A
esposa foi viajar. Ele não podia, trabalharia. Mais uma vez.
Esperou-a retornar. Em vão.
Tinha ficado em Maragogi, com o bartender.
terça-feira, 2 de junho de 2020
ROSTO DA MORTE
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Cartas de final de ano aos meus alunos - Final
continuação da publicação das cartas de final de ano (2015) aos meus alunos...
Queridas alunas e queridos alunos da turma 8º Ano B,
2015
está terminando, as aulas também. Em breve vocês poderão dormir até tarde, não
terão mais provas para fazer, ficarão livres das chateações dos professores.
Ufa!, livres de todos esses incômodos...
Mas com
certeza um pouquinho de saudade vai bater na porta de vocês. Se não for agora,
vai ser daqui umas semanas. Também, pudera, é quase um ano inteiro vendo os
colegas todos os dias, espiando aquela menina bonita da outra turma, o garoto
gatinho da outra sala, e agora... só no ano que vem!
Pessoalmente,
é uma alegria muito grande em ser professor de vocês! Ano retrasado não pudemos
terminar o ano letivo juntos, em sala de aula, pois assumi a direção da escola.
Ficamos na mesma escola, mas é diferente ser professor e ser vice-diretor.
Esse
ano, sim, iniciamos e terminamos juntos. Para mim, particularmente, foi muito
bom, maravilhoso. Gosto muito de vocês, do jeito que vocês são: alguns
brincalhões, outros mais sérios; alguns quietinhos, outros tagarelas; uns
amigos, outros se estranhando. Altos, baixos, magros, gordos, risonhos, sérios.
Quando
vejo vocês vejo um mundo de oportunidade lhes esperando. Olho e penso “que bom
que teremos esses adultos no futuro!” São adolescentes que estão descobrindo os
prazeres e as responsabilidades da vida, as alegrias e as tristezas que o mundo
nos proporciona. Essas coisas, boas e ruins que a vida nos traz, queiramos ou
não, nos deixam mais fortes agora e no futuro.
Vejo
vocês com um lindo futuro pela frente, mas não deixem de lutar! Não deixem de
estudar, não deixem de se esforçar! O estudo não é tudo na vida, mas sem estudo
a vida se torna mais difícil!
Lutem!
Não decepcionem vocês mesmos! Lutem pelo que querem! Nunca desistam! Digam a si
mesmos “não vou desistir” quando estiverem
desanimados, quando acharem que nada vale a pena.
Tenham
um ótimo Natal! Ótimas festas de final de ano! Férias divertidas! Aproveitem
esse período de descanso!
No ano
que vem tem mais! E será melhor ainda!!!
Com carinho,
profº Giovani.
profº Giovani.
sábado, 2 de abril de 2016
Carta de final de ano a meus alunos III
Continuação das publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...
Queridas alunas e queridos alunos do 7º Ano,
Queridas alunas e queridos alunos do 7º Ano,
ESTÁ TERMINANDO O ANO...
Vocês vão ter alguns meses para descansar, divertir-se, passear, viajar,
acordar tarde e ficar longe da escola. Eba! Chega de provas, de professores
chateando, de cadernos, de copiar, de exercícios no quadro, de ler em voz alta,
de acordar cedo, de troca de período. Eba! vocês estão livres de Soletrando,
concurso literário, poemas, contos, porquês, verbos, acentos, hiatos, pronomes,
etc.
Ah... mas, também, chega
de recreios, de passeios nos corredores, de espiar o menino bonito na turma da
frente, a garota bonita no pátio, de grupinhos de guris e gurias, de conversar
com os colegas...
A escola é um lugar legal!
Sempre tem alguma coisa nela que não gostamos, mas sempre haverá algo que não é
bacana em tudo o que fazemos, em todos os lugares por onde vamos.
Terminamos o segundo ano
juntos, quase todos os dias nos vendo, todas as semanas tendo aula. Se não fui
legal com alguém algum dia, em algum momento, peço-lhes desculpa. Sou humano e
também tenho limitações, também erro. Mas fiz o que achava certo naquele
momento.
Não achem que ser exigente
é ser ruim, não achem que fui exigente porque não acreditava no potencial de
vocês. Pelo contrário: fui exigente porque sabia do que vocês eram capazes,
porque sabia que podiam ir além. E foram!
Que trabalhos maravilhosos
fizeram! Falaram na frente da turma várias vezes, escreveram poemas lindos,
resumiram livros, soletraram uma enormidade de palavras, trabalharam em grupo,
trabalharam em trio, dupla, sozinhos...
VOVCÊS ESTÃO A CADA DIA MAIS MADUROS, MAIS ADULTOS! Ano passado eram crianças, adolescentes recém
vindos da infância. Agora são muito mais que isso. Cresceram, ficaram mais
espertos, mais inteligentes, mais responsáveis, mais tudo...
É verdade que têm muito o
que melhorar, muito a crescer, mas é preciso admitir que vocês estão mais
independentes a cada momento.
Conviver com vocês foi
muito bom para mim. Ensinei o que pude e aprendi muito com cada um. Aprendi
muito com a experiência de cada um de vocês. Adorei ser seu professor em 2015,
mais ainda que em 2014!
Desejo-lhes um ótimo
Natal, ótimas festas de final de ano, umas férias preguiçosas, dorminhocas,
divertidas e alegres!
