não possuíam o visto para permanência- convocadas a combater no front, os polpudos dólares que receberam por defender os interesses da Casa Branca valiam a pena. Se não vivessem para curtir o dinheiro, pelo menos a família o teria para sobreviver.
Aí, sim, falamos de um ideal pelo qual vale a pena lutar, morrer: a família.
Se não fosse pela vida dos entes amados e o dinheiro que eles receberiam com a ida à área de conflito, certamente o contingente de militares no Iraque teria um grande déficit.
Não é diferente nas Forças Armadas. Lutar pela nação, com o sacrifício da própria vida há muito em canções de corrida. Experimenta cancelar o salário desses utópicos e convocá-los para missões em áreas de conflito! Experimenta pagar um salário mínimo!

Ideais coletivos servem para mobilizar multidões. Hitler sabia disso e se valeu dessa máxima. Os políticos bem utilizam a mídia para elegerem-se e aprovarem leis. A águia da América ilude coletivamente seus cidadãos levantando a bandeira do amor à pátria e massacrando nações que barram o seu avanço. Mas somos críticos, informados e cai bem não acreditar em todas essas ilusões vendidas e difundidas na televisão.

terça-feira, 15 de julho de 2014

HAY QUE DECIR "HASTA LUEGO"

Escrevo, na íntegra, a carta que redigi e li a meus alunos de Língua Espanhola (Rede Municipal de Ensino) ao informá-los que deixaria de dar aulas para eles, pois passaria a dar aulas na Rede Estadual. Essa foi uma decisão muito difícil para mim, mas necessária para a minha carreira profissional.

Queridas alunas e queridos alunos,

poderia apenas dizer “tchau”, mas seria muito leviano de minha parte. Daria para falar “até logo”, só que também seria um eufemismo barato, ilusório. Ou então, “adeus”, entretanto é uma expressão muito pesada e também não é a pura verdade. Talvez não haja um termo exato para expressar uma coisa tão triste e complexa.
Durante quase dois anos como maestro, aproximadamente 450 pessoas diferentes passaram por minhas mãos, pelas minhas palavras, minhas aulas, minha consideração, meu esforço. Uns 450 alunos meus. Meus, só meus. Alunos também da Geografia, também da Matemática, de Português e das outras matérias, mas, principalmente, meus alunos.
Ser professor é muito mais que vir à escola e ensinar a matéria às 13h30min, voltar pra casa às 17h30min ou fazer duas provas diferentes. É mais que explicar tantas vezes quantos forem necessárias até o aluno aprender. Mais que fazer a chamada, que escrever “Fecha: hoy es...”. É muito mais que cobrar disciplina e pedir silêncio.
Ser professor não é apenas cantar no dia do aniversário “que los cumpla feliz”. É muito mais que ensinar os “saludos”, explicar “los verbos terminados em –ar, -er, -ir”, revisar “los numerales” ou vir aos sábados pra recuperação com um cafezinho e um sanduíche.
Ser professor é tudo isso que foi dito, mas é muito mais também. Ser professor é uma filosofia de vida. Ser professor é decir “buenas tardes” e receber um estupendo “buenas tardes” dos seus alunos adorados. É brigar com seus alunos porque quer o bem deles. Elogiar quando acertam e cobrar que deem o máximo de si porque tem certeza que podem mais, muito mais. É ouvir do seu aluno um “tiozão” e achar isso bacana. Ser professor é ter 10 alunos falando ao mesmo tempo e, ainda assim, adorar dar aula.
Ser professor é amar o que faz. É amar todos os seus alunos: os que bagunçam, os que são quietinhos, os dedicados e os displicentes. É dar dura quando necessário. É dar e receber carinho.
Isso é ser professor. Isso sou eu.
Quem ensina também aprende. Talvez tenham aprendido algo comigo. Com certeza eu aprendi muito com vocês. Talvez não tenha sido o professor ideal, o professor dos sonhos. Possivelmente vocês tenham conhecido ou conhecerão professores melhores que eu. Mas tenham certeza que me esforcei ao máximo para ser um bom mestre, que dei o melhor de mim.
Amei enseñar español a ustedes. Sinto muito não poder continuar caminhando com vocês até o final do ano letivo.
Se ao sair pensarem “foi bom aprender espanhol com o sor”, ficarei feliz. Mas ficarei feliz, mesmo!, se ao sair de cena, vocês pensarem “foi bom aprender a ser ALGUÉM MELHOR”.
¡Hasta luego y un beso grande!

