sábado, 30 de março de 2024

Protegido

O bullying dos corredores e da sala de aula eram esquecidos depois que adentrava nos reinos das histórias de ficção. 

A biblioteca era o seu castelo de proteção.


terça-feira, 9 de junho de 2020

Nada desde sempre



O filhotinho roía tudo o que encontrava. 
Com o vigor físico típico da juventude, o cachorrinho rolava e saltava, incansável.
Ele lembrou-se da mocidade.
Nunca fora assim.

terça-feira, 2 de junho de 2020


VIAGEM

A esposa foi viajar. Ele não podia, trabalharia. Mais uma vez.
Esperou-a retornar. Em vão.
Tinha ficado em Maragogi, com o bartender.

ROSTO DA MORTE

Nas tardes de 44, da janela de casa, via regularmente o trem encher de passageiros.
Rostos cadavéricos.
Mal alimentados e malvestidos.
Melhor não se envolver.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cartas de final de ano aos meus alunos - Final

continuação da publicação das cartas de final de ano (2015) aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos da turma 8º Ano B,

2015 está terminando, as aulas também. Em breve vocês poderão dormir até tarde, não terão mais provas para fazer, ficarão livres das chateações dos professores. Ufa!, livres de todos esses incômodos...
Mas com certeza um pouquinho de saudade vai bater na porta de vocês. Se não for agora, vai ser daqui umas semanas. Também, pudera, é quase um ano inteiro vendo os colegas todos os dias, espiando aquela menina bonita da outra turma, o garoto gatinho da outra sala, e agora... só no ano que vem!
Pessoalmente, é uma alegria muito grande em ser professor de vocês! Ano retrasado não pudemos terminar o ano letivo juntos, em sala de aula, pois assumi a direção da escola. Ficamos na mesma escola, mas é diferente ser professor e ser vice-diretor.
Esse ano, sim, iniciamos e terminamos juntos. Para mim, particularmente, foi muito bom, maravilhoso. Gosto muito de vocês, do jeito que vocês são: alguns brincalhões, outros mais sérios; alguns quietinhos, outros tagarelas; uns amigos, outros se estranhando. Altos, baixos, magros, gordos, risonhos, sérios.
Quando vejo vocês vejo um mundo de oportunidade lhes esperando. Olho e penso “que bom que teremos esses adultos no futuro!” São adolescentes que estão descobrindo os prazeres e as responsabilidades da vida, as alegrias e as tristezas que o mundo nos proporciona. Essas coisas, boas e ruins que a vida nos traz, queiramos ou não, nos deixam mais fortes agora e no futuro.
Vejo vocês com um lindo futuro pela frente, mas não deixem de lutar! Não deixem de estudar, não deixem de se esforçar! O estudo não é tudo na vida, mas sem estudo a vida se torna mais difícil!
Lutem! Não decepcionem vocês mesmos! Lutem pelo que querem! Nunca desistam! Digam a si mesmos “não vou desistir” quando estiverem desanimados, quando acharem que nada vale a pena.
Tenham um ótimo Natal! Ótimas festas de final de ano! Férias divertidas! Aproveitem esse período de descanso!
No ano que vem tem mais! E será melhor ainda!!!


Com carinho,
profº Giovani.

sábado, 2 de abril de 2016

Carta de final de ano a meus alunos III

Continuação das publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos do 7º Ano,


ESTÁ TERMINANDO O ANO... Vocês vão ter alguns meses para descansar, divertir-se, passear, viajar, acordar tarde e ficar longe da escola. Eba! Chega de provas, de professores chateando, de cadernos, de copiar, de exercícios no quadro, de ler em voz alta, de acordar cedo, de troca de período. Eba! vocês estão livres de Soletrando, concurso literário, poemas, contos, porquês, verbos, acentos, hiatos, pronomes, etc.
Ah... mas, também, chega de recreios, de passeios nos corredores, de espiar o menino bonito na turma da frente, a garota bonita no pátio, de grupinhos de guris e gurias, de conversar com os colegas...
A escola é um lugar legal! Sempre tem alguma coisa nela que não gostamos, mas sempre haverá algo que não é bacana em tudo o que fazemos, em todos os lugares por onde vamos.
Terminamos o segundo ano juntos, quase todos os dias nos vendo, todas as semanas tendo aula. Se não fui legal com alguém algum dia, em algum momento, peço-lhes desculpa. Sou humano e também tenho limitações, também erro. Mas fiz o que achava certo naquele momento.
Não achem que ser exigente é ser ruim, não achem que fui exigente porque não acreditava no potencial de vocês. Pelo contrário: fui exigente porque sabia do que vocês eram capazes, porque sabia que podiam ir além. E foram!
Que trabalhos maravilhosos fizeram! Falaram na frente da turma várias vezes, escreveram poemas lindos, resumiram livros, soletraram uma enormidade de palavras, trabalharam em grupo, trabalharam em trio, dupla, sozinhos...
VOVCÊS ESTÃO A CADA DIA MAIS MADUROS, MAIS ADULTOS! Ano passado eram crianças, adolescentes recém vindos da infância. Agora são muito mais que isso. Cresceram, ficaram mais espertos, mais inteligentes, mais responsáveis, mais tudo...
É verdade que têm muito o que melhorar, muito a crescer, mas é preciso admitir que vocês estão mais independentes a cada momento.
Conviver com vocês foi muito bom para mim. Ensinei o que pude e aprendi muito com cada um. Aprendi muito com a experiência de cada um de vocês. Adorei ser seu professor em 2015, mais ainda que em 2014!
Desejo-lhes um ótimo Natal, ótimas festas de final de ano, umas férias preguiçosas, dorminhocas, divertidas e alegres!
ATÉ O ANO QUE VEM!
Com carinho.