ATÉ O ANO QUE VEM!
Com carinho.
sábado, 19 de março de 2016
Carta de final de ano a meus alunos II
Seguem as publicações das cartas de final de ano de 2015 aos meus alunos...
O ano
está se encerrando e quando olho para trás, percebo que muita coisa foi feita.
Desde estudo de conteúdos que vocês acham que nunca mais verão ou utilizarão na
vida (em alguns casos é verdade), até debates e reflexões sobre assuntos do
quotidiano, que convivemos diariamente. Foram haicais, lançamento de livro,
dissertações, poemas, leituras orais, provas, rachas-cuca e por aí segue...
Tivemos
uma média de poucos alunos em sala de aula. Mas os poucos que vêm, ah, esses
têm qualidade. Vocês são pessoas inteligentes, esforçadas, críticas e muito
maduras pela idade. Alguns colegas trabalham e isso conta a favor dos estudos.
Sim!, a favor, porque lhes deixa mais responsáveis, com maior sede por
aprender, mais objetivos em aula, com maiores objetivos de vida, mais desejo de
ser alguém na vida.
Vejo
estudantes com brilho no olhar! Com pensamentos complexos, conflitos internos,
desejos astronômicos! Isso é ótimo! Sigam assim! Perder o desejo de sonhar é
morrer para a vida, deixar de querer algo mais é contentar-se com o pouco, e
você são muito para quererem o pouco.
Por
isso, não aceitem um “não”. Respeitem, mas não aceitem. Digam a si mesmos
“sim”, “sim, eu vou” e lutem por esse sim, lutem pelo que vocês querem. Não se
contentem com as aulas da escola, busquem mais, busquem nos livros, na
internet, no Google, no Youtube, nas provas de concurso, nos grupos de debate,
nos jornais, nas notícias.
Tem um
mundo de oportunidades à espera de vocês agora mesmo! Digam a elas “sim”,
busquem-nas, por mais difíceis que possam ser.
Por
fim, gostaria de agradecer pelo convívio, pela troca de experiências, pelo
respeito e carinho de cada um. Peço desculpas se fui grosseiro ou agi errado
com alguém. Com certeza, não foi a minha intenção, mas erramos. Gostaria de
dizer-lhes que amei trabalhar com vocês, que fico triste porque o ano termina e
nossas aulas também, mas ao mesmo tempo fico alegre porque vejo vocês
progredindo nos estudos.
Um
ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, realizações e saúde!
Com
carinho.
quarta-feira, 2 de março de 2016
Carta de final de ano a meus alunos I
Ao final de 2015 escrevi algumas cartas aos meus alunos, aos de
12, 13, 14, ... 45, 46, 50 e por aí vai a idade deles...
Publico-as.
Queridas alunas e queridos alunos da Etapa 7,
Depois
de um ano puxado, de muito estudo, de batalha, de esforço para conciliar
casa-trabalho-escola, vêm as tão esperadas férias. Com ela, um tempinho a mais
com a família, com os amigos, com vocês mesmo(as). E isso é muuuuuito bom!
Virá a
saudade de rever todos os dias os(as) colegas queridos(as), bater papo com quem
nos faz bem. Mas ano que vem tem de novo...
Um dia
você deixou de estudar e se arrependeu. Viu que não foi a melhor escolha. Pode
ser que deixou de estudar por força maior. Mas a vida se encarregou de dar uma
segunda chance e você decidiu agarrá-la com força e aqui está! Que ótimo!
Fato é
que, se você está aqui, agora, é porque deixou muita coisa para trás, deixou
muita gente esperando em casa. Se veio para cá é porque está lutando por um
futuro melhor.
Nesse
semestre aprendi muita coisa com vocês. Aprendi a admirar cada um, a admirar o
esforço e a persistência de virem em dias de chuva, quando as ruas estão
intransitáveis; dias de frio, quando o corpo pede um pouco de calor e vocês
enfrentam o frio de rachar para estudar. Admiro porque com todas as
dificuldades por ficar anos fora da escola, não desistiram. Admiro porque o
medo de falar em público, apesar de ser muito grande, foi superado. Admiro porque
demonstraram serem muito críticos e apresentaram argumentos consistentes em
defesa dos direitos da mulher. Admiro porque, mesmo com todas as dificuldades
existentes, ainda assim vieram para a escola com um sorriso no rosto e o olhar
atento para aprender.
Mas o
ano está acabando e as aulas, junto dele. E todos merecemos um pouquinho de
água fresca, pelo menos de vez em quando. Essa aguinha fresca se chama “férias”
e vem num momento importante, quando estamos esgotados do estudo e do trabalho.
Que
ótimo que você está aqui! Que ótimo que você continua aqui! E será ótimo se
você continuar aqui! Será ótimo para mim, porque admiro muito a fibra que vocês
têm em seguir estudando; e ótimo, principalmente, para você, que seguirá na
luta por dias melhores.
Agradeço
pelas aulas que tivemos e os momentos maravilhosos que o nosso convívio me
proporcionou. Sempre vim feliz para a escola, pois me dá prazer trabalhar com
vocês.
