domingo, 27 de março de 2011

QUANDO HÁ VONTADE POLÍTICA

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 27 de março de 2011.


Há uma grande diferença entre dizermos “quando vontade” e “quando vontade”. Se vontade, é porque interesses estão em jogo: seja particular, de uma sociedade ou de uma nação. Se vontade, geralmente é resultado de estarmos sendo pressionados para realizar determinada coisa: em política falamos de pressão da opinião pública.
E os nossos governantes trabalham assim. Quando vontade política, pode saber: alguma estão aprontando, é dinheiro ou vantagem que estão pondo no bolso. Quando vontade é porque a mídia e ONGs estão pressionando e a vontade popular clama por mudança.
Difícil não concordar: reclamamos da burocracia que retarda obras, não deixa chegar recursos que seriam muito importantes para pessoas carentes. Mas, quando vontade política, os governos demonstram enorme capacidade de mobilização e agilidade na tramitação de leis. Que o diga Julian Assange, fundador do WikiLeaks. Feriu os interesses dos Estados Unidos e de países europeus e rapidamente foi tirado de cena, sendo preso sob uma acusação que nunca teria que responder se não falasse demais - a verdade.
Um dos problemas que muitos governos enfrentam é o não-planejamento da utilização de recursos. Então, a demora no repasse das verbas e a burocracia fazem jorrar pela torneira afora muito dinheiro que poderia ser bem empregado em áreas necessitadas. Contudo, quando vontade política, não falta planejamento. Cria-se a estratégia -que todos conhecemos e que sempre surte efeito- de esperar a Copa do Mundo ou as Olimpíadas para votar mais um aumento. E aprová-lo, como ocorreu no ano passado.
Reclama-se do salário de muitas categorias historicamente postas em segundo plano no cenário orçamentário: segurança, saúde e educação. Porém, quando vontade política, a Câmara dos Deputados vota em regime de urgência e consegue a aprovação da maioria como em um passe de mágica. Prova disso foi o reajuste ocorrido no ano final do passado que transformou os vencimentos do presidente da República, do vice, dos ministros de Estado, deputados federais e senadores em absurdos 26,7 mil reais.
Quando vontade política, o Governo encontra o déficit zero, merchandising de campanha. Foi assim com a Yeda Crusius, ex-governadora do Rio Grande do Sul. Era candidata à reeleição ao governo gaúcho nas últimas eleições. Somou os depósitos judiciais e encerrou os seus cálculos assim: pagamos todas as contas, com déficit zero. Perdeu a eleição e novo governo que assumiu mudou o termo de “déficit zero” para “rombo nas contas públicas”.
A oposição agride ferozmente a situação quando vontade política, exigindo um salário mais digno aos professores. Mas, ao assumir o Governo, o buraco mostra-se mais embaixo: não dá para realizar o sonho pregado outrora. Em contrapartida, se os professores fazem greve, prejudicam o andamento do ano letivo e a sociedade pressiona, começa a dar vontade política: o governo trata de propor algumas migalhas de reajuste salarial.
É o que está ocorrendo com o Governo Tarso Genro, no Rio Grande do Sul. Propôs um aumento de R$ 38,00 ao magistério, correspondente a 10,91% de aumento. Uma proposta anterior de 8,5% já havia sido recusada pelo CPERGS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul). É dessa maneira que o Estado pretende valorizar a classe?
O novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) foi aprovado pelo Governo Federal e reza em sua cartilha que 7% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil deverá ser aplicado na educação. Para termos uma ideia de como estamos longe desse objetivo, em 2000, 3,9% do PIB era aplicado em educação e em 2008, o percentual variou para míseros 4,7%. O Governo demonstrou, até o momento, que não vontade política em priorizar o magistério.
Se não vontade política em valorizar a classe dos professores, então que isso ocorra quando vontade política, através da pressão da sociedade. Porque muito mais alto que os 7% almejados para a educação, é o preço que pagamos pelo sucateamento de escolas e pela desvalorização dos professores.

domingo, 20 de março de 2011

A escola é igual ao BBB?

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 20 de março de 2011.

Escola é igual a BBB. Tem o líder -professor- que nos manda para o paredão -provas-, mas somos salvos pelo anjo -nerd. É o título de uma comunidade do Orkut, uma associação feita muito inteligente. Só dessa comunidade, são mais de 190 mil membros. Não é a opinião de todos, mas vemos o retrato do pensamento de grande parcela da população que sente na escola, uma chata obrigação diária.
Temos heróis no BBB, como reza a metáfora do Bial. Heróis que são projetados para a fama momentânea sem esforço algum. Já os heróis da vida aqui fora, recebem o título por conseguirem cursar as 11 séries da educação básica. Estamos a caminho dos 12 anos de luta heroica. Felizes e heróis, sim, são aqueles que tiveram a oportunidade de estudar e não precisaram abandonar os estudos para trabalhar ou porque engravidaram.
Corrigindo a equivocada hipérbole do Pedro Bial, heróis são os jovens integrantes do BBB escolar que trabalham à noite e estudam de dia, ou vice-versa. Heróis são as mães de primeira viagem que conseguem deixar seu primogênito com a vó por um turno e não desistem de estudar. Heróis são aqueles que foram pouquíssimo estimulados na infância e quando o número de professores e de matérias aumentou, não desistiram e enfrentaram com bravura as suas dificuldades de aprendizagem. Gladiadores são os jovens que lutam contra alguma doença e, mesmo assim, persistem frequentando os bancos escolares. Heróis são os jovens que repetem o ano e assim como a fênix, renascem das cinzas e são aprovados no ano seguinte.
Trabalhar e não conseguir conciliar com os estudos, a gravidez, a falta de interesse do aluno ou enfrentar um problema familiar são as três maiores razões que levam o estudante mineiro a abandonar a escola. A pesquisa “Determinantes do abandono do Ensino Médio pelos jovens do estado de Minas Gerais”, promovida pelo Instituto Unibanco e que vem como encarte da edição de março da Revista Nova Escola, faz um levantamento dos motivos da evasão escolar e propõe mudanças.
A pesquisa diz respeito ao estado mineiro, mas pode ser estendida a todo o país. Apesar das peculiaridades de cada estado, da renda per capita ser diferente nas diversas regiões brasileiras, o ensino público e privado também, podemos utilizá-la como referencial.
Vamos dissecar os dados atinentes às razões do abandono dos estudos. 56,6% apontou a impossibilidade de conciliar a escola com o trabalho; 11,6% disse que não tinha interesse em estudar; a gravidez foi apontada como motivo por 6,5% dos jovens; e 3,3% enfrentaram problemas familiares que impossibilitaram a frequência na escola.
Dentre os problemas, ressalto os dois mais significativos. O drama da relação trabalho X estudo, que é uma realidade em nosso país, e a falta de interesse dos jovens. Temos milhões de miseráveis, sem esperança alguma de mudança. Milhões vivendo na pobreza absoluta. Muita gente precisando fazer bico até altas horas para conseguir alimentar-se. Desse modo, onde fabricar tempo para estudar?
Já quando falamos na falta de interesse do aluno, podemos perguntarmo-nos: o que o docente e a instituição estão fazendo para que o aluno perceba a importância de estudar? Com o cinto mais que apertado em casa, a escola torna-se um rito de passagem que não demonstra boas perspectivas.
Vou acabar o ensino médio e depois, o que vem? O que todos esses anos de estudo valerão para mim? A Escola, no sentido amplo da palavra, necessita disponibilizar mais cursos técnicos que insiram o jovem no mercado de trabalho. O ENEM firmou-se como grande ferramenta de ingresso nas instituições de ensino superior. Mas tem muito jovem sem saber disso. O professor não está fazendo o seu papel bem, de orientar. Nem a família, porque deveria preocupar-se prioritariamente com o futuro de seus descendentes. Nem o jovem, que negligencia o próprio futuro.
No Big Brother Brasil, os pseudo-heróis enfrentam o drama de não ganhar o milhão de reais que nunca tiveram. Já os heróis do BBB do Mundo Real, enfrentam o drama de perderem uma passagem para um futuro melhor. A seleção dos candidatos do BBB do Mundo Real é gratuita, basta matricular-se no ensino regular ou na Educação de Jovens e Adultos. Mas ganhar o prêmio final é muito mais difícil, por vezes impossível, para uma enorme parcela da população.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A AUTOAJUDA NOSSA DE CADA DIA

Publicado no Jornal da Cidade Online, de 13 de março de 2011.