Maestro Giovani Roehrs Gelati.

domingo, 22 de junho de 2014

ILUSÕES COLETIVAS

Há anos que deixei de acreditar em muitos ideais coletivos. Antes me pareciam bonitos, empolgantes e os desejava alcançar. Mas essas utopias descortinaram-se como boas desculpas para as pessoas venderem mais, distrair multidões ou justificar chacinas.

Após anos de trabalho no Exército Brasileiro
O que ouvi: defender a pátria com o sacrifício da própria vida.
O que penso: desde que o salário gordo esteja na conta.

Os salários astronômicos dos jogadores de futebol contrastam com a falta de incentivo ao esporte do Brasil
O que ouço: rumo ao hexa.
O que penso: isso não vai mudar em um centavo o meu salário, nem nada na minha vida, tampouco na vida daqueles que poderiam ter o esporte como perspectiva de crescimento profissional.

A preocupação com o meio ambiente tem crescido nos últimos anos e alguns discursos mal-intencionados parecem buscar a sustentabilidade, mas a intenção é outra
O que ouço: se cada um economizar um pouco de água vai ajudar o meio ambiente.
O que penso: essa economia não é relevante enquanto imperar a obsolescência programada e grandes empresas poluírem desrespeitando leis e recebendo multas irrisórias.

Existe a América do Sul, a América Central e a América do Norte. Todos que nela moram são americanos. Nenhum dos povos pode considerar-se unicamente como americano
O que ouço: os americanos.
O que penso: eu sou americano (ou sul-americano, ora bolas). Também existem os norte-americanos.

A falsa luta contra homens-bomba esconde a intenção gananciosa de roubar petróleo do Oriente Médio e manter aquecida a indústria bélica norte-americana
O que ouço: guerra ao terror.
O que penso: desculpa norte-americana para subjugar outra nação e roubar o seu dinheiro.

Há muito pseudo-moralismo e agora é modinha reclamar da política. Passar a perna, superfaturar pequenas obras também é corrupção. A esses, falta apenas se elegerem.
O que ouço: políticos corruptos.
O que penso: políticos corruptos e povo corrupto.

Ideais coletivos não atendem fidedignamente ao que pensa a coletividade, pois cada um interpreta o seu mundo e cria as suas verdades. Há uma generalização do que se pensa, superficializando os conceitos, relativizando tudo, são ilusórios.
Essas utopias romantizam o que nem é tão belo, valem-se de apelações baratas e atendem a interesses capitalistas que geralmente são escusos. Por todos esses argumentos, não acredito mais nelas. Elas não me enganam mais.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

NOVAS POETISAS URUGUAIANENSES

O que um livro pode importar na vida de uma pessoa? Seria uma chata obrigação, necessária para passar de ano? Ou então uma necessidade para qualificar-se e obter uma promoção, um salário melhor? E qual impacto pode ter em nossa vida, positiva e negativamente a sua falta ou presença? E se trocássemos de papel, se não fôssemos mais os felizes leitores, mas os dedicados autores?
Esse prazer da inversão dos papéis pôde ser desfrutado por seis estudantes de Uruguaiana – RS. Em 2013 as alunas submeteram seus poemas a uma seleção realizada pela editora LiteraCidade, da cidade de Belém – Pará, com cerca de outras 900 pessoas de todo o Brasil. Cada uma das jovens escritoras publicou um poema na antologia literária “100 poemas 100 poetas – Volume 3”. A editora já vem realizando coletâneas há alguns anos e, através dos três volumes da antologia, disponibilizou a publicação gratuita dos textos.
Para essas jovens o livro já não é apenas mais um meio de viajar no tempo e espaço, passou a ser objeto de orgulho, de aumento da autoestima e da confiança na própria capacidade.
Nessas horas, os pais ficam orgulhosos e felizes –talvez até mais que as próprias escritoras-, os amigos olham com admiração e os professores ganham o dia com a notícia.
Publicaram seus poemas as alunas Alessandra da Silva Miranda, Andriele Vitória da Silva Alves e Andressa Romero Barbosa, estudantes do 6º, 7º e 8º Anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, mais conhecida como CAIC; as alunas Amanda Raiany Fernandes e Thalyne Patta de Mello, ambas do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Francisco Pereira da Silva, e a aluna Taimara Rodrigues Ramos, do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental General Osório.
Não é fácil publicar um livro. Não quando há seleção dos textos e ele é gratuito. E, talvez por isso, a conquista das adolescentes é tão relevante em tempos onde a leitura dá lugar à televisão, onde é mais sedutor assistir a um programa qualquer na telinha que dedicar-se às palavras de uma história.
Mesmo mais tradicional e já sem configurar na preferência da população, o livro é capaz de proporcionar momentos de prazer, de deleite num universo paralelo, fantástico ou próximo ao real. Leva à reflexão e também ajuda a modificar (pré)conceitos. E podemos acrescentar nessa definição de “livro” a palavra “mérito”. Sim, o livro é um mérito de uma pessoa quando o publica.
Por isso a publicação dos poemas na antologia é um grande passo dado por elas. Estamos ávidos para que outros estudantes também conquistem feito semelhante. Às poetisas, os parabéns e o desejo de que muitas outras conquistas venham, quer seja no mundo literário ou em outra área.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Kiss e o beijo da morte