Peço
que não desistam dos seus sonhos. Aqueles sonhos que escreveram no primeiro dia
de aula. Porque se vocês desistirem, aqueles que dependem de vocês perdem as
esperanças; aqueles que estão ao lado de vocês, se desanimam; e aqueles que
lecionam a vocês vão perceber que não conseguiram ajudar-lhes a modificar a sua
realidade.
Um
ótimo final de ano, que 2016 venha com muita alegria, paz e saúde. Que sejam
cada vez mais felizes com a família de vocês.
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
A MULHER-OBJETO E A VIOLÊNCIA
Fiquei muito feliz com o tema de redação do ENEM 2015, abordando uma temática muito dolorosa e vergonhosa em nosso país: a violência contra a mulher.
Para auxiliar no estudo em aula da estrutura da redação dissertativo-argumentativa (estrutura solicitada nesse exame nacional), elaborei um exemplo.
Para auxiliar no estudo em aula da estrutura da redação dissertativo-argumentativa (estrutura solicitada nesse exame nacional), elaborei um exemplo.
Tema
da redação: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
A mulher-objeto e a violência
A mulher,
dentro da sociedade brasileira, sempre teve um papel servil ao homem, sendo
tratada com desrespeito e violência. Mesmo com a evolução da mentalidade ao
longo dos anos, a tradição machista que perpetua essa lógica perversa, por ser
histórica, tem sua modificação lenta. Além disso, a banalização do corpo
feminino na mídia reforça essa ideia.
Há menos de
um século era comum apenas os homens trabalharem fora de casa e as mulheres
ficarem com os afazeres domésticos. Como apenas um dos dois provinha o
sustento, restava à outra parte submeter-se às vontades da primeira. Ainda hoje
encontramos discursos machistas que, obsoletos, defendem a subserviência
feminina. Dessa forma, não é incomum aparecerem notícias de mulheres serem
estupradas sob a desculpa infame de provocarem o ato ao usar roupa curta ou
caminhar em lugares impróprios, em horários inadequados.
Não
bastasse as raízes da violência contra a mulher estarem fincadas em razões
históricas, a banalização do corpo feminino pela mídia reforça a ideia de
mulher-objeto. O trecho “ajoelha e chora, quanto mais eu passo laço, muito mais
ela me adora...”, de conhecida música tradicional gaúcha, e em propagandas
direcionadas ao público masculino, em especial as de cerveja, como a personagem
Verão, a mulher é apresentada como alguém que gosta de ser usado. Essas são
falácias propagadas como verdade.
Todas as
pessoas devem ser respeitadas como seres humanos, independente de gênero ou
qualquer outra característica. O caminho possível para a diminuição da
violência contra as mulheres é através do amplo debate com a sociedade e de
punições mais severas de atitudes machistas e desrespeitosas. Dessa forma a
mulher deixará de ser vista como objeto e não mais se encontrarão
justificativas para assédio ou agressão.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: LA ESCUELA
Concluindo a publicação dos textos vencedores do 3º Concurso
Literário Elvira Ceratti, ocorrido na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Elvira Ceratti, de Uruguaiana – RS, vamos ler a crônica vencedora da aluna
Silvana Gomes e o poema vencedor entre as quatro séries dos anos finais na
categoria “Texto em espanhol” da aluna Thalia Espírito Santo.
La escuela (texto em
espanhol – 6º a 9º Anos) – Aluna Thalia da Costa Espírito Santo – 9º Ano
Hacer de la
Escuela un
Lugar
Inmenso de sonrisa
Disfrutar cada
Instante al lado
De los amigos, una escuela que trae
Alegría, mostrando la ruta segura
De cada alumno y de la escuela que van salir
Estrellas de la educación
É primavera (crônica)
– Aluna Silvana Gomes – 9º Ano
É primavera, amanhece lá no Sul, pássaros fazendo alvorada e
os gaúchos fazendo mateada.
Entardece lá no Nordeste, os nordestinos fazem baião com
grande alegria no coração, pois na tarde de sol de primavera tudo tem mas
emoção.
Todos saúdam a primavera, pois novos passeios os esperam.
Na primavera tudo se alegra, o sol é mais radiante, os pastos
mais verdejantes, as roupas são mais leves e as pessoas mais alegres. Temos
frutas de variados sabores e as flores também nascem para presentear nossos
amores.
Ficamos mais alegres e mais alertas. Com a chegada da
primavera, todos levantam as mãos para o céu, esquecendo o que já era e vivendo
a nossa era.
É hora de graça, cor e vida.
Por que vamos nos preocupar com outrora se o que importa é o agora? Por isso, esqueça suas tristezas, aproveite essa brisa, aproveite a vida. Se olharmos para trás não vamos saber o que vem à frente. Se a vida te deu uma rasteira, levante e tente de novo, sorria. Amanhã é outro dia, aproveite essa era, pois é primavera.
Por que vamos nos preocupar com outrora se o que importa é o agora? Por isso, esqueça suas tristezas, aproveite essa brisa, aproveite a vida. Se olharmos para trás não vamos saber o que vem à frente. Se a vida te deu uma rasteira, levante e tente de novo, sorria. Amanhã é outro dia, aproveite essa era, pois é primavera.
domingo, 21 de dezembro de 2014
TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: VIVER A VIDA
Dando continuidade à publicação
dos textos vencedores do 3º Concurso Literário Elvira Ceratti, ocorrido na
Escola Municipal de Ensino Fundamental Elvira Ceratti, de Uruguaiana – RS,
publico os poemas das categorias 7º Ano (poema) e 8º Ano (poema):
Viver a vida (poema) – aluna Adriana da Costa Espírito
Santo – 7º Ano
Viver a vida é...