Estive, há alguns dias, no lançamento do livro de crônicas “Umas e outras” do psiquiatra Rônei Rocha, daqui da minha cidade. Houve grande quantidade de pessoas prestigiando o evento, esperando na fila uma dedicatória do médico-escritor. Assim como ele, outro médico gaúcho teve o seu trabalho reconhecido: Moacyr Scliar. Infelizmente, este último faleceu em 26 de fevereiro passado. Como conseguiram tamanha projeção?
O psiquiatra que conheço começou a escrever num jornal local há menos de um ano. Ascendeu vertiginosamente. A chave do sucesso? A importância que damos aos assuntos que abordam o nosso interior, o íntimo. Daqueles assuntos que temos medo de falar e que alguém vai lá e escreve, livrando-nos do peso da culpa de não termos nos expressado.
Essa relevância da busca de um eu mais clean, livre e feliz reflete-se na busca pelos livros de autoajuda. Eles costumam ser os recordistas de vendas em feiras de livro. Têm lugar cativo em livrarias. Sites como Americanas, Submarino e da editora Saraiva e tantos outros deixam bem visível o título “autoajuda” para que os internautas encontrem sem dificuldade os seus tão desejosos gurus impressos.
Disse um amigo meu, já no final da festividade, um tanto emocionado e alcoolizado: “Aqui tá cheio, mas se viessem todos os clientes dele, isso aqui estaria entupido de gente. Só tem louco nessa cidade”. Preconceitos à parte, desconsideremos o termo “louco”. Problemas de ordem emocional, psíquica e que não conseguimos resolver sozinhos ocorrem aos montes. Vez ou outra cai bem consultar, pedir uma ajudinha de terceiros. Como o próprio Rônei disse em uma de suas crônicas, nos manicômios estão apenas alguns loucos, o grosso da tropa permanece nas ruas.
Muitos livros de autoajuda estampam fórmulas mágicas para resolvermos os nossos “poréns”. Alguns se valem da psicologia para falar o óbvio, e esse óbvio é o que geralmente necessitamos ouvir - ou ler. Através de metáforas simples, criando enredos fantásticos, por vezes, ou sendo diretos, os autores atingem-nos e fazem pensar, refletir. Essa pausa que fazemos para ler, aliado a palavras de conforto ou motivação, elevam a autoestima e despertam as vontades que hibernavam lá no fundo, no âmago de cada um.
Anos atrás, li os primeiros capítulos do livro “Seja feliz sem querer controlar tudo”, do Joe Caruso. O livro falava o que estava na cara: mesmo que tentemos controlar tudo a nossa volta, não conseguimos e nem conseguiremos. Se achamos que dominamos a situação, estamos redondamente enganados. Podemos controlar a nossa reação diante dos fatos, mas pouco podemos interferir nos fatos. Não adianta ficar remoendo capítulos desgostosos da nossa vida, nem reclamar de um fato já ocorrido.
Nada do que li era espetacularmente novo, mas era apresentado sob uma ótica diferente da que eu estava acostumado a observar. Que não adianta “chorar o leite derramado” eu já escuto desde criança. Mas inserir, efetivamente, este ditado e tantos outros na prática, na vida, são outros 500.
Da mesma forma que eu necessitava aquela vez ler o óbvio e descobrir algo novo no velho, tantas outras pessoas precisam ler “Quem mexeu no meu queijo”, “O monge e o executivo” e “Os segredos da mente milionária” para descobrir o elixir satisfação eterna. Quando o assunto fica mais grave, a opção é recorrer a psicólogos e psiquiatras. Só com a ajuda de pessoal especializado conseguiremos “descascar alguns abacaxis maiores”.
Com temática semelhante à do cronista uruguaianense, Moacyr Scliar escrevia para o Grupo RBS, afiliado à Globo, e tinha, dentre os seus espaços na mídia, uma coluna semanal no Jornal Zero Hora. Fizera medicina na UFRGS em 1962 -Universidade Federal do Rio Grande do Sul- e faleceu com 73 anos. Sempre abordava algum fato do cotidiano, tendo a medicina como fator de relação entre os assuntos.
Procuramos sempre palavras que nos confortem. Por vezes, um caderninho com frases para iniciar o dia lendo, refletindo e se motivando. Em outras, um livro devorado em horas, servindo como bálsamo. Mas nada melhor do que trocar meia dúzia de palavras com um amigo. E se nada disso resolver, resta procurar um especialista no assunto, que terá mais meios para orientar o caminho a ser percorrido.
Os livros são muito importantes na nossa formação permanente. Mas são apenas uma representação gráfica daquilo que pode ser dito com mais recursos -timbre de voz, emoção, gesticulação e entonação. Porque não crescemos sozinhos. Precisamos do outro para conversar, refletir, pensar, se emocionar, amar e ser amado.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Tá com pressa? Sai mais cedo

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 08 de março de 2011.

Um motorista para atrás de uma manifestação de ciclistas, acelera com o seu carro, atropela muitas pessoas e foge do local. Depois, diz à televisão que estava sendo ameaçado pelos ciclistas e que se sentia acuado, não tendo outra alternativa que não avançar contra a multidão. Justificando a sua fuga, argumentou que se ficasse no local, seria linchado. O fato ocorreu em Porto Alegre, no dia 25 de fevereiro, o carro era um Golf e o motorista que tentou assassinar os ciclistas chama-se Ricado José Neis.
A sua arrogância em tentar inverter as culpas e fazer dos ciclistas os vilões da história faz pensar que as pessoas, ainda, acreditam que desculpas de pré-escolares podem ser aceitas sem revolta. Não tem como engolir. A mentira é descabida e os vídeos gravados em celulares ilustram todo o desespero em que o Sr. Neis transformou aquele protesto.
Não é de hoje que é perigoso trafegar em vias próximas a Ricardo Neis. Ele já havia cometido outras infrações graves de trânsito. De acordo com o Jornal da Band de 1º de março, o Sr. Neis já fora flagrado andando na contramão e dirigindo com excesso de velocidade.
A Disney antecipou a história do Sr. Neis, chamando-o de Sr. Willer. No enredo, o motorista era um pacato cidadão chamado Sr. Walker que se transformava no temível motorista-assassino, Sr. Willer.
Desculpas desprovidas de qualquer coerência como a do Sr. Neis são encontradas de forma barata em nossa sociedade. Deputados e senadores argumentando que não recebem reajuste há anos e transformarem seus vencimentos em gordos 26 mil é tão surreal quanto as desculpas do motorista gaúcho.
A impunidade que esperamos não bater à porta de Ricardo Neis assombra-nos, atemoriza, pois é comum num país empanturrado de leis que não são cumpridas. Não vamos muito longe. No último novembro, no mesmo bairro de Porto Alegre, o Cidade-Baixa, uma juíza aposentada “furou” uma blitz e acidentou-se com outros sete veículos. E a pergunta que não quer calar: Vossa Excelência foi presa? De modo algum. Deu uma passeada na delegacia de polícia, recebeu sua CNH de volta sob a condição de comportar-se (lindo conselho!) e foi embora dormir, sossegada. Deveria ter sido presa, mas se negou a fazer o teste do bafômetro, e, mesmo andando cambaleante, o laudo médico da perícia conseguiu ser inconclusivo.
Não nos assustemos com o Sr. Neis. Muitos outros motoristas perigosos estão à solta nas ruas. Alguns já foram presos, outros multados, outros subornaram e alguns ainda não foram flagrados. Não é de hoje que ouvimos histórias de amigos que relatam que tiveram uma discussão “feia” no trânsito, ou que sabe de uma briga por vaga em estacionamento, ultrapassagem perigosa ou um bate-boca no semáforo.
Estamos inseridos numa cultura consumista, reprodutora dos prazeres e desejos norte-americanos. Lá no Hemisfério Norte, a palavra de ordem é comprar. Os carros necessitam ser grandes e potentes. Precisam ter um forte ronco do motor. Moto não é moto se for de baixa cilindrada. Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious) é sucesso lá e aqui. E é feio o motorista que dirige usando o cinto. Ou o motorista que não rebaixa o carro, não põe uma roda esportiva e que anda devagar.
Ao Sr. Ricado Neis, que parecia tão apressado no boliche humano e insensível por não parar, mesmo depois do atropelamento em massa, relembro uma frase de parachoque de caminhão que gosto muito: tá com pressa? Sai mais cedo!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DO TEMPO DO MIMEÓGRAFO