Acordei com a notícia. Fiquei nervoso até saber que todos os conhecidos que poderiam estar lá estavam bem. Lá na Boate Kiss. Boate Beijo. E na madrugada deste 27 de janeiro, a morte beijou 236 jovens e milhares de familiares e amigos.
A morte costuma espreitar seu beijo fatal nas festas noturnas em todo o Brasil, não só em Santa Maria, local onde ocorreu a tragédia com os 236 jovens. Porque não é difícil encontrarmos casas noturnas atabalhoadas de pessoas, muito além da capacidade. O lucro parece ser bem mais importante. Geralmente são lugares fáceis de entrar e difíceis de sair, com saídas de emergência insuficientes e mal iluminadas.
Quando a tragédia ocorreu numa mina chilena em 2010, compadecemo-nos, mas tudo é muito longe, não sensibiliza tanto. Quando a boate argentina também pegou fogo em 2004 e matou 194 pessoas, pensamos que nem conhecemos Buenos Aires e o drama não tem tanto sentido. Mas quando o beijo mortal aproxima-se de nós, primeiro não acreditamos, depois nos desesperamos e então procuramos conhecidos.
Mortes em massa já ocorreram em igrejas, prédios residenciais, escolas e estádios. Depois de apurados os fatos, normalmente se verifica que a tragédia ocorreu devido à inoperância do poder público e negligência dos gestores do local. Não caiamos na armadilha de achar que é acidente. Acidente é quando não se pode evitar. Bem diferente do nosso mais novo drama.
Com o passar dos dias, as informações irão se elucidar e os culpados vão aparecendo. Mas a dor, essa irá demorar para passar. Há beijos que nem sempre fazem bem. O beijo letal da madrugada fez e ainda faz muito mal.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

AO VENCEDOR, AS BATATAS



Quando lemos os números das Olimpíadas de Londres, eles deslumbram. Foram 34 modalidades, bilhões de telespectadores assistiram às competições, 4.700 medalhas brilharam no peito dos competidores, a delegação brasileira contou com 259 atletas e eram 10,5 mil atletas de 191 países. E mesmo ainda faltando alguns anos, os números das Olimpíadas e da Copa no Brasil já atingem os milhões de reais nas verbas destinadas aos estádios e ao parque olímpico. Infelizmente, a recente história indica que muitos desses milhões irão para contas paralelas.
De números que quase não conseguimos contar rumemos para alguns de uma ou duas casas decimais. A delegação brasileira deu-nos três medalhas de ouro e um total de 17 medalhas. A equipe de futebol masculino, a mais badalada e bem paga que foi a Londres, logrou uma prata mixuruca. Esportes bem menos incentivados tiveram mais sucesso que o futebol.
Já nas paralimpíadas, a história foi bem mais agradável. O Brasil obteve 21 ouros do total de 43 medalhas. Não há o glamour das Olimpíadas: as partidas não são transmitidas em tempo real em qualquer canal aberto e os jornais não comentam muito.
Ainda que esses números, sozinhos, sejam poucos para definir o patamar de investimentos do governo em atletas, fica a dúvida, saltitando atrás da orelha: onde está a lógica em despejar milhões na conta de poucos atletas e deixar à própria sorte todos os demais?
Talvez Machado de Assis possa ajudar. Em Quincas Borba ele elaborou uma teoria com a máxima “ao vencedor, as batatas”. Explicava que havendo dois povos e comida apenas para um deles, seria suicídio coletivo tentar racionar o alimento entre todos. Seria muito mais inteligente que as batatas ficassem com o povo mais forte. Aqui na vida real, o mesmo ocorre.
Compensa muito mais aplicar muito dinheiro no futebol, que rende fortunas em publicidade do que repartir as verbas com muitos atletas e muitas modalidades. Não é por acaso que o Brasil é o país do futebol. Atletismo, judô, boxe não são páreos aos dribles dos cartolas.
Assim como no esporte, em educação, as prioridades estão longe da necessidade. O esporte e a educação andam juntos nesse caminho lamurioso. Há professores sem receber o piso salarial, que por si só já é uma afronta: 1.400 reais. Assim, perdemos um número incomensurável de atletas porque eles não têm um salário digno que lhes tire do trabalho atual para se profissionalizarem. Por má gestão. E isso é intencional.
Perdemos profissionais incríveis no ensino porque dezenas de empregos de nível médio e técnico pagam mais que o salário de professor. Por pura falta de intenção, por falta de querência. Não se quer. Não, mesmo.
Enquanto as batatas continuarem a ser entregues a poucos grupos, pouca coisa melhorará. Quando a fatia do bolo se aproximar um pouco da justa divisão, aí poderemos pensar em igualdade de oportunidades, em melhores resultados no esporte, em melhores índices educacionais.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A REUNIÃO DO CAPITÃO