Passar com a família
é estar em cada momento
com seus amigos.
Viver a vida é...
aproveitar cada instante
Porque na vida não há
retornos, somente recordações
Na vida temos que aproveitar
o minuto que é tão doce e
profundo
que existe uma vez no mundo.
A primavera... cor e amor (poema) – Nathaly Quevedo dos
Santos – 8º Ano
A primavera é a mais bela,
As árvores estão frondosas
as flores são mimosas
isso só acontece na primavera
As cores das flores
aparentam ter sabores
As cores das flores
querem mais amores
poder ver as flores abrindo,
As folhas caindo,
as cores surgindo
é um privilégio agindo
Acordar de manhã e escutar
os pássaros cantando
vê-los voando, no céu rodando
no chão dançando.
domingo, 14 de dezembro de 2014
TALENTOS DA NOVA GERAÇÃO: BORBOLETA AZUL
COMPARTILHO COM VOCÊS O PRIMEIRO DE CINCO TEXTOS MARAVILHOSOS QUE FORAM OS VENCEDORES DO 3º CONCURSO LITERÁRIO ELVIRA CERATTI. O concurso ocorre desde 2012 na Escola Municipal de Ensino
Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, com alunos de 6º a 9º anos. A
escola está localizada no bairro São Cristóvão, União das Vilas, em Uruguaiana
– RS.
Foram 144 textos inscritos em
cinco categorias:
- 6º Ano (conto);
- 7º Ano (poema);
- 8º Ano (poema);
- 9º Ano (crônica);
- Texto em espanhol (6º a 9º
anos).
Borboleta azul (conto) – aluno Carlos Alexandre Aimon –
6º Ano
Era uma vez um menino igual a
todos. Ele só tem um problema: ele é paraplégico. Os médicos lhe falaram que
tinha poucos dias de vida. Quem olha diz que ele aceitou aquela doença. Mas
vamos logo à história, né.
Ivan sempre ficava ali olhando os
outros meninos na rua jogando bola. Olhava eles pela janela. Seu sonho era
pegar uma borboleta azul. É, uma borboleta, sim!
Todos riam dele, mas Ivan
ignorava. Não dava bola para os outros.
Um dia conheceu um escritor que
conhecia uma selva cheia de borboletas azuis.
Chegou o dia de ir à selva. Ivan
estava feliz porque iria ver uma borboleta azul que queria. Viajou de avião,
pegou um barco, viu macacos, aranhas. Chegou a uma cidade na selva, perto de
rios, riachos e matagal.
No outro dia, Ivan procurou as
borboletas azuis, passou por lagoas e riachos e nada de borboletas. Ivan já
estava cansado. Anoiteceu e os dois voltaram à cidade.
Amanheceu. Ivan estava louco para
ir à selva. Saíram cedo, pegaram o mesmo caminho. Passou uma hora e nada. Ivan
já estava cansado de segurar nas costas o escritor. O escritor convidou Ivan
para ir numa cachoeira e Ivan aceitou. Nadaram bastante. Estava escurecendo,
Ivan e o escritor voltaram.
Amanheceu, passaram mais três
dias e nada.
Um dia viram uma borboleta. O
escritor correu. Quando estavam por pegar, caíram num buraco, se seguraram num
galho, saltaram numa parreira. O escritor quebrou a perna e estava sangrando
muito.
Ivan estava com tanto medo, pegou
a faca do escritor e foi se arrastando.
Amanheceu, a mãe de Ivan estava
ali ao lado dele, tentando acordá-lo. Ele acordou, falou que o escritor estava
mal, pero da cachoeira.
Dois homens saíram, que estavam
com a mãe de Ivan. Os dois homens saíram correndo. Ivan e sua mãe foram até a
cidade e os homens estavam trazendo o escritor num tronco de uma árvore. Pegaram
as coisas de Ivan e foram à cidade de barco. Antes de ir uma menina gritou
“Ivan!” e ele perguntou o que ela queria.
Ela lhe deu uma borboleta azul
numa gaiola de madeira pequena. Ele deu um abraço nela e disse “obrigado!”.
Subiu no barco e foram à cidade
rapidamente. Chegando lá, Ivan pensou em largar a borboleta. Largou-a e pensou
que um dia estaria também voando, só que em outro lugar no céu.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
ILUSÕES COLETIVAS: FUTEBOL
Parece consenso de que o Brasil
seja o “país do futebol”. Mas estamos mais para o “país do vôlei”. O esporte
criado pelos ingleses brindou-nos cinco títulos mundiais e nenhum olímpico. Já
o vôlei masculino brasileiro obteve nove títulos da Liga Mundial e dois
olímpicos.
Na “pátria de chuteiras” poucos
clubes conseguem se profissionalizar e entre os profissionais, poucos prosperam
e recebem salários milionários. Os demais mal conseguem para o sustento. Todo o
glamour do futebol é uma ilusão, uma ilusão coletiva proposital.
