terça-feira, 12 de outubro de 2010

ÁGUAS TERMAIS

Menção Honrosa no 27º Concurso Literário Yoshio Takemoto
Publicado no jornal Letras Santiaguenses de set/out 2010

Eram vinte e três horas, ventava. O ginásio onde ficava a piscina térmica estava vazio, com apenas uma luz fraca iluminando um pequeno banheiro ao fundo. A piscina estava coberta com uma lona azul, impedindo que qualquer sujeira caísse na água até a manhã do dia seguinte, quando iniciavam as aulas de natação. Começou uma garoa fraca e o telhado de zinco aumentava dramaticamente o som da chuva. As inumeráveis frestas proporcionavam uma sinfonia assustadora do vento.
Jonas empunhava uma toalha, shampoo, sabonete e uma nova muda de roupa. Arrastava o chinelo havaianas e a barra da calça jeans roçava o chão, molhando nas poças d’água. Chegara uma hora atrás de viagem. Ele, Pedro, Airton, Vinicius e Maiara. Os anos nobres da juventude incitaram-lhes a percorrer seiscentos quilômetros pedindo carona. O destino, a casa de praia de Airton. Andavam uma centena de quilômetros e entravam na cidade mais perto. Arranjavam algum lugar para dormir e na manhã do dia seguinte prosseguiam com sua aventura. Já era o quarto dia e menos de cem quilômetros separavam-os das águas salgadas do mar. Decidiram dormir aquela noite e na madrugada do dia seguinte levantar acampamento.
Jonas gostava de Maiara. Airton também gostava de dela. Ela namorava Pedro. Vinicius não gostava de ninguém. Todos sabiam disso. Mas conviviam pacificamente. Até o momento.
Ficaram alojados num salão de festas de um clube, na entrada da cidade. Algumas teias de aranha, papeis higiênicos jogados ao chão, tocos de cigarro em cima das mesas e um engradado de cerveja num canto. Todas as garrafas estavam vazias. Realmente, fazia muito tempo que ninguém entrava naquela sala. As cadeiras e mesas estavam tomadas pelo pó.
Pedro já se banhara, Airton saía do chuveiro e Vinicius disse que não tomaria naquele dia. Maiara estava no banheiro. Jonas chegou à porta de vidro do ginásio e observou a piscina. Abriu devagar a porta e ela rangeu. Dissera-lhe que a seguisse sem que Pedro visse. E não houve problema com isso. O namorado já dormia faziam quinze minutos.
Contornou a piscina e dirigiu-se ao banheiro. Um chuveiro estava ligado. Tirou a roupa e deixou-a num canto. Entrou no banheiro e abriu o box. Lá estava ela, linda, exuberante, assobiando, com o corpo todo ensaboado.
Passou meia hora e os dois ouviram um barulho na porta da entrada. Seria Pedro? Vou lá ver, disse Maiara. Jonas aproveitou e lavou-se. Secou o corpo e vestiu as roupas. Maiara não voltava.
Foi quando Vinicius também entrou no banheiro. Despiu-se. Era você? Eu o quê? Ouvi um barulho na porta, mas não sabia quem era. Hum... apenas disse. Vinicius entrou para o banho. Jonas saiu e não encontrou Maiara. Onde ela estava? Saíra seminua e precisava pegar suas roupas antes de voltar para o pseudodormitório.
Empunhando o mesmo sabonete, o mesmo shampoo, a mesma toalha e a roupa suja, dirigiu-se à saída. Foi quando viu um canto da lona que cobria a piscina com um volume sob ele. Meio assustado, abaixou-se cautelosamente e descobriu a lona. Uma água avermelhada envolvia o corpo desfalecido de Maiara. O pescoço havia sido cortado.
Jonas gostava de Maiara. Airton também gostava dela. Ela namorava Pedro. Todos sabiam disso. Mas não sabiam que Vinicius gostava de Jonas.