_Bom dia, capitão!
_Bom dia, sargento. Bom dia, tenente.
O capitão recém chegava a sua sala, ao seu Posto de Comando.
_O Sr. vai na formatura da Bateria?
_Sim, cabo. Avisa o tenente que já estou indo. Só vou largar as minhas coisas no armário e já vou.
_Mas já são 13h30min. O expediente já começou, capitão.
_Cabo, avisa lá o tenente! Eu sei olhar as horas! Alguma dúvida?
_Mas, e cadê o pessoal, tenente?
_Capitão, o Sr. demorou e liberei todos.
_Tenente, eu não havia dito que era pra aguardar com o pessoal até eu chegar?
_O senhor falou, capitão, mas já são 14 horas!
_E daí? Reúna o pessoal agora. Tenho que falar com todos!
Tropa em forma: o tenente, os sargentos, cabos e soldados.
_Tenente, o capitão vai demorar? Já são 15 horas e preciso sair à rua pra comprar tinta pras paredes da sala do Coronel.
_Ouve só... Toque de reunião de Oficiais.
_Sargento, aguarda com o pessoal aqui. Vou lá pra reunião.
_Mas e o capitão, tenente?
_Vai pra reunião também, né!
_Ahhh... - coletivo.
_Opa, silêncio! Que baixaria é essa? Todo mundo quieto aí.
Fim da reunião de oficiais.
_Tenente, o pessoal está lá na Bateria pra reunião?
_Sim, capitão, desde às 15h.
_Capitão, preciso falar contigo. Aguarda aí um pouco.
_Sim, senhor, coronel. Tenente, não libera ninguém, certo?
...
_Tenente, e o capitão? Tenho muita missão pra hoje e já são 16:30h...
_O coronel chamou o capitão. Mas ele não demora.
_Capitão, estão todos aqui. Só não está o pessoal de serviço.
_Ótimo. Senhores, reuni vocês porque tenho alguns recados importantes. Era pra falar às 13:30h, mas não deu. Vamos aos recados...
Ouve-se mais um toque de corneta lá fora. São 17h, é o fim do expediente.
_Mas... e essa agora... Senhores, não quero segurar ninguém aqui no quartel após o expediente. Sei que todos têm suas missões dentro e fora do quartel e não quero atrapalhar. Vamos deixar os recados pra amanhã. Tenente, libera o pessoal.
_Sim, senhor, capitão.
_Amanhã, sem falta, tenente. 13:30h, todos prontos.
_Positivo, capitão. Atenção à Bateria, estão liberados. Até amanhã.