Valorizamos muito o futebol,
tanto é que é o esporte que mais dá audiência. Entretanto não é acessível
(profissionalmente) ser jogador de futebol para a maioria das equipes porque é
caro manter 11 jogadores titulares, reservas, campo para treinar, uniforme,
bolas, técnico, equipe técnica e por aí segue. Também porque faltam incentivos
do Governo que fomentem e profissionalizem as equipes de várzea.
Ainda, necessita-se apresentar o
lado perverso do futebol. Há muito tempo ele serve como distração da população.
Foi assim durante a ditadura militar e servia para a população oprimida
esquecer o sofrimento com o regime ditatorial. Atualmente, de quatro em quatro
anos, políticos aproveitam a Copa do Mundo para aprovar seus aumentos e outras
leis que lhes beneficiam, enquanto os iludidos gritam “gol”.
E se o futebol é um esporte que
privilegia poucos, por que então ele é tão venerado pela população? Ele é
supervalorizado pela mídia para que obtenha exatamente o impacto que tem:
mobilizar multidões. Injeta-se muito dinheiro em publicidade para se receber um
retorno ainda maior.
Ao invés de dividir a atenção dos
telespectadores em uma dúzia de esportes, a estratégia é focar num só. MAIS
dinheiro para esse um. Ao invés de haver a dúzia com certo prestígio, melhor um
esporte superestimado.
Assim, assume-se como esportes
menores o vôlei, o basquete, o judô, a esgrima, o atletismo, a ginástica
rítmica. Holofotes ao futebol e às demais modalidades, a luz que sobrasse.
Toda essa superexposição,
naturalmente, gera salários astronômicos. Discordo de que os jogadores de ponta
devam ganhar tanto: nenhum jogador joga 500 mil reais por mês, ele não vale
isso. A supervalorização dele, o seu endeusamento, fazem-lhe valer 500 mil
mensais. Mas esse número é irreal.
Nossas várzeas estão cheias de
craques que não se profissionalizaram(ão) porque é muito caro fazer testes em
grandes clubes e manter equipes amadoras. E o país de poucas oportunidades,
mais uma vez, reproduz as oportunidades para poucos: só alguns atingem o
estrelato, só alguns ganham bem, só alguns ficam famosos, só alguns ficam ricos
e apenas alguns se mantêm no topo.
É muito difícil se tornar jogador de futebol. Mesmo sendo muito improvável prosperar no futebol, seguimos amando a corrida atrás da bolinha, reclamando do juiz e dos bandeirinhas, cobrando impedimento. De vez em quando, se sobrar um tempinho, damos uma espiadinha num saque, uma cesta, um salto triplo ou num wazari.
É muito difícil se tornar jogador de futebol. Mesmo sendo muito improvável prosperar no futebol, seguimos amando a corrida atrás da bolinha, reclamando do juiz e dos bandeirinhas, cobrando impedimento. De vez em quando, se sobrar um tempinho, damos uma espiadinha num saque, uma cesta, um salto triplo ou num wazari.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
ILUSÕES COLETIVAS - CONFLITOS ARMADOS
No Rio Grande do Sul é bastante comum, devido à proximidade com
o país hermano, o chiste de que só valeria a pena combater numa guerra se fosse
contra os argentinos. Coisas de rivalidade no futebol... na real, se houvesse
uma guerra, dificilmente haveria vontade (ou coragem) em participar dela.
Se o país entrasse em Estado de Guerra e fosse iminente a vinda
do conflito nas proximidades da minha residência, buscaria asilo para um país
em paz: morrer lutando, enquanto os causadores riem de nós sentados em seus
gabinetes?
O confronto entre Israel e o Hamas é uma prova disso: quase dois
mil palestinos –a maioria de civis- e menos de 100 israelenses morreram. Os
rebeldes do Hamas já deveriam ter jogado a toalha branca e partido para a
negociação muito antes de a situação chegar a esse ponto. Porém, insistem em
duelar com um adversário muito mais forte (amparado pelos EUA), vendo os seus
morrerem... eles não me parecem
preocupados com o seu povo.
A humanidade tem vocação para confrontos bélicos. Desde a origem
da civilização conhecida até hoje são inúmeros os exemplos em que se deixou a diplomacia de lado e a hastag do momento sempre foi #partiuguerra.
E o que motivava as pessoas a lutarem, sacrificarem a própria
vida?
Um ideal para lutar.
As pessoas deixaram de acreditar que um confronto armado seja a
melhor solução. E por quê? Porque há mais acesso à informação hoje em dia
através da difusão da televisão, de jornais impressos e da internet; e em razão
do aumento do nível de escolaridade. Começou-se a perceber que os ideais
propostos pelos “líderes” e que culminavam em combates eram teorias muito
bonitas no papel, na voz de pessoas preparadas, em imagens, entretanto, pouco
praticáveis ou, pior ainda, boas para poucas pessoas e ruins para a maioria.
Hitler não perdeu a guerra sozinho. Havia muita gente o apoiando
e Goebbels, seu braço direito, sabia que a propaganda era a alma do negócio. As
palavras são maleáveis e os pontos de vista, vários. E o seu Ministro da
Propaganda fez dos pensamentos sádicos de seu chefe militar, uma utopia
aceitável para muita gente. Hoje, pensa-se diferente. Mas à época, ele recebia
endosso de muito pobre e rico, analfabeto e letrado.