Você lembra daquela maquininha que de uma matriz com papel carbono faz surgir muitas cópias a medida que uma manivela é girada? Pois encontrei um exemplar desses, o mimeógrafo, no Museu das Comunicações de uma universidade que visitei. Estavam expostos diversos objetos utilizados no Século XX. Eram rádios gigantescos e nos mais diferentes formatos, televisores de imagem preto e branco, discos LP, os primeiros aparelhos de fax e de telefone que surgiram no mercado, máquinas de escrever e o dito mimeógrafo.
Ele é um artefato do passado, mas, infelizmente, também do presente. Não deveria mais ter lugar nas salas de aula, contudo, continua sobrevivendo como ferramenta em muitas escolas brasileiras. Tão triste quanto isto é constatar, também, que além de não nos desprendermos de objetos do passado, ignoramos as novas tecnologias. O computador, projetores de imagem, aparelhos de DVD e de som são mídias mais atualizadas, mas continuam sendo monstros para grande parte dos docentes. Assim como é retrógrado o uso do quadro-negro para transmitir toda a matéria à turma.
Não apenas em turmas de ensino fundamental e médio deparamo-nos com quadros cheios de conteúdo rabiscado. Não raro o mesmo ocorre nas salas de aula de ensino superior, seja nos cursos de formação de professores ou em outros. E esses mesmos professores ainda querem que seus alunos sejam dinâmicos em sala de aula, que utilizem toda a tecnologia disponível para facilitar a aprendizagem dos discentes. É muita hipocrisia. Ou falta de sensibilidade para não perceber a incoerência do discurso com a prática.
A lousa deve ser utilizada como um meio auxiliar, onde o docente aponta alguma observação que vá surgindo durante a aula. Se existem folhas e a máquina copiadora já foi inventada, por que não usar? Desse modo, ao invés de perder tempo transcrevendo as regras gramaticais para o caderno, o aluno poderá ler com a turma a matéria, realizar exercícios, fixar o conteúdo e unir o que assimilou com todo o conteúdo da disciplina.
A mera cópia para o caderno dos vocábulos escritos na lousa não ensina nada. Aí, abre-se margem para que surjam piadinhas nem tão distorcidas da realidade como a que diz que o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende.
Que atrativos terá uma aula com apenas caderno, caneta e um professor sentado falando, se o aluno chega em casa ou vai numa cyber, acessa o Orkut, conversa com outras pessoas pela rede, atende ao telefone, fotografa algo que acha interessante, filma alguém, envia um torpedo e escuta uma música do mp3 pelo fone de ouvido? Há muito mais dinâmica nas interações extra-escolares que dentro da sala de aula. Se o que ele faz na escola tiver relação com o que vive fora dela, a aula será atrativa.
Lógico, a teoria anda muito bem quando dissociada da prática. Pois pôr todo esse palavreado dentro da aula é uma tarefa árdua e que exige grande esforço do professor. Ele necessita estar atualizado com a evolução digital, com os fatos cotidianos e não pode esquecer de entrelaçar a essas mídias, as matérias inerentes à série.
Conforme reportagem da revista Nova Escola de janeiro/fevereiro de 2011, existem 67,5 milhões de pessoas com acesso à internet, incluído o uso em lan house e no trabalho. São 34,9% dos brasileiros. Temos computadores desktop (de mesa), notebooks, netbooks e tablets a nossa disposição. É uma infinidade de aparelhos que nos conectam à internet e com inúmeras funções. É uma realidade que não podemos ignorar. Mais que isso, devemos incluir no estudo. Utilizar a nosso favor as redes sociais como Orkut, Facebook, Badoo e os blogs e sites especializados em disciplinas curriculares.
Os computadores estão cada vez mais baratos e acessíveis. Urgem como necessários em sala de aula na construção do conhecimento do aluno. Aulas iguais às que nossos pais tiveram na infância e adolescência não são mais bem-vindas. Porque não há nada de atraente nelas. Enquanto o professor ficar escrevendo textos e textos no quadro ensandecidamente, seus alunos estarão ouvindo mp3, trocando torpedos ou tirando fotos com seus celulares. E aí, sim, faremos valer a triste máxima de que o professor faz de conta que ensina e os alunos fazem de conta que aprendem.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A garota do assento sanitário

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 13 de fevereiro de 2011.
Perguntei-me, há alguns dias, o que levaria uma empresa que vende assentos sanitários a colocar a imagem de uma mulher na embalagem do produto. Não fui só eu. Quem estava a minha volta questionava-se, também, quanto ao motivo. Estranhamente, aparecia escrito “assento sanitário plus – modelo universal”. Havia mais informações, inclusive: “material almofadado. Acesse nosso site www.nomedaempresa.ind.br". Tinha, também, o SAC, Serviço de Atendimento ao Cliente. Fiquei tentado a ligar para lá e indagar o motivo de uma mulher jovem, possivelmente antes dos 20 anos, loira, produzida um pouco no Photoshop (arrisco eu), aparecer na embalagem de algo que serve para as pessoas sentarem na hora de irem aos pés.

As cervejarias e outras que vendem produtos de baixo valor e grande vendagem utilizam uma técnica semelhante, onde associam os seus produtos a imagens de mulheres impecavelmente lindas de rosto e corpo, banhadas em pó, luzes e retoques digitais para deixar perfeitas todas as silhuetas dos seus corpos. E para que tudo isso? Pesquisas comprovam que no momento que um homem (o maior cliente quando se trata de cerveja, neste exemplo) vê a imagem de mulheres bonitas na televisão, tende a ser mais impulsivo. E como uma cerveja é relativamente barata e dá para comprar na esquina, esse impulso leva-o a comprar pelo menos um exemplar de cevada. Depois de fazer esta associação, constatei que os donos da empresa de assento sanitário devem ter pensado na pesquisa e tentado adequá-la ao produto que vendiam.

Ainda ilustrando essa situação, a Antarctica lançou a Juliana Paes tomando cerveja, o que inicialmente não tem nada a ver uma coisa com a outra. Mas criaram toda uma história para que houvesse relação. Dessa maneira, toda hora que a Juliana for vista, a mente vai remeter à cerveja e à vontade de beber.

Há pessoas que são assim. Você vê um eu que não é o verdadeiro. É apenas aquela imagem bonitinha, certinha e perfeita que é transmitida com o intuito de parecer ser alguém seguro de si, alguém que resolve todos os problemas num passe de mágica. Um super-herói. Mas descobrimos ainda na infância que superpoderes só existem na ficção. No entanto, continuamos acreditando que existem super-heróis na quadra ao lado. E tentamos, inutilmente, ser como aquele nosso farol, nosso deus particular. Fracassamos e jogamos a culpa em nós, que somos incompetentes. Ledo engano. A pessoa segura que vemos treme de medo ao sair de nossa visada. A pessoa a qual aspiramos ser chora deitada na cama. A pessoa que endeusamos clama por ser criança de vez em quando, ao aparecer um problema de difícil solução. Assim como nós, os reles mortais.

Mas, também, há outro motivo para ver uma garotinha bonita na tampa de um assento sanitário. Qual é a primeira coisa que uma mulher se preocupa quando entra numa casa? Se ela é higiênica. Em especial, se o banheiro é limpo. E nada mais íntimo que a tampa do vaso, o assento sanitário. Por isso a preocupação da empresa em associar a imagem de uma garota à “tampa injetada em polipropileno de alto brilho com base soprada com PEBD/EVA preenchida com espuma de poliuretano”. Ao olhar para a imagem da menina na capa do assento, a mulher tem a sensação de que a garota já o usou e o aprova. Isso quer dizer que é um produto higiênico, limpo, de qualidade, que pode ser comprado.

A aparência sempre foi protagonista. O conteúdo continua remando para assumir a relevância devida. Ser apenas um rostinho bonito pode abrir algumas portas, mas não dá a chave da casa. Para isto, o conteúdo se faz necessário. Não compensa ser o que não somos, porque um dia a máscara cai e o verdadeiro rosto, feinho, se descortina.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

VOCÊ FALA CORRETAMENTE?

