quarta-feira, 27 de outubro de 2010

POR UM RIO GRANDE MELHOR EM 2020



Publicado no O Jornal de Uruguaiana em 27 out 2010


Para crescer profissionalmente, você toparia estudar de madrugada? Pois tem gente que encara o desafio e estuda. É o que relatou a reportagem da Revista Veja Online do dia 10 de outubro. Com a manchete “Brasileiro faz curso até de madrugada para subir na vida”, a equipe de reportagem ilustrou a solução que muitas pessoas vêm encontrando no intuito de melhorar de emprego e salário. A eleição ao governo do estado já está definida e à presidência encaminha-se para o final. Governador e presidente eleitos terão uma difícil missão a cumprir dentro da área educacional: resgatar a dignidade de professores e alunos.
O Centro Universitário UniÍtalo, de São Paulo, adotou um quarto turno de aulas: das 23 horas à 1:45h. Dessa forma, atingiu um nicho de trabalhadores que não teria outro horário para estudar. São menos horas de sono, descanso e lazer. Mas o planejamento a médio prazo carrega a esperança de melhor emprego, remuneração e condições mais dignas de vida.
Procurando soluções menos drásticas que a encontrada pelo UniÍtalo e que possam servir de propostas palpáveis aos futuros governantes, no ano de 2006 foi criada a Agenda 2020 no Rio Grande do Sul (http://www.agenda2020.org.br/). É uma parceria entre governo, ONGs, universidades, demais instituições e empresários. São debatidos os problemas de áreas básicas como educação e saúde, além de outras nove (desenvolvimento de mercado, desenvolvimento regional, inovação e tecnologia, gestão pública, cidadania e responsabilidade social, infraestrutura, ambiente institucional, meio ambiente e disponibilização de recursos financeiros). Assim, objetiva-se tornar o nosso estado um lugar melhor para viver e trabalhar até o ano de 2020.
Foram elencadas algumas propostas para sanar as deficiências no ensino gaúcho: ampliação de escolas em tempo integral, investimento na qualificação dos professores, implementação de um modelo de educação de qualidade e ampliação do ensino profissionalizante. Mas alguns entraves são vislumbrados: a inflexibilidade orçamentária do governo, a desatualização do plano de carreira do magistério e o crônico problema de negociação entre governo, magistério e sociedade.
Para termos uma noção de como andam os nossos alunos, vejamos a seguinte situação: a taxa de aprovação no ensino fundamental na rede pública estadual em 2008 no estado atinge o patamar de 80,8%, enquanto no Brasil o índice é de 82,3%. Já nas escolas particulares, esse número sobe para 96,3% no Rio Grande do Sul e 96,4% em nível nacional.
Ainda, conforme estudos realizados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pela UFF (Universidade Federal Fluminense), cada ano a mais de escolaridade da força de trabalho faz aumentar em até 20% a renda per capita. Comparando com nossos vizinhos, a escolaridade dos brasileiros, média de 4,7 anos de estudo no Brasil e 6,4 anos no Rio Grande do Sul, está muito aquém da Argentina (8,5 anos), Chile (11 anos), Peru e Uruguai (7,3 anos).
Lógico que apenas índices de aprovação e escolaridade não servem, unicamente, como radiografia da educação. Há que se investigar com que qualidade esses alunos avançam de série. E a resposta não cabe em meia dúzia de parágrafos. Esses indicadores de aprovação alarmam-nos quanto à disparidade existente entre escolas públicas e privadas e a escolaridade faz-nos questionar o porquê de países mais pobres que o nosso terem mais sucesso no acesso à Educação Básica. Proativamente, a Agenda 2020 concretiza-se como uma importante ferramenta para os governos que assumirão o comando da nação em 2011 definirem os rumos de seus esforços na área e para a sociedade apoiar-se e reivindicar as soluções que são propostas.

domingo, 17 de outubro de 2010

ESPERANÇA, ESPERANZA, HOPE

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 15 out 2010
e no Jornal da Cidade Online, em 17 out 2010.