O Führer foi uma
farsa. Uma farsa bem propagandeada. Ele vendeu um ideal, vendeu ilusões
coletivas. E muitos engoliram.
Há outras ilusões coletivas propagandeadas em todos os lados: quem
acredita que há armas de destruição em massa no Iraque, essa história para boi dormir dos Estados
Unidos? Ou na seriedade do governo chinês que se diz Comunista para poder
centralizar o poder, mas age como capitalista liberal, quando lhe convém? Quem
põe fé nas palavras da família Castro, em Cuba, pelo ideal da igualdade, num
país sucateado e pobre?
Então, por que tantos norte-americanos morreram no Iraque?
De graça é que não foi. Para muitas pessoas marginalizadas
–principalmente hispânicos que não possuíam o visto para permanência-
convocadas a combater no front, os
polpudos dólares que receberam por defender os interesses da Casa Branca valiam
a pena. Se não vivessem para curtir o dinheiro, pelo menos a família o teria
para sobreviver.
Aí, sim, falamos de um ideal pelo qual vale a pena lutar, morrer: a família.
Se não fosse pela vida dos entes amados e o dinheiro que eles
receberiam com a ida à área de conflito, certamente o contingente de militares
no Iraque teria um grande déficit.
Não é diferente nas Forças Armadas. Lutar pela nação, com o
sacrifício da própria vida há muito em canções de corrida. Experimenta cancelar
o salário desses utópicos e convocá-los para missões em áreas de conflito!
Experimenta pagar um salário mínimo!
Ideais coletivos servem para mobilizar multidões. Hitler sabia
disso e se valeu dessa máxima. Os políticos bem utilizam a mídia para
elegerem-se e aprovarem leis. A águia
da América ilude coletivamente seus cidadãos levantando a bandeira do amor à pátria e massacrando nações que
barram o seu avanço. Mas somos críticos, informados e cai bem não acreditar em
todas essas ilusões vendidas e difundidas na televisão.
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terça-feira, 15 de julho de 2014
HAY QUE DECIR "HASTA LUEGO"
Escrevo,
na íntegra, a carta que redigi e li a meus alunos de Língua Espanhola (Rede
Municipal de Ensino) ao informá-los que deixaria de dar aulas para eles, pois passaria
a dar aulas na Rede Estadual. Essa foi uma decisão muito difícil para mim, mas
necessária para a minha carreira profissional.
Queridas alunas e queridos alunos,
poderia apenas dizer “tchau”, mas seria muito
leviano de minha parte. Daria para falar “até logo”, só que também seria um
eufemismo barato, ilusório. Ou então, “adeus”, entretanto é uma expressão muito
pesada e também não é a pura verdade. Talvez não haja um termo exato para
expressar uma coisa tão triste e complexa.
Durante quase dois anos como maestro, aproximadamente 450 pessoas
diferentes passaram por minhas mãos, pelas minhas palavras, minhas aulas, minha
consideração, meu esforço. Uns 450 alunos meus. Meus, só meus. Alunos também da
Geografia, também da Matemática, de Português e das outras matérias, mas,
principalmente, meus alunos.
Ser professor é muito mais que vir à escola e ensinar
a matéria às 13h30min, voltar pra casa às 17h30min ou fazer duas provas
diferentes. É mais que explicar tantas vezes quantos forem necessárias até o
aluno aprender. Mais que fazer a chamada, que escrever “Fecha: hoy es...”. É
muito mais que cobrar disciplina e pedir silêncio.
Ser professor não é apenas cantar no dia do
aniversário “que los cumpla feliz”. É muito mais que ensinar os “saludos”,
explicar “los verbos terminados em –ar, -er, -ir”, revisar “los numerales” ou
vir aos sábados pra recuperação com um cafezinho e um sanduíche.
Ser professor é tudo isso que foi dito, mas é
muito mais também. Ser professor é uma filosofia de vida. Ser professor é decir “buenas tardes” e receber um estupendo “buenas tardes” dos seus
alunos adorados. É brigar com seus alunos porque quer o bem deles. Elogiar
quando acertam e cobrar que deem o máximo de si porque tem certeza que podem
mais, muito mais. É ouvir do seu aluno um “tiozão” e achar isso bacana. Ser
professor é ter 10 alunos falando ao mesmo tempo e, ainda assim, adorar dar
aula.
Ser professor é amar o que faz. É amar todos os
seus alunos: os que bagunçam, os que são quietinhos, os dedicados e os displicentes.
É dar dura quando necessário. É dar e receber carinho.
Isso é ser professor. Isso sou eu.
Quem ensina também aprende. Talvez tenham
aprendido algo comigo. Com certeza eu aprendi muito com vocês. Talvez não tenha
sido o professor ideal, o professor dos sonhos. Possivelmente vocês tenham conhecido
ou conhecerão professores melhores que eu. Mas tenham certeza que me esforcei
ao máximo para ser um bom mestre, que dei o melhor de mim.
Amei enseñar español a ustedes. Sinto muito não poder continuar caminhando com vocês
até o final do ano letivo.
Se ao sair pensarem “foi bom aprender espanhol
com o sor”, ficarei feliz. Mas ficarei feliz, mesmo!, se ao sair de cena, vocês
pensarem “foi bom aprender a ser ALGUÉM MELHOR”.