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 06 Fev 2011
Essa língua portuguesa vem, cada vez mais, conspurcada... Deletou o texto? Printou o texto? A língua sendo engolida por essas coisas todas... pode ser um processo normal, pode ser um enriquecimento da língua, mas pode ser, também, às vezes, um desvio.
Pode ser um abuso, porque se você tem a palavra em português, por que não usá-la corretamente? Essa invasão da língua talvez seja não conhecer a língua e vai assimilando o que vem como vem.
Aí vem com a bandeira de libertário, de inovador. É um grande engano.
Por favor, não atirem pedras neste cronista. Apenas reproduzi a fala tosca do jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão, em entrevista ao professor Pasquale Cipro Neto, num DVD da TVEscola, promovido pela Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação. Na ocasião, o escritor comentava do grau de responsabilidade que possuía um cronista de jornal. Ele via o seu papel de comunicador como uma grande ferramenta na ajuda a lutar por uma língua mais pura, ou menos conspurcada, ou seja, menos suja, corrompida. Vernáculo este que poucas pessoas utilizam. Geralmente são do rol discursivo de teóricos, intelectuais, nas suas ânsias em demonstrar toda a gama de conhecimento que possuem. Não passa de erudição quadrada, arcaica, retrógrada, infeliz.
Pois esse purismo de Ignácio de Loyola está em todo canto, mascarado em forma de piadinha entre amigos, discriminação de alunos com outros. Os estudantes de escola rural que saem do seu lócus e buscam vida melhor na cidade encontram uma realidade cruel. São discriminados pela sua fala caipira, diferente da fala da elite. Das pessoas que acham que conseguem flexionar verbos e estruturar orações como se habitassem o mundo do Parnasianismo de Vaso Grego e Vaso Chinês, preocupados tão só com a estrutura, de discursos esvaziados.
Joga nesse time torto de puritanos, também, o integrante do programa CQC, Rafinha Bastos. Ele e Marcelo Mansfield analisaram, inoportunamente, a fala do casal Nardoni, numa entrevista do casal para o programa Fantástico, da Rede Globo. Sem a mínima sensibilidade com o tema e desprovidos de conhecimento da gramática, fizeram pouco caso da morte da menina Isabella e tentaram seguir a fórmula mágica do Ignácio de Loyola: falar corretamente e explicar como se faz isso. Mas o resultado foi trágico: demonstraram sua ignorância linguística, que não são pessoas sérias e que a fala coloquial sempre prevalece no discurso. Mesmo quando se tenta ostentar maior sapiência e termos arcaicos são buscados no dicionário apenas com essa finalidade, sempre escorregamos e não falamos o português formal (e irreal).
Em determinado momento, Rafinha critica a coerência da fala do casal e Marcelo complementa “verbo, objeto direto, sujeito oculto, não dá pra entender... ditongo crescente”. Tem frase mais mal estruturada que essa? Citar classes gramaticais, termos da oração, apenas, escancara o ridículo de suas falas. São críticas vazias, inconsistentes. Assim como os Nardoni, utilizaram uma variação não-padrão da língua.
Posicionamentos retrógrados como esses, de um escritor aclamado e de dois comunicadores de grande projeção no cenário nacional, remontam quase à Idade Média. Esse purismo que evidenciam surgiu na França, no longínquo Século XVII. A terra do perfume vivia um regime absolutista, centralizado na figura do rei, detentor de poderes inquestionáveis.
Nasceu com aquela aura e naquele solo, em 1585, Claude Favre, Barão de Pérouges, senhor de Vaugelas. Acreditava, à semelhança de nossos antagonistas, que a “boa linguagem” era a falada pelos aristocratas. A sua visão delimitava-se à condição de que, para falar francês corretamente, deveria-se ter como inspiração a parte mais sadia da Corte. Palavras de Marcos Bagno, professor sociolinguista, estudioso da nossa língua falada, no seu site: “Então, não basta ser nobre, não basta ser aristocrata, é preciso ser mais nobre que a nobreza, mais aristocrata que a aristocracia… O espírito de Vaugelas se incorpora hoje em muitos paspalhos e sacanas que andam por aí atacando as “impurezas” do português brasileiro”.
Paspalhos” como Rafinha e Marcelo Mansfield não deveriam palpitar em campos desconhecidos, deixando claro um posicionamento preconceituoso e inaceitável. Loyola deveria conhecer o profº Bagno. Ou, pelo menos, aprender que os abusos e desvios da língua aos quais ele se referiu, nada mais são que a evolução dinâmica da língua. De todas as línguas, não só a portuguesa. Assim como evoluímos e adaptamo-nos de acordo com o tempo, o que falamos também assume formas diferentes.

Vá mais fundo no assunto.
Assista ao vídeo

Leia sobre o profº Marcos Bagno em http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=420

domingo, 30 de janeiro de 2011

ENEM, ProUni e vestibulares pelo Brasil

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 30 de janeiro de 2011.


A busca por uma educação de qualidade perpassa mais acesso a escolas e universidades e à qualidade do ensino. Ao menos em um destes aspectos, estamos caminhando positivamente. Aumentamos, em 2009, o número de cursos de ensino superior. É uma vitória. Mas estudar em uma universidade ainda é privilégio de alguns e um sonho longínquo para a grande maioria.
No site da UOL, deste sábado, 29, a manchete “Número de cursos de graduação cresce 13% em um ano, mostra censo do MEC”, indica o aumento significativo da oferta de cursos de nível superior no Brasil em 2009, com relação a 2008. Tivemos um salto de 24,7 mil para 28,6 mil cursos. Alavancou este crescimento, a educação a distância, com aumento expressivo de 30,4% em relação ao total.
Essa explosão das instituições de educação a distância deve ser muito bem recebida. Porque, com preços mais acessíveis, uma enorme fatia da população brasileira pobre saiu da marginalização do ensino superior. Eram pessoas que não tinham condições de pagar uma universidade presencial, geralmente mais cara, nem cursinho para tentar o ingresso em universidades estaduais e federais. O que ocorria com elas? Não cursavam, nem acreditavam na possibilidade. Eram menores as perspectivas de se ter um futuro melhor.
Além das instituições de ensino não-presencial, o ProUni -Programa Universidade para Todos- também serviu de ferramenta de inclusão social. Este ano de 2011, atingiu assombrosos 1 milhão de inscritos. Foram ofertadas 123 mil vagas e 117,6 mil já foram completadas. Só tem direito à bolsa quem estudou em escola pública e possui renda familiar de até três salários mínimos. Além desse pré-requisito, o estudante necessita realizar o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e obter boa nota na prova. É uma iniciativa que surgiu em 2005 e desde então, começou a minimizar a elitização da educação superior.
Mas o problema está longe de ser resolvido. Na mesma reportagem da UOL, o presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior), Gabriel Mario Rodrigues, alertou para a concentração da procura por determinados cursos. Cerca de 90% daqueles que desejam ingressar no ensino superior procuram 20% dos cursos existentes. Consequentemente, algumas relações candidato/vaga beiram a proporção de um candidato por vaga; outros cursos 30, 50 por vaga.
Os vestibulares em instituições públicas são a prova cabal dessa disparidade. Duas das universidades mais conceituadas do Rio Grande do Sul demonstram claramente esta estatística. Para a vaga do curso de medicina, classicamente disputada, a UFRGS -Universidade Federal do Rio Grande do Sul- de Porto Alegre, contabiliza a relação candidato/vaga de 45,32 e a UFSM -Universidade Federal de Santa Maria- no coração do solo gaúcho, densidade absurda de 96,34. Na USP, Universidade de São Paulo, a relação oferta/procura do vestibular 2011 para medicina ficou em 67,7.
Não podemos olhar com indiferença ou acreditarmos que é normal tanta procura e tão poucas vagas. Por mais que a concorrência em outros concursos públicos beire números muito maiores, estamos falando de 11,8 mil candidatos em São Paulo, 5,3 mil em Santa Maria e 6,3 mil em Porto Alegre. A realidade dos vestibulares para direito, jornalismo, arquitetura e urbanismo, fisioterapia e odontologia não é menos preocupante.
Fatalmente, conseguirão a vaga aqueles candidatos mais bem preparados. E como se tornam melhor preparados? Através de uma educação básica de qualidade e de cursinhos pré-vestibular caros. Assim, as vagas mais cobiçadas acabam sendo supridas por estudantes de classe média-alta, jovens que, geralmente, nunca trabalharam.
O que resta a aqueles que necessitaram trabalhar desde novos para auxiliar no sustento da casa e que, já mais velhos, conseguiram uma brecha no orçamento para custear a universidade? A resposta retoma as conquistas recentes: as universidades de ensino a distância, mensalidades mais baixas, o ENEM e o ProUni.

domingo, 23 de janeiro de 2011

CORPOS NUS, TARAS E PRISÕES

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 23 de janeiro de 2011.

