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UFANISMOS E BAIRRISMOS

Publicado no Jornal da Cidade Online em 25 Set 2011 BAIRRISMO. É UMA PALAVRA QUE TODO GAÚCHO SABE QUE LHE PERTENCE, MAS FAZ DE CONTA QUE DESCONHECE. Ilustra isso o fato de os moradores da Província de São Pedro creem que o mundo é um amontoado de terras em torno do Rio Grande. Comprovam a tese sites, piadas, músicas e muitas outras mentiras que contam os feitos heroicos dos antepassados dos pampas. Em contrapartida, um gaúcho mais desavisado poderia dizer “ah, mas somos os únicos que cantam o hino sul-rio-grandense, que amam de verdade essa terra. Somos os únicos que conservam as tradições, cevando mate, gineteando, usando bombacha, falando abagualado em gírias que precisa nascer aqui para conhecer, troteando a cavalo e levantando cedo para cuidar do gado”. Tudo ufanismo. Porque gaúchos tradicionalistas, de bota e bombacha, de acordo com o que manda o figurino, são poucos. O resto, no máximo, é o que se denomina “gauchão de apartamento”, que se descobre taura somente perto do 20

Édipo às avessas

Publicado no Jornal da Cidade Online , em 18 Set 2011 “ÉDIPO APARECE, COM A FACE ENSANGUENTADA, TATEANDO EM BUSCA DE SEU CAMINHO". Nesta passagem de Édipo Rei, do teatrólogo grego Sófocles, o protagonista descobrira que matara seu pai e dormira com sua mãe. A culpa foi tão grande que decidiu punir-se, arrancando os olhos e abandonando a cidade onde morava. No filme “A insustentável leveza do ser”, situado na década de 60, o protagonista Tomas, um médico da cidade de Praga, atual capital da República Tcheca, refere-se ao personagem épico para criticar os políticos que não assumiam a própria culpa e puniam os opositores. Durante a história, o médico é pressionado a mudar sua opinião pelo bem do próprio pescoço. Os anos de chumbo se foram, mas os políticos pouco mudaram. Depois que os adoráveis deputados estaduais gaúchos aprovaram o vergonhoso aumento dos seus salários em 73% no final de 2010, Tonho Crocco criou o rap “Gangue da matriz”, onde criticou o aumento e citou, nominalme

DESFILAR PARA QUEM?

Publicado no Jornal da Cidade Online , em 11 Set 2011    O DESFILE DE 7 DE SETEMBRO É UM BOM MOMENTO DE EXERCÍCIO CÍVICO e a oportunidade perfeita para estimular as crianças a amar a própria pátria. Mas não é só isso, felizmente: tem valor educacional, integra os estudantes das escolas que desfilam e é um movimento social onde a população assiste aos seus familiares e amigos na avenida. Também serve para protestar, porque motivos não faltam em nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve! Os alunos que desfilam envolvem-se com os preparativos do 7 de setembro, principalmente aqueles que compõem as bandas marciais. Nelas, a inteligência musical é despertada e estimulada. Além disso, crianças e adolescentes tornam-se um pouco mais disciplinados, fato este que inexiste em muitas realidades familiares. E se estudantes estão nas ruas, pais também lá aparecem. É uma festa linda, onde os melhores espaços para assistir escolas, empresas e militares passar são divididos, democraticamente, com

Coisas do passado

Publicado no Jornal da Cidade Online em 21 Ago 2011 QUANDO TECNOLOGIAS SÃO ULTRAPASSADAS, CONDENAMOS O QUE É OBSOLETO À EXTINÇÃO. O Blu-Ray tem se popularizado e, com facilidade, fazemos download gratuito de filmes pela internet. Os sons automotivos deixaram de lado os CD e DVD e passaram a adotar a entrada USB. O resto é antiguidade. Em casa, basta conectar o computador a caixas de som potentes e as músicas serão tocadas diretamente do PC. No passado, era necessário gravar um CD de mp3 para ouvir e, antes ainda, um CD de áudio. Para não se falar das fitas K7, do disco de vinil e dos rádios a pilha, relíquias que servem para exposição. Além disso, a evolução fantástica dos computadores substituiu os trambolhos volumosos por máquinas mais compactas e potentes: dos computadores de mesa para os notebooks, netbooks, palmtops e tablets. Lembra-se dos mimeógrafos? Grande parte das escolas deixou de utilizá-los e passou a adotar o projetor multimídia como ferramenta auxiliar de trabalho. Me

