Parece consenso de que o Brasil
seja o “país do futebol”. Mas estamos mais para o “país do vôlei”. O esporte
criado pelos ingleses brindou-nos cinco títulos mundiais e nenhum olímpico. Já
o vôlei masculino brasileiro obteve nove títulos da Liga Mundial e dois
olímpicos.
Na “pátria de chuteiras” poucos
clubes conseguem se profissionalizar e entre os profissionais, poucos prosperam
e recebem salários milionários. Os demais mal conseguem para o sustento. Todo o
glamour do futebol é uma ilusão, uma ilusão coletiva proposital.
Valorizamos muito o futebol,
tanto é que é o esporte que mais dá audiência. Entretanto não é acessível
(profissionalmente) ser jogador de futebol para a maioria das equipes porque é
caro manter 11 jogadores titulares, reservas, campo para treinar, uniforme,
bolas, técnico, equipe técnica e por aí segue. Também porque faltam incentivos
do Governo que fomentem e profissionalizem as equipes de várzea.
Ainda, necessita-se apresentar o
lado perverso do futebol. Há muito tempo ele serve como distração da população.
Foi assim durante a ditadura militar e servia para a população oprimida
esquecer o sofrimento com o regime ditatorial. Atualmente, de quatro em quatro
anos, políticos aproveitam a Copa do Mundo para aprovar seus aumentos e outras
leis que lhes beneficiam, enquanto os iludidos gritam “gol”.
E se o futebol é um esporte que
privilegia poucos, por que então ele é tão venerado pela população? Ele é
supervalorizado pela mídia para que obtenha exatamente o impacto que tem:
mobilizar multidões. Injeta-se muito dinheiro em publicidade para se receber um
retorno ainda maior.
Ao invés de dividir a atenção dos
telespectadores em uma dúzia de esportes, a estratégia é focar num só. MAIS
dinheiro para esse um. Ao invés de haver a dúzia com certo prestígio, melhor um
esporte superestimado.
Assim, assume-se como esportes
menores o vôlei, o basquete, o judô, a esgrima, o atletismo, a ginástica
rítmica. Holofotes ao futebol e às demais modalidades, a luz que sobrasse.
Toda essa superexposição,
naturalmente, gera salários astronômicos. Discordo de que os jogadores de ponta
devam ganhar tanto: nenhum jogador joga 500 mil reais por mês, ele não vale
isso. A supervalorização dele, o seu endeusamento, fazem-lhe valer 500 mil
mensais. Mas esse número é irreal.
Nossas várzeas estão cheias de
craques que não se profissionalizaram(ão) porque é muito caro fazer testes em
grandes clubes e manter equipes amadoras. E o país de poucas oportunidades,
mais uma vez, reproduz as oportunidades para poucos: só alguns atingem o
estrelato, só alguns ganham bem, só alguns ficam famosos, só alguns ficam ricos
e apenas alguns se mantêm no topo.
É muito difícil se tornar jogador de futebol. Mesmo sendo muito improvável prosperar no futebol, seguimos amando a corrida atrás da bolinha, reclamando do juiz e dos bandeirinhas, cobrando impedimento. De vez em quando, se sobrar um tempinho, damos uma espiadinha num saque, uma cesta, um salto triplo ou num wazari.
É muito difícil se tornar jogador de futebol. Mesmo sendo muito improvável prosperar no futebol, seguimos amando a corrida atrás da bolinha, reclamando do juiz e dos bandeirinhas, cobrando impedimento. De vez em quando, se sobrar um tempinho, damos uma espiadinha num saque, uma cesta, um salto triplo ou num wazari.