sábado, 19 de março de 2016

Carta de final de ano a meus alunos II

Seguem as publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...

Queridas alunas e queridos alunos do 1º Ano,

O ano está se encerrando e quando olho para trás, percebo que muita coisa foi feita. Desde estudo de conteúdos que vocês acham que nunca mais verão ou utilizarão na vida (em alguns casos é verdade), até debates e reflexões sobre assuntos do quotidiano, que convivemos diariamente. Foram haicais, lançamento de livro, dissertações, poemas, leituras orais, provas, rachas-cuca e por aí segue...
Tivemos uma média de poucos alunos em sala de aula. Mas os poucos que vêm, ah, esses têm qualidade. Vocês são pessoas inteligentes, esforçadas, críticas e muito maduras pela idade. Alguns colegas trabalham e isso conta a favor dos estudos. Sim!, a favor, porque lhes deixa mais responsáveis, com maior sede por aprender, mais objetivos em aula, com maiores objetivos de vida, mais desejo de ser alguém na vida.
Vejo estudantes com brilho no olhar! Com pensamentos complexos, conflitos internos, desejos astronômicos! Isso é ótimo! Sigam assim! Perder o desejo de sonhar é morrer para a vida, deixar de querer algo mais é contentar-se com o pouco, e você são muito para quererem o pouco.
Por isso, não aceitem um “não”. Respeitem, mas não aceitem. Digam a si mesmos “sim”, “sim, eu vou” e lutem por esse sim, lutem pelo que vocês querem. Não se contentem com as aulas da escola, busquem mais, busquem nos livros, na internet, no Google, no Youtube, nas provas de concurso, nos grupos de debate, nos jornais, nas notícias.
Tem um mundo de oportunidades à espera de vocês agora mesmo! Digam a elas “sim”, busquem-nas, por mais difíceis que possam ser.
Por fim, gostaria de agradecer pelo convívio, pela troca de experiências, pelo respeito e carinho de cada um. Peço desculpas se fui grosseiro ou agi errado com alguém. Com certeza, não foi a minha intenção, mas erramos. Gostaria de dizer-lhes que amei trabalhar com vocês, que fico triste porque o ano termina e nossas aulas também, mas ao mesmo tempo fico alegre porque vejo vocês progredindo nos estudos.
Um ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, realizações e saúde!


Com carinho.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Carta de final de ano a meus alunos I

Ao final de 2015 escrevi algumas cartas aos meus alunos, aos de 12, 13, 14, ... 45, 46, 50 e por aí vai a idade deles...

Publico-as.


Queridas alunas e queridos alunos da Etapa 7,


Depois de um ano puxado, de muito estudo, de batalha, de esforço para conciliar casa-trabalho-escola, vêm as tão esperadas férias. Com ela, um tempinho a mais com a família, com os amigos, com vocês mesmo(as). E isso é muuuuuito bom!
Virá a saudade de rever todos os dias os(as) colegas queridos(as), bater papo com quem nos faz bem. Mas ano que vem tem de novo...
Um dia você deixou de estudar e se arrependeu. Viu que não foi a melhor escolha. Pode ser que deixou de estudar por força maior. Mas a vida se encarregou de dar uma segunda chance e você decidiu agarrá-la com força e aqui está! Que ótimo!
Fato é que, se você está aqui, agora, é porque deixou muita coisa para trás, deixou muita gente esperando em casa. Se veio para cá é porque está lutando por um futuro melhor.
Nesse semestre aprendi muita coisa com vocês. Aprendi a admirar cada um, a admirar o esforço e a persistência de virem em dias de chuva, quando as ruas estão intransitáveis; dias de frio, quando o corpo pede um pouco de calor e vocês enfrentam o frio de rachar para estudar. Admiro porque com todas as dificuldades por ficar anos fora da escola, não desistiram. Admiro porque o medo de falar em público, apesar de ser muito grande, foi superado. Admiro porque demonstraram serem muito críticos e apresentaram argumentos consistentes em defesa dos direitos da mulher. Admiro porque, mesmo com todas as dificuldades existentes, ainda assim vieram para a escola com um sorriso no rosto e o olhar atento para aprender.
Mas o ano está acabando e as aulas, junto dele. E todos merecemos um pouquinho de água fresca, pelo menos de vez em quando. Essa aguinha fresca se chama “férias” e vem num momento importante, quando estamos esgotados do estudo e do trabalho.
Que ótimo que você está aqui! Que ótimo que você continua aqui! E será ótimo se você continuar aqui! Será ótimo para mim, porque admiro muito a fibra que vocês têm em seguir estudando; e ótimo, principalmente, para você, que seguirá na luta por dias melhores.
Agradeço pelas aulas que tivemos e os momentos maravilhosos que o nosso convívio me proporcionou. Sempre vim feliz para a escola, pois me dá prazer trabalhar com vocês.
Peço que não desistam dos seus sonhos. Aqueles sonhos que escreveram no primeiro dia de aula. Porque se vocês desistirem, aqueles que dependem de vocês perdem as esperanças; aqueles que estão ao lado de vocês, se desanimam; e aqueles que lecionam a vocês vão perceber que não conseguiram ajudar-lhes a modificar a sua realidade.
Um ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, paz e saúde. Que sejam cada vez mais felizes com a família de vocês.

