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domingo, 25 de setembro de 2011

UFANISMOS E BAIRRISMOS

Publicado no Jornal da Cidade Online em 25 Set 2011

BAIRRISMO. É UMA PALAVRA QUE TODO GAÚCHO SABE QUE LHE PERTENCE, MAS FAZ DE CONTA QUE DESCONHECE. Ilustra isso o fato de os moradores da Província de São Pedro creem que o mundo é um amontoado de terras em torno do Rio Grande. Comprovam a tese sites, piadas, músicas e muitas outras mentiras que contam os feitos heroicos dos antepassados dos pampas. Em contrapartida, um gaúcho mais desavisado poderia dizer “ah, mas somos os únicos que cantam o hino sul-rio-grandense, que amam de verdade essa terra. Somos os únicos que conservam as tradições, cevando mate, gineteando, usando bombacha, falando abagualado em gírias que precisa nascer aqui para conhecer, troteando a cavalo e levantando cedo para cuidar do gado”.


Tudo ufanismo. Porque gaúchos tradicionalistas, de bota e bombacha, de acordo com o que manda o figurino, são poucos. O resto, no máximo, é o que se denomina “gauchão de apartamento”, que se descobre taura somente perto do 20 de setembro. Ufanismo porque quem ama a própria terra e ama os seus iguais, não rouba, não engana, não tira vantagem. E de gente assim o extremo-sul brasileiro está lotado. E quanto ao chimarrão, o apreço por ele não se resume ao nosso estado, porque basta atravessar o Uruguai que nossos vizinhos hermanos também gostam do amargo.


Da mesma forma, foi ufanista a comemoração do dia 11 de setembro. Muito antes que um lamento, as reportagens veiculadas na mídia pareciam lembrar um festejo. Ufanismo, sim, porque os Estados Unidos pareceram ser vítimas indefesas numa semana que se falou sobre os dez anos da tragédia do World Trade Center e se deixou de refletir sobre a independência do Brasil no dia 7 e a Revolução Farroupilha no dia 20.


É bairrismo haver uma única pauta: as Torres Gêmeas. Um colunista disse que estava lá no dia e que, devido ao imediatismo dos meios de comunicação, a única diferença existente entre assistir pela televisão e presenciar era o olfato. Um cheiro de pó insuportável. Outra colunista relatou que já tinha um texto pronto, mas que ao assistir à tragédia, fez um novinho para o periódico, falando na nossa vulnerabilidade. Sim, a dita vulnerabilidade.


Sim, foi muito triste a queda dos prédios, as pessoas mortas, o tempão que demoraram a encontrar muitos corpos e o desespero dos familiares sem saber se o filho, a filha ou o pai comporia o nome na lista de falecidos. Mas falar sobre esses fatos apresentando os Estados Unidos como a vítima que nunca fez nada a ninguém é uma demonstração de total falta de senso crítico. Falta de senso crítico e muito bairrismo.


Pensar que o Rio Grande do Sul é o melhor estado do Brasil também é ser bairrista demais. Ele é apenas diferente. Acreditar que o Brasil é uma terra de gente boa e feliz é ter amnésia do que se assiste, ouve e lê nos noticiários diariamente. Há muita imoralidade, falta de caráter e nem precisamos virar a esquina para presenciar. Achar que os terroristas não usam gravatas e são apenas aqueles que põem bomba no corpo é afrontar a capacidade humana de pensar.


Quando valorizamos o que é nosso não quer dizer que desprezamos o resto. Se o fazemos é porque gostamos. E isso é sadio. Mas o amor em excesso chama-se obsessão e de amor louco, muita gente já morreu. Morreu cego. Cego de amor e vazio de razão. Por isso que o bairrismo, quando deixa de ser uma piada e passa a ser uma ideia cega é tão perigoso quanto amar desesperadamente: esquecemos as outras versões da história e acreditamos que esse nosso mundinho é o único correto. E, possivelmente, não é.

domingo, 11 de setembro de 2011

DESFILAR PARA QUEM?

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 11 Set 2011   O DESFILE DE 7 DE SETEMBRO É UM BOM MOMENTO DE EXERCÍCIO CÍVICO e a oportunidade perfeita para estimular as crianças a amar a própria pátria. Mas não é só isso, felizmente: tem valor educacional, integra os estudantes das escolas que desfilam e é um movimento social onde a população assiste aos seus familiares e amigos na avenida. Também serve para protestar, porque motivos não faltam em nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve!
Os alunos que desfilam envolvem-se com os preparativos do 7 de setembro, principalmente aqueles que compõem as bandas marciais. Nelas, a inteligência musical é despertada e estimulada. Além disso, crianças e adolescentes tornam-se um pouco mais disciplinados, fato este que inexiste em muitas realidades familiares.
E se estudantes estão nas ruas, pais também lá aparecem. É uma festa linda, onde os melhores espaços para assistir escolas, empresas e militares passar são divididos, democraticamente, com o único critério de chegada: quem aparece antes, fica à sombra e pode se espalhar numa cadeira de abrir. Nada de ingressos caros para ver meia dúzia de carros alegóricos. O carnaval cívico não tem área VIP, e dessa forma, congrega pobres e ricos num mesmo ambiente.
Independente da origem dos desfiles que ocorrem nesta data, hoje, o que se vê é uma população que gosta de ir à avenida também para demonstrar o apreço à pátria, mas, principalmente, para que aqueles que estão lá de espectadores os vejam. Ninguém se preocupa com as autoridades que ostentam sua pompa no palanque. É apenas mais um lugar da avenida, onde há outras pessoas comuns assistindo. E é bom que seja assim.
Diz-se dos desfiles militares que são o inverso dos circos. Enquanto nestes há um palhaço para 100, 200 pessoas, nas marchas de farda há 100, 200 palhaços para uma única pessoa. E o desfile de 7 de setembro tem a grande façanha de ratificar essa ideia. A criança percorre todo o trajeto na avenida procurando os olhos orgulhosos dos pais e todo o esforço é válido pelo curto momento em que os enxerga. O adolescente caminha querendo que a ficante o veja desfilando. As razões são muitas e possivelmente nada têm a ver com o desejo de passar com garbo pelo prefeito no palanque oficial.
E se há uma multidão reunida, abre-se o espaço para a livre expressão, para protestos, para a população não se calar diante das injustiças que assolam este país tropical. Todos os anos ocorrem protestos e se perpetuarão no tempo até que a impunidade diminua. Mas creio que será no “Dia de São Nunca”.
O 7 de setembro só não é mais popular porque não gera receitas para o Estado. O desfile não é transmitido na televisão e os únicos que lucram no dia são vendedores de cachorro-quente, pipocas, pastéis e refrigerantes. E isso é um fator mais que suficiente para justificar a falta de estrutura no evento, o descaso das prefeituras.
Não esqueçamos os feitos do passado, a luta pela independência da colônia, de um povo obediente às ordens de terceiros que pouco se importavam com os que aqui viviam. Mas não tapemos os olhos, nem calemos as nossas vozes, porque tem muito parlamentar acreditando que ainda estamos na era colonial: que ele pode sugar todo o sangue da nação igual a antes de 1822.

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