Ela endoideceu, tirou as roupas e saiu à rua. Caminhou menos de quadra e encontrou dois garotos, assustados agora, e começou a rebolar. Esfregou a bunda na cara do mais alto, na velocidade cinco e cantarolou algo que os dois não tiveram condições psicológicas de compreender no momento. Encontrou duas pequenas folhas soltas no chão, esvoaçadas da árvore que as repelira naquela manhã de outono. Por decoro, usou-as para tapar os bicos dos seios. Deixou ambos os jovens boquiabertos num canto da rua e prosseguiu seu desfile glamoroso pela avenida mais movimentada da cidade.
Duas velhinhas com sombrinhas bem coloridas protegendo-se do sol viram a Boazuda da Avenida de longe e começaram a aplaudi-la, ovacioná-la e a assoviar. Mas Claudino Torres, policial há dez anos, poderoso no seu traje cinza, recheado de divisas, brevês e pompas, cortou o barato das anciãs e da nossa protagonista. Prendeu a moça em flagrante delito. Tadinha da gostosona, presa por atentado ao pudor em pleno centro da capital. Que constrangimento o Estado a fazia passar...
Não muito longe dali, outra força policial moralizava a nossa sociedade purista. Era o senhor Arthur. Sim, nome de rei. E haveria de honrar o peso de tal nomenclatura cumprindo as determinações legais impostas pelas leis. Dois jovens de 30 e poucos anos haviam saído de uma balada e não detiveram a atração que lhes assombrava o corpo. Eram Valquíria e Pedro. Encostaram-se numa árvore, na área menos movimentada de uma das tantas praças da cidade, e começaram a fornicar. Primeiro uma mão aqui, outra ali, as duas lá. Abaixaram as calças e sem proteção alguma, no nível de preocupação zero, seguiram fazendo o que suas vontades pediam. Correndo, apareceu um guarda municipal, acompanhado do brigadiano que zelava pela área. Mais um atentado ao pudor... mais uma detenção. Observavam a conjunção carnal, de longe, um pai com o filho pequeno -que estava de costas e foi desconversado quanto aos acontecimentos, rapidamente e uma estudante, corada, que ia para a faculdade.
Chegou a noite, Arthur chegou em casa e ligou o DVD. Remake do carnaval 2010. Vamos ver as melhores cenas, as escolas de samba que desfilaram e o grande desfile da Unidos da Tijuca. O Sr. Torres deixou a esposa assistindo à novela das oito e foi com os amigos jogar futebol. A pelada levou-o a uma pelada, depois de umas cervejas ao término do jogo. Valquíria e Pedro pagaram fiança e dirigiram-se aos seus templos, quando chegou a noite. Cada um ao seu, dentro da sua fé. Ele era pastor de uma igreja pentecostal e ela, ministra de comunhão da católica.
Os dois policiais continuaram com o mesmo salário depois de cumprir sua missão constitucional. A estudante também não teve nem desconto de sua mensalidade na instituição de ensino, nem ganhou bolsa por presenciar o fato pornográfico. Mais que algumas explicações desencontradas ao filho curioso, foi a única coisa que o pai ganhou com toda a farândula ocorrida naquela manhã. Alguns jornais locais, todos pequenos, conseguiram extrair água de pedra e estamparam na capa uma foto amadora do casal. Meia dúzia de linhas explicativas, muitos adjetivos, dezenas de pontos de exclamação, centenas de suposições e uma porção de exemplares vendidos. Nada que movimentasse muito o bolso de seus donos. O canal de televisão não se prestou a noticiar. Cada segundo é valioso e sem vídeo sobre os fatos, a cara televisão não se importa em não relatar a seus telespectadores
Ninguém ganhou dinheiro com as mirabolantes cenas descritas aqui. Nem televisão, nem cervejarias, lojas, indústrias, nem ninguém. Tristemente, a Boazuda da Avenida fora vexatória, errada, imoral. Ela e o Casal Sexual. No contexto apresentado, sim, é inaceitável que façam o que fizeram. Mas se a Boazuda da Avenida passeasse pelas ruas com os seios pintados de carnaval com Brahma, não seria presa. Pelo contrário, receberia os aplausos que as velhinhas ousaram presentear-lhe. O Casal Sexual jamais seria preso se estivesse num estúdio, com luzes, diretores, atores, grifes e aparecessem na telinha, enchendo os bolsos dos acionários.
Quando dólares, pesos, guaranis, reais, euros, ienes e yuans estão envolvidos, relativiza-se tudo. Posso caminhar pelado no meio de uma multidão, mas não sozinho nas ruas. Posso transar na televisão e crianças, adultos, vovós, intelectuais... geral achará normal. Que coisa linda, família inteira descontraindo-se, comemorando o desfecho lindo da novela das oito. A santinha consegue ficar com o bad boy, os dois se beijam, vão para a cama e transam. Sem preservativo, nem DST ou fetos...
Mas há um jovem na família que não gosta de novela. É o Ruy. Novela é coisa de mulher... então, entra no seu quarto, fecha a porta, dá uma olhada e suspira para a playmate estampada e deita na cama. Estica os braços e liga o som, faixa 12. Toca velocidade um. Velocidade dois. Velocidade três. Velocidade quatro. E, finalmente, velocidade cinco. Não se aguenta e liga o PC. Acessa a internet, liga o MSN e lava os olhos nas diversas velocidades à disposição na rede, que vão da cinco à 69.
Condenamos o Sr. Torres? O jovem Ruy? A Valquíria? Chega de hipocrisia. Condenável é esbravejar, discursar sobre todos esses moralismos e chegar em casa e desmoralizar-se. É ouvir profanações, condenações, moralismos, vibrar com a derrocada dos traficantes do Complexo do Alemão e desejar que sejam, finalmente!, presos, e puxar um baseado na Zona Sul. Libertinagens, traições e sem-vergonhices, sempre ocorreram. Tapar esse sol forte com peneira, também. Mas se somos humanos e temos a capacidade de evoluir, talvez consigamos parar de falar mal de quem faz o mesmo que nós.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Adeus ano velho

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 02 de janeiro de 2011.
Vai entrando o novo ano, indo embora o velho, família reunida, ou amigos reunidos, ou sozinho mesmo. Toca a musiquinha adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer. Um misto de alegria com expectativa pelos próximos 365 dias de trabalho, amor e problemas a serem resolvidos acompanha o jingle. Não dá pra dizer que não ocorra nostalgia. É uma época propícia à reflexão, a uma retrospectiva interna. Muita gente chora ao lembrar de fatos, outras riem. Alguns agradecem os momentos passados, muitos ficam aliviados pelo final do ciclo, pelo final do ano.

Realmente, foi uma ideia sensacional dividir o tempo em anos, os anos em meses, estes em dias, os dias em horas, elas em minutos e os minutos em segundos. Logo após a meia-noite nada se transforma, os planetas não se alinham, as águas do oceano não sobem, o vento não aumenta, os peixes não passam a voar. Apenas a nossa percepção das coisas muda. É como se colocássemos uma pedra nos dias que passaram sob a alcunha de 2010 e renovássemos as vontades, os planos. Repetiremos o que fizemos em 2010. Com algumas diferenças, é claro, mas o ciclo se renova, prossegue.

Ao mesmo tempo que muita gente faz festa à beira-mar, cantando, bebendo, dançando, assistindo a shows, alguns preferem programas mais calmos, caseiros, mais centrados. À frente de casa tenho um exemplo. Uma igreja ficou aberta e fiéis rezaram desde cedo e seguiram até a virada.

Outras pessoas trabalham no dia 31. Estão uniformizadas ou mesmo vestidas informalmente. De um jeito ou de outro, o certo é que estão com os olhos, a boca, o corpo e parte do pensamento no ofício. O outro hemistíquio da mente está em casa, na esposa, nos filhos, nos amigos, na festa que está perdendo. Em 2005 para 2006 eu estava assim. Não é uma experiência das mais agradáveis. E por fim, temos aquela classe de pessoas que passa a mudança de ano sozinhas, com a televisão ligada, assistindo ao Show da Virada na Globo, algum outro programa ou mesmo um filme. Não considero a maneira mais interessante de trocar de ano, mas cada um comemora (ou não) da sua maneira. Ruim mesmo é estar num hospital comemorando. Estar doente não é nada agradável. Alguns anos antes, meu avô passou mal e fez a festa da virada com meus pais e minha irmã juntos, no hospital. De certa maneira foi bom, pois o problema que teve foi muito sério e poderiam ter ocorrido complicações maiores. Hoje está melhor, graças a Deus.