Com carinho.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A MULHER-OBJETO E A VIOLÊNCIA

Fiquei muito feliz com o tema de redação do ENEM 2015, abordando uma temática muito dolorosa e vergonhosa em nosso país: a violência contra a mulher.
Para auxiliar no estudo em aula da estrutura da redação dissertativo-argumentativa (estrutura solicitada nesse exame nacional), elaborei um exemplo.


Tema da redação: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

A mulher-objeto e a violência

A mulher, dentro da sociedade brasileira, sempre teve um papel servil ao homem, sendo tratada com desrespeito e violência. Mesmo com a evolução da mentalidade ao longo dos anos, a tradição machista que perpetua essa lógica perversa, por ser histórica, tem sua modificação lenta. Além disso, a banalização do corpo feminino na mídia reforça essa ideia.
Há menos de um século era comum apenas os homens trabalharem fora de casa e as mulheres ficarem com os afazeres domésticos. Como apenas um dos dois provinha o sustento, restava à outra parte submeter-se às vontades da primeira. Ainda hoje encontramos discursos machistas que, obsoletos, defendem a subserviência feminina. Dessa forma, não é incomum aparecerem notícias de mulheres serem estupradas sob a desculpa infame de provocarem o ato ao usar roupa curta ou caminhar em lugares impróprios, em horários inadequados.
Não bastasse as raízes da violência contra a mulher estarem fincadas em razões históricas, a banalização do corpo feminino pela mídia reforça a ideia de mulher-objeto. O trecho “ajoelha e chora, quanto mais eu passo laço, muito mais ela me adora...”, de conhecida música tradicional gaúcha, e em propagandas direcionadas ao público masculino, em especial as de cerveja, como a personagem Verão, a mulher é apresentada como alguém que gosta de ser usado. Essas são falácias propagadas como verdade.

Todas as pessoas devem ser respeitadas como seres humanos, independente de gênero ou qualquer outra característica. O caminho possível para a diminuição da violência contra as mulheres é através do amplo debate com a sociedade e de punições mais severas de atitudes machistas e desrespeitosas. Dessa forma a mulher deixará de ser vista como objeto e não mais se encontrarão justificativas para assédio ou agressão.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: LA ESCUELA


Concluindo a publicação dos textos vencedores do 3º Concurso Literário Elvira Ceratti, ocorrido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Elvira Ceratti, de Uruguaiana – RS, vamos ler a crônica vencedora da aluna Silvana Gomes e o poema vencedor entre as quatro séries dos anos finais na categoria “Texto em espanhol” da aluna Thalia Espírito Santo.




La escuela (texto em espanhol – 6º a 9º Anos) – Aluna Thalia da Costa Espírito Santo – 9º Ano

Hacer de la
Escuela un
Lugar
Inmenso de sonrisa
Disfrutar cada
Instante al lado
De los amigos, una escuela que trae
Alegría, mostrando la ruta segura
De cada alumno y de la escuela que van salir
Estrellas de la educación


É primavera (crônica) – Aluna Silvana Gomes – 9º Ano

É primavera, amanhece lá no Sul, pássaros fazendo alvorada e os gaúchos fazendo mateada.
Entardece lá no Nordeste, os nordestinos fazem baião com grande alegria no coração, pois na tarde de sol de primavera tudo tem mas emoção.
Todos saúdam a primavera, pois novos passeios os esperam.
Na primavera tudo se alegra, o sol é mais radiante, os pastos mais verdejantes, as roupas são mais leves e as pessoas mais alegres. Temos frutas de variados sabores e as flores também nascem para presentear nossos amores.
Ficamos mais alegres e mais alertas. Com a chegada da primavera, todos levantam as mãos para o céu, esquecendo o que já era e vivendo a nossa era.
É hora de graça, cor e vida.
Por que vamos nos preocupar com outrora se o que importa é o agora? Por isso, esqueça suas tristezas, aproveite essa brisa, aproveite a vida. Se olharmos para trás não vamos saber o que vem à frente. Se a vida te deu uma rasteira, levante e tente de novo, sorria. Amanhã é outro dia, aproveite essa era, pois é primavera.

domingo, 21 de dezembro de 2014

TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: VIVER A VIDA

Dando continuidade à publicação dos textos vencedores do 3º Concurso Literário Elvira Ceratti, ocorrido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Elvira Ceratti, de Uruguaiana – RS, publico os poemas das categorias 7º Ano (poema) e 8º Ano (poema):

Viver a vida (poema) – aluna Adriana da Costa Espírito Santo – 7º Ano

Viver a vida é...
Passar com a família
é estar em cada momento
com seus amigos.