DEZ COISAS INUSITADAS QUE EU GOSTARIA DE FAZER III

Publicado no jornal Letras Santiaguenses de set/out 2010

Na busca pelas dez coisas inusitadas que me agradariam fazer, procurei se havia alguma literatura sobre o assunto. Não encontrei e se encontrarem, peço compadecidamente, enviem-me a URL porque acharia interessante comparar os posicionamentos. Encontrei, sim, algumas breves reflexões no Yahoo! Respostas. Um rapaz lançava ao ar por que devemos fazer coisas inusitadas? Mas não penso como ele. Da maneira como falou o devemos parece que fazer algo inusitado é uma obrigação. Não me sinto obrigado a realizar o que imagino. Talvez ele propusesse que quebrássemos a rotina. E isso também não precisamos encarar como obrigação, mas como filosofia de vida. Porque o rotineiro deixa de enxergar as belezas que o cercam, faz as coisas sem tanta motivação quanto se novas fossem.
A melhor resposta escolhida pelo questionador foi para sacudir a poeira da rotina em nossas vidas. Que busquemos realizar essas dez coisas inusitadas ou simplesmente joguemos gotas de imaginação em nossas mentes e pensemos em coisas diferentes. Chega de pensar dentro da caixa, pensemos fora dela, tiremos os limites.
Essa busca pelo não-rotineiro deve ter inspirado o filme “Antes de partir”. Já diz o narrador em primeira pessoa no início do filme: “Edward Cole morreu em maio, numa tarde de domingo [...] ele aproveitou mais os seus últimos dias de vida que a maioria das pessoas consegue aproveitar numa vida inteira.” E o filme, por sua vez, deve ter inspirado a terceira geração a viajar cada vez mais. As agências perceberam um segmento em potencial e quando se avança no tempo, muitos valores são revistos e aumenta a necessidade de encontrar algo diferente do que foi feito até então. A vida torna-se mais mansa (quando problemas de doença e miserabilidade salarial não assolam os nossos velhinhos) e sobra mais tempo para fazer, finalmente!, tudo aquilo que quando mais jovem foi protelado.
Vemos mais senhores e senhoras aproveitando as economias do ano inteiro e investindo em cruzeiros marítimos, passeios e viagens. Ano passado encontrei um grupo da terceira idade na praia. Estavam hospedados no mesmo hotel que eu. Faziam, inclusive, mais alvoroço que eu na flor dos meus 23 anos. Acordavam cedo, saíam para o mar, chegavam ao meio dia, almoçavam e não dava bem 13h30min já estavam de volta à praia. À tardinha a história repetia-se e à noite saíam, mas o local não cheguei a descobrir. Nesses instantes que estavam no hotel, era um entra e sai nos quartos, uma conversação intermitente e risadas. Pareciam mais novos que muito adolescente. Isso me fez lembrar da minha avó materna. Todo final de ano viaja de excursão para alguma praia, algum parque temático. São duas semanas que ela some e aparece depois com muitas fotos e histórias na ponta da língua. A última foi um cruzeiro marítimo pela costa brasileira, parada no Rio de Janeiro com direito a foto no Pão de Açúcar e o retorno para casa de avião. Aventura que não deve ter imaginado quando mais nova. Ou talvez ela já tivesse feito muito antes uma relação das coisas inusitadas que gostaria de realizar.
Completando as minhas dez coisas inusitadas que gostaria de fazer, falo da penúltima. Andar na lua. Após Apollo 11 em 1969 e as inúmeras excursões à lua que vieram depois, poderia vir a minha excursão. Há quem planeje excursões pagas até o nosso satélite natural e quem desembolse os astronômicos -desculpe o trocadilho- valores exigidos. Se um dia os tiver, talvez pense em pagar. Mas vejo muito mais como forma de desperdício gastá-lo assim. Há muita gente precisando e eu desperdiçando. Talvez eu não me sinta bem com a situação.
E a última coisa inusitada seria ser invisível. Sê-lo para andar por aí sem preocupação de ser assaltado, poder ouvir conversas que só assim são possíveis, aprontar travessuras e deixar a vítima desconfiada e sem resposta. Mas que fosse algo passageiro. Ser assim definitivamente não me agradaria nem um pouco. Não é preciso usar muito a imaginação para ver as catastróficas consequências. O filme “O homem sem sombra” já fez toda a reflexão e ilustra quão terrificante seria se alguém atingisse a transparência total e eterna. Além do desespero de perder a sua identidade e rede social porque ninguém mais lhe vê, as possibilidades tornam-se inúmeras de fazer o mal sem ser flagrado. Prefiro que me vejam. Se for para ser invisível, que seja de hoje até amanhã pela manhã.
Ficaram de fora tantos outros desejos. Foi difícil selecionar apenas dez. Faltou dizer que eu gostaria de voar de balão, de parapente, atravessar paredes, ganhar na loteria, ser presidente do Brasil, ter a foto estampada na capa de uma revista de circulação nacional, conhecer as sete maravilhas do mundo. E se o tempo não fosse um senhor inflexível, conversar com Jesus, ter conhecido Hitler (não se trata de apologia ao nazismo, mas mesmo tendo sido um terrível ditador, seu valor como grande líder faz-lhe valer conhecer), cruzar a pé o Mar Vermelho e se minha voz permitisse, cantar uma música com o Raul Seixas.
Há quem tenha colocado objetivos mais modestos. Ou mais realistas. Conseguir quitar a casa própria pode tornar-se uma missão tão dramática e difícil quanto uma das dez coisas inusitadas citadas. Vale escolher os seus dez desejos, vale driblar a rotina, vale fazer algo inesperado, vale surpreender aos outros e a si mesmo. Vale buscar o melhor. Porque o mais importante é não se acomodar, é pensar fora da caixa e além dela.

