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domingo, 21 de agosto de 2011

Coisas do passado

Publicado no Jornal da Cidade Online em 21 Ago 2011
QUANDO TECNOLOGIAS SÃO ULTRAPASSADAS, CONDENAMOS O QUE É OBSOLETO À EXTINÇÃO. O Blu-Ray tem se popularizado e, com facilidade, fazemos download gratuito de filmes pela internet. Os sons automotivos deixaram de lado os CD e DVD e passaram a adotar a entrada USB. O resto é antiguidade. Em casa, basta conectar o computador a caixas de som potentes e as músicas serão tocadas diretamente do PC. No passado, era necessário gravar um CD de mp3 para ouvir e, antes ainda, um CD de áudio. Para não se falar das fitas K7, do disco de vinil e dos rádios a pilha, relíquias que servem para exposição.
Além disso, a evolução fantástica dos computadores substituiu os trambolhos volumosos por máquinas mais compactas e potentes: dos computadores de mesa para os notebooks, netbooks, palmtops e tablets. Lembra-se dos mimeógrafos? Grande parte das escolas deixou de utilizá-los e passou a adotar o projetor multimídia como ferramenta auxiliar de trabalho.
Mesmo com essa gama de novidades eletroeletrônicas, os equipamentos antigos resistirão ao tempo. E quem aposta na sobrevivência, apenas, das novas tecnologias, demonstra uma visão muito parcial da realidade. Não conhece o mundo ao seu redor ou, então, não faz questão alguma de sair do seu sofá elitista e olhar para os lados.
Essas evoluções, muito bem-vindas por sinal, chegaram e facilitaram a vida. Deixaram as ações mais dinâmicas. Podemos conectar-nos ao Orkut e Twitter pelo celular ou achar qualquer ponto numa cidade desconhecida com facilidade através do GPS. Contudo, as inovações tecnológicas não são acessíveis a todos, porque boa parcela da população recebe um salário que mal paga o alimento. Terão condições de adquirir um bem desses? Não há boas perspectivas para isso.
Na crônica “Escrever à mão” de 17 de julho, no Caderno Donna, do jornal gaúcho Zero Hora, a colunista Martha Medeiros sentenciou que, em breve, ninguém mais usará cadernos, e sim, tablets. Canetas, lápis e apontadores serão artigos de museu e, possivelmente, substituiremos os livros impressos pelos e-books.
Acreditar que toda a população terá condições de comprar um tablet para usar como caderno é ter uma visão muito simplista. É ilusão das grandes crer que as escolas evoluirão ao ponto de excluírem os cadernos e adotarem, apenas, as mídias digitais. Quem sabe daqui a mil anos... Eu gostaria muito que essa integração com as tecnologias ocorresse nas escolas nessa intensidade, porque já há muito tempo deveria ser realidade, mas estamos muito aquém do que fantasiou a cronista.
É impossível imaginar uma escola de última geração se há poucos professores capacitados para trabalhar com computadores e afins e os recursos financeiros mínimos previstos na constituição nem sempre são cumpridos pelas autoridades. Apresenta-se improvável o amplo uso das tecnologias, pois os problemas da educação são vários, as soluções, complexas e devem ocorrer em conjunto com os demais setores. E não é da noite para o dia que se chega a um resultado positivo. Depende de políticas públicas que, dentre outros fatores, diminuam as desigualdades sociais.
É fácil se enclausurar numa redoma de vidro, num mundinho perfeito, bem parecido com o nosso. Porque a pobreza é algo feio de se ver e sentir. Muito mais conveniente crer que todos comprarão tablets quando o preço baixar de atuais R$ 900,00 (os modelos mais baratos) para R$ 200,00. Acreditar nisso é ser como o protagonista Jimmy, do filme “Jimmy Bolha”, que, por ter o sistema imunológico debilitado, vivia numa bolha de plástico, sem contato com os ares impuros da realidade. De lá, imaginava e vivia o seu mundo de acordo com o que supunha ser o real.
Não é inusitado ver alguém ouvindo música ou jogo de futebol em radinhos a pilha. Nas escolas, o mimeógrafo já deveria ter caído em desuso há vários anos, mas permanece sendo utilizado, concomitante à fotocopiadora e ao projetor. Se eu fosse apostar na longevidade do mimeógrafo ou na disseminação dos tablets nas escolas, não teria dúvidas em apontar a prevalência do primeiro. É uma triste constatação, mas é real.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

EFEITO BORBOLETA

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 1º Set 2010.