Viver a vida é...
aproveitar cada instante
Porque na vida não há
retornos, somente recordações

Na vida temos que aproveitar
o minuto que é tão doce e profundo
que existe uma vez no mundo.

A primavera... cor e amor (poema) – Nathaly Quevedo dos Santos – 8º Ano

A primavera é a mais bela,
As árvores estão frondosas
as flores são mimosas
isso só acontece na primavera

As cores das flores
aparentam ter sabores
As cores das flores
querem mais amores

poder ver as flores abrindo,
As folhas caindo,
as cores surgindo
é um privilégio agindo

Acordar de manhã e escutar
os pássaros cantando
vê-los voando, no céu rodando

no chão dançando.

domingo, 14 de dezembro de 2014

TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: BORBOLETA AZUL

COMPARTILHO COM VOCÊS O PRIMEIRO DE CINCO TEXTOS MARAVILHOSOS QUE FORAM OS VENCEDORES DO 3º CONCURSO LITERÁRIO ELVIRA CERATTI. O concurso ocorre desde 2012 na Escola Municipal de Ensino Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, com alunos de 6º a 9º anos. A escola está localizada no bairro São Cristóvão, União das Vilas, em Uruguaiana – RS.
Foram 144 textos inscritos em cinco categorias:
- 6º Ano (conto);
- 7º Ano (poema);
- 8º Ano (poema);
- 9º Ano (crônica);
- Texto em espanhol (6º a 9º anos).

Borboleta azul (conto) – aluno Carlos Alexandre Aimon – 6º Ano


Era uma vez um menino igual a todos. Ele só tem um problema: ele é paraplégico. Os médicos lhe falaram que tinha poucos dias de vida. Quem olha diz que ele aceitou aquela doença. Mas vamos logo à história, né.
Ivan sempre ficava ali olhando os outros meninos na rua jogando bola. Olhava eles pela janela. Seu sonho era pegar uma borboleta azul. É, uma borboleta, sim!
Todos riam dele, mas Ivan ignorava. Não dava bola para os outros.
Um dia conheceu um escritor que conhecia uma selva cheia de borboletas azuis.
Chegou o dia de ir à selva. Ivan estava feliz porque iria ver uma borboleta azul que queria. Viajou de avião, pegou um barco, viu macacos, aranhas. Chegou a uma cidade na selva, perto de rios, riachos e matagal.
No outro dia, Ivan procurou as borboletas azuis, passou por lagoas e riachos e nada de borboletas. Ivan já estava cansado. Anoiteceu e os dois voltaram à cidade.
Amanheceu. Ivan estava louco para ir à selva. Saíram cedo, pegaram o mesmo caminho. Passou uma hora e nada. Ivan já estava cansado de segurar nas costas o escritor. O escritor convidou Ivan para ir numa cachoeira e Ivan aceitou. Nadaram bastante. Estava escurecendo, Ivan e o escritor voltaram.
Amanheceu, passaram mais três dias e nada.
Um dia viram uma borboleta. O escritor correu. Quando estavam por pegar, caíram num buraco, se seguraram num galho, saltaram numa parreira. O escritor quebrou a perna e estava sangrando muito.
Ivan estava com tanto medo, pegou a faca do escritor e foi se arrastando.
Amanheceu, a mãe de Ivan estava ali ao lado dele, tentando acordá-lo. Ele acordou, falou que o escritor estava mal, pero da cachoeira.
Dois homens saíram, que estavam com a mãe de Ivan. Os dois homens saíram correndo. Ivan e sua mãe foram até a cidade e os homens estavam trazendo o escritor num tronco de uma árvore. Pegaram as coisas de Ivan e foram à cidade de barco. Antes de ir uma menina gritou “Ivan!” e ele perguntou o que ela queria.
Ela lhe deu uma borboleta azul numa gaiola de madeira pequena. Ele deu um abraço nela e disse “obrigado!”.
Subiu no barco e foram à cidade rapidamente. Chegando lá, Ivan pensou em largar a borboleta. Largou-a e pensou que um dia estaria também voando, só que em outro lugar no céu.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ILUSÕES COLETIVAS: FUTEBOL

