Mostrando postagens com marcador companhia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador companhia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A REUNIÃO DO CAPITÃO



_Bom dia, capitão!
_Bom dia, sargento. Bom dia, tenente.
O capitão recém chegava a sua sala, ao seu Posto de Comando.
_O Sr. vai na formatura da Bateria?
_Sim, cabo. Avisa o tenente que já estou indo. Só vou largar as minhas coisas no armário e já vou.
_Mas já são 13h30min. O expediente já começou, capitão.
_Cabo, avisa lá o tenente! Eu sei olhar as horas! Alguma dúvida?
_Mas, e cadê o pessoal, tenente?
_Capitão, o Sr. demorou e liberei todos.
_Tenente, eu não havia dito que era pra aguardar com o pessoal até eu chegar?
_O senhor falou, capitão, mas já são 14 horas!
_E daí? Reúna o pessoal agora. Tenho que falar com todos!
Tropa em forma: o tenente, os sargentos, cabos e soldados.
_Tenente, o capitão vai demorar? Já são 15 horas e preciso sair à rua pra comprar tinta pras paredes da sala do Coronel.
_Ouve só... Toque de reunião de Oficiais.
_Sargento, aguarda com o pessoal aqui. Vou lá pra reunião.
_Mas e o capitão, tenente?
_Vai pra reunião também, né!
_Ahhh... - coletivo.
_Opa, silêncio! Que baixaria é essa? Todo mundo quieto aí.
Fim da reunião de oficiais.
_Tenente, o pessoal está lá na Bateria pra reunião?
_Sim, capitão, desde às 15h.
_Capitão, preciso falar contigo. Aguarda aí um pouco.
_Sim, senhor, coronel. Tenente, não libera ninguém, certo?
...
_Tenente, e o capitão? Tenho muita missão pra hoje e já são 16:30h...
_O coronel chamou o capitão. Mas ele não demora.
_Capitão, estão todos aqui. Só não está o pessoal de serviço.
_Ótimo. Senhores, reuni vocês porque tenho alguns recados importantes. Era pra falar às 13:30h, mas não deu. Vamos aos recados...
Ouve-se mais um toque de corneta lá fora. São 17h, é o fim do expediente.
_Mas... e essa agora... Senhores, não quero segurar ninguém aqui no quartel após o expediente. Sei que todos têm suas missões dentro e fora do quartel e não quero atrapalhar. Vamos deixar os recados pra amanhã. Tenente, libera o pessoal.
_Sim, senhor, capitão.
_Amanhã, sem falta, tenente. 13:30h, todos prontos.
_Positivo, capitão. Atenção à Bateria, estão liberados. Até amanhã.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A MÁ COMPANHIA

Publicado no Jornal Letras Santiaguenses jul/ago 2009

Como é de praxe, sempre dá pra tirar bom proveito das crônicas da Martha Medeiros. Em algumas xingamos a escritora, discordamos, esbravejamos contrários as suas perspectivas. Até nos tocarmos que cada um pensa de um jeito, cada cabeça uma sentença. E mesmo quando não apoiamos suas ideias, fazemos um gancho com os males que nos assolam e tiramos um ensinamento.
Dessa vez, concordo com ela. A sua crônica “Os ausentes”, de 28 de junho de 2009, do Caderno Donna da Zero Hora, abordou as pessoas que têm um dom funesto de serem desagradáveis e não fazem questão nenhuma de mudar isso, melhorar a própria companhia.
“Se não quiser participar, tudo bem, então fique na sua: no seu canto, na sua respeitável solidão”. Se achar que não é alguém aprazível para o convívio, então tente mudar. Mas se não for esse o seu objetivo, faço das palavras da Martha as minhas: não precisa carregar essa má companhia até os outros, fique na sua e não estrague a noite de alguém.
Há aquele amigo que brigou no trabalho e chega à mesa com a cara emburrada, responde monossilábico e sai mais cedo, destacando seus movimentos: joga os pratos com força na pia, chuta o papel que está no chão e bate a porta. Isso se já não fizera um comentário desprezível durante o almoço, ferindo alguém para depois retirar-se.
Essa preocupação exclusiva com o seu umbigo é muito triste. Sim, triste. Porque o indivíduo, ao agir assim, não percebe que a vida não é um sistema solar, que ele não é o sol e os outros o Planeta Terra. Importa só o seu problema. E que se dane se o outro está feliz, se ocorreu algum fato maravilhoso na vida do irmão, vizinho, colega e se ele está louco para contar-lhe. Aí, aquela alegria estampada no rosto murcha igual a balão furado e a carranca contagia tão intensamente quanto o bocejo. É o efeito cascata. E o dito sujeito pioneiro no baixo astral retira-se, deixando uma marca. A cara fechada.
O mundo não precisa ficar sabendo que estamos com um problema. Não que tenhamos que guardá-lo. Partilhá-los como catarse, faz bem. Mas se eu estou péssimo, cabisbaixo, não preciso deixar meu semelhante do mesmo modo. As pessoas desconfortavelmente pessimistas são assim.
Como é agradável encontrar uma pessoa que é sempre “pra cima”, motivadora, estimulante. Aquela pessoa que mesmo com problemas, ri da própria má sorte e reverte esse momento em uma oportunidade de aprendizado. Os tempos ruins chegam, tempestuam nossas vidas, derrubam algumas construções, mas passam. Sejamos proativos e ao assumir nossa falha, procuremos os erros que nos levaram à situação, para não mais repetir.
Conheço uma professora que é um estímulo, seja na chuva ou no sol. Estudei com ela, já vi seu trabalho, mas o grande trunfo não está em como a percebo e sim no que escuto. Seja no colégio onde dirige ou na faculdade que leciona, são só elogios. Dia desses presenciei uma eleição numa de suas turmas. Estava sendo realizada a escolha de uma nova disciplina a ser trabalhada no semestre seguinte. Um dos argumentos que fez com que elegessem a disciplina que essa professora lecionaria foi a maneira como ela apresentava a matéria. O gosto que demonstrava ao trabalhar seu conteúdo. O empenho que tem em fazer o seu trabalho. Realmente, quando fala, seus olhos brilham, vibrantes com o que diz. Bem diferente de quem é baixo astral. E muito mais estimulante.
Pessoas desagradáveis são sempre dispensáveis. Há muitos problemas para serem solucionados e muita energia a ser gasta com coisas úteis. Dispenso alguém que não se empenha ao menos um pouco em ser agradável. Concluo parafraseando a profª Martha. Seus escritos são uma aula. “Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada”.

Protegido