DEZ COISAS INUSITADAS QUE EU GOSTARIA DE FAZER II

 Publicado no jornal Letras Santiaguenses de mai/jun 2010

Na outra crônica relatei quatro das dez coisas inusitadas que gostaria de fazer. Surgiu-me a ideia, como havia dito anteriormente, após ver o lançamento de um foguete no filme “O estranho caso de Benjamin Button”. Relacionei as quatro primeiras. Ver o lançamento de um foguete, dirigir um carro de Fórmula 1, rir até perder as forças e saltar de paraquedas e bungee jump.
Perguntei-me, por que coisas inusitadas e não coisas comuns? Ora, se eu pedisse coisas comuns que gostaria de fazer, a relação seria interminável. Teríamos assinalados passar de ano, ganhar uma camiseta cara que vi na loja, emagrecer cinco quilos, ter um emprego melhor, e quem não quer um emprego melhor?, um salário mais gordo, maior reconhecimento pelo nosso trabalho. Esqueça os desejos comuns, pense em realizações astronômicas, em coisas que provavelmente não possam acontecer, liberte a sua imaginação.
Valendo-me dessa imaginação sobre coisas surreais, nomeei como quinto desejo correr quase tanto quanto o Forrest Gump. Tanto quanto ele é modo de dizer. Inclusive, não tenho a pretensão de um dia correr dezenas de quilômetros, vencer maratonas, quebrar recordes, virar dias correndo. Não que não ache possível. Sim, é. Mas não gosto tanto assim de correr pra tentar algo parecido. O que a corrida do Forrest me transmite é uma total liberdade, total despreocupação se já está na hora de ir trabalhar. Passa-me na cabeça vê-lo correr com despretensão em atingir um objetivo, a ação de fazer simplesmente o que gosta, ignorando opiniões externas.
A sexta coisa inusitada é competir em uma Olimpíada. Quem não gostaria de competir no Olimpo? perguntei-me ao relacioná-la. Já achei opinião contrária quando uma amiga respondeu-me as dez coisas inusitadas que ela gostaria de fazer. Seu medo era não obter a medalha de ouro e ser duramente criticada depois do insucesso. E também não desejava isso porque acreditava que teria vergonha de ser vista por todo o mundo. Ora, provavelmente essa seria a razão de eu querer competir numa Olimpíada. Lógico que vale acrescentar o valor de representar um país numa competição internacional. Também não é meu sonho de consumo estar entre os atletas de ponta do mundo inteiro. Meu basquete e vôlei são modestos, o futebol é ruinzinho e não há mais nenhuma outra modalidade em que eu possa enquadrar-me. Mesmo não sendo um projeto de vida, seria ótimo competir.
Também acharia muito interessante percorrer o Brasil e, por que não, a América Latina de moto. Esse veículo, por si só, já carrega consigo uma aura de liberdade. E perigo também. Você não tem ferramentas em volta do seu corpo protegendo, pega o vento na cara, pode esticar as pernas para a frente, para o lado. Impossível não se sentir mais livre, mais solto. Mas é perigosa pelos mesmos motivos que dão a sensação de liberdade. Quase sem carenagem em torno do veículo, qualquer colisão pode tornar-se num acidente sério, o motorista é praticamente o parachoque do veículo. E essa mania de esticar as pernas enquanto dirige a moto para algumas pessoas evoluiu em acrobacias de alto grau de periculosidade. Não é raro ver um motoqueiro segurando a moto pelo guidão, com o tronco deitado sobre a moto e as pernas esticadas para além da traseira do veículo. Um simples gatinho cruzando no meio da estrada pode desestabilizar o motoqueiro nessa situação e creio que dele não sobre nem a arcada.
Independente dos prós e contras, percorrer esse Brasil infinito ou mesmo a nossa América seria uma aventura sem precedentes. No filme Diários de motocicleta aparece o revolucionário Che Guevara, ainda um desconhecido, realizando essa aventura. Ele possuía ideais e carregava consigo desde já um cunho sócio-político muito intenso. A minha ideia é bem mais modesta. Conhecer as terras que só sabemos existentes devido aos mapas e à internet . Muito mais uma aventura do que a viagem política de Che.
O oitavo desejo inusitado é o mesmo de muitas crianças: voar. Crescemos e vamos perdendo essa vontade. Seja porque percebemos ser impossível ou porque nossa imaginação reduz-se a zero, preocupamo-nos muito mais em coisas de adulto, ser alguém, ter alguma coisa; e nos esquecemos de ser criança de vez em quando, esquecemos que podemos voar. Se não for de corpo, que seja na mente. Gostaria de voar, tendo asas ou não. Mais que levitar, onde as pessoas perdem o contato do chão e ficam apenas a alguns centímetros dele. A minha ideia é poder levantar voo a qualquer hora, na altitude que desejar. Já se o dom atingisse a todos, causaria muitos transtornos. Teria o perigo de colisões de humanos-voadores com aviões; as empresas automobilísticas, petrolíferas e todas as áreas afins ficariam muito desgostosas e de alguma forma tentariam boicotar essa possibilidade de voos humanos, talvez delimitando horários restritos para voarmos, induzindo ao uso dos carros.
Essa relação de itens permanece em constante mudança. Pode ser que daqui a alguns meses as dez coisas inusitadas não sejam mais as mesmas. Ou nem sejam mais inusitadas. Apostaria minhas fichas que ao menos duas ou três trocariam. Porque estamos em permanente revisão dos nossos objetivos. O que é válido, sim, é libertar-se para o mundo da imaginação. É querer voar e saber-se limitado para isso. E ainda assim não se preocupar com esse detalhe. E ainda assim sonhar.

