segunda-feira, 14 de março de 2011

A AUTOAJUDA NOSSA DE CADA DIA

Publicado no Jornal da Cidade Online, de 13 de março de 2011.

Estive, há alguns dias, no lançamento do livro de crônicas “Umas e outras” do psiquiatra Rônei Rocha, daqui da minha cidade. Houve grande quantidade de pessoas prestigiando o evento, esperando na fila uma dedicatória do médico-escritor. Assim como ele, outro médico gaúcho teve o seu trabalho reconhecido: Moacyr Scliar. Infelizmente, este último faleceu em 26 de fevereiro passado. Como conseguiram tamanha projeção?
O psiquiatra que conheço começou a escrever num jornal local há menos de um ano. Ascendeu vertiginosamente. A chave do sucesso? A importância que damos aos assuntos que abordam o nosso interior, o íntimo. Daqueles assuntos que temos medo de falar e que alguém vai lá e escreve, livrando-nos do peso da culpa de não termos nos expressado.
Essa relevância da busca de um eu mais clean, livre e feliz reflete-se na busca pelos livros de autoajuda. Eles costumam ser os recordistas de vendas em feiras de livro. Têm lugar cativo em livrarias. Sites como Americanas, Submarino e da editora Saraiva e tantos outros deixam bem visível o título “autoajuda” para que os internautas encontrem sem dificuldade os seus tão desejosos gurus impressos.
Disse um amigo meu, já no final da festividade, um tanto emocionado e alcoolizado: “Aqui tá cheio, mas se viessem todos os clientes dele, isso aqui estaria entupido de gente. Só tem louco nessa cidade”. Preconceitos à parte, desconsideremos o termo “louco”. Problemas de ordem emocional, psíquica e que não conseguimos resolver sozinhos ocorrem aos montes. Vez ou outra cai bem consultar, pedir uma ajudinha de terceiros. Como o próprio Rônei disse em uma de suas crônicas, nos manicômios estão apenas alguns loucos, o grosso da tropa permanece nas ruas.
Muitos livros de autoajuda estampam fórmulas mágicas para resolvermos os nossos “poréns”. Alguns se valem da psicologia para falar o óbvio, e esse óbvio é o que geralmente necessitamos ouvir - ou ler. Através de metáforas simples, criando enredos fantásticos, por vezes, ou sendo diretos, os autores atingem-nos e fazem pensar, refletir. Essa pausa que fazemos para ler, aliado a palavras de conforto ou motivação, elevam a autoestima e despertam as vontades que hibernavam lá no fundo, no âmago de cada um.
Anos atrás, li os primeiros capítulos do livro “Seja feliz sem querer controlar tudo”, do Joe Caruso. O livro falava o que estava na cara: mesmo que tentemos controlar tudo a nossa volta, não conseguimos e nem conseguiremos. Se achamos que dominamos a situação, estamos redondamente enganados. Podemos controlar a nossa reação diante dos fatos, mas pouco podemos interferir nos fatos. Não adianta ficar remoendo capítulos desgostosos da nossa vida, nem reclamar de um fato já ocorrido.
Nada do que li era espetacularmente novo, mas era apresentado sob uma ótica diferente da que eu estava acostumado a observar. Que não adianta “chorar o leite derramado” eu já escuto desde criança. Mas inserir, efetivamente, este ditado e tantos outros na prática, na vida, são outros 500.
Da mesma forma que eu necessitava aquela vez ler o óbvio e descobrir algo novo no velho, tantas outras pessoas precisam ler “Quem mexeu no meu queijo”, “O monge e o executivo” e “Os segredos da mente milionária” para descobrir o elixir satisfação eterna. Quando o assunto fica mais grave, a opção é recorrer a psicólogos e psiquiatras. Só com a ajuda de pessoal especializado conseguiremos “descascar alguns abacaxis maiores”.
Com temática semelhante à do cronista uruguaianense, Moacyr Scliar escrevia para o Grupo RBS, afiliado à Globo, e tinha, dentre os seus espaços na mídia, uma coluna semanal no Jornal Zero Hora. Fizera medicina na UFRGS em 1962 -Universidade Federal do Rio Grande do Sul- e faleceu com 73 anos. Sempre abordava algum fato do cotidiano, tendo a medicina como fator de relação entre os assuntos.
Procuramos sempre palavras que nos confortem. Por vezes, um caderninho com frases para iniciar o dia lendo, refletindo e se motivando. Em outras, um livro devorado em horas, servindo como bálsamo. Mas nada melhor do que trocar meia dúzia de palavras com um amigo. E se nada disso resolver, resta procurar um especialista no assunto, que terá mais meios para orientar o caminho a ser percorrido.
Os livros são muito importantes na nossa formação permanente. Mas são apenas uma representação gráfica daquilo que pode ser dito com mais recursos -timbre de voz, emoção, gesticulação e entonação. Porque não crescemos sozinhos. Precisamos do outro para conversar, refletir, pensar, se emocionar, amar e ser amado.

2 comentários:

  1. Olá! Tudo bem?

    Sou aluna do curso de comunicação da Universidade Feevale, estamos realizando uma pesquisa para conhecer o interesse de novos escritores gaúchos em publicar suas criações em uma editora online.

    QUESTIONÁRIO P/ ESCRITOR:

    https://spreadsheets.google.com/viewform?hl=pt_BR&pli=1&formkey=dFdCZVlwMldveEJMb0ZKLTkyOVhGdlE6MQ#gid=0

    QUESTIONÁRIO P/ LEITOR:

    https://spreadsheets0.google.com/viewform?formkey=dFlOX3pHbDZ6S0JUYlhSVUh6LWtFQ3c6MQ

    Agradecemos muito se você responder o questionário no link, nos ajudaria a definir o projeto desta Editora Online gaúcha. Não é vírus, é uma pesquisa rápida de 6 perguntas montadas no Google Docs.

    Muito Obrigada!

    Daniela Ilges - Aluna / Feevale

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  2. Não tive a honra de conhecer pessoalmente Dr.Rônei. Mais me surpreendeu seu livro. ´Na maioria das vezes os psquiatras são pragmáticos. E pouco conseguem chegar tão perto da alma humana. È como se ele dissesse, vem que de mãos dadas é mais fácil ou pelo menos mais belo. Quem tem o já teve(se existe este verbo teve),depressão, pânico, bipolaridade, sabe que não é como ter uma cicatriz no rosto que todos veêm e te levam para fazer um curativo. Depressão é doença da alma, que só melhora ou seja se controla com rémedios, e força de vontade e acima de tudo com a ajuda de um profissional que possa entender não só com os livros , mais com ajuda de Deus que lhe fez um escolhido, impedindo assim de muitas pessoas irem embora mais cedo. Parabéns Dr. V.F.S. Itaqui RS

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