¡Hasta luego y un beso
grande!
domingo, 22 de junho de 2014
ILUSÕES COLETIVAS
Há anos que deixei de acreditar em muitos ideais coletivos.
Antes me pareciam bonitos, empolgantes e os desejava alcançar. Mas essas
utopias descortinaram-se como boas desculpas para as pessoas venderem mais, distrair
multidões ou justificar chacinas.
Após anos de
trabalho no Exército Brasileiro
O que ouvi: defender a pátria com o sacrifício da própria vida.
O que penso: desde que o salário gordo esteja na conta.
Os salários
astronômicos dos jogadores de futebol contrastam com a falta de incentivo ao
esporte do Brasil
O que ouço: rumo ao hexa.
O que penso: isso não vai mudar em um centavo o meu salário, nem
nada na minha vida, tampouco na vida daqueles que poderiam ter o esporte como perspectiva
de crescimento profissional.
A preocupação com o
meio ambiente tem crescido nos últimos anos e alguns discursos
mal-intencionados parecem buscar a sustentabilidade, mas a intenção é outra
O que ouço: se cada um economizar um pouco de água vai ajudar o
meio ambiente.
O que penso: essa economia não é relevante enquanto imperar a
obsolescência programada e grandes empresas poluírem desrespeitando leis e
recebendo multas irrisórias.
Existe a América do
Sul, a América Central e a América do Norte. Todos que nela moram são
americanos. Nenhum dos povos pode considerar-se unicamente como americano
O que ouço: os americanos.
O que penso: eu sou americano (ou sul-americano, ora bolas). Também
existem os norte-americanos.
A falsa luta contra
homens-bomba esconde a intenção gananciosa de roubar petróleo do Oriente Médio
e manter aquecida a indústria bélica norte-americana
O que ouço: guerra ao terror.
O que penso: desculpa norte-americana para subjugar outra nação
e roubar o seu dinheiro.
Há muito
pseudo-moralismo e agora é modinha reclamar da política. Passar a perna, superfaturar
pequenas obras também é corrupção. A esses, falta apenas se elegerem.
O que ouço: políticos corruptos.
O que penso: políticos corruptos e povo corrupto.
Ideais coletivos não atendem fidedignamente ao que pensa a
coletividade, pois cada um interpreta o seu mundo e cria as suas verdades. Há
uma generalização do que se pensa, superficializando os conceitos,
relativizando tudo, são ilusórios.
Essas utopias romantizam o que nem é tão belo,
valem-se de apelações baratas e atendem a interesses capitalistas que
geralmente são escusos. Por todos esses argumentos, não acredito mais nelas. Elas
não me enganam mais.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
NOVAS POETISAS URUGUAIANENSES
O que um
livro pode importar na vida de uma pessoa? Seria uma chata obrigação,
necessária para passar de ano? Ou então uma necessidade para qualificar-se e
obter uma promoção, um salário melhor? E qual impacto pode ter em nossa vida,
positiva e negativamente a sua falta ou presença? E se trocássemos de papel, se
não fôssemos mais os felizes leitores, mas os dedicados autores?
Esse prazer
da inversão dos papéis pôde ser desfrutado por seis estudantes de Uruguaiana –
RS. Em 2013 as alunas submeteram seus poemas a uma seleção realizada pela
editora LiteraCidade, da cidade de Belém – Pará, com cerca de outras 900
pessoas de todo o Brasil. Cada uma das jovens escritoras publicou um poema na
antologia literária “100 poemas 100 poetas – Volume 3” . A editora já vem realizando coletâneas
há alguns anos e, através dos três volumes da antologia, disponibilizou a
publicação gratuita dos textos.
Para essas
jovens o livro já não é apenas mais um meio de viajar no tempo e espaço, passou
a ser objeto de orgulho, de aumento da autoestima e da confiança na própria
capacidade.
Nessas horas,
os pais ficam orgulhosos e felizes –talvez até mais que as próprias escritoras-,
os amigos olham com admiração e os professores ganham o dia com a notícia.
Publicaram
seus poemas as alunas Alessandra da Silva Miranda, Andriele Vitória da Silva
Alves e Andressa Romero Barbosa, estudantes do 6º, 7º e 8º Anos da Escola
Municipal de Ensino Fundamental do Complexo Escolar Elvira Ceratti, mais
conhecida como CAIC; as alunas Amanda Raiany Fernandes e Thalyne Patta de
Mello, ambas do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Francisco
Pereira da Silva, e a aluna Taimara Rodrigues Ramos, do 9º ano da Escola
Municipal de Ensino Fundamental General Osório.
Não é fácil
publicar um livro. Não quando há seleção dos textos e ele é gratuito. E, talvez
por isso, a conquista das adolescentes é tão relevante em tempos onde a leitura
dá lugar à televisão, onde é mais sedutor assistir a um programa qualquer na
telinha que dedicar-se às palavras de uma história.
Mesmo mais
tradicional e já sem configurar na preferência da população, o livro é capaz de
proporcionar momentos de prazer, de deleite num universo paralelo, fantástico
ou próximo ao real. Leva à reflexão e também ajuda a modificar (pré)conceitos. E
podemos acrescentar nessa definição de “livro” a palavra “mérito”. Sim, o livro
é um mérito de uma pessoa quando o publica.