Parece consenso de que o Brasil seja o “país do futebol”. Mas estamos mais para o “país do vôlei”. O esporte criado pelos ingleses brindou-nos cinco títulos mundiais e nenhum olímpico. Já o vôlei masculino brasileiro obteve nove títulos da Liga Mundial e dois olímpicos.
Na “pátria de chuteiras” poucos clubes conseguem se profissionalizar e entre os profissionais, poucos prosperam e recebem salários milionários. Os demais mal conseguem para o sustento. Todo o glamour do futebol é uma ilusão, uma ilusão coletiva proposital.
Valorizamos muito o futebol, tanto é que é o esporte que mais dá audiência. Entretanto não é acessível (profissionalmente) ser jogador de futebol para a maioria das equipes porque é caro manter 11 jogadores titulares, reservas, campo para treinar, uniforme, bolas, técnico, equipe técnica e por aí segue. Também porque faltam incentivos do Governo que fomentem e profissionalizem as equipes de várzea.
Ainda, necessita-se apresentar o lado perverso do futebol. Há muito tempo ele serve como distração da população. Foi assim durante a ditadura militar e servia para a população oprimida esquecer o sofrimento com o regime ditatorial. Atualmente, de quatro em quatro anos, políticos aproveitam a Copa do Mundo para aprovar seus aumentos e outras leis que lhes beneficiam, enquanto os iludidos gritam “gol”.
E se o futebol é um esporte que privilegia poucos, por que então ele é tão venerado pela população? Ele é supervalorizado pela mídia para que obtenha exatamente o impacto que tem: mobilizar multidões. Injeta-se muito dinheiro em publicidade para se receber um retorno ainda maior.
Ao invés de dividir a atenção dos telespectadores em uma dúzia de esportes, a estratégia é focar num só. MAIS dinheiro para esse um. Ao invés de haver a dúzia com certo prestígio, melhor um esporte superestimado.
Assim, assume-se como esportes menores o vôlei, o basquete, o judô, a esgrima, o atletismo, a ginástica rítmica. Holofotes ao futebol e às demais modalidades, a luz que sobrasse.
Toda essa superexposição, naturalmente, gera salários astronômicos. Discordo de que os jogadores de ponta devam ganhar tanto: nenhum jogador joga 500 mil reais por mês, ele não vale isso. A supervalorização dele, o seu endeusamento, fazem-lhe valer 500 mil mensais. Mas esse número é irreal.
Nossas várzeas estão cheias de craques que não se profissionalizaram(ão) porque é muito caro fazer testes em grandes clubes e manter equipes amadoras. E o país de poucas oportunidades, mais uma vez, reproduz as oportunidades para poucos: só alguns atingem o estrelato, só alguns ganham bem, só alguns ficam famosos, só alguns ficam ricos e apenas alguns se mantêm no topo.
É muito difícil se tornar jogador de futebol. Mesmo sendo muito improvável prosperar no futebol, seguimos amando a corrida atrás da bolinha, reclamando do juiz e dos bandeirinhas, cobrando impedimento. De vez em quando, se sobrar um tempinho, damos uma espiadinha num saque, uma cesta, um salto triplo ou num wazari.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ILUSÕES COLETIVAS - CONFLITOS ARMADOS


No Rio Grande do Sul é bastante comum, devido à proximidade com o país hermano, o chiste de que só valeria a pena combater numa guerra se fosse contra os argentinos. Coisas de rivalidade no futebol... na real, se houvesse uma guerra, dificilmente haveria vontade (ou coragem) em participar dela.
Se o país entrasse em Estado de Guerra e fosse iminente a vinda do conflito nas proximidades da minha residência, buscaria asilo para um país em paz: morrer lutando, enquanto os causadores riem de nós sentados em seus gabinetes?
O confronto entre Israel e o Hamas é uma prova disso: quase dois mil palestinos –a maioria de civis- e menos de 100 israelenses morreram. Os rebeldes do Hamas já deveriam ter jogado a toalha branca e partido para a negociação muito antes de a situação chegar a esse ponto. Porém, insistem em duelar com um adversário muito mais forte (amparado pelos EUA), vendo os seus morrerem... eles  não me parecem preocupados com o seu povo.
A humanidade tem vocação para confrontos bélicos. Desde a origem da civilização conhecida até hoje são inúmeros os exemplos em que se deixou a diplomacia de lado e a hastag do momento sempre foi #partiuguerra.
E o que motivava as pessoas a lutarem, sacrificarem a própria vida?
Um ideal para lutar.
As pessoas deixaram de acreditar que um confronto armado seja a melhor solução. E por quê? Porque há mais acesso à informação hoje em dia através da difusão da televisão, de jornais impressos e da internet; e em razão do aumento do nível de escolaridade. Começou-se a perceber que os ideais propostos pelos “líderes” e que culminavam em combates eram teorias muito bonitas no papel, na voz de pessoas preparadas, em imagens, entretanto, pouco praticáveis ou, pior ainda, boas para poucas pessoas e ruins para a maioria.
Hitler não perdeu a guerra sozinho. Havia muita gente o apoiando e Goebbels, seu braço direito, sabia que a propaganda era a alma do negócio. As palavras são maleáveis e os pontos de vista, vários. E o seu Ministro da Propaganda fez dos pensamentos sádicos de seu chefe militar, uma utopia aceitável para muita gente. Hoje, pensa-se diferente. Mas à época, ele recebia endosso de muito pobre e rico, analfabeto e letrado.
O Führer foi uma farsa. Uma farsa bem propagandeada. Ele vendeu um ideal, vendeu ilusões coletivas. E muitos engoliram.
Há outras ilusões coletivas propagandeadas em todos os lados: quem acredita que há armas de destruição em massa no Iraque, essa história para boi dormir dos Estados Unidos? Ou na seriedade do governo chinês que se diz Comunista para poder centralizar o poder, mas age como capitalista liberal, quando lhe convém? Quem põe fé nas palavras da família Castro, em Cuba, pelo ideal da igualdade, num país sucateado e pobre?
Então, por que tantos norte-americanos morreram no Iraque?
De graça é que não foi. Para muitas pessoas marginalizadas –principalmente hispânicos que não possuíam o visto para permanência- convocadas a combater no front, os polpudos dólares que receberam por defender os interesses da Casa Branca valiam a pena. Se não vivessem para curtir o dinheiro, pelo menos a família o teria para sobreviver.
Aí, sim, falamos de um ideal pelo qual vale a pena lutar, morrer: a família.
Se não fosse pela vida dos entes amados e o dinheiro que eles receberiam com a ida à área de conflito, certamente o contingente de militares no Iraque teria um grande déficit.
Não é diferente nas Forças Armadas. Lutar pela nação, com o sacrifício da própria vida há muito em canções de corrida. Experimenta cancelar o salário desses utópicos e convocá-los para missões em áreas de conflito! Experimenta pagar um salário mínimo!

