domingo, 9 de janeiro de 2011

Ano novo e educação velha

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 09 de janeiro de 2011.
O Brasil está num momento de euforia econômica, de lindos índices. A pobreza diminui progressivamente e a tendência é que caia ritmadamente. Mas a educação... a filha problemática do Governo, continua cambaleante. Anda como uma filha pequena, mal-amada pelos pais, maltratada e escanteada do contexto familiar. É o que esclareceu a revista ISTOÉ Independente, de 10 de dezembro de 2010, com a reportagem “A chaga da educação”, denunciando o que todos sabem ou já perceberam: a leitura no nosso país é fraca e os cálculos matemáticos andam de mal a pior.

Essa sentença é ilustrada pela realização, entre os dias 18 e 29 de agosto do ano passado nas cinco regiões brasileiras, a prova do Pisa (O Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Aplicada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o exame colocou-nos no vergonhoso 53º lugar dentre 65 países analisados. Foram avaliados conhecimentos em matemática, leitura e ciências.

Esteve na contramão dessa realidade educacional, a posse de Dilma no dia 1º de janeiro. Envolta aos números positivos da diminuição da pobreza absoluta no Brasil e a índices econômicos favoráveis que nos colocam como possível 5ª economia mundial dentro de alguns anos, não parece que estamos no mesmo país de 14 milhões de analfabetos e 15,6 milhões de analfabetos funcionais, conforme estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 09 de dezembro de 2010.

No discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff ressaltou que junto com a erradiação da miséria, seu governo lutará pela qualidade da educação, saúde e segurança. São estes os três pilares da sociedade, onde a luta pela excelência deveria ser, há muito, ponto de honra. Mas jamais foi.

Nunca se falou tanto na importância da educação para o desenvolvimento do país. Contudo, as ações continuam estanques, nulas. Na edição de 31 de dezembro de 2010 do Jornal Zero Hora (Rio Grande do Sul), o artigo de opinião “As emoções fraudadas”, do professor universitário e membro da Academia Nacional de Medicina, José Camargo, alertou para os impulsos de euforia da economia brasileira contrapostos com os nossos índices vergonhosos de analfabetismo e semianalfabetismo. Como máxima em seu texto, disse o seguinte: “Nenhum país fez, ou fará, a escalada rumo ao desenvolvimento verdadeiro sem educação!”

Na mesma edição, a jornalista Rosane de Oliveira publicou na sua coluna que é a vez de Dilma ascender com luz própria no cenário político, depois de crescer sob a sombra do popularíssimo Lula. Dentre os pontos destacados que urgem como necessários para tratamento pela presidente, foi “...o desafio de acabar com o analfabetismo, melhorar a qualidade da educação e aumentar o tempo de permanência na escola. A história lhe cobrará caro -de Dilma- se negligenciar a educação”.

Todos pela educação. Ela é importante. E as palavras sobre os benefícios do ensino são empolgantes. Mas precisamos mais que frases bonitas, iniciando pelo salário dos professores. Dentre as profissões de ensino superior, a licenciatura figura como a irmã pobre. A revolução do ensino perpassa um salário digno aos professores.
Ainda, há muitas escolas sucateadas e a tecnologia, amplamente utilizada pelos estudantes em casa e na rua, ainda é um dragão assombroso nas escolas. É incipiente e necessita galgar largos passos para que seja inserida nas aulas, tornando-as mais atraentes aos discentes.

No Planalto, Dilma não deve esquecer-se de nossos estudantes. Não pode ignorar as crianças, porque serão elas que definirão o futuro, presidirão empresas, escolherão governantes nas eleições, serão a população economicamente ativa. E só seremos um país de iguais oportunidades se, hoje, todos os estudantes tiverem um ensino de qualidade. Caso contrário, continuaremos com a vergonhosa realidade educacional que presenciamos.

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