Um planeta chamado Biblioteca



Há um planeta muito lindo, com pessoas como nós, animais e plantas que falam, fantasmas, dinossauros e muitos outros seres da nossa imaginação. Um mundo que pode ser tanto belo quanto horroroso, nos encantar ou decepcionar, causar calafrios ou despertar paixões. Ou então, tudo isso junto. Creio que você já tenha visitado pelo menos uma vez na vida esse planeta, mesmo que nem lembre quando. Mas, de acordo com a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, divulgada em 28 de março, para 75% da população, esse planeta chamado Biblioteca ainda é novidade.
A mesma pesquisa ainda relatou que a média de leitura do brasileiro é de 2,1 livros por ano. Isso que foram contados os lidos pela metade! Em 2007, a mesma pesquisa havia sido realizada e a média fora de 4,7. Números baixinhos, principalmente porque validaram livros didáticos, que encorpam significativamente essas estatísticas.
Além de a nossa cultura ser mais propensa à televisão que ao livro, à novela que ao romance, a miserabilidade enterra as esperanças de desenvolver o gosto pela leitura. Quem luta diariamente para conseguir uma refeição diária, uma roupa que proteja do frio, uma tábua que cubra o telhado da chuva, que perspectiva terá em investir dois reais num periódico? Quem será negligente com a família ao investir dez reais numa revista, se isso pode ser convertido no seu almoço?
Resta à escola, primordialmente nas áreas mais carentes - mas não unicamente nelas - o papel de apresentar o Planeta Biblioteca a seus discentes. Resta fazer despertar o gosto pela leitura e procurar criar ferramentas que envolvam os pais a participarem dessa construção do conhecimento com seus filhos, a mostrar aos progenitores ou responsáveis que novas perspectivas podem surgir através da leitura. Não é uma tarefa fácil acordar na criança o desejo pelas letras, a curiosidade por saber mais, a vontade de estar sempre em contato com o conhecimento. Mas é necessário.
Muita gente assistiu ou assiste à minissérie Gabriela. Mas, comparando, pouca gente leu Gabriela. Porque grande parte das pessoas gosta de novelas, filmes ou seriados, mas tem pavor de ler. Novela é uma comida mais pronta, já mastigada, não exercita muito a imaginação, mas também é história. Por vezes é a mesma história de livro homônimo. Arrisco a dizer que nunca é tão boa quanto a impressa. Então, onde parou ou por que não começou a vontade de ler?
O Ministério da Cultura, um mês após a divulgação daqueles números tristes do começo do texto, informou o investimento de 373 milhões no Plano Nacional do Livro e da Leitura. “Um brasileiro que lê cresce mais, e o Brasil cresce junto”, palavras da Ministra da cultura, Ana de Hollanda. Esse programa prevê a modernização e construção de bibliotecas.
Quem sabe se no futuro o índice de 75% que não conhecem biblioteca diminua. Quem sabe se a média de livros lidos ao ano volte aos 4,7, torne-se seis ou, algum dia, 10? Esses índices são possíveis, sim. E nem a tão longo prazo. Basta vontade de quem administra as cidades, estados e o país. Mas, principalmente, empenho dos pais e da escola para despertar o desejo pelas palavras.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Para que o pessoal não perca o que está acontecendo na comunidade acadêmica de Uruguaiana, divulgo dois eventos que ocorrerão nas próximas semanas na área da saúde:


I Simpósio de Envelhecimento da Fronteira Oeste
https://sites.google.com/site/simposiodeenvelhecimento/apoio


IV Semana Acadêmica de Enfermagem da Unipampa Uruguaiana
http://ivsemanadeenfermagemunipampa.blogspot.com.br/

domingo, 25 de março de 2012

Os encantos do fogo

CHEGA O DOMINGO, AQUELA FOLGUINHA, o pessoal reunido, carne temperada, fogo aceso. Espeta a carne e põe assar. Dali um tempo fica pronta e todo mundo delicia-se com o manjar. Você liga a televisão durante o almoço e surge uma notícia de última hora: foi deflagrada uma queimada no Mato Grosso (mais uma) e os bombeiros não conseguem apagar. Aí aparece aquela filmagem feita num helicóptero, de longe, do campo agonizante em chamas. Enormes labaredas de fogo. O que esses dois fatos têm em comum? Pergunta fácil: o enorme poder do fogo em trabalhar para o bem e para o mal em intensidades iguais.
Ele pode ser utilizado para o bem, esquentando o lar, ajudando a preparar a comida ou protegendo nossos ancestrais dos animais da floresta indócil. E também pode queimar hectares de vegetação em muito pouco tempo, destruindo os lares de incontáveis animais, pode queimar gente viva como na inquisição e até mesmo deixar uma criança com queimaduras de segundo grau durante uma brincadeira na cozinha.