 Minha avó descobriu há pouco tempo que realizaria sessões mensais de quimioterapia. Esta última palavra assusta. A lembrança de histórias de pacientes terminais e mesmo filmes e novelas abordando o tema não trazem à lembrança, boas recordações. Mas também há incontáveis relatos de melhoras, de recuperação completa, sem maiores sequelas. É onde reside a esperança. É como ela se posiciona diante desses acontecimentos. É assim que um bom tratamento deve começar.
Assim como ela, no sábado anterior ao resgate, os 33 mineradores chilenos que estavam soterrados na mina San José realimentaram suas esperanças de terminarem bem a história. Na data, fora concluída a perfuração do túnel por onde subiriam à superfície. Na noite de terça para quarta iniciou-se o resgate, terminando 22 horas depois. Mesmo sem saber que a operação teria sucesso, os próprios mortos-vivos, seus familiares, aqueles que trabalharam na empreitada e os que acompanhavam os acontecimentos nos noticiários puderam beber mais uma dose de esperança ao ser noticiado o fim da escavação do túnel.
Alguns traumas surgem na nossa vida e agarramo-nos em nossas convicções para que a autoestima não desça aos calcanhares. Tomamos um “solapaço” nas nossas expectativas e prendemo-nos na ideia de que estamos sempre sujeitos à frustração em nossas empreitadas. Descobrimos uma doença e absorvemos até as vírgulas das palavras dos médicos, falamos aos que nos rodeiam que o problema há de se resolver e repetimos essa teoria a todos que nos questionam quanto à gravidade da enfermidade. O argumento sempre convence. Convence-nos. Porque se não estivermos convictos de que melhoraremos, como poderemos superar a dificuldade? Saber que tantas outras pessoas passaram pelo mesmo drama e superaram faz com que a esperança de melhora se materialize em histórias de vitórias perante os incautos da doença. Claro que esperança, apenas, não resolve nada. Precisa-se lutar e jamais desistir.
Há aqueles que pereceram perante a doença, não conseguiram driblá-la. É a realidade. Os que sobreviveram diante dos meses ou anos deitados e agora estão melhor também são a realidade. E muito mais que isso: são a esperança de que necessitamos.
Não fosse a esperança de encontrar os filhos desaparecidos, que razão teriam algumas mães para viver e buscar em cada rosto na rua o do seu ente amado? Se não tivéssemos a convicção que pelo trabalho conseguiremos melhorar de vida e que nossos descendentes dependem totalmente de nós até a vida adulta, por que trabalharíamos cada vez mais? A esperança de estar seguro financeiramente, estável, faz com que lutemos mais e mais para subirmos na vida.
Em português, esperança. Em espanhol, esperanza. Em inglês, hope. Independente da língua, pronúncia e das nações que a pronunciam, a esperança por dias melhores faz-se presente em todos os rincões pelos quais passarmos. A música é a excelência da demonstração da necessidade que temos em agarramo-nos no que nos gera esperança, sobrevida: “vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais (…) dias melhores, pra sempre”, da música “Dias melhores”, do Jota Quest.
Na década de 70, a música “Imagine”, d'Os Beatles, alavancou um universo de esperanças por um mundo melhor, de paz, sem fronteiras, sem ideais maléficos, sem materialismo, nem individualidade. A esperança por um mundo menos desigual levou John Lenon, que estaria completando neste mês 70 anos de idade se fosse vivo, a compor uma das músicas mais ilustrativas da esperança humana. No Brasil, vivíamos os “anos de chumbo”, nos Estados Unidos, a Guerra do Vietnã. Em ambos, não havia consentimento da maioria da população. Eram ações governamentais impopulares. Qualquer canção que levasse seus ouvintes a delirar por um novo Jardim do Éden ou mesmo um mundo menos injusto e mais democrático era a deixa necessária para encher corações e mentes de esperança. E aqueles tempos cinza acabariam, assim como a guerra na Ásia. Os esperançosos procuravam acreditar que a Ditadura estava encaminhando-se para o fim, que não duraria muito, ou, pelo menos, que não os atingiria.
Sem motivação, arrastamo-nos no dia-a-dia. Sem esperança, paramos no tempo, regredimos, adoecemos e morremos, invariavelmente. Sem esperança, perdemos a batalha antes mesmo de iniciá-la, caímos quando ainda estamos sentados, perdemos quando o placar ainda está 0x0. Se não acreditarmos que o futuro há de ser melhor que o presente e ainda melhor que o passado, ele não será melhor, definitivamente. Claro que devemos aproveitar o presente, sobremaneira. Mas se não tivermos esperança de melhorar, de que adiantará lutar?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

NÃO DÊ O LADO À MESQUINHEZ


Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 06 Out 2010
e no Jornal da Cidade Online, em 10 Out 2010.


