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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Um problema estrutural (microconto)

Sempre fora preterido entre os colegas. Tornou-se adulto e a sina continuou. 
Virou modelo, rico e famoso, mas a dificuldade em atrair olhares era nítida. 
Só então compreendeu que as feições que agradavam à maioria não eram as da sua cor de pele.


1. Imagem gerada a partir de inteligência artificial, via Canva.com 


2. Este microconto compõe o meu livro "100 Beijos e Abraços", à venda na Amazon.

sábado, 16 de novembro de 2024

Abraço forte (crônica)

Nesse sábado ocorreu mais uma feira do livro. Mais uma dentre várias do Brasil. Mas não foi em qualquer feira, porque não foi em qualquer lugar. Foi numa das minhas escolas do coração, a EMEB Dom Bosco. Sim, profes têm o coração enorme para caber muitas escolas e muitos alunos lá dentro. E, por fim, porque foi uma feira espetacular. A cada ano melhora.

A patronesse foi a uruguaianense Maria Tereza Lunardini Cardoso, professora e escritora. Minha colega das letras.

Grande parte das produções dos alunos se deram em torno dos livros da autora. Outras exposições e oficinas, não. Mas todas tinham em comum os livros.

E como são bons os livros.

Nesse meu mais novo livro de microcontos, "100 Beijos e Abraços", escrevi um microconto que fala sobre esse amor às obras literárias.


ABRAÇO FORTE

Com a lágrima ainda correndo pelo rosto, abraçou o livro, o seu amigo que nunca o trairia.

Realmente, o livro é um amigo para todas as horas: não julga, não se esquiva nos momentos dramáticos da vida, escuta nossos lamentos, nos acolhe com suas páginas recheadas de reviravoltas e ainda faz com que nos deleitemos com as suas histórias. E, claro, não nos trai.

É ótimo ver os livros recebendo a devida pompa que merecem, o local de destaque.

A gente dá aquele abraço metafórico no livro e ele retribui, abraçando-nos da mesmo forma, com um abraço forte daqueles.



Abraço forte

Com a lágrima ainda correndo pelo rosto, abraçou o livro, o seu amigo que nunca o trairia.



1. Imagem gerada a partir de inteligência artificial, via Canva.com 

2. Este microconto compõe o meu livro "100 Beijos e Abraços", à venda na Amazon.

O clube da leitura

Primeiro foi o livro. Depois um café. Seguiu-se um abraço. Então um beijo.

Para selar o namoro, fundaram um clube de leitura.




1. Imagem gerada a partir de inteligência artificial, via Canva.com.

2. Este microconto compõe o meu livro "100 Beijos e Abraços", à venda na Amazon.

terça-feira, 2 de junho de 2020


VIAGEM

A esposa foi viajar. Ele não podia, trabalharia. Mais uma vez.
Esperou-a retornar. Em vão.
Tinha ficado em Maragogi, com o bartender.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

DECIFRA-ME OU TE DEVORO

Publicado no O Jornal de Uruguaiana, em 09 set 2010.

Perdemos tanto tempo com coisas inúteis na vida... O mais sério é que na maioria das vezes que estamos ocupando nossas forças em algo que não valerá mais que alguns “por que eu fiz isto?”, temos uma sensação que acompanha o agir, dizendo ao pé do ouvido: não faça, não faça. Mas, é óbvio, não seguimos a razão e o coração assume a direção. Vá tomar um banho gelado, faça a barba, escove os dentes, faça algo diferente que lhe desvie da vontade de fazer o inútil.
Para ilustrar essas reflexões, baseio minha crônica numa história que um amigo relatou-me, profundamente cabisbaixo. Sua namorada disse-lhe, certa feita, nessas palavras “Tento decifrar, entender certas coisas, mas é esforço em vão...”. Isso o fez carregar consigo por dias um ponto de interrogação debaixo do braço. Ele supunha o que a garota queria dizer, mas não botava fé que realmente fosse.
A garota escreveu-lhe, ainda, um bilhetinho e entregou após os dois saírem de um jantar:

É como um filme de suspense ou policial onde tem as pistas e temos que juntar para decifrar o crime, quem é o assassino.
Geralmente sou boa nisso, mas tenho que admitir que dessa vez a emoção não dá espaço para o raciocínio e é difícil compreender as pistas.

Nem implorando ela falou-lhe o que significava. Ele que dissesse o que entendia. Quanta mística naquilo tudo! Decorreram mais alguns dias e o relacionamento estava acabado. O motivo? O mistério que ela tanto falava eram os relacionamentos paralelos que ele tinha enquanto se dizia apaixonado por ela. Descobrira em mensagens de celular que o esperto do meu amigo deixara. Além de cafajeste era burro! Mas tudo bem, teve o que merecia...
O público feminino que me odeie, mas entro em defesa desse meu amigo. Ao menos quanto ao que sentia por ela. O resto não entra na análise: foi mais que errado, uma demonstração de fraqueza moral, de covardia de dizer a ela que queria uma relação mais aberta, menos envolvente que um namoro. Quanto à defesa, digo que ele realmente gostava dela. Talvez não houvesse dito que a amasse ainda porque o relacionamento deles era recente ou porque fazia pouco que terminara outro, longo e de fim também amargo. Sei que ele sentia por ela muito mais que apenas amizade, mas seus atos negativos não refletiram, definitivamente, o que sentia por ela.
Ele estava querendo a liberdade (ou libertinagem) que não tivera no outro namoro. Saía de um e engatava em outro. Não era de acordo com seus planos, mas era melhor do que poderia imaginar. Porque aquela garota que escreveu o bilhete era alguém que certamente ele não veria duas vezes na vida. Porque ela acertava tanto com os seus pensamentos que chegava, por vezes, a grau de espanto mútuo. Você só pode ter copiado isso de mim. Nem sabia.
Ele estava querendo a liberdade e não tivera aquele momento mínimo de sinceridade com a garota. Não quero envolver-me agora contigo. A Medusa que se tornara a sua amiga, ficante e depois namorada, tinha poderes muito além dos seus.
Estava, de fato, investindo as suas energias inutilmente. Esgotava-as com outras mulheres, que não lhe preenchiam por dentro. Imprimia todas as forças na falsa sensação de bacanal, que aos dezessete anos também tivera, onde a quantia de mulheres era superiormente mais importante que a qualidade.
Mas tudo isso são conjecturas. Ele não me disse nada depois que mostrou o bilhete manchado de lágrimas e repetiu a frase enigmática da já ex-namorada. E chorou em meu ombro. Estava fraco agora. Gastara as forças onde não devia.