segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Revisão da aula

Publicado no Jornal da Cidade Online, em 30 Out 2011.

"PROFESSOR, GOSTEI BASTANTE DAS SUAS AULAS. ENSINOU QUE PRECISAMOS APRENDER".

Quando estava terminando o meu último estágio do curso de Letras no ano passado, adotei a mesma técnica que minha colega de faculdade havia praticado no ano anterior ao acabar as aulas com seus alunos: pedia a todos o feedback de suas aulas, o retorno da (in)satisfação, para que pudesse reforçar as ações tidas como positivas e corrigir o que não dera certo, ou como diz o pessoal de gestão administrativa, identificar as Oportunidades de Inovação e Melhoria. Foi muito bom ter feito, dissera ela naquela ocasião. Copiando a ideia, solicitei que escrevessem o que haviam achado das aulas. Sinceridade deveria ser o ponto central.


Confesso que fiquei com certa apreensão do que leria posteriormente, mas como não tinha muita expectativa, o receio também não era muito grande. Isso porque, como não fiz Curso Normal nem trabalhava na área, faltava-me ainda certo domínio de classe, talvez um tanto de segurança no trato com os alunos. Segundo uma aluna, precisava também uma dose a mais de severidade. E como é tênue a linha entre severidade e carrasquice, entre dureza e permissividade!


Ser justo nas cobranças dentro de sala de aula é uma tarefa árdua, porque o professor corre para lá e para cá na aula, chama a atenção de dois, explica mais um pouco o conteúdo, se aproxima de um grupinho e pede silêncio, retoma a aula, voa para o quadro para ilustrar o que fala e solicita novamente a colaboração de todos. Ser o centro da atenção, hoje em dia, é ainda mais difícil que anos atrás. Porque é difícil competir com o mp3 e o mp4, com o Playstation, a internet, o jogo de futebol e tantas outras maravilhas que dentro de quatro paredes não é possível desfrutar.


Li as observações depois que saí da sala, sozinho, quieto num canto. Foi muito bom surpreender-se com elogios, palavras de reconhecimento. Sempre é ótimo ler qualquer coisa boa sobre si. E chateia um tanto quando vem um puxão de orelha. Mas ele é necessário. Imagina se fossem só elogios... ou algo estaria errado ou você é o super-homem! “...acho que os meus colegas que também participaram se interessaram bastante como eu, as aulas bem puxadas e ao mesmo tempo divertidas e interessantes.” Metade disso já me faria ganhar o dia. E todas elas deixaram-me flutuando. Realmente, não esperava. Tomei-me tão feliz que errei o caminho de casa.


É importante ouvir a opinião de quem presta atenção nas aulas. Mas é ainda mais necessário saber o que pensam aqueles jovens que bagunçam e, por vezes, atrapalham as aulas. Aqueles os quais geralmente se chama a atenção. Porque é aí que estão as oportunidades de rever a metodologia, a postura em aula, o trato com os jovens. É por isso que eternizo as palavras de um garoto que preenchia esses prerrequisitos. “...não pegou no pé de ninguém como outros professores.” Claro que o mês de estágio é consideravelmente pouco para perder a paciência com alguém. Mesmo assim, a serenidade deve ser um ingrediente indispensável do docente. Seja para explicar ou para conquistar a atenção de seu aluno.


Outro ponto que não pude deixar de admirar foi o seguinte comentário “...com as folhas do conteúdo das aulas tivemos mais aproveitamento, porque não estávamos perdendo tempo copiando e assim, prestamos mais atenção nas explicações.” Numa época em que o mimeógrafo ainda tem lugar, mas já há as fotocópias, existem os projetores, televisão e aparelho de DVD; escrever num quadro-negro toda a teoria de um conteúdo é um atraso que remonta a antes da invenção dessas novas (e nem tão novas) tecnologias.


Já há problemas crassos no nosso sistema educacional. Se trouxermos mais problemas ou se não acompanharmos a evolução tecnológica, o professor obsoleto será a nossa realidade.


Desculpem-me os engenheiros e os químicos, que lidam com máquinas e materiais inanimados. Seus trabalhos são admiráveis, mas não há nada que gratifique mais uma pessoa do que ouvir palavras agradáveis de seus alunos, não há preço que pague, nem salário baixo que abale um professor que conquista seus educandos. Porque é impagável trabalhar com uma turma, vê-la crescer, evoluir e você ser um dos responsáveis por isso.

Um comentário:

  1. Oi, Giovani!

    Muito bom texto, como sempre! ;)

    Concordo plenamente quando falas sobre as tecnologias... meu filho, em escola particular (supõe-se uma boa infraestrutura e tals), 6ª série, reclama diariamente das aulas de história e geografia: na base da cópia e do ditado...
    Na verdade, ainda somos muito "lecionadores", como diz Ladislau Dowbor!
    Transformações são urgentes... talvez as (novas?) tecnologias nos ajudem a repensar as práticas!

    Abraços!

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