 É interminável a lista de ações do Sr. Fogo. E a sua importância é tão significante que inspira também o imaginário. Que o diga Camões, com a sua máxima “amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente...”, também adaptada na canção "Monte Castelo" de Renato Russo. Os dois não falavam sobre o fogo. Suas intenções eram exprimir o inexprimível, o Amor. E nesse intuito, valeram-se do fogo para metaforizar. Eis aí o nosso amigo incandescente fazendo-se presente também na literatura e na música.


Desde pequeno tenho o encantamento de ver o clarão dos relâmpagos cortarem o céu sem dó e ouvir o trovejar. Esse poder descomunal que a natureza tem e apresenta-nos em ocasiões como estas, seduz-me. Também gosto de parar ao lado de uma fogueira e ficar a admirar as labaredas do fogo, ouvir os estalidos da lenha e sentir a onda de calor aproximar-se e esquentar o rosto. Fico a olhar as chamas... Aí não penso em mais nada, só olho, admiro aquela fonte de energia.


Impressiona-me a questão de que o fogo pode iniciar com materiais nada infláveis, como simplórias pedras e pedaços de madeira que atritados gerarão uma faísca e dela evoluirá a uma pequena chama, dessa chama a outra maior e se não for controlada, a uma queimada que nunca parará de crescer. Pode até ser um humor negro, mas ao mesmo tempo em que me compadeço com as pessoas prejudicadas por um incêndio, vidro-me nas labaredas, na incrível velocidade que avançam sobre novos materiais, resumindo-os a cinzas ou n'algo retorcido, deformado. Juro que se aquele sinistro não fizesse mal a ninguém, assistiria com gosto às macabras cenas de queimada. A propósito, será que Nero também era um admirador do fogo e por isso decidiu entrar para a história, arrasando Roma com ele?


Gostaria de atribuir ao fogo uma última característica. É fato que uma chama pode multiplicar-se rapidamente sem diminuir de tamanho. Essa multiplicação do fogo é nada mais que uma belíssima prova de solidariedade. Porque ele não é egoísta, não se importa em crescer também na madeira vizinha. Aliás, ele é inteligente. Porque sabe que se for multiplicado, o todo ficará ainda mais forte. O fogo é solidário, empresta sem pedir de volta, porque sabe que tornará a crescer.
Ele é instigante, perigoso e bélico. Tudo isso ao mesmo tempo. E tão infindável quanto o fogo, somente a água, que penetra em todo e qualquer lugar e consegue apagá-lo. Mas isso gera um outro texto. Este termina por aqui.

sábado, 12 de novembro de 2011

A SÍNDROME CHAPOLIN COLORADO

"A CRISE NA USP COMEÇOU EM 27 DE OUTUBRO, QUANDO TRÊS ALUNOS FORAM PEGOS COM MACONHA NO CAMPUS. Colegas tentaram impedir que eles fossem detidos e entraram em confronto com a PM. Na mesma noite, um prédio da FFLCH [Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas] foi invadido.

 Dias depois, uma assembleia decidiu pela desocupação por 559 votos a 458. Inconformada com a derrota, uma minoria deixou a FFLCH e invadiu a reitoria”.

 Lendo esse excerto do site da Folha Online de 09 de novembro, questiono-me onde está o dito respeito à democracia que os estudantes da USP tanto defendem. Se é premissa básica da democracia fazer valer a vontade da maioria, os poucos jovens que invadiram a reitoria ignoraram essa máxima. Se é ilegal fumar maconha na rua, em casa ou na universidade, aqueles três alunos estavam errados e ponto final. Alguma coisa parece confusa? É simples, preto no branco: um ato ilegal foi repreendido pela Polícia Militar; e umas poucas dúzias de inconformados não respeitou a vontade da maioria dos estudantes e invadiram a reitoria da universidade.

 Em maio um aluno havia sido assassinado no campus. Após isso a polícia reforçou o patrulhamento. E aquelas dúzias de baderneiros queriam exatamente o contrário: que a polícia não patrulhasse a área da universidade. Garanto-lhes que se após o assassinato os comandantes militares dissessem que não aumentariam o policiamento, os mesmos estudantes pressionariam por mais segurança. E com razão. Gostaria de saber se durante as invasões dos prédios os “revoltosos sem causa” preocuparam-se com a opinião da mãe do colega morto.
 É piada quererem a polícia fora da cidade universitária. Essa síndrome “Chapolin Colorado” assolou o imaginário dadaísta do grupinho lunático de universitários. Parece que se a polícia deixar de patrulhar a cidade universitária (que é pública!) e outra pessoa morrer, for assaltada, estuprada, basta implorar “quem poderá nos defender?”, um herói aparecerá e resolverá todos os problemas.