DEZ COISAS INUSITADAS QUE EU GOSTARIA DE FAZER I

 Publicado no Jornal Letras Santiaguenses nov/dez 2009

Vi um foguete sendo lançado no filme “O estranho caso de Benjamin Button” e pensei comigo “Taí uma coisa que eu gostaria de fazer em vida: ver o lançamento de um foguete ao vivo e a cores”. E desencadeei uma série de associações que me fizeram voltar ao filme “Antes de partir”, com os magníficos Jack Nicholson (Edward Cole) e Morgan Freeman (Carter Chambers). Neste último filme, Edward e Carter estão em fase terminal e seguem uma lista de desejos a serem realizados antes de morrerem, se desse tempo. Saem a contragosto de todos do hospital e viajam pelo mundo fazendo coisas que nunca haviam tido coragem ou até mesmo porque lhes faltava tempo. Para eles, o tempo já não importava mais.
Diferente de todos que se encantaram com a história da criança que nasce velha e rejuvenesce com o passar dos anos, o que mais me chamou a atenção foi o lançamento do dito foguete. Fiz, então, uma relação de 10 coisas inusitadas que eu gostaria de fazer. Primeiro, foi difícil passar do número um, que por sinal já tinha sido feito: o foguete. Aos poucos, empolguei-me com essa ideia e cheguei a treze itens. E suei a caneta para diminuí-los.
Vou falar, primeiramente, sobre quatro itens. Numa próxima oportunidade relato os outros seis e fecho os dez.
O primeiro desejo, que não é novidade, é ver o lançamento de um foguete. Fazendo um paralelismo de ideias, o personagem do Antes de partir tinha um desejo de “vislumbrar algo grandioso”. Para ele, isso significava ver as montanhas do Himalaia. Para mim, ver a estrondosa quantia de energia gasta para pôr em movimento uma aeronave de incontáveis toneladas e o tamanho que deve ser aquilo é, sim, vislumbrar uma coisa grandiosa.
O segundo desejo seria dirigir um carro de Fórmula 1. Não sei por que, mas não é o desejo de um Fórmula Indy ou um carro da Stock Car, e sim da Fórmula 1. Talvez seja porque a Globo está no meio, faz muita propaganda, é a corrida que ela transmite nos domingos desde antes mesmo eu nascer. Até porque não gosto muito de carro, está mais para souvenir. Não me chama a atenção. É bom pra andar, traz conforto, protege na chuva e no frio, mas em contrapartida dá muito gasto em manutenção e combustível. O IPVA é caro, do seguro obrigatório também não tem como fugir, os pneus de tempo em tempo precisam ser comprados novos e o óleo a cada oito mil quilômetros, no meu caso, precisa ser trocado. Acho que o desejo de dirigir um Fórmula 1 resume-se a apenas uma corrida, ou talvez uma volta em Interlagos com todo aquele povo gritando e torcendo por mim como se eu fosse o Schumacher. Já aviso que essa ideia de dirigir um Fórmula 1 não surgiu comigo, não sou pioneiro nisso, não. Tem até uma comunidade no Orkut semelhante a isso: “Eu nunca bati um carro de F1”. Ora, Rubinho e Felipe Massa não poderão participar dessa comunidade...
O terceiro item é rir até perder as forças ou mesmo desmaiar. E esse talvez seja o desejo mais feliz dentre todos os meus. Porque rir faz bem para o corpo, é bom para a estima. Há, inclusive, estudos sobre o assunto. Desde pequeno sei que é melhor rir do que chorar, porque chorar te faz movimentar menos músculos que rir. Já é um argumento, ou como diz o ditado, rir é o melhor remédio. Recordo-me que nos idos tempos de colégio fiz aulas de teatro e logo no começo a professora começou a rir e disse que em breve todos iriam estar rindo, mostrando-nos que ele é contagioso. Dito e feito: primeiro um, depois mais dois, em pouco tempo todos riam à la loca. Ri de atirar-me no chão e simplesmente não havia motivo nenhum. Nem piada, nem acontecimento engraçado, nada mesmo. Apenas o motivo de ver outra pessoa rindo e dar-me vontade também de rir. Pois pus esse item porque sempre é bom estar alegre e mesmo que não desmaie de tanto rir, ter isso como objetivo já me fará perseguir essa meta, ou seja, já me fará dar boas gargalhadas.
A quarta coisa inusitada que eu gostaria de fazer é saltar de paraquedas e bungee jump. Dentre todos os itens assinalados, o anterior e esse talvez sejam os mais acessíveis. Mas saltar possivelmente não ocorra porque como diz o ditado o medo não é como a coragem. Já fiz rapel de rochedo, de um morro de cem metros, de um prédio em construção, mas saltar para o vazio é um tanto diferente. Tenho certeza que depois de feito o salto, aterrado e com a adrenalina ainda no corpo, vou vibrar e até pensar em fazer de novo. Mas o problema mora em subir no avião, vestir o paraquedas e efetivamente saltar, vendo tudo lá embaixo minúsculo. Saltar de bungee jump deve ser uma adrenalina ainda maior, porque você não sente nada preso nas costas, apenas um material te enganchando na perna. Aí vem o salto, o esticar do elástico e o ricochete. Mesma coisa: depois de feito, a sensação de segurança aliada ao mar de adrenalina deve ser maravilhosa. Quero bis! Mas haja coragem para dar o primeiro passo...
Essas quatro são as primeiras das dez coisas inusitadas que gostaria de fazer. E quais são as suas 10 coisas inusitadas que gostaria de fazer? Se preferir, não precisa ser inusitada. Se quiser não precisa ter compromisso em fazê-las. Eu mesmo não tenho esperança em realizar a maior parte. Até porque muitas das dez são impossíveis. Mas isso não me impede de imaginar e sonhar, conscientemente, em fazer dez coisas fora da casinha que eu acharia interessante. Sendo assim, puxe um bloquinho de papel, um lápis e anote...