Aprendi com um professor de basquete que no jogo não se pode dar o lado para o adversário, sob a pena de cometer uma falta ou deixá-lo passar e realizar a cesta. E depois de cinco faltas, o outro time tem o direito a arremessos livres, independente do local da falta. Ela é dura, mas tem o mérito de condicionar o jogo a um número inexpressivo de faltas. Esse mesmo professor falou que para não deixar o oponente passar pela marcação, deve-se dar uma passada lateral rápida, de modo que você fique de frente para ele. Caso estiver com apenas parte do corpo interferindo na passagem, marque-se falta!


Lembrei-me logo dessa situação quando uma amiga contou-me que tentava estagiar numa escola e precisava dos horários que uma colega também faria o estágio naquela escola, para não serem os mesmos horários nem nas mesmas datas. Havia mais complicações ainda: estava entrando em férias exatamente para fazer o dito estágio. Sem a definição dos horários da colega, prejudicava o início das férias, incerto ainda devido a esse infortúnio. Percebeu que isso era má vontade da companheira porque esta desejava que outra colega de classe estagiasse naquela escola. Nesse contexto, mostrava-se insensível com o drama dessa minha amiga. Prejudicava-a simplesmente porque queria que outra ocupasse o seu lugar. Muita mesquinharia. Outro colega aconselhou: conversa com a diretora, já define os teus dias e deixe que ela arrume o horário de acordo com os teus. Não queria fazer aquilo, porque achava que poderia prejudicá-la de alguma forma, forçando-a a arrumar o seu horário, uma vez que a colega também trabalhava.

Quando me relatou o acontecido, logo associei ao treinamento de basquete. Chulamente, é a mesma coisa: dar uma passada lateral para obstruir a passagem do adversário não é falta, uma vez que você está sendo mais rápido que ele, está jogando de acordo com as regras, não faz falta e o adversário comunga das mesmas regras do jogo; é a mesma coisa que procurar a autoridade de direito para acelerar um processo que está sendo retardado por outrem que tem o intuito apenas de prejudicar. Você não estará prejudicando a outra pessoa, e sim, apenas indo em busca dos seus direitos. Lógico que num jogo uma equipe tenta prevalecer perante a outra e na vida profissional, ao menos deveria ser assim, os dois profissionais podem convivem pacificamente concomitantes.

É desejo de todo o mundo crescer na vida, ser feliz, alcançar os seus objetivos, ter o seu trabalho reconhecido. E isso só se conquista com o esforço individual, com o seu sacrifício. Para algumas metas o caminho a ser galgado é mais tranquilo. Para outras conquistas é mais inclinado, tem mais pedras, diversos desvios e contornos a serem adotados. E muitas vezes o sucesso trava frente as nossas limitações, a outras pessoas que são indesejavelmente inoportunas ou mesmo ao pouco esforço ensejado na busca pelo objetivo.

Não é preciso que mesquinharias permeiem nossas atitudes. Não precisamos derrubar outro colega de trabalho para conquistarmos o nosso espaço. Se temos competência, haverá lugar ao sol. Caso contrário, nem um suposto “concorrente” fora do páreo manterá nossa vaga. Que haja reconhecimento por nossos méritos, não porque fomos os únicos que sobramos.

Pessoas assim, individualistas, não faltam por aí. No mercado de trabalho encontramos aos montes, disfarçadas como colegas, amigos, chefes e empregados. Dar o lado no basquete é deixar que o adversário faça uma cesta. Na vida cotidiana, é assumir postura submissa, deixar que os outros lhe prejudiquem e você não fazer nada para reaver a situação. Buscar nosso espaço, dentro da legitimidade das regras básicas que o convívio impõe é uma obrigação. E se outra pessoa prejudica-nos, defender-se com as armas que estão à disposição é a melhor feita. Ainda mais se o que se está buscando é o eticamente mais correto.


E TODOS FORAM FELIZES PARA SEMPRE...