Ideais coletivos servem para mobilizar multidões. Hitler sabia disso e se valeu dessa máxima. Os políticos bem utilizam a mídia para elegerem-se e aprovarem leis. A águia da América ilude coletivamente seus cidadãos levantando a bandeira do amor à pátria e massacrando nações que barram o seu avanço. Mas somos críticos, informados e cai bem não acreditar em todas essas ilusões vendidas e difundidas na televisão.

terça-feira, 15 de julho de 2014

HAY QUE DECIR "HASTA LUEGO"

Escrevo, na íntegra, a carta que redigi e li a meus alunos de Língua Espanhola (Rede Municipal de Ensino) ao informá-los que deixaria de dar aulas para eles, pois passaria a dar aulas na Rede Estadual. Essa foi uma decisão muito difícil para mim, mas necessária para a minha carreira profissional.

Queridas alunas e queridos alunos,

poderia apenas dizer “tchau”, mas seria muito leviano de minha parte. Daria para falar “até logo”, só que também seria um eufemismo barato, ilusório. Ou então, “adeus”, entretanto é uma expressão muito pesada e também não é a pura verdade. Talvez não haja um termo exato para expressar uma coisa tão triste e complexa.
Durante quase dois anos como maestro, aproximadamente 450 pessoas diferentes passaram por minhas mãos, pelas minhas palavras, minhas aulas, minha consideração, meu esforço. Uns 450 alunos meus. Meus, só meus. Alunos também da Geografia, também da Matemática, de Português e das outras matérias, mas, principalmente, meus alunos.
Ser professor é muito mais que vir à escola e ensinar a matéria às 13h30min, voltar pra casa às 17h30min ou fazer duas provas diferentes. É mais que explicar tantas vezes quantos forem necessárias até o aluno aprender. Mais que fazer a chamada, que escrever “Fecha: hoy es...”. É muito mais que cobrar disciplina e pedir silêncio.
Ser professor não é apenas cantar no dia do aniversário “que los cumpla feliz”. É muito mais que ensinar os “saludos”, explicar “los verbos terminados em –ar, -er, -ir”, revisar “los numerales” ou vir aos sábados pra recuperação com um cafezinho e um sanduíche.
Ser professor é tudo isso que foi dito, mas é muito mais também. Ser professor é uma filosofia de vida. Ser professor é decir “buenas tardes” e receber um estupendo “buenas tardes” dos seus alunos adorados. É brigar com seus alunos porque quer o bem deles. Elogiar quando acertam e cobrar que deem o máximo de si porque tem certeza que podem mais, muito mais. É ouvir do seu aluno um “tiozão” e achar isso bacana. Ser professor é ter 10 alunos falando ao mesmo tempo e, ainda assim, adorar dar aula.
Ser professor é amar o que faz. É amar todos os seus alunos: os que bagunçam, os que são quietinhos, os dedicados e os displicentes. É dar dura quando necessário. É dar e receber carinho.
Isso é ser professor. Isso sou eu.
Quem ensina também aprende. Talvez tenham aprendido algo comigo. Com certeza eu aprendi muito com vocês. Talvez não tenha sido o professor ideal, o professor dos sonhos. Possivelmente vocês tenham conhecido ou conhecerão professores melhores que eu. Mas tenham certeza que me esforcei ao máximo para ser um bom mestre, que dei o melhor de mim.
Amei enseñar español a ustedes. Sinto muito não poder continuar caminhando com vocês até o final do ano letivo.
Se ao sair pensarem “foi bom aprender espanhol com o sor”, ficarei feliz. Mas ficarei feliz, mesmo!, se ao sair de cena, vocês pensarem “foi bom aprender a ser ALGUÉM MELHOR”.
¡Hasta luego y un beso grande!