O TEMPO PAROU




Publicado no jornal Letras Santiaguenses de jul/ago 2010

Pelos milhões de japoneses que sofreram as agruras da inconcebível Bomba Atômica em Hiroshima e Nagasaki.

Oito horas mais quinze minutos. Era de manhã. Chovia. Pedro olhava pela janela do seu carro e a respiração embaçava o vidro. Agosto fazia frio. O mês do azar. Muito frio, mesmo. Precisava ligar o carro para o ar condicionado funcionar. Senão petrificaria em meio aos seus devaneios. As gotas grandes que precipitavam do céu batiam com força no vidro e faziam aquele barulho gostoso de sono. Viu um garoto lá fora, abrigado entre as colunas da igreja matriz e uma reentrância da construção. Batia queixo o coitado. Tinha os pés molhados e o chão estava úmido. Um cachorro abrigou-se entre as pernas e o colo do garoto e ali largou seus pelos encharcados. Aninhou-se no seu protetor e fechou os olhinhos. Mas o garoto não conseguia cerrar as pestanas. Era muito frio. Seria mais uma noite que não dormiria. Migraria entre um sono curto e outro, um pesadelo com histórias de bichos do mar e do dilúvio que ouvira quando era menor e ainda morava com sua avó, depois outro com rostos de garotos mais velhos gritando, cuspindo, rindo, tocando.
A chuva engrossou e Pedro não conseguiu ver mais nada. Começaram a cair granizos. Relâmpagos no céu. A noite que viera com o temporal findava-se rápida e surpreendente com os clarões. Poucos segundos depois chegou o barulho. Sinal que o raio caíra perto. Engatou a primeira no carro e saiu devagar. Faróis ligados, acionou o pisca. Melhor estacionar num lugar coberto, antes que alguma coisa aconteça com o carro. Pegou a agenda e como não chegaria no horário ao trabalho, iria reorganizar seus compromissos. Hoje, dia seis.

E se o tempo parasse? Se travasse o seu relógio e todas as coisas a sua volta também congelassem, ficassem imóveis?

Chegaria a tempo nos seus compromissos, poderia fazer muitas coisas que sendo apenas uma pessoa, não teria tempo. Nada mais onipresente que isto. Tire as pilhas do relógio e tudo é possível. Quero ir até o outro lado da cidade, posso. Porque por mais que eu demore a chegar, quando puser as pilhas novamente, nem um segundo terei perdido.

Pedro abriu a porta do seu possante e viu que seu desejo havia se tornado realidade. Todos se tornaram estátuas com vida. As pedras deixaram de cair e a chuva cessou. Começou a andar por entre todos e ninguém o percebia. Andou mais um pouco e viu aquele garoto lá do início. Em posição fetal, cerrava os pulsos e fazia careta. Tocou-lhe os pés e percebeu-os gelados. Os dedos nem mexiam. O cachorro era o único confortável. Fizera o menino de travesseiro e largara o corpo por sobre o dele.

Tudo parecia sem vida. Na esquina, uma senhora olhava à esquerda, com o cenho franzido, descrente que atravessaria a rua na próxima hora. O trânsito intenso, as buzinas intermitentes e os palavrões desferidos haviam se dissipado. O caos no trânsito não mudava, mas ao menos tudo era silencioso.

