Acordei com a notícia. Fiquei nervoso até saber
que todos os conhecidos que poderiam estar lá estavam bem. Lá na Boate Kiss.
Boate Beijo. E na madrugada deste 27 de janeiro, a morte beijou 236 jovens e milhares
de familiares e amigos.
A morte costuma espreitar seu beijo fatal nas
festas noturnas em todo o Brasil, não só em Santa Maria, local onde ocorreu a
tragédia com os 236 jovens. Porque não é difícil encontrarmos casas noturnas atabalhoadas
de pessoas, muito além da capacidade. O lucro parece ser bem mais importante.
Geralmente são lugares fáceis de entrar e difíceis de sair, com saídas de
emergência insuficientes e mal iluminadas.
Quando a tragédia ocorreu numa mina chilena em 2010,
compadecemo-nos, mas tudo é muito longe, não sensibiliza tanto. Quando a boate
argentina também pegou fogo em 2004 e matou 194 pessoas, pensamos que nem
conhecemos Buenos Aires e o drama não tem tanto sentido. Mas quando o beijo
mortal aproxima-se de nós, primeiro não acreditamos, depois nos desesperamos e
então procuramos conhecidos.
Mortes em massa já ocorreram em igrejas,
prédios residenciais, escolas e estádios. Depois de apurados os fatos,
normalmente se verifica que a tragédia ocorreu devido à inoperância do poder
público e negligência dos gestores do local. Não caiamos na armadilha de achar
que é acidente. Acidente é quando não se pode evitar. Bem diferente do nosso
mais novo drama.
Com o passar dos dias, as informações irão se elucidar
e os culpados vão aparecendo. Mas a dor, essa irá demorar para passar. Há
beijos que nem sempre fazem bem. O beijo letal da madrugada fez e ainda faz
muito mal.