Mas não é para todos que o ano termina bem ou que inicia de pé direito. Com o aumento de bebuns nesse clima de festa, aumentam os acidentes de trânsito, crescem as mortes, derrama-se sangue no trânsito caótico e perigoso em que vivemos. Ao sair de casa é necessária muita atenção. Atenção além da conta. Para que iniciemos bem o novo ano e não terminemos nossa vida quando o ano recém está surgindo.

Ano novo e educação velha

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 09 de janeiro de 2011.
O Brasil está num momento de euforia econômica, de lindos índices. A pobreza diminui progressivamente e a tendência é que caia ritmadamente. Mas a educação... a filha problemática do Governo, continua cambaleante. Anda como uma filha pequena, mal-amada pelos pais, maltratada e escanteada do contexto familiar. É o que esclareceu a revista ISTOÉ Independente, de 10 de dezembro de 2010, com a reportagem “A chaga da educação”, denunciando o que todos sabem ou já perceberam: a leitura no nosso país é fraca e os cálculos matemáticos andam de mal a pior.

Essa sentença é ilustrada pela realização, entre os dias 18 e 29 de agosto do ano passado nas cinco regiões brasileiras, a prova do Pisa (O Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Aplicada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o exame colocou-nos no vergonhoso 53º lugar dentre 65 países analisados. Foram avaliados conhecimentos em matemática, leitura e ciências.

Esteve na contramão dessa realidade educacional, a posse de Dilma no dia 1º de janeiro. Envolta aos números positivos da diminuição da pobreza absoluta no Brasil e a índices econômicos favoráveis que nos colocam como possível 5ª economia mundial dentro de alguns anos, não parece que estamos no mesmo país de 14 milhões de analfabetos e 15,6 milhões de analfabetos funcionais, conforme estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 09 de dezembro de 2010.

No discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff ressaltou que junto com a erradiação da miséria, seu governo lutará pela qualidade da educação, saúde e segurança. São estes os três pilares da sociedade, onde a luta pela excelência deveria ser, há muito, ponto de honra. Mas jamais foi.

Nunca se falou tanto na importância da educação para o desenvolvimento do país. Contudo, as ações continuam estanques, nulas. Na edição de 31 de dezembro de 2010 do Jornal Zero Hora (Rio Grande do Sul), o artigo de opinião “As emoções fraudadas”, do professor universitário e membro da Academia Nacional de Medicina, José Camargo, alertou para os impulsos de euforia da economia brasileira contrapostos com os nossos índices vergonhosos de analfabetismo e semianalfabetismo. Como máxima em seu texto, disse o seguinte: “Nenhum país fez, ou fará, a escalada rumo ao desenvolvimento verdadeiro sem educação!”

Na mesma edição, a jornalista Rosane de Oliveira publicou na sua coluna que é a vez de Dilma ascender com luz própria no cenário político, depois de crescer sob a sombra do popularíssimo Lula. Dentre os pontos destacados que urgem como necessários para tratamento pela presidente, foi “...o desafio de acabar com o analfabetismo, melhorar a qualidade da educação e aumentar o tempo de permanência na escola. A história lhe cobrará caro -de Dilma- se negligenciar a educação”.

Todos pela educação. Ela é importante. E as palavras sobre os benefícios do ensino são empolgantes. Mas precisamos mais que frases bonitas, iniciando pelo salário dos professores. Dentre as profissões de ensino superior, a licenciatura figura como a irmã pobre. A revolução do ensino perpassa um salário digno aos professores.
Ainda, há muitas escolas sucateadas e a tecnologia, amplamente utilizada pelos estudantes em casa e na rua, ainda é um dragão assombroso nas escolas. É incipiente e necessita galgar largos passos para que seja inserida nas aulas, tornando-as mais atraentes aos discentes.

No Planalto, Dilma não deve esquecer-se de nossos estudantes. Não pode ignorar as crianças, porque serão elas que definirão o futuro, presidirão empresas, escolherão governantes nas eleições, serão a população economicamente ativa. E só seremos um país de iguais oportunidades se, hoje, todos os estudantes tiverem um ensino de qualidade. Caso contrário, continuaremos com a vergonhosa realidade educacional que presenciamos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

NÃO ME JULGUES COMO OS JULGAM

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 28 Nov 2010
Sábado, 20 de novembro: “Juíza aposentada ignora blitz e provoca acidente com sete veículos em Porto Alegre” (Folha de São Paulo). A representação máxima da lei descumprindo a própria lei. A infratora: Rosmari Girardi, de 53 anos, ex-juíza em Uruguaiana-RS.

Contrapõe-se a este lamentável episódio urbano, a perda da carteira de habilitação de um garoto de seis anos. Ele comportou-se mal durante a aula e teve a carteirinha recolhida pela professora, que a fizera durante um projeto sobre trânsito na sua turma.

Comentei com essa professora, minha amiga, que leciona em uma escola de Educação Infantil de Uruguaiana, sobre o episódio da juíza-transgressora. Na mesma hora, ela contou-me sobre o projeto que realizou com seus alunos e citou-me este fato que veio na contramão do ocorrido em Porto Alegre. O projeto sobre trânsito foi desenvolvido com seus alunos de seis anos da pré-escola. Com o nome de “As rodinhas que fazem girar o mundo”, ela trabalhou a educação para o trânsito e valores que as crianças necessitam desenvolver nessa idade. Cada pequeno recebeu uma Carteira Nacional de Habilitação personalizada com o seu nome e desenhou nela seu rosto e assinou. Desde então, cada aluno poderia conduzir a bicicleta que estava pintada na carteirinha. A cada má atitude em sala de aula, os novos condutores perdiam um ponto na carteira. Somando-se cinco pontos, ela seria recolhida, ficando impossibilitados de andar de bicicleta. Um dos garotos acabou perdendo essa carteira, chorou e contou à mãe. Esta, felizmente entendeu a proposta da atividade e disse ao filho que ele não poderia mais pedalar porque não se agira bem em aula. Ele chorou novamente. Mais tarde, acabou recebendo de volta a sua CNH sob a condição de comportar-se a partir de então.

Essa valorização do direito de dirigir faltou à juíza aposentada, que possuía sinais de embriaguez. Tinha aspecto sonolento, falta de equilíbrio e fala arrastada. Depois de duas horas após o início do inconveniente acidente, pôde dormir sossegada em casa. Mas quem não deve, não teme: negou-se a fazer o teste do bafômetro e as coletas de urina e de sangue. É difícil acreditar que não estava alcoolizada. De acordo com a delegada Clarissa Rodrigues, delegada responsável pelo caso, a magistrada mal conseguia ficar em pé, articulava mal as palavras e apresentava hálito de quem havia consumido bebida alcoólica.

O Código de Trânsito Brasileiro fala com clareza quanto a dirigir sob influência de álcool em dois artigos. O artigo nº 165, que define como infração gravíssima dirigir sob influência de álcool em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, penalizando com multa, suspensão do direito de dirigir, retenção do veículo e recolhimento da habilitação. E o artigo nº 277, que diz que todo condutor envolvido em acidente de trânsito, sob suspeita de haver excedido aquele mesmo limite de seis decigramas, deverá ser submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que permita certificar o seu estado.

Ainda assim, o laudo da perícia conseguiu ser INCONCLUSIVO. É, em letras garrafais. Será que o mesmo ocorreria com um pedreiro, professor, arquiteto ou jornalista?

A fé na isonomia das instituições toma mais uma chibatada e enfraquece a credibilidade já debilitada. De acordo com a mesma delegada que confirmou os indícios de alcoolismo da juíza aposentada, não houve materialidade, ou seja, prova de que dirigia embriagada. Portanto, a transgressora não responderá por embriaguez no trânsito. As responsabilidades penais dizem respeito, somente, aos danos materiais causados aos proprietários dos veículos acidentados.