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 1º Out 10
e no Jornal da Cidade Online, em 03 out 2010

Cheguei em casa cansado, depois de um dia na labuta. Liguei a televisão. Escrito nas Estrelas. Zapeei e no SBT passava o Programa do Ratinho. Na TV Pampa, uma reportagem fútil sobre a vida de algum artista. Voltei à novela e comecei a me lamuriar com a ingloriosa programação. Desculpa-me minha vozinha querida, meus amigos e tantos outros milhões de brasileiros afetos a novelas, mas no canal aberto não tinha nada decente sendo transmitido naquele momento... Apareceu um casal junto, antes separados pela megera Judite. Deduzi que a novela chegava ao final. Daí surgiu a ideia desta crônica. O normal seria desligar o aparelho e fazer qualquer outra coisa. Mas segui, acompanhando o desenrolar do capítulo.
Lembrei, neste momento, que quando pequeno, era um alvoroço em casa na última semana da novela. E os últimos capítulos vestiam-se de muita expectativa. Já, desde aquela época e muito antes disso, o final era feliz, os bonzinhos casavam-se, tinham filhos, não perdiam o emprego, nem descobriam alguma doença. Aliás, era no final que se curavam das enfermidades.
As novelas, em partes, imitam a realidade. Algumas histórias, trágicas, infelizmente são o retrato de famílias desestruturadas ou de pessoas com problemas psicológicos sérios. Mas na vida real, nem sempre os finais são felizes.
Desde pequenos buscamos coisas boas, histórias com final feliz. Assim são os contos-de-fada: há o mal e o bem. E este último sempre vence o primeiro. Crescemos e continuamos buscando finais felizes. Mas descobrimos que as histórias que ouvimos na infância não são verdadeiras. E as garotas descobrem que o príncipe está mais para sapo. E os rapazes deixam de procurar a Cinderela, focando-se em mulheres menos encantadoras. Mas continuamos em busca das histórias que terminam bem.
O que se pouco sabe é que mesmo as histórias de Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Cinderela, Rapunzel, inicialmente, não terminavam bem. Eram contos transmitidos oralmente, mas não tinham nada de infantil. Numa das versões, Chapeuzinho bebia com gosto o sangue da vovó, assassinada pelo lobo-mau e noutra, o lobo jantava a garota, literalmente. Só com os Irmãos Grimm é que a história foi para o papel, a figura do caçador surgiu, os bons tornaram-se vencedores e o maus, perdedores.
Na história da Bela Adormecida, a protagonista adormece e é abandonada pelo pai. Fica adormecida, sozinha, em casa. Após isso, o rei, casado, passa pela casa e encontra a jovem dormindo. Relaciona-se sexualmente com ela e a engravida de gêmeos. As crianças nascem e amamentam-se da mãe sonolenta. Ao tentar mamar, uma das crianças chupa-lhe o dedo, tirando a farpa envenenada, fazendo com que a Bela acorde. Um ano depois, o rei retorna à casa da jovem e passa a tê-la como amante. Os finais não eram felizes, nem moralistas. Mas com o passar do tempo, mudaram e foram aceitos popularmente. É o dito final feliz que todos buscam. E nessa busca pelo elixir, mescla-se o que é realidade com ilusão.
Diferente da novela, onde tudo acaba bem e foram felizes para sempre, na vida real, muitas histórias findam numa tragédia, ou acabam apenas tristes. E o mal não tem apenas cara de lobo-mau, ou de monstro, sequer é feio, maltrapilho ou ignorante.
Inclusive, essa linha entre o mal e o bem geralmente não é bem definida. Não tem um rio que os divide, uma cordilheira que os separe. É imaginária e oscila para um lado e para o outro. Estendemos a mão a algumas pessoas e, ao mesmo tempo, prejudicamos outras. Às vezes, a mesma pessoa realiza, concomitantemente, boas e más ações.
Desejamos a realidade। Mas queremos, também, um final feliz. E buscamos essa felicidade completa nas novelas. Sejam elas as pornochanchadas e remakes da Globo, os dramalhões do SBT ou as séries com acontecimentos improváveis dos canais por assinatura. Projetamos na televisão a realidade que somos em busca do final feliz que queremos. E a televisão dá-nos essa falsa realização. Por essas e outras, prefiro livros, filmes, uma volta no centro ou um chimarrão na Praça do Barão.
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“Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre: vai passar na televisão”. Renato russo

APROVEITANDO O CURTO ÓCIO

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 22 set 2010.

Independente do ritmo de trabalho que temos, sempre haverá alguns momentos de ócio. Trabalhamos pela manhã, à tarde e à noite para poder levar a comida aos filhos. E o organismo esgota-se até o seu último nível. Mas os minutinhos de não fazer nada permanecem existindo. E foi num desses momentos de ócio criativo que pensei em atividades construtivas para serem feitas nessas horas.