Neste último final-de-semana estava prestigiando a formatura de alguns amigos e deparei-me pensando em como o meu destino poderia ter sido diferente caso eu houvesse tomado outras decisões no decorrer da vida. Se não me mudasse daquela cidade, talvez estivesse junto aos formandos, seria um deles. Se não terminasse o primeiro namoro, estaria em outra formatura, noutra cidade. Se continuasse com a segunda namorada, talvez não estivesse nem em uma formatura, nem na outra. Destino modificado devido a uma série de escolhas. Algumas direcionam a vida para um caminho ou outro. Outras levam a esses momentos decisórios. Não se trata de atitudes deterministas como a fajuta mudança de destinos devido a detalhes, encontrado nos filmes da série “Efeito Borboleta”, e sim, de diversas ações que nos levam a algum lugar.

Aproveito e faço um gancho com a crônica da Martha Medeiros deste último domingo, dia 29 de agosto, na Zero Hora, “Em que esquina dobrei errado?”. Ela recorda de uma situação que passou, onde errou de esquina e foi parar “em lugar algum”. “Quanta gente perde a vida que almejou por ter virado numa esquina que não conduzia a lugar algum?” Já penso diferente da colega cronista: as decisões que tomamos, ainda que depois vejamos não terem sido as melhores, nos levarão a algum lugar sim, mas será um destino que não planejamos.

Uma amiga, sábia, disse certa vez: “Somos quem queremos ser, se optarmos podemos mudar. A decisão é nossa, não pedimos licença e nem mesmo perdão pelo que somos.” Um jogador, geralmente, não é expulso de um jogo de futebol pelo simples fato de uma entrada mais severa, mas por estar a todo momento cometendo faltas que são relevadas pelo juiz. Não perdemos um emprego simplesmente porque não agimos da melhor maneira numa situação, salvo os momentos de crise financeira, mas porque em diversos momentos deixamos a desejar. Não é só uma ação que nos determina. Precisamos de um conjunto de ações e motivos que nos conduzirão à ação principal.

Seguindo a lógica que apresentei, não podemos fazer recair a pequenos fatos toda a culpa pelos nossos fracassos. O sol brilha a todos e o relógio caminha na mesma velocidade, sempre, independentemente de credo, etnia ou classe social. O que fazemos com esse tempo é que vai, aos poucos, definirnos para a direção “A” ou para o caminho “B”.

E qual desses dois rumos é o melhor? Difícil dizer. Muitas vezes não conseguimos definir este antagonismo. Pode ser que ambos sejam bons, ruins ou que tenham doses de cada.

Desculpem-me os amantes de “Efeito borboleta”. Para um momento de curtição, divertimento, aqueles onde colocamos a chave do senso crítico em “off” e apenas queremos acreditar e iludir-nos com a história à frente, o filme é um bom entretenimento. Acreditar que, ao invés de deixar o amigo perto da explosão, salvá-lo irá mudar todo o seu destino, é ser um tanto bestial. Salvo casos isolados, haverá muitos outros fatores que no decorrer da vida definirão se a pessoa irá se tornar um viciado ou um intelectual. Ou os dois. O filme mostra que quando um fato da infância do protagonista é modificado, um novo futuro lhe é reservado. E essa mutação é constante. Jogar a culpa em Deus, no destino ou num fato que não é mais possível mudar é algo muito fácil. Difícil é enfrentar a realidade.

Há momentos na vida os quais queríamos que os fatos surreais do Efeito borboleta realmente pudessem ocorrer. Muita dor seria evitada. Mas não teríamos o senso crítico atual, porque não haveríamos sofrido o tal trauma, susto, seja o que for. E, quem vai saber se era, realmente, melhor ter trocado de opinião antes? Talvez seja melhor estar aqui onde está e deixar que o universo se ajeite de acordo como as coisas vão ocorrendo. Porque se não for, já está mais que na hora de ir em busca do tempo perdido.

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