 Querendo que todos acreditem que voltamos às décadas de 60, 70 e 80, os jovens que ostentavam faixas com dizeres como “Não à repressão” mais se enganaram do que enganaram os outros. Não estamos em tempos de regimes totalitários - vivemos uma democracia consolidada, onde prevalece a vontade da maioria, o Estado divide-se em três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e as decisões judiciais devem ser cumpridas, porque é assim a regra do jogo.

  Não temos o Estado fardado batendo com cassetetes na população. Temos o Estado fardado cumprindo o seu papel legal -usar drogas ilícitas como a maconha é crime- e cumprindo uma decisão judicial: desocupação pela força, se necessário, de um órgão público. O diálogo é mais saudável e produtivo, mas não foi o caminho escolhido pelos “revoltosos sem causa”. É que quando faltam argumentos, tenta-se ganhar no grito.

  Foi muito oportuno o pensamento do colunista da revista Veja, Reinaldo Azevedo, em 12 de novembro: “Fico imaginando com que argumentos professores e estudantes de direito defenderiam que a Polícia Militar não pode pisar na USP ou que a Cidade Universitária, ao arrepio da lei, deva ser uma zona livre para o tráfico e consumo de drogas”.

  Acredito que muitos estudantes da USP que aderiram à invasão, lá estavam de gaiatos. Pouco sabiam o que estavam fazendo, mas como os amigos disseram que era uma luta pelos "direitos do povo" e mais uma dúzia de bê-á-bá inócuo, acabaram aderindo ao modismo. Os líderes do circo, esses sim sabia. Eram alunos baderneiros que queriam que a universidade permanecesse à margem da lei. E aí pergunto: quem chamarão quando um 38 estiver apontado para a cabeça? O Chapolin?

Os limites da bestialidade

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 06 Nov 2011  O RAFINHA BASTOS FALOU DIAS ATRÁS QUE "COMERIA" A WANESSA CAMARGO E O BEBÊ QUE ELA ESPERA. Queria dizer que ela é tão gostosa que não haveria limites para traçá-la. É um linguajar pesado para sintetizar a história? Deveria ter colocado os *** no lugar das palavras de baixo calão? Ora, o apresentador falou isso em alto e bom tom na televisão, com repercussão muito maior que este texto e, nem por isso, a censura ou o bom senso tolheram seus verbos sujos. E aposto que o público infanto-juvenil que assistia ao programa era maior que este que lê.
Com a mesma demonstração de educação -o que é diferente de cultura, ele respondeu à Folha.com por e-mail ao ser questionado por suas piadas acerca de Fábio Assunção e da Nextel, “chupa o meu grosso e vascularizado cacete”.

Sabe o que isso parece? O dito aparício. Falem bem ou mal, mas falem de mim. Se Rafinha quer estar em todas as bocadas da mídia, está conseguindo, por um caminho torto e errante. E não é de hoje. Em outra ocasião, ele e o Marcelo Mansfield fizeram uma suposta “análise gramatical” de uma entrevista do “casal Nardoni”. Além de só dizerem asneiras, fizeram piada da morte da pequena Isabela. E daria para citar parágrafos e parágrafos de outros comentários indevidos.

Há quem diga que os políticos fazem a farra e ninguém dá bola, mas um humorista (humorista?) diz meia dúzia de bobagens e querem prendê-lo! Também temos os defensores da livre expressão. Da liberdade de imprensa. Do direito de dizer o que quiser sem censura. Afinal, estamos numa democracia, onde todos os cidadãos têm o direito de se expressarem. Fora ditadura! Fora DOPS! Fora DOI-CODI! Viva a imprensa livre...

Existe uma enorme diferença entre liberdade de expressão, censura e respeito. Assim como os desvios de verbas públicas que ocorrem em Brasília interferem no nosso quotidiano, um apresentador como o Rafinha exerce muita influência sobre seus telespectadores. E quem são os telespectadores? Eu, você, seu pai, seu tio, seu primo e seus filhos. E por que existe a apelação? O apelo -geralmente sexual- surge quando acaba o conteúdo.

Se ainda há alguém que não vê maldade nas palavras do pseudo-humorista, responda à seguinte pergunta: se ele falasse para você que comeria a sua esposa grávida, você deitaria e rolaria no chão de tanto rir?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Revisão da aula

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 30 Out 2011.