Por isso a publicação dos poemas na antologia é
um grande passo dado por elas. Estamos ávidos para que outros estudantes também
conquistem feito semelhante. Às poetisas, os parabéns e o desejo de que muitas
outras conquistas venham, quer seja no mundo literário ou em outra área.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Kiss e o beijo da morte
Acordei com a notícia. Fiquei nervoso até saber
que todos os conhecidos que poderiam estar lá estavam bem. Lá na Boate Kiss.
Boate Beijo. E na madrugada deste 27 de janeiro, a morte beijou 236 jovens e milhares
de familiares e amigos.
A morte costuma espreitar seu beijo fatal nas
festas noturnas em todo o Brasil, não só em Santa Maria, local onde ocorreu a
tragédia com os 236 jovens. Porque não é difícil encontrarmos casas noturnas atabalhoadas
de pessoas, muito além da capacidade. O lucro parece ser bem mais importante.
Geralmente são lugares fáceis de entrar e difíceis de sair, com saídas de
emergência insuficientes e mal iluminadas.
Quando a tragédia ocorreu numa mina chilena em 2010,
compadecemo-nos, mas tudo é muito longe, não sensibiliza tanto. Quando a boate
argentina também pegou fogo em 2004 e matou 194 pessoas, pensamos que nem
conhecemos Buenos Aires e o drama não tem tanto sentido. Mas quando o beijo
mortal aproxima-se de nós, primeiro não acreditamos, depois nos desesperamos e
então procuramos conhecidos.
Mortes em massa já ocorreram em igrejas,
prédios residenciais, escolas e estádios. Depois de apurados os fatos,
normalmente se verifica que a tragédia ocorreu devido à inoperância do poder
público e negligência dos gestores do local. Não caiamos na armadilha de achar
que é acidente. Acidente é quando não se pode evitar. Bem diferente do nosso
mais novo drama.
Com o passar dos dias, as informações irão se elucidar
e os culpados vão aparecendo. Mas a dor, essa irá demorar para passar. Há
beijos que nem sempre fazem bem. O beijo letal da madrugada fez e ainda faz
muito mal.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
AO VENCEDOR, AS BATATAS
Quando lemos os números das Olimpíadas de Londres, eles deslumbram. Foram 34 modalidades, bilhões de telespectadores assistiram às competições, 4.700 medalhas brilharam no peito dos competidores, a delegação brasileira contou com 259 atletas e eram 10,5 mil atletas de 191 países. E mesmo ainda faltando alguns anos, os números das Olimpíadas e da Copa no Brasil já atingem os milhões de reais nas verbas destinadas aos estádios e ao parque olímpico. Infelizmente, a recente história indica que muitos desses milhões irão para contas paralelas.
De números que
quase não conseguimos contar rumemos para alguns de uma ou duas casas decimais.
A delegação brasileira deu-nos três medalhas de ouro e um total de 17 medalhas.
A equipe de futebol masculino, a mais badalada e bem paga que foi a Londres,
logrou uma prata mixuruca. Esportes bem menos incentivados tiveram mais sucesso
que o futebol.
Já nas
paralimpíadas, a história foi bem mais agradável. O Brasil obteve 21 ouros do
total de 43 medalhas. Não há o glamour das Olimpíadas: as partidas não são
transmitidas em tempo real em qualquer canal aberto e os jornais não comentam
muito.
Ainda que
esses números, sozinhos, sejam poucos para definir o patamar de investimentos
do governo em atletas, fica a dúvida, saltitando atrás da orelha: onde está a
lógica em despejar milhões na conta de poucos atletas e deixar à própria sorte todos
os demais?
Talvez Machado
de Assis possa ajudar. Em Quincas Borba ele elaborou uma teoria com a máxima
“ao vencedor, as batatas”. Explicava que havendo dois povos e comida apenas
para um deles, seria suicídio coletivo tentar racionar o alimento entre todos.
Seria muito mais inteligente que as batatas ficassem com o povo mais forte.
Aqui na vida real, o mesmo ocorre.
Compensa muito
mais aplicar muito dinheiro no futebol, que rende fortunas em publicidade do
que repartir as verbas com muitos atletas e muitas modalidades. Não é por acaso
que o Brasil é o país do futebol. Atletismo, judô, boxe não são páreos aos dribles
dos cartolas.
Assim como no
esporte, em educação, as prioridades estão longe da necessidade. O esporte e a
educação andam juntos nesse caminho lamurioso. Há professores sem receber o
piso salarial, que por si só já é uma afronta: 1.400 reais. Assim, perdemos um
número incomensurável de atletas porque eles não têm um salário digno que lhes
tire do trabalho atual para se profissionalizarem. Por má gestão. E isso é
intencional.
Perdemos
profissionais incríveis no ensino porque dezenas de empregos de nível médio e
técnico pagam mais que o salário de professor. Por pura falta de intenção, por
falta de querência. Não se quer. Não, mesmo.
Enquanto as
batatas continuarem a ser entregues a poucos grupos, pouca coisa melhorará. Quando
a fatia do bolo se aproximar um pouco da justa divisão, aí poderemos pensar em
igualdade de oportunidades, em melhores resultados no esporte, em melhores
índices educacionais.
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