Maestro Giovani Roehrs Gelati.

domingo, 22 de junho de 2014

ILUSÕES COLETIVAS

Há anos que deixei de acreditar em muitos ideais coletivos. Antes me pareciam bonitos, empolgantes e os desejava alcançar. Mas essas utopias descortinaram-se como boas desculpas para as pessoas venderem mais, distrair multidões ou justificar chacinas.

Após anos de trabalho no Exército Brasileiro
O que ouvi: defender a pátria com o sacrifício da própria vida.
O que penso: desde que o salário gordo esteja na conta.

Os salários astronômicos dos jogadores de futebol contrastam com a falta de incentivo ao esporte do Brasil
O que ouço: rumo ao hexa.
O que penso: isso não vai mudar em um centavo o meu salário, nem nada na minha vida, tampouco na vida daqueles que poderiam ter o esporte como perspectiva de crescimento profissional.

A preocupação com o meio ambiente tem crescido nos últimos anos e alguns discursos mal-intencionados parecem buscar a sustentabilidade, mas a intenção é outra
O que ouço: se cada um economizar um pouco de água vai ajudar o meio ambiente.
O que penso: essa economia não é relevante enquanto imperar a obsolescência programada e grandes empresas poluírem desrespeitando leis e recebendo multas irrisórias.

Existe a América do Sul, a América Central e a América do Norte. Todos que nela moram são americanos. Nenhum dos povos pode considerar-se unicamente como americano
O que ouço: os americanos.
O que penso: eu sou americano (ou sul-americano, ora bolas). Também existem os norte-americanos.

A falsa luta contra homens-bomba esconde a intenção gananciosa de roubar petróleo do Oriente Médio e manter aquecida a indústria bélica norte-americana
O que ouço: guerra ao terror.
O que penso: desculpa norte-americana para subjugar outra nação e roubar o seu dinheiro.

Há muito pseudo-moralismo e agora é modinha reclamar da política. Passar a perna, superfaturar pequenas obras também é corrupção. A esses, falta apenas se elegerem.
O que ouço: políticos corruptos.
O que penso: políticos corruptos e povo corrupto.

Ideais coletivos não atendem fidedignamente ao que pensa a coletividade, pois cada um interpreta o seu mundo e cria as suas verdades. Há uma generalização do que se pensa, superficializando os conceitos, relativizando tudo, são ilusórios.
Essas utopias romantizam o que nem é tão belo, valem-se de apelações baratas e atendem a interesses capitalistas que geralmente são escusos. Por todos esses argumentos, não acredito mais nelas. Elas não me enganam mais.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

NOVAS POETISAS URUGUAIANENSES

O que um livro pode importar na vida de uma pessoa? Seria uma chata obrigação, necessária para passar de ano? Ou então uma necessidade para qualificar-se e obter uma promoção, um salário melhor? E qual impacto pode ter em nossa vida, positiva e negativamente a sua falta ou presença? E se trocássemos de papel, se não fôssemos mais os felizes leitores, mas os dedicados autores?
Esse prazer da inversão dos papéis pôde ser desfrutado por seis estudantes de Uruguaiana – RS. Em 2013 as alunas submeteram seus poemas a uma seleção realizada pela editora LiteraCidade, da cidade de Belém – Pará, com cerca de outras 900 pessoas de todo o Brasil. Cada uma das jovens escritoras publicou um poema na antologia literária “100 poemas 100 poetas – Volume 3”. A editora já vem realizando coletâneas há alguns anos e, através dos três volumes da antologia, disponibilizou a publicação gratuita dos textos.
Para essas jovens o livro já não é apenas mais um meio de viajar no tempo e espaço, passou a ser objeto de orgulho, de aumento da autoestima e da confiança na própria capacidade.
Nessas horas, os pais ficam orgulhosos e felizes –talvez até mais que as próprias escritoras-, os amigos olham com admiração e os professores ganham o dia com a notícia.
Publicaram seus poemas as alunas Alessandra da Silva Miranda, Andriele Vitória da Silva Alves e Andressa Romero Barbosa, estudantes do 6º, 7º e 8º Anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, mais conhecida como CAIC; as alunas Amanda Raiany Fernandes e Thalyne Patta de Mello, ambas do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Francisco Pereira da Silva, e a aluna Taimara Rodrigues Ramos, do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental General Osório.
Não é fácil publicar um livro. Não quando há seleção dos textos e ele é gratuito. E, talvez por isso, a conquista das adolescentes é tão relevante em tempos onde a leitura dá lugar à televisão, onde é mais sedutor assistir a um programa qualquer na telinha que dedicar-se às palavras de uma história.
Mesmo mais tradicional e já sem configurar na preferência da população, o livro é capaz de proporcionar momentos de prazer, de deleite num universo paralelo, fantástico ou próximo ao real. Leva à reflexão e também ajuda a modificar (pré)conceitos. E podemos acrescentar nessa definição de “livro” a palavra “mérito”. Sim, o livro é um mérito de uma pessoa quando o publica.
Por isso a publicação dos poemas na antologia é um grande passo dado por elas. Estamos ávidos para que outros estudantes também conquistem feito semelhante. Às poetisas, os parabéns e o desejo de que muitas outras conquistas venham, quer seja no mundo literário ou em outra área.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Kiss e o beijo da morte