"PROFESSOR, GOSTEI BASTANTE DAS SUAS AULAS. ENSINOU QUE PRECISAMOS APRENDER".

Quando estava terminando o meu último estágio do curso de Letras no ano passado, adotei a mesma técnica que minha colega de faculdade havia praticado no ano anterior ao acabar as aulas com seus alunos: pedia a todos o feedback de suas aulas, o retorno da (in)satisfação, para que pudesse reforçar as ações tidas como positivas e corrigir o que não dera certo, ou como diz o pessoal de gestão administrativa, identificar as Oportunidades de Inovação e Melhoria. Foi muito bom ter feito, dissera ela naquela ocasião. Copiando a ideia, solicitei que escrevessem o que haviam achado das aulas. Sinceridade deveria ser o ponto central.


Confesso que fiquei com certa apreensão do que leria posteriormente, mas como não tinha muita expectativa, o receio também não era muito grande. Isso porque, como não fiz Curso Normal nem trabalhava na área, faltava-me ainda certo domínio de classe, talvez um tanto de segurança no trato com os alunos. Segundo uma aluna, precisava também uma dose a mais de severidade. E como é tênue a linha entre severidade e carrasquice, entre dureza e permissividade!


Ser justo nas cobranças dentro de sala de aula é uma tarefa árdua, porque o professor corre para lá e para cá na aula, chama a atenção de dois, explica mais um pouco o conteúdo, se aproxima de um grupinho e pede silêncio, retoma a aula, voa para o quadro para ilustrar o que fala e solicita novamente a colaboração de todos. Ser o centro da atenção, hoje em dia, é ainda mais difícil que anos atrás. Porque é difícil competir com o mp3 e o mp4, com o Playstation, a internet, o jogo de futebol e tantas outras maravilhas que dentro de quatro paredes não é possível desfrutar.


Li as observações depois que saí da sala, sozinho, quieto num canto. Foi muito bom surpreender-se com elogios, palavras de reconhecimento. Sempre é ótimo ler qualquer coisa boa sobre si. E chateia um tanto quando vem um puxão de orelha. Mas ele é necessário. Imagina se fossem só elogios... ou algo estaria errado ou você é o super-homem! “...acho que os meus colegas que também participaram se interessaram bastante como eu, as aulas bem puxadas e ao mesmo tempo divertidas e interessantes.” Metade disso já me faria ganhar o dia. E todas elas deixaram-me flutuando. Realmente, não esperava. Tomei-me tão feliz que errei o caminho de casa.


É importante ouvir a opinião de quem presta atenção nas aulas. Mas é ainda mais necessário saber o que pensam aqueles jovens que bagunçam e, por vezes, atrapalham as aulas. Aqueles os quais geralmente se chama a atenção. Porque é aí que estão as oportunidades de rever a metodologia, a postura em aula, o trato com os jovens. É por isso que eternizo as palavras de um garoto que preenchia esses prerrequisitos. “...não pegou no pé de ninguém como outros professores.” Claro que o mês de estágio é consideravelmente pouco para perder a paciência com alguém. Mesmo assim, a serenidade deve ser um ingrediente indispensável do docente. Seja para explicar ou para conquistar a atenção de seu aluno.


Outro ponto que não pude deixar de admirar foi o seguinte comentário “...com as folhas do conteúdo das aulas tivemos mais aproveitamento, porque não estávamos perdendo tempo copiando e assim, prestamos mais atenção nas explicações.” Numa época em que o mimeógrafo ainda tem lugar, mas já há as fotocópias, existem os projetores, televisão e aparelho de DVD; escrever num quadro-negro toda a teoria de um conteúdo é um atraso que remonta a antes da invenção dessas novas (e nem tão novas) tecnologias.


Já há problemas crassos no nosso sistema educacional. Se trouxermos mais problemas ou se não acompanharmos a evolução tecnológica, o professor obsoleto será a nossa realidade.


Desculpem-me os engenheiros e os químicos, que lidam com máquinas e materiais inanimados. Seus trabalhos são admiráveis, mas não há nada que gratifique mais uma pessoa do que ouvir palavras agradáveis de seus alunos, não há preço que pague, nem salário baixo que abale um professor que conquista seus educandos. Porque é impagável trabalhar com uma turma, vê-la crescer, evoluir e você ser um dos responsáveis por isso.

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