Menos de uma semana antes, no dia 14 de novembro, a Zero Hora havia publicado uma reportagem de capa mostrando o trauma de famílias que tiveram um dos familiares mortos em acidentes de trânsito. Algumas pessoas mantêm-se insensíveis a essa realidade. O desenho da Disney com o Pateta representado pelo pacato pedestre senhor Walker e pelo transtornado motorista senhor Willer, figura-se como um retrato semelhante à autoridade justa dos tribunais e à motorista destrambelhada da madrugada porto-alegrense.

Nunca é tarde para que aprendamos. Se essa cidadã, que deveria ser um exemplo de motorista ao guiar o seu veículo, frequentasse as aulas de reciclagem dos Centros de Formação de Condutores, quem sabe aprendesse que beber e dirigir não combina. Ou se ainda morasse em Uruguaiana e participasse das aulas daquela turma da pré-escola, talvez valorizasse mais o direito de dirigir, assim como o aluno-transgressor. Ela tem idade para ser avó do menino, mas é ele quem poderia ensiná-la, pelo exemplo, como valorizar a sua CNH.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

LOBATO, O ALGOZ DOS NEGROS

O replay de incompetências que acometeram os responsáveis pelo ENEM e uma denúncia descabida de um mestrando em Educação que deveria ter permanecido estudando ao invés de promover besteiras como a de que Caçadas de Pedrinho “não se coaduna com as políticas públicas para uma educação antirracista”, mantêm o ensino brasileiro em voga nas rodas de conversa. Acreditava que depois do fim das campanhas políticas e das promessas duvidosas com relação ao futuro da educação em nível nacional, livros, professores, escolas e alunos seriam esquecidos no fundo da gaveta dos pensamentos de políticos e da mídia. Não foi isso o que ocorreu, mas infelizmente os motivos não são os melhores.
A democracia permite posicionamentos toscos como este. Mas o debate é válido. Apesar de não ter encontrado nenhum literato que se alinhe às ideias simplistas do Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, o denunciante ao CNE, nossa literatura nacional sairá vitoriosa após o enfrentamento de ideias que a desastrosa iniciativa gerou. Todos querem dar pitaco se Monteiro Lobato foi preconceituoso ou não, se ele deve ser visto a partir de agora como um escritor discriminador, se a sua produção literária deve receber um carimbo de “radioativo” na capa ou se deve passar pelo aceite do DOPS. No final dessa história, estaremos mais maduros com relação ao assunto. Espera-se.
Concordo de que haja preconceito em algumas passagens da obra de Lobato: “É uma guerra das boas. Não vai escapar ninguém – nem Tia Anastácia, que tem carne preta. As onças estão preparando as goelas para devorar todos os bípedes do sítio, exceto os de pena. […] Tia Anastácia trepou na árvore que nem macaca de carvão.” Assim como incita à caçada de animais silvestres. Não existia, à época da publicação da obra, uma lei que regulasse a caçada a animais. Da mesma forma, nos idos anos de 1924, quando foi publicada “A caçada da onça” que atualmente tem o título de “Caçadas de Pedrinho”, a escravidão ainda era viva na memória dos brasileiros e o negro recém começava a sua luta por um lugar ao sol dentro da sociedade.
Se havia preconceito racial em algumas passagens, em contrapartida, Lobato defendia os negros em outras. E assim como ele, muitos outros escritores, de renome mundial, também foram preconceituosos e nem por isso perderam o seu valor literário. Mark Twain, escritor norteamericano e criador de “Tom Sawyer” e “As aventuras de Huckleberry Finn”, também não era politicamente correto. E nem por isso suas obras saíram das bibliotecas e foram postas em praça pública para serem queimadas numa fogueira junto a bruxas. Há que se perceber e refletir sobre o preconceito nos seus escritos, mas não censurar.
Se o que é ético modifica de acordo com o passar dos anos com a evolução da sociedade e a alteração dos valores, da mesma forma o que é legal e ilegal, o correto e o errado também evoluem dialogicamente. Fato este que o Sr. Antônio Gomes da Costa Neto não levou em consideração. Nem ele, muito menos todos os conselheiros da Câmara de Educação Básica do CNE.
Ocorre que tudo o que é escrito e falado deve ser interpretado com senso crítico. As notícias em jornais, uma novidade contada pelo amigo, reportagens em revistas especializadas e os inflamados sermões de políticos, necessitam serem lidos e escutados com cautela e ponderação.
E o professor é formado para tal, de maneira que perceba essas visões distorcidas da realidade e, junto com a turma, reflita sobre a visão de mundo que o escritor tinha em dado período histórico e como a sociedade evoluiu de lá para cá.
Apenas censurar é um retrocesso. Saímos de um regime ditatorial e não queremos voltar. Mas não nos importamos em sermos ditadores da livre expressão de um escritor que expôs suas ideias quase cem anos atrás. Ou por acaso Monteiro Lobato deveria pensar um século à frente da sua sociedade e projetar em sua mente um mundo menos desigual, onde as Universidades destinam cotas a afro-descendentes, perpetuando o preconceito?
Lamento muito não estarmos discutindo melhorias para a educação básica, principalmente. Não debatermos os números modestos do desempenho dos nossos alunos, nem o salário dos professores, o sucateamento das escolas ou o obsoleto em que se tornaram as matérias escolares. Essa aparição desastrosa do Sr. Antônio Gomes parece-me mais uma necessidade de se tornar conhecido. Se foi isso, ele conseguiu. O seu lema “falem mal ou falem bem, mas falem de mim” foi uma estratégia chula, mas que infelizmente deu certo.

2012 - o fim do mundo (assistir ao filme)




Tenho postado todas as minhas crônicas, contos e poesias neste blog, fazendo deste endereço testemunha de toda a minha produção literária. Pobre blog, recebe cada postagem... mas que eu gosto e espero que vocês gostem.
Contudo, tenho sido muito impessoal, apenas postando as crônicas, sem falar sobre o que penso sem que haja, necessariamente, o formato de crônica, conto, poesia, ensaio, dissertação ou qualquer gênero textual.
Pois aproveito, agora, para expressar-me.
E sobre um filme 'cachorro' ao qual assisti: 2012.
Não vou gastar muitas linhas falando mal sobre ele porque os milhões gastos em produção e divulgação se Fquer merecem mais que uma. Faz tempo que foi lançado e até então, não havia olhado. Felizmente. Porque o fraco pseudorremake de 'Inferno de Dante' e 'Vulcano' é muito tosco. Bandeira americana aparecendo, bonzinho que se salva, família que se une, uma dos vilões da história morre, seus filhos tornam-se bons, tudo dá mais certo que numa livre imaginação, piloto de avião altamente competente sem nunca ter voado e efeitos visuais que não coonvencem meu vizinho de 5 anos.
Engraçado como o mundo acabava e as pessoas continuavam a respeitar hierarquias e leis e não se desesperavam...
Barbaridades que me fazem crer que diretor, roteirista e todos os demais produtores são altamente incompetentes em criar uma história decente, mas exímios publicitários.
Mas como melancia oca só se compra uma vez, não pretendo assisti-lo uma segunda vez.

domingo, 7 de novembro de 2010

COMO NOSSOS JOVENS ESTÃO MUDADOS...