E silencioso até demais. Nem os pássaros cantavam. Nem o vento estragava os cabelos embelezados à laquê. Só a temperatura é que aumentava. O sol ocupara o lugar deixado pela chuva e ofuscava a visão de Pedro. Parecia mais brilhante que mil sóis de um dia normal. Torrava. Não olhou para os rios, mas supunha que as águas não corriam mais.

Continuou seu passeio andarilho pelo instante fotográfico que recebeu de Deus. Que privilégio tinha de poder ver tudo tal qual era, sem tempo de as pessoas arrumarem-se para ficar mais bonitas, sem tempo de correrem antes de serem vistas, sem tempo de nada.

Entrou numa casa qualquer, a primeira que tinha a porta da frente entreaberta. Tentação era poder pegar o que quisesse e saber que ninguém saberia... Viu um jovem na sala, as mãos apoiando a cabeça, os olhos empapados em lágrimas. Chocou-se, mas continuou caminhando. Viu um quarto pequeno, com a porta escancarada. Um senhor quase centenário estava deitado numa cama. Tinha a veia puncionada e soro. Uma possível enfermeira empunhava um lençol, o qual pretendia cobrir o rosto morfético daquele senhor. A filha dele já não o assistia mais. Não tinha mais poderes de modificar o que acontecera. Estava tudo acabado e a doença vencera. Uma força maior que as suas e de todos que lá estavam ganhara a briga eterna entre a vida e a morte. A barriga do senhor estava cheia de bolhas, inchada e tomada de hematomas por toda ela.

Sentiu náuseas e saiu apressado do quarto. Foi quando olhou para o fundo do corredor e viu que uma criança corria. Usava um vestidinho colorido, com estampas e saltitava. Um dos pés estava no ar e o outro tocava o solo. Não compreendia o que estava ocorrendo. Vovô foi passear. Mas não volta. Como assim? Foi para bem longe. Lá pra onde foi a vovó? Isso mesmo, ele foi encontrar a vovó. E eu posso ir junto? Não, você não pode.

Cansou-se de ver tamanha tragédia e retornou ao carro. Fechou a porta e a chuva de granizo veio de novo. A água estava mais forte que nunca. Ligou o carro novamente e acionou mais uma vez o pisca. Sinalizava. Buscou a agenda e verificou os compromissos.

Não tinha perdido nenhum segundo. Olhou para o relógio. Ainda eram 8:15h. E retomou a sua vida.

No dia 9 do mesmo agosto o mesmo fato inusitado ocorreria novamente.

A VENDEDORA DE SORRISOS




Destaque no Concurso Literário Larí Franceschetto 2010
Publicado no jornal Letras Santiaguenses de mai/jun 2010