EGOCENTRISMOS E MICROFONES

Publicado no Jornal da Cidade On line de 24 de julho de 2011. ESTIVE NUM SEMINÁRIO PEDAGÓGICO HÁ CERTO TEMPO. UMA JORNADA DE CINCO NOITES de palestras, introduzidas por apresentações artísticas. Muito bom, seja no conteúdo, seja no quórum. Creio que tenha ultrapassado 200 participantes. Uma vitória em face aos baixos índices de presenças nos seminários e debates educacionais que toda a hora surgem, acabam e pouca gente prestigia. Uma das noites proveu-me de material para esta crônica: a propaganda velada e inoportuna, incômoda. A palestrante foi à frente, explicou seu primeiro slide e começou... a minha escola é isso, é aquilo, trabalha assim e por aí foi. Até consultei o cronograma para ver se previa a apresentação das atividades realizadas pela escola. Obviamente, não. A palestrante complementou, chamou toda a coordenação, os funcionários e professores. Pensei que veria o pedido de palmas a eles. E, realmente, ele veio. A minha mente podia ter sido salva sem isso. Não é a pr

O QUE TE MOTIVA?

Publicado no Jornal da Cidade Online , em 10 jul 2011. Publicado no Jornal Tribuna , de Uruguaiana, com o título "Reprovado, motivado... aprovado", em 09 jul 11. O que leva uma pessoa a acordar de madrugada, pegar dois ônibus, chegar às sete horas no trabalho, enfrentar um dia estressante, engolir 17 sapos do chefe, pegar mais dois ônibus e chegar tarde em casa? Uma rotina estafante, que ninguém deseja. Mas o trabalhador executa-a e ainda fica feliz porque rala, mas está empregado. As obrigações diárias, a luta por uma vida melhor e o dinheiro para pagar os remédios da filha doente são fatores que levam uma pessoa a arrancar do corpo aquele “a mais” quando ele já clama por descanso. Esses desejos que funcionam como mola propulsora, direcionando-nos pelo caminho A ou B, logicamente, são diferentes para cada pessoa. Sinto-me feliz ao escrever uma crônica. Não preciso receber elogio, mas se vier, cai bem. Em contrapartida, tenho um amigo que fica com os olhos brilhando quan

A ordem natural dos fatos

Publicado no Jorna l da Cidade Online , em 26 de junho de 2011. APRENDEMOS NA ESCOLA QUE A VIDA SEGUE UMA ORDEM PREESTABELECIDA. Nascer, crescer, se desenvolver, reproduzir, envelhecer e morrer. E achamos que o mundo é perfeitinho assim, do modo que nos pintaram no colégio, mas só com o tempo entendemos perfeitamente que esta ordem natural é passível a controvérsias e passamos a conhecer e entender a expressão “do pó viemos e ao pó retornaremos”. Dias atrás, uma ex-colega da faculdade faleceu e fui ao seu velório. Falecia depois de meses lutando contra infecções oriundas de uma cirurgia de redução do estômago que fizera. Nesses lugares, a condição social pouco importa e a beleza é só um adjetivo que pertence ao mundo dos pretéritos. Ricos e pobres igualam-se, freiras e traficantes ficam em mesma situação. O que muda nisso tudo são, apenas, os amigos, que uns têm mais e outros, menos. Mãe, marido, filho, sobrinhos e sobrinhas, tios e tias, toda a família chorava a perda do ente quer