Sinto-me um total inútil na fila de banco. Quando é início do mês ou sexta-feira, então, é terrível. São horas à espera. Por mais que a lei ampare o cidadão estabelecendo um prazo máximo de espera, nunca vi isso funcionar. O que fazer na fila?

Pode-se pegar o celular (hoje quase todo mundo tem, até crianças de 10 anos, infelizmente) e começar a limpar a caixa de entrada. Nela tem as mensagens importantes que recebemos durante o dia e as confirmações de torpedo enviado e consulta de saldo. Passa-se alguns dias sem limpá-la e já lota. Você não pode receber mais mensagens porque a caixa de entrada está lotada. Corriqueiramente isso me acontece. E nada melhor que a fila do banco para deixar em dia o espaço no HD do celular.

Outro costume maravilhoso que não é muito difundido é ter sempre à mão um livro de bolso de piadas. E que sejam novas, também. Piada que se conhece não tem graça. Porque se temos aqueles cinco minutos esperando o carona que entrou numa loja para fazer o pagamento de uma conta, não tem como pegar Cem anos de solidão para ler. Até relembrar todo o enredo e em que parte da história lia anteriormente, já se passaram os minutos. Então, associe o pouco tempo a uma piada, que geralmente é curta e pode ser interrompida sem maiores traumas. Ler faz bem e piada faz rir, o que também é muito positivo.

Rever os compromissos da agenda é um boa opção para ocupar o tempo quando lhe sobrar valiosos curtos minutos. Mas você não tem agenda? Então pegue a folha de papel que anotou o que precisava fazer no dia e reorganize os compromissos. Possivelmente serão necessárias algumas alterações. Porque nada acontece exatamente como o planejado. E planejar o que se tem para fazer normalmente é um tanto atirar no escuro: se houver um imprevisto, muda toda a programação. Poderá economizar tempo deixando para outra horas coisas menos importantes.

Dentre essas coisas e outras mais, julgo mais importante ligar para um parente que há tempo não se recebe boas novas. As operadoras possuem sempre algum programa de bônus e geralmente eles esgotam no fim do dia. Não dá pra enriquecer com os ditos bônus, como no meu caso, onde tenho 35 minutos diários que se esvaem às 23:59h. Então, ligue para o primo que há meses não fala. Nem que seja só dois minutos. Fará a diferença. E se ele estiver triste, precisando de ao menos um “oi” amigo? Já que não custará nada e o tempo seria ocioso mesmo...

Mas o tempo de folga forçada também serve para ser aproveitado como, efetivamente, folga. O dia já é desgastante o suficiente para poder curtir aqueles segundos sem atividade mental e física. Então descanse. Você merece.

Os momentos que passam e, por algum motivo, não aproveitamos, não voltam mais. Somem no ar e fixam-se na memória, apenas. Se existirem, que sejam bem aproveitados. Não só os momentos ociosos, não apenas os minutos que são mortos, onde não temos como acelerar e adiantar algo que precisamos fazer.

Mas todos os momentos, todos os instantes onde temos problemas a gerenciar. Se aproveitarmos isso para preencher a nossa linha do tempo, ótimo.

OS ANÕES IGNORADOS

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 15 set 2010
e no Jornal da Cidade Online, em 27 set 2010.