Você trabalha onde? Eu sou vendedora. Ah, mas onde é o seu trabalho? Aqui, aqui mesmo. Mas aqui na frente de casa, com o pessoal passando para lá e para cá a toda hora? Lógico, quanto mais pessoas tiver por perto, mais gente para comprar o meu produto. Interessante. E que produto você vende? Sou vendedora de sorrisos. Hum... sorrisos... hum... sorrisos... Ficou ele, assim, sem saber o que dizer, sem mais nada para continuar a conversa.
Maurício passava todos os dias pela casa de Adriana ao retornar da aula. Apenas agora a encontrava à frente da sua residência. Antes disso nunca conversara com a garota. É que eu vendia só dentro de casa. Mas o negócio começou a prosperar e decidi abrir para o mercado externo. Ah, sim... claro. Achava estranho aquele costume da menina. Vender sorrisos... Quem iria dar-se ao trabalho de sair de casa simplesmente para comprar um sorriso da Adriana? O que teria de diferente no sorriso dela que não haveria no seu? Vender sorrisos, ora bolas, coisa mais tola!
Se ele ficasse mais tempo observando a garota, iria descobrir que a ideia dela de montar um posto de vendas à frente de casa tinha sido uma excelente decisão. Muito mais vendas que lá dentro. E ainda a margem de lucro era elevadíssima. Custo zero, retorno garantido. Um investimento seguro. Se ele não fosse para sua aula vespertina perceberia que uma senhora de uns sessenta anos vinha todo dia comprar-lhe os ditos sorrisos. Que o seu esposo também aparecia diariamente em busca do mesmo elixir, mas sempre em horários distintos dos da esposa. Se estivesse lá para presenciar tudo isso, deduziria que quando se esgotavam os sorrisos contagiados nos seus rostos pelo sorriso da garota, os velhinhos tornavam a ela e pegavam mais uma dose de alegria. E chegaria à conclusão que ela não vendia verdadeiramente sorrisos, e sim contagiava seus clientes com as risadas. E esse, sim, seria o seu produto.
Antes de Maurício quebrar a perna e poder observar da varanda de casa, na esquina, as vendas cada vez mais prósperas de Adriana, ele continuou achando-a leviana. Era uma utópica que acreditava vender algo que todos podiam ter sem pagar nada.
Bom dia, meu senhor. Gostaria de qual tipo de sorriso? Ah, um discretinho, apenas pra curtir... ótimo. Hihihihi. E a senhora, também quer um desses? Faça-me o favor. Hihihihi. Quanto custa? Ah, sim... Obrigado e passar bem.
Maurício também não teve o prazer de conhecer aquela outra senhora que aparecia de meia em meia hora comprando um novo sorriso. Geralmente era um sincero que pedia, de praxe, mas de quando em quando comprava uma boa gargalhada ou uma risada nervosa. Isso dependia muito do seu estado de espírito. Não teve o prazer porque quando quebrou a perna, Dona Romilda já não aparecia mais. Não se questionou o motivo do sumiço. Mas Adriana, sim.
Aquela senhora tão magrinha, cabelinhos curtos e bem branquinhos. Tinha um andar tão frágil que parecia prestes a cair a todo instante. Mas fazia questão de nem bengala usar. Despojar-se deste artifício elevava a sua auto-estima. E por consequência, ajudava a manter a saúde sempre em ordem. Tinha vezes que mal pagava o sorriso recebido, solicitava outro. Era cliente VIP. Com as mãos ainda apoiadas sobre o dinheiro do pagamento dizia minha filha, faça aquele sorriso de novo. Foi tão bom vê-lo no seu rosto. E lá ia Adriana atendendo ao desejo da cliente. Negócios são negócios.
Dona Romilda ganhou incontáveis sorrisos de graça. Cortesias da casa. A melhor cliente já tinha até tratamento especial. Era a única que agendava horário com a sorridente vendedora. Foi-lhe oferecido, inclusive, serviço domiciliar. Mas recusou. Não queria que entrassem na sua casa. Não precisavam ver os seus móveis. Nem os animaizinhos que moravam consigo. Muito menos os remédios que tomava. E as seringas inúmeras que ficavam guardadas no balcão do banheiro. Era desnecessário que olhassem para as suas paredes. Ficaria constrangida se vissem o seu carpete.
Ninguém entrara na casa. Ao menos ninguém havia entrado lá desde que se mudara para o bairro, há longos anos que a baixa idade não permitia nem a Adriana e nem a Maurício, contar.
O garoto quebrara a perna em dois lugares e escrevia no gesso quando ouviu seus pais comentarem sobre o sumiço da sua vizinha, D. Romilda. Com as muletas, a muito custo foi até Adriana, comprou-lhe um sorriso apenas para vê-la sorrir lindamente e ouviu as suposições da moça. D. Romilda era uma pessoa muito sozinha. E devia ser triste demais. Se tinha parentes vivos, ninguém lembrava da sua existência. E inexistência. Talvez fosse muito deprimida e por isso viciara-se nos sorrisos de Adriana. Certamente se sentia muito infeliz e por não ter ninguém da sua idade com quem conversar naquele bairro, gastava as economias que sobravam dos remédios com as gargalhadas de Adriana. Completava o seu dia vê-la sorrir. E sorria por dentro.
Alguns dias depois de quebrar a perna, Maurício viu Adriana aproximar-se da casa da senhora e chamar por ela. Fez menção de levantar-se, mas estava cansado. E sua condição tornava um tanto mais complexa aquela ação. Manteve-se assim, sentado.
Adriana rodeou a casa e procurou olhar para o interior. As cortinas tapavam toda a visão. Foi à porta dos fundos. Viu alguns gatos estendidos no chão. Apavorou-se. Sentiu um cheiro forte. Gritou por alguém. Maurício tentou levantar-se. Fisgada no joelho. Permaneceu sentado. Chegou um senhor que caminhava na rua. Olhou assustado para a garota. Aproximou-se da porta e viu os gatos esticados, empalhados naturalmente. Arrombou a porta, gritando por D. Romilda, a senhora está bem? Viemos ver como a senhora está! Anda sumida e nos preocupamos, completou Adriana. Moscas voavam em torno dos gatos. O cheiro aumentara. Estavam mortos há dias. Alguns bichos já comiam os restos mortais. Seguiu-se a busca pela anfitriã. Entraram no seu quarto e viram-na sentada no chão, escorada no lastro da cama. Não respirava. O corpo estava frio. Cheirava a podre. Já estava putrefata. Com um sorriso no rosto.
Morrera há dias, mas só naquele descobriam o seu corpo. Escorreram discretas lágrimas da face da vendedora de sorrisos. D. Romilda não compraria mais seus sorrisos. Ela não retribuiria mais os seus. A velhinha podia não perceber, mas cada vez que lhe comprava um sorriso, ria também. Sua vida pode ser que tivesse sido amarga, triste, emburrada. Mas seus últimos dias foram muito alegres, extremamente sorridentes. Adriana ficou ali, junto ao corpo inerte da sua ex-cliente enquanto o transeunte chamava a polícia para resgatar o imóvel corpo daquela senhora. E Maurício continuava sem conseguir levantar-se, alheio ao que acontecia com a defunta.

O QUE VOCÊ FEZ NAS FÉRIAS?