Acordei com a notícia. Fiquei nervoso até saber que todos os conhecidos que poderiam estar lá estavam bem. Lá na Boate Kiss. Boate Beijo. E na madrugada deste 27 de janeiro, a morte beijou 236 jovens e milhares de familiares e amigos.
A morte costuma espreitar seu beijo fatal nas festas noturnas em todo o Brasil, não só em Santa Maria, local onde ocorreu a tragédia com os 236 jovens. Porque não é difícil encontrarmos casas noturnas atabalhoadas de pessoas, muito além da capacidade. O lucro parece ser bem mais importante. Geralmente são lugares fáceis de entrar e difíceis de sair, com saídas de emergência insuficientes e mal iluminadas.
Quando a tragédia ocorreu numa mina chilena em 2010, compadecemo-nos, mas tudo é muito longe, não sensibiliza tanto. Quando a boate argentina também pegou fogo em 2004 e matou 194 pessoas, pensamos que nem conhecemos Buenos Aires e o drama não tem tanto sentido. Mas quando o beijo mortal aproxima-se de nós, primeiro não acreditamos, depois nos desesperamos e então procuramos conhecidos.
Mortes em massa já ocorreram em igrejas, prédios residenciais, escolas e estádios. Depois de apurados os fatos, normalmente se verifica que a tragédia ocorreu devido à inoperância do poder público e negligência dos gestores do local. Não caiamos na armadilha de achar que é acidente. Acidente é quando não se pode evitar. Bem diferente do nosso mais novo drama.
Com o passar dos dias, as informações irão se elucidar e os culpados vão aparecendo. Mas a dor, essa irá demorar para passar. Há beijos que nem sempre fazem bem. O beijo letal da madrugada fez e ainda faz muito mal.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

AO VENCEDOR, AS BATATAS



Quando lemos os números das Olimpíadas de Londres, eles deslumbram. Foram 34 modalidades, bilhões de telespectadores assistiram às competições, 4.700 medalhas brilharam no peito dos competidores, a delegação brasileira contou com 259 atletas e eram 10,5 mil atletas de 191 países. E mesmo ainda faltando alguns anos, os números das Olimpíadas e da Copa no Brasil já atingem os milhões de reais nas verbas destinadas aos estádios e ao parque olímpico. Infelizmente, a recente história indica que muitos desses milhões irão para contas paralelas.
De números que quase não conseguimos contar rumemos para alguns de uma ou duas casas decimais. A delegação brasileira deu-nos três medalhas de ouro e um total de 17 medalhas. A equipe de futebol masculino, a mais badalada e bem paga que foi a Londres, logrou uma prata mixuruca. Esportes bem menos incentivados tiveram mais sucesso que o futebol.
Já nas paralimpíadas, a história foi bem mais agradável. O Brasil obteve 21 ouros do total de 43 medalhas. Não há o glamour das Olimpíadas: as partidas não são transmitidas em tempo real em qualquer canal aberto e os jornais não comentam muito.
Ainda que esses números, sozinhos, sejam poucos para definir o patamar de investimentos do governo em atletas, fica a dúvida, saltitando atrás da orelha: onde está a lógica em despejar milhões na conta de poucos atletas e deixar à própria sorte todos os demais?
Talvez Machado de Assis possa ajudar. Em Quincas Borba ele elaborou uma teoria com a máxima “ao vencedor, as batatas”. Explicava que havendo dois povos e comida apenas para um deles, seria suicídio coletivo tentar racionar o alimento entre todos. Seria muito mais inteligente que as batatas ficassem com o povo mais forte. Aqui na vida real, o mesmo ocorre.
Compensa muito mais aplicar muito dinheiro no futebol, que rende fortunas em publicidade do que repartir as verbas com muitos atletas e muitas modalidades. Não é por acaso que o Brasil é o país do futebol. Atletismo, judô, boxe não são páreos aos dribles dos cartolas.
Assim como no esporte, em educação, as prioridades estão longe da necessidade. O esporte e a educação andam juntos nesse caminho lamurioso. Há professores sem receber o piso salarial, que por si só já é uma afronta: 1.400 reais. Assim, perdemos um número incomensurável de atletas porque eles não têm um salário digno que lhes tire do trabalho atual para se profissionalizarem. Por má gestão. E isso é intencional.
Perdemos profissionais incríveis no ensino porque dezenas de empregos de nível médio e técnico pagam mais que o salário de professor. Por pura falta de intenção, por falta de querência. Não se quer. Não, mesmo.
Enquanto as batatas continuarem a ser entregues a poucos grupos, pouca coisa melhorará. Quando a fatia do bolo se aproximar um pouco da justa divisão, aí poderemos pensar em igualdade de oportunidades, em melhores resultados no esporte, em melhores índices educacionais.

Protegido