Publicado no Jornal da Cidade Online, em 07 Nov 2010

Vejamos três situações. Qual delas parece mais absurda? Um grupo de crianças de oito anos vendo um filme pornô, esse mesmo grupo assistindo a Passione ou sentados, após o horário escolar, lendo um livro? Sem sombra de dúvida, a alternativa “C” deve ser marcada. As crianças de hoje não são mais como antigamente. Tudo começava mais tarde, as pessoas eram mais inocentes, havia menos perigo em andar na rua, corria-se menos, as crianças respeitavam mais os pais, os alunos eram mais atentos em sala de aula. Não havia criança que dormisse na escola, todas as relações eram reais e não virtuais, os valores eram respeitados, palavra de pai era obedecida de olhos fechados e havia menos corrupção. Realmente, o mundo está perdido. Assim como está escondida em algum lugar, perto de onde Judas perdeu as botas, a noção de que as crianças de hoje são nada mais, nada menos, que o puro reflexo da incompetência dos adultos, da banalização de tudo promovida pelos seus pais, tios e avós.
É ilusão pensar que 20, 30 anos atrás, o mundo todo era um mar de inocência. Não era e nunca foi. Na Idade Média, nobres traíam suas esposas com escravas e muito antes disso, todo o tipo de pornografia ocorria nos bastidores da sociedade. Originalmente, o Brasil foi formado por três raças, o branco-lusitano, o negro-escravo da África e o índio-primeiro habitante usado e abusado. Os portugueses que se adonaram de Pindorama/Ilha de Vera Cruz, estupraram escravas e índias, miscigenando os três povos. Essas barbaridades eram comuns pela falta de leis na colônia portuguesa ou porque era a própria lei que cometia os males. No início do século XX as aparências também eram um fator de ascensão social. E de que forma eram feitas as sacanagens? Às escondidas. Ocorriam, mas todos faziam que não existiam. Fomos tornando-nos cada vez mais próximos do que é humano, decente e ainda achamos que no passado tudo era mais casto.
Sim, é verdade que quando eu era um simples estudante da 1ª série do Ensino Fundamental (e isso não faz tanto tempo assim), a Globo e SBT, únicas emissoras que o canal aberto transmitia lá em casa, os desenhos animados eram os perdidos num mundo paralelo em Caverna do Dragão, o ecológico Capitão Planeta, Ursinhos Carinhosos, TV Colosso e Muppet Babies. Antes disso tinha o Sítio do Pica Pau Amarelo e antes ainda, clássicos da literatura infantil narrados nas rádios.
As apresentadoras usavam macacão e o máximo que víamos das suas carnes eram os braços, as canelas e os lindos rostos. Assistíamos aquilo o que os adultos da época preparavam para nós. Que eu saiba, nenhuma criança era dona de emissora de televisão, nem tinha poder de decidir o figurino dos apresentadores, o que falariam, muito menos o que seria transmitido.
As crianças que assistem, atualmente, aos programas de televisão, olham aquilo que os mesmos adultos de antes e outros que cresceram, programam. E são esses adultos que criaram e promoveram o surgimento do show de nádegas da Mulher Melancia e tantas outras frutas cheias de carne por fora e ocas por dentro. É óbvio que todo esse sexo exposto não foi parar apenas nos olhos e ouvidos dos adultos, mas também das crianças que sentam na sala e assistem junto aos pais Passione e Ti-ti-ti e veem seus atores trocando carícias, falando de sexo, tirando as roupas e simulando a conjunção carnal.
E são esses adultos que criam séries de grande audiência como Malhação, onde os personagens passam de bandidos de último caráter a bonzinhos-heróis num passe de mágica. Parece fácil ser bonito, popular, inteligente e sempre saudável como o elenco representa. Assim como “Rebelde”, que talvez tenha surgido com a ideia de mostrar o lado rebelde dos adolescentes, mas as ninfetas “rebeldes” ficaram mais semelhantes às sexy atrizes de Garotas Selvagens.
Que os adolescentes de hoje estão mais precoces que os de ontem, isto é verdade. Que as crianças de hoje são mais informadas e têm as etapas de seu desenvolvimento aceleradas em relação a ontem, também é verdadeiro. E que o computador e sua infinidade de opções benignas e maléficas, os programas-lixo da televisão, as músicas que fazem apologia ao sexo, drogas e dinheiro fácil são grandes mecanismos de destruição do senso crítico das crianças, não se discute. Mas não é apenas a mídia a responsável por todas essas mudanças. Os pais, principais gestores do caráter e da personalidade dos seus filhos, não vêm fazendo o seu papel. Aí, o que acontece? As crianças, oriundas de famílias desestruturadas (não só pobres, porque rico também é negligente, acredite!), são jogadas nas escolas e todos os seus complexos e problemas de relacionamento passam a encontrar apenas no professor a esperança de que alguma coisa seja feita.
É fácil culpar as crianças quando elas não têm a complexidade cognitiva para entrar no debate de igual para igual. Eximir-se da culpa é muito mais cômodo, enquanto os pequenos (que nunca foram inocentes) apenas escutam o que os adultos falam, olham o que os adultos preparam a elas e acessam o que seus pais, vizinhos e os outros maiores de 18 promovem na grande rede. Que não temos mais adolescentes, nem crianças como antes, não temos. Assim como sempre se evoluiu com o passar dos anos. Mas se as crianças e adolescentes são mais precoces e vazias que antes, é por culpa dos adultos de hoje, que estão banalizando e coisificando relações, sentimentos e pessoas.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Encontro de escritores em Gobernador Virasoro - Argentina

"III Encuentro de Escritores del Mercosur y IV Encuentro Psiques", ocorrido na cidade argentina de Gobernador Virasoro, província de Corrientes.


Mural do encontro, onde foram realizadas as palestras


Brincadeira realizada em momento de integração com a pátria-irmã
Apresentação de alunos de escola de educação especial de Virasoro
 

Divulgando o Letras Santiaguenses aos hermanos
 
Comitiva que representou o Brasil no Encontro
Dia 29 é dia de "ñoqui" na Argentina
Uma Stella Artois depois do encontro cai bem, não é?


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

POR UM RIO GRANDE MELHOR EM 2020



Publicado no O Jornal de Uruguaiana em 27 out 2010


Para crescer profissionalmente, você toparia estudar de madrugada? Pois tem gente que encara o desafio e estuda. É o que relatou a reportagem da Revista Veja Online do dia 10 de outubro. Com a manchete “Brasileiro faz curso até de madrugada para subir na vida”, a equipe de reportagem ilustrou a solução que muitas pessoas vêm encontrando no intuito de melhorar de emprego e salário. A eleição ao governo do estado já está definida e à presidência encaminha-se para o final. Governador e presidente eleitos terão uma difícil missão a cumprir dentro da área educacional: resgatar a dignidade de professores e alunos.
O Centro Universitário UniÍtalo, de São Paulo, adotou um quarto turno de aulas: das 23 horas à 1:45h. Dessa forma, atingiu um nicho de trabalhadores que não teria outro horário para estudar. São menos horas de sono, descanso e lazer. Mas o planejamento a médio prazo carrega a esperança de melhor emprego, remuneração e condições mais dignas de vida.
Procurando soluções menos drásticas que a encontrada pelo UniÍtalo e que possam servir de propostas palpáveis aos futuros governantes, no ano de 2006 foi criada a Agenda 2020 no Rio Grande do Sul (http://www.agenda2020.org.br/). É uma parceria entre governo, ONGs, universidades, demais instituições e empresários. São debatidos os problemas de áreas básicas como educação e saúde, além de outras nove (desenvolvimento de mercado, desenvolvimento regional, inovação e tecnologia, gestão pública, cidadania e responsabilidade social, infraestrutura, ambiente institucional, meio ambiente e disponibilização de recursos financeiros). Assim, objetiva-se tornar o nosso estado um lugar melhor para viver e trabalhar até o ano de 2020.
Foram elencadas algumas propostas para sanar as deficiências no ensino gaúcho: ampliação de escolas em tempo integral, investimento na qualificação dos professores, implementação de um modelo de educação de qualidade e ampliação do ensino profissionalizante. Mas alguns entraves são vislumbrados: a inflexibilidade orçamentária do governo, a desatualização do plano de carreira do magistério e o crônico problema de negociação entre governo, magistério e sociedade.
Para termos uma noção de como andam os nossos alunos, vejamos a seguinte situação: a taxa de aprovação no ensino fundamental na rede pública estadual em 2008 no estado atinge o patamar de 80,8%, enquanto no Brasil o índice é de 82,3%. Já nas escolas particulares, esse número sobe para 96,3% no Rio Grande do Sul e 96,4% em nível nacional.
Ainda, conforme estudos realizados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pela UFF (Universidade Federal Fluminense), cada ano a mais de escolaridade da força de trabalho faz aumentar em até 20% a renda per capita. Comparando com nossos vizinhos, a escolaridade dos brasileiros, média de 4,7 anos de estudo no Brasil e 6,4 anos no Rio Grande do Sul, está muito aquém da Argentina (8,5 anos), Chile (11 anos), Peru e Uruguai (7,3 anos).
Lógico que apenas índices de aprovação e escolaridade não servem, unicamente, como radiografia da educação. Há que se investigar com que qualidade esses alunos avançam de série. E a resposta não cabe em meia dúzia de parágrafos. Esses indicadores de aprovação alarmam-nos quanto à disparidade existente entre escolas públicas e privadas e a escolaridade faz-nos questionar o porquê de países mais pobres que o nosso terem mais sucesso no acesso à Educação Básica. Proativamente, a Agenda 2020 concretiza-se como uma importante ferramenta para os governos que assumirão o comando da nação em 2011 definirem os rumos de seus esforços na área e para a sociedade apoiar-se e reivindicar as soluções que são propostas.

Protegido