Publicado no jornal Letras Santiaguenses de mar/abr 2010

Se eu fosse adolescente, quando voltasse às aulas e fizessem aquela pergunta clássica o que você fez nas férias, teria muitas histórias para contar. Mas dentre todas, as que giram em torno dos familiares são incrivelmente as melhores. Tudo bem se fez festa, se conheceu cidades novas, pessoas diferentes; mas se reviu os parentes, os primos, se saiu com eles ou teve um papo de horas a fio, sentado num banquinho de madeira sorvendo um amargo, aí sim está a melhor parte das férias.
Fui para minha cidade natal, Santo Ângelo. De última hora acabei saindo com minha prima, mais nova, e os pais dela. Ia comigo um amigo de anos que decidiu aventurar-se entre os meus conterrâneos. Fomos à Kerbfest Missões, uma festa que ocorre anualmente em São Paulo das Missões. É uma terra de descendentes de alemães, mas tinha gente de todas as etnias lá. Conheci primos da minha prima e primos dos primos. Uma família grande, uma vez que meu tio possui onze irmãos. No caminho para a tal festa passamos por Salvador das Missões, outra cidade minúscula da região mas de valor incomparável, com tradições tão fortes e bonitas quanto as de São Paulo das Missões.
No início das férias minha ideia havia sido ir a Salvador, BA, de avião, para depois ir a Porto Seguro. Mas houve problemas e acabei abortando a viagem. Iria fazer uma escala em São Paulo, porque assim o voo saía mais barato. Ao cruzar pela placa de Salvador das Missões veio uma luz e mandei uma mensagem para minha mãe: “Estou com o tio Cênio. Chegamos em Salvador e depois vamos a São Paulo”. Claro que falava das cidades das missões, mas a brincadeira já estava feita. Não deixara, assim, de fazer as viagens que pretendia. Tinha um missões depois dos nomes das cidades, mas isso era um detalhe.
E passear com meus tios foi bom. Conversar com minha prima que já tinha 15 anos foi diferente, pois ela já não era mais uma menininha, uma criança. Já dava para ter papos mais adultos, ela já compreendia as coisas com maior profundidade que alguns anos antes, quando ainda era a priminha menor.
Ainda em Santo Ângelo, na casa de meus avós paternos, fomos pegar os ovos no galinheiro. In loco, fizemos algo que pessoas de grandes metrópoles dificilmente têm acesso, que é o contato direto com os animais e a aquisição do alimento direto da fonte. Porque tenho minhas suspeitas que há crianças achando que o leite é produzido numa máquina e que a vaca não tem nada a ver com isso. E por que um pensamento assim? Porque a vida no campo é algo muito abstrato em determinadas cidades.
Percebi-me um urbano irreversível quando entrei no galinheiro. Nos idos anos da minha infância eu brincava com as galinhas, agarrava-as, tomava bicadas de galos, fazia arapucas, prendia-as e depois soltava, pelo simples prazer de sentir-me superior àquelas aves. Já adulto, não criei coragem suficiente para levantar uma galinha e pegar seus ovos. Estávamos eu, minha prima e esse amigo aventureiro. Depois de cinco minutos conseguimos afugentar o galináceo e logramos os cinco ovos que estavam escondidos sob o animal. Mas para isso toda a família mobilizou-se para assistir à hilária situação. A avó e a tia riam-se de nós. A outra tia retratava e levava à eternidade aqueles momentos de extrema graça. E meu avô, que havia se acidentado há poucos dias, caminhava com dificuldade e tinha curativos por todo o corpo, também parou para olhar aquela cena, no mínimo, ridícula. Tenho provas em vídeo de que foram precisos três para tirar a galinha do seu lugar. De longe ela parecia tão inofensiva. Mas bem próxima suas feições adotaram um aspecto mau e o olhar fuzilava-nos.
Revi, ainda, meus parentes de Tuparendi. Para quem não é do Rio Grande do Sul e talvez até mesmo os que são e não têm noção de onde estou falando, sugiro entrar no Google Mapas que ele mostra certinho onde ficam todos esses municípios citados. Por serem cidades pequenas e de evidência menor na mídia, acabam sendo desconhecidas nos rincões mais longínquos. Conversando percebi que há quase dois anos não ia lá. Senti-me envergonhado, mas era tarde. Porque quando alguém morre, toda a parentada vai até o local do velório. Mas nas horas boas, pra rever um parente querido, vivo, ninguém aparece. Até então eu também não aparecera.
São simples acontecimentos como esses que fazem valer as férias. Que compensam os gastos e desgastes com as viagens. Infelizmente, nem todos têm uma boa relação familiar. E isso, com certeza, é um ponto importante. Mas família não é, obrigatoriamente, aquelas pessoas de mesmo sangue, mesma carga genética. Podem ser as pessoas que sentimos como nossos entes queridos, em quem temos um porto seguro, podemos confiar, desabafar. E rever essas pessoas adoráveis é muito importante. E, se possível, que não seja só nas férias.

Protegido