A máxima de que “a união faz a força” foi retratada numa notícia, no mínimo interessante, da Revista Veja Online, dia 10 de setembro. Eis a manchete: “Em luta por árvore, formigas afastam elefante”. Quando o menor derruba o maior, faz-se alarde. Quando quem, naturalmente, estaria em desvantagem, muda a lógica do jogo e assume o poder, o fato é anunciado aos quatro ventos. E tem que ser, mesmo.
Essas minúsculas formigas são quenianas e conseguem afastar elefantes das árvores onde habitam, entrando nas suas trombas, incomodando-os. Dessa forma, os pesados mamíferos nem se aproximam das árvores. É a natureza se regulando, estabelecendo o equilíbrio de forças entre pequenos e gigantes. As árvores servem de lar às formigas, que as protegem dos elefantes, os quais se alimentam de outras árvores ilesas desses insetos.
A vitória do menor diante do maior também ocorreu com Davi e Golias, onde o gigante foi abatido por uma pedrada certeira. As micro e pequenas empresas lutam com todas as armas que dispõem para sobreviver entre um imposto e outro, queda nas vendas, assaltos e inflação. O guri da 5ª série quer ser como o adolescente do 3º ano, mas lhe tem medo. E em tempos eleitoreiros, os pequenos partidos lutam deslealmente contra as grandes alianças.
Percebe-se, facilmente, a diferença que tem as propagandas da Dilma e do Serra comparadas com a da Marina Silva e todos os demais candidatos. Enquanto nos presidenciáveis do PT e PSDB sobra tempo (10min38seg e 7min18seg, respectivamente), dinheiro e recursos multimídia, nos outros a simplicidade impera. Para quem desconhece o nome dos candidatos menos badalados, sabendo unicamente que existem Dilma, Serra e Marina Silva (PV), lá vão os demais: Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), Ivan Pinheiro (PCB), Levy Fidelix (PRTB), José Maria Eymael (PSDC), Rui Costa Pimenta (PCO) e Zé Maria (PSTU). Mas... como o estimado leitor conseguiria gravar algum desses nomes, se Marina Silva e Plínio Arruda têm pouco mais de 01 (um) minuto para pronunciar-se e os demais candidatos-nanicos, míseros 56 segundos?
Se somarmos os tempos de Marina Silva e dos demais minuteiros, não atingiremos o tempo que a presidenciável Dilma dispõe na televisão/rádio. E, se contabilizarmos os orçamentos das campanhas dos primeiros, necessitarão serem multiplicados por muito para que se atinja a igualdade com os valores de Dilma e Serra.
Nas propagandas do PT/PSDB, a abundância financeira e temporal proporcionam histórias tristes de pessoas que lutam diariamente para conseguir o sustento, acompanhadas de músicas apelativas. Tudo isso com o único intuito de persuadir o telespectador/ouvinte. E é lógico que não tem como saber se a história é, verdadeiramente, real; se não é uma exceção à regra; se não é a visão distorcida de um fato que foi apresentado daquela maneira apenas porque era conveniente. Se no comércio existem leis que favorecem os pequenos empresários a crescer, no regime eleitoral a lei é quem oprime os candidatos dos partidos menores, estreitando o tempo.
Claro que sempre há alguns candidatos bizarros que fazem piruetas para chamar a atenção, com um discurso vazio, o que faz o processo democrático de eleição perder um pouco a seriedade. Desconsiderados esses banais travestidos de candidato, há, também, o desespero em apresentar uma proposta de Governo, em nível federal, num irrisório minuto. Você acha que cabe em 56 segundos as propostas para um país como o nosso? Se alguns candidatos são insignificantes nas pesquisas eleitorais, da maneira como o processo eleitoral segue, jamais conseguirão galgar degraus nas intenções de voto. Ninguém os conhece, nem há tempo para que sejam conhecidos!
“Se, reduzidos ao desespero, os inimigos vêm dispostos a vencer ou morrer, evita o combate. Deixa uma saída a um inimigo acossado; caso contrário, ele lutará até a morte”. É o que traduziu, em 1772, o padre Amiot, dos escritos de Sun Tzu. Ele passou do chinês para o francês. Sun Tzu ainda gera dúvida se existiu realmente ou foi apenas uma lenda. O fato é que “A arte da Guerra” foi escrita há cerca de dois mil e quinhentos anos e o livro é utilizado atualmente por empresas, de onde depreendem dos ensinamentos militares as decisões que os executivos necessitam tomar frente às problemáticas empresariais. Mas o que Tzu não previu nesses seus tratados sobre o combate, é que o eleitor seria o telespectador de um absurdo: mesmo com os candidatos-nanicos acossados, lutando com as armas que têm (paus e pedras, apenas), o sistema os tolhe e, ainda que lutem até a morte, desesperadamente e com todas as suas forças, pouco crescerão, porque não lhes é aberto espaço para falar.
Mesmo que alianças sejam feitas para aumentar o tempo de propaganda eleitoral e somar simpatizantes, distribuir desuniformemente os tempos é uma prova que não evoluímos tanto assim no processo eleitoral. A urna eletrônica é um avanço maravilhoso. O cadastro biométrico é excelente. Mas ainda há falhas.
O circo está montado, dois palhaços digladiam e a plateia presta atenção em polvorosa, ignorando os anões que se debatem à volta da arena.

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